O Cisma
da Igreja Católica Romana
De "A Historia da
Igreja" por N. Talberg.
Traduzido pelo Presbítero Pedro
Anacleto
A Igreja Catolica Romana.
A atividade
missionária dos latinos. O papado
e o monaquismo. A luta dos papas com os soberanos pela independência em assuntos
da Igreja. A luta do papa com os
soberanos. A decadência do poder
papal. Tentativas de
limitar o poder papal.
Separação da Igreja no Ocidente.
Causas
que prepararam a separação das igrejas. Começo
da separação. A separação
definitiva das igrejas no século XI.
As
heresias e seitas no Ocidente.
As
correntes teológicas no ocidente.
Novos
dogmas na Igreja de Roma. Seitas na Igreja Romana nos séculos 11-
15. A
Reforma.
A desconformidade
geral com a Igreja de Roma. Wickliffe. John Guss. Savanarola. Os movimentos reformadores na Alemanha.
O Luteranismo. A política da
igreja do catolicismo romano. A proteção
dos ortodoxos da propaganda latina. As
tentativas dos latinos de apoderarem-se dos lugares santos na Palestina. Novas tentativas dos papas em favor do
uniatismo. Relações recíprocas do
papado com os estados católicos. As
correntes religiosas na Igreja de Roma. Novos
Dogmas na Igreja Romana.
A Igreja Católica Romana.
A atividade missionária dos latinos.
A atividade missionária da Igreja
Romana nos séculos XI-XV tomou um caráter impróprio para o cristianismo. Foi
abandonado o caminho pacífico de difusão do ensinamento evangélico, por meio da
pregação e o convencimento. A Igreja Romana, de boa vontade, aplicava meios
violentos — fogo e espada. Não tinha reservas em enviar a seus missionários aos
países donde trabalhavam os missionários ortodoxos, e afastando-os e convertendo-os
a sua religião aos já batizados na ortodoxia. Assim mesmo tratavam de difundir
seu ensinamento entre os ortodoxos, tratando de convertê-los à sua religião.
Com estes métodos difundiam ao
cristianismo na Europa: 1) entre os eslavos bálticos; 2) entre os prussos, aos
quais no século XV convertiam ao cristianismo com a força das armas — primeiro
a ordem dos cavaleiros da Prússia e logo de cavaleiros alemães; 3) em
Liflândia, Estlândia e Kurlândia, donde o cristianismo foi afirmado no século
XII com espada e fogo pelos cavaleiros alemães e 4) na Lituânia que se
converteu ao catolicismo pelo casamento do príncipe Lituano Jagelo com a
princesa herdeira do trono polaco Jedwig. Os lituanos pagãos foram batizados à
força e os lituanos ortodoxos, perseguidos.
Na Ásia, os católicos organizavam
distintas missões, difundiam seu programa entre ortodoxos, tratavam de converterem
os muçulmanos e pagãos. Entre os ortodoxos e muçulmanos não tinham êxito; entre
os pagãos (mongóis na China) apesar de organizarem uma comunidade cristã no
século XIII, esta desapareceu sem rastros no século XV.
No
séc. XV, depois do descobrimento
de novas terras no ocidente da África e logo descobrimento da América, os
portugueses e espanhóis trouxeram aos países conquistados o cristianismo. Mas
por seu trato cruel com os aborígenes o cristianismo ali se difundia de forma
débil.
O papado e o monaquismo. A luta dos papas com os soberanos pela independência nos assuntos da Igreja.
O poder papal, incentivado em
grande parte pelo Papa Nicolau I (858-867), durante o século X e na primeira metade
do séc. XI, decaiu em grande medida. Isto passou, por um lado, por causa da intervenção dos governantes
da Itália nos assuntos papais, e por outro lado, por causa da inércia e
depravação moral dos papas e do clero.
Até a metade do séc. XI a
disposição com o trono papal passou dos governantes da Itália às mãos do
imperador germânico Enrique III (1039-56), da dinastia finlandesa, quem restabeleceu
o poder imperial na Itália. Naquele tempo, por causa de ações ilegais dos
papas, (um deles vendeu o papado por uma grande soma a um homem rico de Roma),
surgiu um movimento que exigia a reforma do clero. Este movimento encontrou a
defensores e propagadores nos monges do mosteiro francês de Cluny (na Borgonha).
Os monges de Cluny pregavam o abandono de interesses leigos, e forma devida
leiga do clero. Isto se referia em primeiro lugar aos papas. Enrique III apoiava o movimiento de Cluny,
já que este se dirigia contra a simonia e a desordem na Igreja. Três vezes
Enrique III nomeou papas. Os de Cluny também tendiam a libertar a Igreja da
influência do poder civil. Um ardente defensor deste pensamento era o monje
Hildebrandt, que foi nomeado cardeal pelo Papa Leão IX (1049-54) e que dirigia
a todos os assuntos do papado durante 20 anos.
Papa
Leão IX
No princípio, Hildebrandt, com
uma ajuda política, eliminou a influência do poder imperial sobre o papado. Filho
de um campesino da Toscana, primeiro capelão (confessor do papa), ele esteve um
tempo em Cluny. Ao voltar a Roma e defendendo a reforma, ele ocupou uma posição
eminente, sabiamente defendendo a independência do poder papal. Ante as
mudanças no trono papal, depois de Leão IX ele atuava tão acertadamente, que a
eleição se produziu sem intervenção da corte imperial, como por casualidade e não
com premeditação. É verdade, que naquele momento o imperador era um menino de
poucos anos, Henrique IV (1056-1106). Pela sugestão de Hildebrandt, o papa
nomeado por ele, Nicolau I, já abertamente decidiu eliminar a influência
imperial sobre a eleição papal.
Henrique IV
Em 1059 no Concílio de Latrão se
decidiu que a eleição papal pertence ao colégio dos cardeais, ou seja; bispos
da região romana, sacerdotes dos templos principais de Roma e alguns diáconos
do templo da catedral do papa. O resto do clero e o povo só deviam expressar seu
acordo. Ao que se refere ao imperador, ele podia confirmar a eleição, já que
este direito o foi outorgado pelo trono apostólico. A aristocracia romana estava
disconforme por sua situação secundária. Ela pedia a Enrique IV aproveitar seu
direito de nomear papas, tal como o fazia seu pai. Mas Hildebrandt elevou ao
trono a seu candidato Alexandre II (1061-73). Depois da morte deste,
Hildebrandt decidiu ocupar o trono ele mesmo e foi eleito pelos cardeais sob o
nome de Gregório VII (1073-85). O imperador recebeu uma simples notificação
sobre a eleição.
Gregório VII subiu ao trono papal
compenetrado por aquelas idéias de poder absoluto papal, que maduraram desde
muito tempo e agora se manifestaram como um sistema completo. Tomando, como próprio,
o ponto de vista da igreja Romana, que o papa é o representante de Cristo na
terra, Gregório quis fundar sob o poder papal uma monarquia teocrática
universal. Segundo seu entender, o papa deve ter poder não só sobre o clero, senão
também sobre os governantes civis. Todo poder, não excluindo o imperial, ele
considerava abaixo do papal. Tudo recebe sua consagração e a autoridade do
papa. Em caso de abusos da parte dos poderes, tanto eclesiásticos, como civis,
o papa tinha direito de privá-los de seus privilégios, vinculados com o cargo,
e outorgar a estes privilégios a algum outro, segundo seu juízo. Segundo o
pensamento de Gregório, o papa tem o poder de outorgar cátedras e coroas reais
e imperiais. Antes de começar a ter estas idéias, Gregório necessitava eliminar
definitivamente a influência do poder civil sobre os assuntos da Igreja. Da
pressão do poder imperial na eleição do papa, seu trono já se libertou antes,
mas ficou todavia a "investidura", ou, o direito dos poderes civis de
repartir os cargos eclesiásticos. Por isso Gregório se ocupou em seguida de
destruir a "investidura." Em 1075 ele passou no Concílio a proibição
da investidura. Decidiu destituir aos membros do clero, que receberam seus
cargos através da investidura, e aos governantes civis, que praticavam a
investidura — excomungar. Neste mesmo concílio se proibiu aos
sacerdotes casarem-se. Segundo
a opinião de Gregório, o celibato do clero privava a estes de vínculos
familiares e com o mundo que os rodeava; e devia transformá-los em mais zelosos
servidores da Igreja. A luta contra a investidura rompia a dependência feudal
das terras da Igreja — bispo, abade e sacerdote deviam ser pastores da igreja e
não vassalos do rei ou do príncipe.
O mesmo clero tomou com má
vontade a reforma espiritual. Foi tomada uma particular e severa decisão sobre
o celibato do clero. Alguns membros se rebelavam contra os legados papais. Da
pior maneira foi tomada a ordem papal na Alemanha. Os legados papais se
apresentaram ao imperador Henrique IV e o apresentaram o referente à
investidura. Henrique, que naquele momento ia à guerra, aceitou cumprir a
exigência papal, mas ao voltar da guerra, seguia usando a investidura. Então, —
em 1076 — o papa o chamou a Roma para julgá-lo. O imperador com provocações
despediu aos enviados papais e reuniu em Worms o Concílio de bispos germânicos.
O Concílio, cumprindo o desejo do Imperador, decidiu que não se deve obedecer
ao Papa Gregório, já que ele trata de escravizar a igreja e tira o poder dos bispos.
Henrique proclamou que o papa esta abolindo a ordem social, baseado nos princípios
santificados pela Graça Divina; — o poder do soberano e o sacerdócio. O papa,
que mesclou a estes dois princípios, deve ir se e deixar lugar a alguém mais
digno.
Mas a Gregório não se pode assustar,
nem tirar de seu caminho. O papa excomungou a Henrique e aos bispos que
participaram do Concílio. Henrique IV o proclamou isento de dignidade real e
libertou-se do juramento de fidelidade a seus súditos. Aos próprios germanos os
indicou elegerem a um novo rei. As diretivas do papa não teriam importância se
Henrique não tivesse levantado contra si aos principais germânicos com suas ações
anteriores. Os aliados do papa reagiram com os mesmos feudais de cuja
influencia ele tratava de limpar à Igreja. Os duques do sul da Alemanha
começaram a guerra contra Henrique. Se iniciou um levantamento na
dissidente Saxônia. O alto
clero, que acabava de declarar-se contra o papa, foi confundido por sua
decisão, e pelo fato que os estados populares mais baixos estavam de acordo com
a reforma da Igreja e se levantavam contra os inimigos do papa. Os príncipes se
reuniram em Tribur e decidiram que se durante o ano Henrique não pedissem o
perdão papal, seria privado do trono. Henrique vacilou.
No inverno de 1077 ele foi, com
uma pequena comitiva à Itália. O papa se encontrava neste tempo em Canossa, no
castelo de sua fiel aconselhada, a marquesa de Toscana, Matilde. Quando
Henrique chegou, não foi recebido no castelo. Ele enviou embaixadores ao papa Gregório, a quem encarregou
de expressar em seu nome seu arrependimento, aceitar as exigências papais e
conseguir o levantamento da excomunhão. O papa obrigou a Henrique esperar três
dias para sua decisão, fora das muralhas do castelo, vestido de penitente,
descalço e fazendo um completo jejum, o papa o perdoou com a condição que sua
causa seja discutida pelos príncipes alemães em uma reunião.
Mas a humilhação, que sofreu Henrique
não trouxe frutos esperados. Os príncipes alemães, não só não baixaram suas
armas, senão elegeram rei a Rodolfo de Suábia, que começou a guerra contra Henrique.
O papa reconheceu como rei a Rodolfo e excomungou de novo a Henrique (1080). Henrique
esforçou-se, sem êxito, atrair a numerosos aliados. Parte do alto clero passou
a seu lado, temendo que com a abolição da investidura, caíssem em uma total
dependência dos papas. Entre o baixo clero, a Henrique apoiavam os sacerdotes
casados. Ele atraiu para seu lado aos cavaleiros menores e aos habitantes das
cidades grandes, que se enriqueciam e tratavam de libertarem-se da pressão dos
senhores.
Rodolfo
de Suabia
O papa, ao excomungar ao
imperador, declarou que os Apóstolos, ao receberem de Cristo o direito de atarem
e desatarem aos homens, por isso mesmo, estão postos tanto sobre a igreja, como
sobre o mundo. Se o herdeiro dos Apóstolos pode dispor dos cargos
eclesiásticos, tanto mais, tem poder sobre reinos e principados. Henrique
não se rendeu. Reunindo aos
bispos fiéis a ele nos Concílios de Meinz e Bricsen (1080), repetiu a destituição
do Papa Gregório e elegeu a um novo papa, Clemente III.
Clemente
III
Em uma das batalhas foi morto
Rodolfo de Suábia e Henrique IV afirmou seu poder na Alemanha. Então ele
decidiu terminar com Gregório. Em 1084 ele tomou Roma, elevou ao trono papal a
Clemente III e recebeu de suas mãos a coroa imperial. O papa Gregório se
trancou no castelo do Santo Anjo e decisivamente se negava a falar com Henrique.
Para ajudar ao papa chegaram os normandos, que desde este tempo ocuparam já o
Sul da Itália. Seu duque Roberto Guiscardo reuniu um grande exército, ao qual
havia também sarracenos. Henrique teve que abandonar a Itália, donde Roma foi
tomada por Guiscardo. Os normandos e sarracenos cruelmente saqueavam a cidade
diante os olhos do papa. Os habitantes de Roma, naturalmente, estavam furiosos
contra os aliados do papa. Gregório VII compreendeu a dificuldade de sua
situação e se retirou para o sul em Salerno, onde morreu em 1085, dizendo a seus
amigos antes de sua morte: "Toda minha vida amei a verdade e odiei a
injustiça, por isso morro no exílio." Ele é santo canonizado pela Igreja
Romana.
Castelo de Santo Anjo
Roberto
Guiscardo
O Papa Vitor III (1086-87),
Urbano II (1088-99) e Pascoal II (1099-1118), que dirigiram a Igreja Romana
depois de Gregório, foram seus discípulos e trataram de realizar seus planos. Por
isso a luta dos imperadores pela investidura seguia. Os papas exigiam a
abolição da investidura, excomungavam aos imperadores e formavam alianças
políticas contra isto. Henrique IV e seu filho Henrique V vinham com seus
exércitos à Itália, cercaram os papas de Roma e restituíram ao antipapa
Clemente III. De forma particularmente decidida lutava com o imperador Henrique
IV o Papa Urbano II, ele até logrou em 1092 a convencer contra Henrique a seu
filho Conrado, que logo, 8 anos governou a Lombardia e Toscana. Urbano II, com
sua pregação da cruzada em Piacenza e Clermont (na França), despertou um fervor
fanático nas massas populares e aproveitou isto para seus fins. Em 1096, os
cruzados que partiram pela Itália, o ajudaram tirar de Roma a Clemente e
apaziguar a nobreza romana, que estava em parte com o imperador. Urbano
II ocupou o trono papal de Roma. Pascoal II, que seguia a Urbano, conseguiu tirar completamente o
antipapa Clemente da região Romana, que este mesmo ano morreu. Henrique
IV não pode fazer nada com Urbano II. A defesa do papa constituíam as terras da condessa Matilde, que
cercava Roma desde o norte e a ajuda dos normandos no sul da Itália. Na velhice
Henrique IV teve que lutar com seu filho Henrique V. Em 1106 seus exércitos se
encontraram sobre o Reno. Henrique IV súbitamente morreu. O filho contra o pai foi convencido pelo
papa Pascoal II, que o escrevia cartas lisonjeiras com o pedido de "ajudar
à Igreja de Deus."
Papa
Vitor III
Papa Urbano
II
Papa Pascoal
II
Henrique V
Henrique V primeiro seguiu os passos
do pai. A condessa Matilde morreu, deixando suas enormes posses para o trono de
Roma. Henrique V não queria permitir um tal aumento de posses civis do papa e
continuava afirmando o direito do imperador para outorgar a investidura ao
clero superior dos reinos germânico e italiano. Apesar de ocupar Roma, sua pouca
segurança na Alemanha, de novo, fez um grande serviço ao papado.. Ambas as
partes estavam cansadas da luta. Com o Papa Calisto II (1118-24), na reunião de Worms, se firmou um
acordo vantajoso para o papa com o imperador Henrique V e príncipes alemães. Em
1122, com base nesse pacto, o papa, como pessoa eclesiástica, deixava a
investidura dos bispos e abades, segundo as leis da Igreja, com a outorgação do
anel e do cajado. Ao imperador, como pessoa cívica, foi deixada a investidura cívica, ou seja,
dar aos mesmos bispos e abades direitos de príncipes, possessões, etc. e
tomarem o juramento feudal. Por um tempo cessaram as discussões e desordens,
que separavam ao mundo cristão ocidental.
A luta do papa com os soberanos.
Tratando de realizar os planos
teocráticos do Papa Gregório VII, os papas subseqüentes lutaram com os
soberanos pelo domínio da Igreja sobre o estado. Assim, Inácio II (1130-43)
começou a declarar que os imperadores recebem sua investidura, como feudo do
papa. O mesmo declarou o Papa Adriano IV (1154-59) em sua carta ao imperador
Federico I o Barba-roxa (1152-90) da casa de Gogenstaufen.
Federico
I o Barba-roxa
Sobre esta questão começou a luta
dos papas com os Gogenstaufen, que durou quase um século. Federico o Barba-roxa
veio à Itália desejando limitar as pretensões do Papa Adriano IV. Chamou a uma
reunião na qual demonstrava que o imperador deve submeter-se aos bispos e os mesmos
aos papas. Quando usam o poder civil, não é pelo direito divino, senão pela
disposição dos reis, que hes deram o poder.
Papa
Adriano IV
Durante a eleição do sucessor de
Adriano, as opiniões dos cardeais se dividiram. Uns elegeram a Alexandre III
(1159-81), inimigo do imperador, outros, a Vítor IV (1159-64), seu amigo. Federico
aproveitou esta circunstância para submeter os papas à sua influência. Ele
convocou o concílio e exigiu que ambos os papas viessem para a discussão. Alexandre
não veio ao concílio e excomungou a Vítor e Federico. O imperador, então, tirou
de Roma a Alexandre em 1167 e elevou ao trono a um novo papa, Pascoal. Alexandre,
apoiado pelas cidades da Lombardia, não se rendia. Quando os assuntos de Federico na Itália não
eram convenientes, ele em 1177, se reconciliou com Alexandre, com condições
vantajosas para o papa.
Alexandre III
Os sucessores do Papa Alexandre não
eram tão fortes para oporem-se a Federico o Barba-roxa e a seu sucessor Henrique
VI (1191). O último, por meio de casamento com Constança, única herdeira da
coroa da Sicília, anexou a suas posses ao reino normando da Sicília e se transformou
em soberano de toda Itália. Os papas foram muito limitados, até na mesma Roma,
onde governava o prefeito imperial.
Henrique
VI
Com a morte de Henrique VI em
1197, que deixou um filho de poucos anos, Federico, a situação mudou. A
governadora da Sicília foi Constança, e na Alemanha os príncipes decidiram
eleger um novo imperador. Sobre o trono papal subiu Inocêncio III (1198-1216),
um dos mais destacados políticos de seu tempo. Ele colocou como meta realizar
em toda plenitude os planos teocráticos de Gregório VII e teve tempo de colocar
o papado a tal altura, a que antes nem depois esteve. Depois de sua
entronização, ele obrigou jurar a si o prefeito de Roma, nomeado pelo imperador
e com isto destruiu o poder imperial sobre Roma. Fazendo o mesmo em outras
cidades da região da Igreja, Inocêncio formou um estado papal independente. Sublevando
as cidades restantes da Itália, contra o poder imperial e assegurando seu
apoio, o papa se ocupou da Sicília. Uma vantagem para ele foi que Constança
pediu a Inocêncio de reafirmá-la e a seu filho Frederico, a posse da Sicília,
como feudo do trono papal.
Antes de sua morte (1198),
Constança deixou ao papa o cuidado de seu filho. Inocêncio
gobernava na Sicília. Na
Alemanha nesse tempo seguia a luta pelo trono imperial e ambos pretendentes se
dirigiram ao papa para ajuda. Inocêncio pôs a coroa sobre Otão da Saxônia.
Havendo-a recebido em Roma,
Otão não cumpriu sua promessa de proteger a todos os direitos do papa e ampliar
suas posses na Itália. Ele declarou a muitas das posses papais, feudos
imperiais e atacou Sicília. Então Inocêncio excomungou Otão (1210) e o declarou
privado da honra imperial. O papa propôs aos príncipes germânicos elegerem como
imperador o seu educado Federico II, que se fez imperador.
Federico
II
Inocêncio III mostrou também seu
poder na França, Portugal e Inglaterra. Nesta última ele teve que sustentar a
luta com o rei inglês João Sem Terra. O rei não quis em 1217 receber o Cardeal
Estevão Laugton, nomeado pelo papa, arcebispo de Canterbury, como resultado
desta luta o papa excomungou em 1209 a João e logo o privou do trono em 1212. O
povo não amava o rei por sua crueldade. Na Inglaterra começaram os levantamentos.
João se humilhou, recebeu a Laugton e reconheceu ser o vassalo do papa, com a
obrigação de pagar-lhe o tributo.
João
Sem Terra
Durante o reinado de Inocêncio se
formou o Império latino, e seu poder e sua influência se estendeu sobre uma
importante porção do Oriente. Seu brilhante reinado, Inocêncio terminou com o
Quarto Concílio de Latrão (1215) ao qual além de numerosos bispos, abades,
priores, estavam presentes muitos soberanos da Europa Ocidental.
Depois da morte de Inocêncio, o
poder imperial de novo prevaleceu sobre o poder papal. Federico II começou
paulatinamente a restabelecer seu poder na Itália. Ele não separava, tal como o
queria Inocêncio, a coroa de Sicília da Alemanha. O segundo sucessor de
Inocêncio, Papa Gregório IX (1227-42), tratou de tirar Federico da Itália e
exigia o cumprimento da promessa da cruzada. Federico se dirigiu à Palestina,
mas logo voltou já que em seu exército começaram as enfermidades. O papa
o excomungou por desobediência. Federico, não tomando isso em conta, sem a permissão do papa, em
1228 fez a quinta cruzada, por um tempo tirou de Jerusalém os turcos, e se
coroou com a coroa de Jerusalém, como conseqüência de seu matrimônio com
Yolanda, herdeira do trono de Jerusalém. Depois de sua volta em 1228, Federico
temporariamente reconcilio-se com o papa, desconforme com seu êxito e sua volta.
Logo entre eles começou uma terrível inimizade. Federico começou a tirar as posses
papais. Gregório IX em 1239 o excomungou de novo. Federico mandou uma carta a
príncipes e cardeais, na qual chamava a Gregório inimigo de todos os soberanos
e prometia logo liberar a todos da tirania papal. Como resultado, o papa mandou
a todos uma carta, donde chamava a Federico não crente. O imperador chegou até
Roma em 1240. O papa chamou um concílio em 1241, contando com os bispos
franceses, que não dependiam de Federico, este, por sua vez, tomou prisioneiros
aos bispos que vinham da França. Ocupada Roma, ele fez o papa prisioneiro, que
não agüentou a prisão e morreu em 1241.
Seu sucessor Clemente IV viveu só
três semanas depois de sua eleição. Dois anos o trono papal caiu vacante, devido
a diferenças entre os cardeais. Em 1243 foi eleito Inocêncio IV (1243-54), que
continuou a luta contra Federico. O papa, retirando-se em Lion, reuniu ali um
Concílio em 1245, anatematizou nele a Federico como herege e blasfemo, e o
declarou privado do trono, propondo aos germanos e sicilianos elegerem um novo
soberano. Sem terminar a luta contra Inocêncio IV, Federico II morreu em 1250. Inocêncio,
ao inteirar-se, com deleite declarou a todo o mundo a notícia de sua morte,
como um acontecimento grato para o céu e a terra.
Clemente IV
Os filhos de Federico, Conrado IV
e Manfredo se ocuparam de afirmar o poder imperial, o primeiro na Alemanha, o
segundo em Nápoles e Sicília. Conrado em pouco tempo morreu, deixando um filho
Conradino. Como Inocêncio, assim seus sucessores, seguiam lutando com os
Gogenstaufen. Para tirá-los de Nápoles e Sicilia os papas os opuseram a um
príncipe francês Carlos de Anjou, que por seu convite veio à Itália com
cruzados. Nesta luta Manfredo foi morto e Conradino feito prisioneiro e julgado
por Carlos em Nápoles (1268), não sem conhecimento do Papa Clemente IV
(1265-68).
Carlos d'Anjou
Depois de centúrias da luta teimosa
com a casa inimiga de Gogenstaufen, o papado obteve uma vitória completa. Mas
esta vitória significou o princípio da queda do mesmo papado. Carlos de Anjou,
que devia seu poder sobre Nápoles e Sicília aos papas, tratava agora de ocupar
na Itália a mesma posição que ocupavam os imperadores alemães. Os papas tiveram
que fazer grandes esforços para debilitar seu poder. O Papa Nicolau III
(1277-80) fez alianças com imperadores germânicos e bizantinos e antes de sua
morte preparou um levantamento em Sicília, conhecido como "tarde
Siciliana." Apesar disto, Carlos teve tempo de conseguir tal influência na
Itália, que em 1281, obrigou a eleger um papa adepto a ele, Martinho IV
(1281-85).
Papa
Martinho IV
Mas muito mais perigoso para o
papado foi seu outro inimigo, o rei da França Felipe o Formoso (1285-1315). Ele
reprovou o direito adquirido dos papas de intrometerem em assuntos civis de outro
estado. Ele deu o primeiro golpe cruel ao Papa Bonifácio VIII (1294-1303). Felipe
levava adiante uma guerra com a Inglaterra. O papa propôs sua mediação, o que
Felipe rejeitou não desejando a intervenção papal. O papa se enojou quando soube
que Felipe, para cobrir os gastos bélicos instituiu uns impostos ao clero
francês. Em 1296 o papa editou uma bula, na qual (sem nomear a Felipe) ameaçava
com a excomunhão aos leigos que impõe impostos sobre o clero e ao clero, que paga-os.
O rei respondeu a isso com a proibição de exportar da França os metais
preciosos. A conseqüência disso o papa perdia seus bens na França e por isso
cedeu. Ao clero não foi proibido fazer doações voluntárias para as necessidades
do Estado. Produziu-se a reconciliação e Felipe até aceitou a proposta do papa
de servir de mediador nas conversações com o rei inglês. Mas logo se viu que o
papa, no papel de mediador apoiava o rei da Inglaterra. A inimizade aumentou e
a luta de Felipe com Bonifácio se aumentou enormemente. Em 1301 o legado papal,
um bispo francês, falou com o rei em forma tão atrevida, que aquele o prendeu,
não tomando em conta a exigência do papa de levar este assunto a seu juízo. O papa,
enojado, escreveu ao rei: "Teme a Deus e guarde Seus mandamentos. Desejamos
que saibas que em assuntos espirituais e temporais dependes de nós... Aos que
pensam diferente os consideramos hereges." Em outra carta ele propunha a
Felipe com o clero francês virem a Roma ou enviarem aos apoderados para explicações
destes assuntos. Felipe queimou ambas as cartas e respondeu ao papa assim:
"Que saiba tua enorme estupidez que em assuntos temporais não dependemos
de nada... Aos que pensam diferente consideramos insensatos." Felipe
chamou em 1302, membros de todas as classes sociais, que se expressaram como o
rei contra o papa, e declararam solenemente, que o rei recebeu sua corona de
Deus e não do papa. Com isto concordou também o clero francês. Bonifácio respondeu a isto com um concílio
em Roma, que condenou as ações dos franceses e com a bula "Unam
Sanctam" (as primeiras palavras da bula) desenvolveram o sistema de Gregório
VII. Ela diz: "Cristo deu à Igreja duas espadas, símbolo dos dois poderes
— espiritual e civil. Ambos os poderes estão instituídos em proveito da Igreja.
O poder espiritual se encontra nas mãos do papa, em troca, o civil — nas mãos
dos reis. O poder espiritual é mais alto que o civil, como a alma é mais alta
que o corpo. Por isso, como o corpo está submetido à alma, assim o poder civil
deve estar submetido ao poder espiritual. Só com esta condição o poder civil
pode ser útil à igreja. No caso de mau uso do poder civil, este deve ser julgado
pelo poder espiritual. O poder espiritual não pode ser julgado por ninguém.
Separar o poder civil do espiritual é considerá-lo independente, significa
introduzir uma heresia dualística — maniquéia. Em troca, reconhecer no papa
toda a plenitude do poder espiritual e civil, significa reconhecer um necessário
dogma da fé.
Papa
Bonifácio VIII
A esta bula, Felipe respondeu com
uma nova reunião dos representantes de estados, na qual um jurista, Guilherme
Nogaret acusou o papa de vários delitos e propôs dar ao rei poder para prender
o papa para julgá-lo. Bonifácio não aguentou mais, ele anatematizou a Felipe,
impôs injunção sobre a França e excomungou a todo o clero francês. Felipe
fez uma terceira reunião. Ali
seus hábeis juristas acusaram a Bonifácio de simonia e outros crimes, que nunca
existiram, como por ex., bruxaria. Como conseqüência decidiu chamar um Concílio
Universal em Lion para o julgamento do papa e absolvição do rei. A Guilherme
Nogaret foi encomendado prender a Bonifacio e trazê-lo ao Concílio. Nogaret foi
a Itália, acompanhado de outro inimigo do papa, o cardeal da família de
Colonna, que foi expulso por Bonifácio quando começou seu papado. Os enviados
encontraram o papa na cidade de Anania. Para neutralizar os seus inimigos, ele
os recebeu sentado no trono com todas as vestimentas papais. Mas eles não tomaram
isto em conta, o prenderam em sua própria casa e o trataram tão brutal e
cruelmente, que ele, uma vez liberado, depois de três meses, pelos habitantes
de Anania, quando voltou a Roma, perdeu o juízo e logo morreu (1303).
O sucessor de Bonifácio, Bento
XI, tinha consciência, que seu predecessor atuava com demasiada força, e tratou
de reconciliar-se com a França, mas depois de oito meses morreu (1304). Na
eleição do novo papa, os cardeais se dividiram — os que defendiam os interesses
da França, desejavam ver no trono a um francês; os viciados em interesses do
papado de Bonifácio, — a um italiano. O partido francês ganhou. Foi eleito papa
o arcebispo de Bordeau — Bertran, que tomou o nome de Clemente V (1305-14). Felipe
o Formoso, que tinha influência sobre a eleição, fez jurar o novo papa de
anular todas as diretivas de Bonifácio sobre ele, condenar a Bonifácio e dissolver
a Ordem dos Templários.
Temendo encontrar inconvenientes em Roma por sua amisade com a França, Clemente
decidiu ficar para sempre na França. Chamou alí aos cardeais em 1309 e fixou sua
residência em Avignon. Alo os papas ficaram até 1377 e esta permanência de quase
70 anos em Avignon se conhece na história como "cativeiro de Avignon dos
papas." Os papas de Avignon, começando por Clemente V, caíram em uma total
dependência dos reis da França e atuavam sob sua influência. Ao mesmo tempo, levavam
uma vida indigna dos sumo pontífices, com a qual debilitavam ainda mais sua
influência. Com tudo isso, os papas de Avignon tendiam a julgar e tinham o papel
de soberanos universais, mas não da França, ao menos de outros estados. Mas não
tinham êxito. A consciência da
independência, do poder civil, do poder espiritual, já tinha madurado em todas as
partes. Depois da França, protestou a Alemanha contra as pretensões papais. Em
vão, os papas enviavam ali as injunções e excomunhões — ninguém os tomava em conta.
Em 1338 o imperador germânico, Luis da Bavária, duques e príncipes decidiram, em
um ato solene, manifestarem a independência do poder civil do espiritual. Declarando
que as pretenções papais sobre o manejo da coroa imperial, está fora da lei. Eles
decidiram no futuro na eleição do imperador, de passarem por cima da ratificação
papal. O mesmo foi declarado na "bula de ouro" de Carlos V (1356). A Inglaterra,
que se encontrava desde João Sem Terra, em plena dependência dos papas, também
se libertou de sua influência. No reinado de Eduardo III (1327-77), cessou o
imposto feudal aos papas e aboliu o apelo à Roma. Na Itália, o poder
papal decaiu notoriamente. Só
na região da Igreja, se considerava o papa um formal soberano, mas na realidade,
nem ele, nem seus legados não tinham nenhuma influência sobre o governo. Os
defensores do papado tinham a total abolição do poder papal na Itália, se os
papas ficariam em Avignon, e por isso os convidavam a voltarem a Roma. Isto o
entendiam também os mesmos papas. Gregório XI (1370-78), procurando um exército mercenário, para voltar
à região da Igreja, levou, por fim, sua residência a Roma. (1377).
Ali ele morreu em 1378. Com a
morte de Gregório XI, na Igreja de Roma começou o que se chama: o grande cisma.
Na cúria papal, a maioria dos cardeais eram franceses, chegados de Avignon. Eles
insistiam na eleição de um papa francês, mas o povo de Roma exigia que o papa fosse
romano. Foi eleito por fim um italiano Urbano VI (1379-89), homem de caráter forte
e cruel. O novo papa começou seu reinado com a correção dos costumes do clero e
até tocou nos cardeais. Ofendidos com isto, os cardeais franceses, levaram as
joias papais, deixaram Roma, declararam ilegal a eleição de Urbano e elegeram seu
papa Clemente VII (1379-94), que logo se colocou em Avignon. A Clemente reconheceu
a França, Nápoles e Espanha. A Urbano — os estados restantes. De maneira que na
Igreja de Roma apareceu um duplo poder.
Papa Clemente VII
Com a aparição do grande cisma o
mundo ocidental, acostumado a ver no papa a única cabeça da Igreja, houve um sentimento
de confusão. Os papas, tanto os romanos como os de Avignon, aumentavam todavia
mais a confusão com suas intrigas, anátemas recíprocos e vida licenciosa. A disciplina
da Igreja caiu. Aumentaram os abusos, parcialmente a simônia. Fé na necessidade de uma cabeça visível da
igreja surgiu no ocidente. Começaram as declarações contra a supremacia do papa
na igreja. Se expressavam os pensamentos que o Concílio Universal é mais alto
que o papa e pode julgá-lo , e que só por meio do Concílio Universal se pode
terminar o cisma e os abusos na Igreja. Depois de certas consultas, os estados
ocidentais convieram a tomar medidas sérias para terminar com o cisma. Em 1397 na
reunião de Frankfurt os representantes dos estados decidiram convidar a abdicar
a ambos os papas. Mas não houve acordo. Então os cardeais romanos e franceses, irritados pelo
comportamento de seus papas concordaram em convocarem um Concílio. O Concílio em
nome de ambos os grupos se reuniu em 1409 em Pisa. Ao mesmo tempo os papas chamaram
a seus Concílios, nos quais negavam a legitimidade do Concílio de Pisa.
No Concílio de Pisa, além dos
cardeais, bispos e abades, estavam presentes muitos mestres de teologia e direito
canônico. França e Inglaterra enviaram seus representantes. Mas o Concílio, que
tratava de por fim a duplo poder, não chegou a esta meta pelos erros cometidos.
O Concílio decidiu, que os papas podem serem julgados por ele e exigiu a presença
de ambos para seu juízo. Quando nenhum dos dois apareceu, o Concílio os declarou
destituídos. Logo se levantou a questão das reformas na igreja em sua cabeça e membros. Mas
os cardeais trataram de convencer o Concílio de elegir um novo papa antes destas
reformas e sob sua direção fazer as reformas. Foi eleito papa, Alexandre V. Nisto
radicava o principal erro. Alexandre, sob o pretexto, que para as reformas são
necessários uns trabalhos prévios, dissolveu o Concílio com a promessa de reuní-lo
outra vez em três anos. Em suma — a igreja romana, em lugar de dois papas, teve
três. Cada um deles considerava a si mesmo legal e estava reconhecido por tal ou
qual estado. Alexandre V morreu em 1410. Dizem, que foi envenenado pelo Cardeal
Baltazar Cossa, que ocupou depois o trono com o nome de João XIII.
Papa Alexandre III
Cardeal
Baltazar Cossa
Este papa, depois de reiteradas
exigências de todas as partes e particularmente do imperador alemão Segismundo,
esteve de acordo em chamar um Concílio Universal, que sessionou desde novembro
de 1414 até maio de 1418 em Constanza.
Imperador
Segismundo
De fato governavam os três papas:
em Roma Gregório XII (desde 1406), reconhecido pela Itália média e ao Sul; em
Avignon Bento XIII (desde 1394), reconhecido pela França e Espanha; e em Bolonha,
João XXIII, reconhecido pela Itália ao Norte, Suíça e Alemanha. O Concílio
Universal não encontrou outro meio que fosse destituir aos três papas e eleger
(11 de novembro de 1417) a Martinho V, que encerrou o Concílio com a promessa
de chamar a um novo em 5 anos. Os representantes dos estados lograram obrigar o
papa a formar acordos separados com cada estado sobre supressão de algumas falhas
da Igreja. Martinho convenceu o Concílio de adiar as reformas principais até o
novo Concílio. Este foi encerrado em 1419. Durante o governo de Martinho morreram os papas
restantes e terminou o cisma. Das reformas ele não se ocupava. Só chamou ao
concílio em Basel em 1431 e neste mesmo ano morreu.
Papa Gregório XII
Papa Bento XIII
Papa João XXIII
Papa
Martinho V
O sucessor de Martinho, Eugênio
IV (1431-47) teve que abrir o concílio de Basel, já que os convidados por Martinho
já chegaram a Basel em 1431. O novo papa enviou ali a seu cardeal, que abriu as
sessões. Eugênio calculava que o concílio iria trabalhar completamente segundo
suas indicações. Mas não resultou assim. O Concílio de Basel, em seguida e
justamente sobre o assunto de Gussitas, declarou que atuará independentemente. Em
consequência o papa declarou o concílio encerrado. Mas os padres de Basel não
aceitaram. Sustentando a situação anterior, que o Concilio Universal é superior
ao papa, eles exigiram a presença de Eugênio para julgá-lo e em caso de negação
ameaçaram com sua destituição. Depois de alguma luta, o papa, obrigado pelas
circunstâncias, em 1433, teve que anular sua diretiva de encerramento do Concílio.
Mas a paz foi de curta duração. O Concílio de Basel iniciou as reformas da Igreja e, antes de tudo,
se declarou contra o poder ilimitado do papa. Eugênio, naturalmente, não pode
estar de acordo com isto. Começou a polêmica. Os padres do Concílio sustentavam
que o Concílio é superior ao papa e por isto ele tem que obedecer ao Concílio. Em
troca, o papa dizia que o Concílio depende completamente do papa e suas decisões
recebem a força de lei, quando estão endossadas pelo papa. Para terminar com as
tendências reformadoras do Concílio de Basel, Eugênio em 1437 decidiu trasladá-lo
à Itália. Neste mesmo tempo havia negociações entre o papa e o governo grego
para fazer um concílio e discutir a questão de unificação das igrejas. Eugênio
sustentou que este concílio deve reunir-se na Itália e propôs aos de Basel
mudarem-se também dali. Os de Basel se negaram.
Papa Eugênio IV
Eugenio apesar disso, declarou, em
1438, o Concílio de Basel encerrado e fixou um novo em Ferrara, que logo passou
a Florênça. Apesar de tudo isto, o concílio de Basel continuava com suas sessões
e imediatamente depois da abertura do concílio em Ferrara, declarou a Eugênio
destituído. Eugênio, por isso, excomulgou a todos os padres de Basel. Depois disto
o concílio de Basel começou a esgotar; muitos dos bispos o deixaram e até se passaram
ao papa. Mas o restante, imperturbáveis, em lugar de Eugênio elegeram
a um novo papa, Félix V. Mas a
escisão papal recordavam a todos e por isso, a eleição de um novo papa foi recebida
com desconformidade. Só alguns poucos príncipes germânicos o
reconheceram. Mas com tudo, o
Concílio de Basel, que continuou com interrupções e em distintas cidades até
1449, debilitou marcadamente o poder papal. Suas reformas foram aceitas na França
e Alemanha, e ali, em base a elas, o clero e as igrejas se encontraram em situação
mais independente do papa. Na França, em 1438 apareceu, o que se chamou a
"sanção pragmática" e na Alemanha em 1448 — o acordado veio, com os quais
se definiam as relações das igrejas francesa e alemanha, com o papa.
Eugenio IV, ao terminar seus assuntos
com os gregos, dirigiu todas suas forças para destruir as consequências do Concílio
de Basel. O mesmo exigiam seus sucessores. Mas o despotismo papal era conhecido por
todos e por isso as exigências dos papas para dominar sobre todas as igrejas, não
tinham êxito. O que se refere à influência dos papas sobre a política dos
estados ocidentais, isto já no século XV, os papas nem tentavam.
Eles entendiam que o tempo das idéias
de Hildebrandt já haviam passado. Só na Itália e principalmente na região da igreja,
o papado podia todavia usar o poder civil. Sobre a afirmação deste poder os
sucessores de Eugênio IV, antes da reforma dirigiram toda sua atenção. Eles
desejavam transformar a sua região da igreja em um verdadeiro estado, e ser seus
soberanos. Como consequencia desta política o papado, mas que nunca tomou um
caráter civil. De maneira que os pontífices e "aqueles que tinham o lugar de
Cristo" se trasformaram em astutos políticos, intrigantes, soldados,
tiranos luxuosos e imorais, etc. Assim, Leão X (de Médicis,1513-21), durante cujo
reinado começou a reforma, era um suntuoso e licencioso soberano. Artes, letras
e ciências às quais ele protegia, o causavam finos prazeres, porém a religião e
a Igreja com este papa foram completamente esquecidos. O mesmo papa era cético
em relação ao cristianismo e sua comitiva, abertamente, expressava sua falta de
fé e ridicularizavam todo o sagrado.