quinta-feira, 26 de janeiro de 2012

38. A MISSÃO ANGLO-SAXÔNICA ENTRE OS GERMÂNICOS.





I. Willibrordo. 

1. No início do século VIII não estavam ainda asseguradas as bases do Ocidente cristão:
a) nem por parte cristã-eclesiástica: pois precisamente neste setor houve aqui, no continente, sintomas muito graves de debilidade (veja mais adiante); os pagãos frisões e saxões se voltaram ofensivamente contra o Ocidente; as igrejas territoriais autônomas, situadas umas junto a outras, favoreciam mais a uma evolução secessionista;
b) nem por parte da constelação política: que estava muito longe de ter um seguro equilíbrio. Por uma parte, uma potência política mundial ameaçava a existência do cristianismo e, por outra, estava em jogo sua unidade. Os centros perigosos eram: o Islam; a política antipapal de Bizâncio (o imperador Leão, o iconoclasta, § 39); a oposição das forças políticas dentro do Império franco e suas desavenças com os principados fronteiriços; as pretensões dos longobardos sobre Roma e Itália.
No império dos francos a situação se estabilizou depois da vitória sobre os árabes (Poitiers, 732) com a subida ao trono do mordomo do palácio Carlos Martel, lograda com a ajuda da nobreza e do episcopado. Estes nobres, sem problema, receberam a devida recompensa com a alocação de bens eclesiásticos. A Igreja territorial franca ficou, pois, ainda mais estreitamente vinculada ao status político do império.
2. A pergunta — que retrospectivamente poderíamos formular — se refere a como e por que o império franco pode ser o centro de integração de uma unidade ocidental. A Igreja territorial franca estava excessivamente isolada para lográ-la; só uma integração de toda a Igreja podía fazer tangível a unidade.
O haver preparado isto é, precisamente, o mérito de São Bonifácio.


Ele aproximou las duas potências, o "papado" e o "império franco" (que somente tinha confusas idéias de um em relação ao outro), até tal ponto que houve possibilidade de uma firme aliança. A evolução política foi a que converteu a dita possibilidade em um fato. É certo que quando o Papa Gregório III no ano 739 se dirigiu pela primeira vez a Carlos Martel pedindo-lhe proteção, o mordomo, aliado com os longobardos, negou.

Papa Gregório III

Mas com a autêntica união entre o Papa Estevão II e o rei Pepino no ano 753/54 chegou "um dos grandes momentos da história universal; nesse instante se criou o Estado guerreiro-sacerdotal, que é a base de toda a evolução européia" (Ranke).

Papa Estevão II  

                                                                     Pepino o breve

3. Apareceram os missionários beneditinos da Igreja anglo-saxônica, pregando com a cruz ao alto, primeiramente diante dos frisões (costa do Mar do Norte, desde a Bélgica até Weser). O rude sentido de independência deste povo se opôs à cristianização durante muito tempo. Depois dos fracassados esforços do bispo de York, Wilfrido (+ 709) e alguns outros, no ano 689 Willibrordo (+ 739), discípulo de Wilfrido, desembarcou nesta terra com outros onze companheiros.

São Wilfrido

Trabalhou em conivência com o mordomo franco Pepino o Breve, a quem visitou pessoalmente, e de acordo com o papa. Duas vezes viajou a Roma. Em sua segundo viagem (695) foi consagrado arcebispo pelo papa Sérgio (687-701).
Papa Sérgio I

Por indicação de Pepino estabeleceu sua sede em Utrecht. No ano 698 Santa Irmina (da nobreza franca?) apresentou bens para fundar o mosteiro de Echternach (no atual Grande Ducado de Luxemburgo).

Santa Irmina

Ele converteu em seminário de missionários. Em certo sentido Echternach foi o ponto de partida da missão definitiva da atual Alemanha. Pois muito provavelmente Willibrordo enviou dali, no ano 719, a Bonifácio do Oriente, quando Bonifácio recusou seguir trabalhando na mesma missão frisã. Também alí, depois de uma vida cheia de trabalhos e êxitos, foi enterrado o "apóstolo dos frisões." Nos séculos seguintes Echternach se converteu em um importantíssimo centro de cultura e de religião cristã (produção de livros!) e logo, através dos séculos, foi uma célebre abadia do império.


O discípulo e companheiro de São Willibrordo tinha que superar a seu mestre. Bonifácio é o propagador, purificador e organizador da Igreja na Germânia e no reino dos francos ocidentais.

1. Wilfrido (assim se chamava) nasceu em 672 (talvez também da nobreza anglo-saxônica?). Desde jovem já levava o hábito de São Bento. Cumpridos já os quarenta anos, deixou o convento para entregar-se ao trabalho missionário, pelo qual viveu quase outros quarenta anos. Sua primeira viagem aos frisões, donde trouxe todo o trabalho de Willibrordo acreditava poder encontrar um bom ponto de partida para suas tentativas de conversão, não teve éxito algum. Precisamente então, no ano 716, Radbod, duque frisão pagão, havia reconquistado a Frísia submetida aos francos cristãos. Uma segunda viagem levou a Wilfrido da Inglaterra diretamente a Roma. Ali, no ano 719, o Papa Gregório II, depois de conceder-lhe o nome romano de Bonifácio (por um mártir da Cilícia), o admitiu na família papal (ainda que não no sentido jurídico) e o enviou à Germânia com o mandato geral de ser missionario (até 721 com Willibrordo na Frísia; em 722 em Hessen; fundação de um primeiro mosteiro: Amöneburg).
Bonifácio, como os monjes dos mosteiros anglo-saxões em geral, esteve fortemente enraizado no espírito popular de seu povo. Como consequência, ele, o "novo" saxão, se sentiu especialmente atraído por seus companheiros de tribo no continente, pelos saxões. Ainda que o mesmo não chegou a evangelizar estas tribos (porque o Papa Gregório III, no ano 737/38, com bom critério não autorizou seu plano orientado neste sentido), a missão saxã, nem porém, foi sempre a aspiração secreta de sua vida, ao que esteve especialíssimamente dedicada sua oração e a de seus amigos. Seus diversos trabalhos missionários devem ser em boa parte valorizados como etapas preparatórias de seu caminho até os saxões.

2. Em sua segunda viagem a Roma (722) Bonifácio prestou juramento de fidelidade a Gregorio II 22, similar ao que até então só os bispos dos alredores de Roma estavam obrigados a prestar, e foi consagrado bispo da missão (sem sede fixa).
Papa Gregorio II

Agora se chegaram os grandes êxitos. Cerca de Geismar, a azinheira de Donar caiu em mãos do arauto da fé: um verdadeiro juíz de Deus aos olhos dos pagãos presentes. A missão de Hessen foi coroada com a fundação do mosteiro de Geismar. Durante o ano 724 pode dar-se por terminada a verdadeira evangelização dos pagãos.
Seguiu logo a tentativa de purificar e aprofundar a vida cristã. Em Hessen, e mais ainda na Turíngia, ficavam ainda cristãos dos primeiros tempos. Mas o nível desta cristandade imatura ou abandonada a si mesma era terrivelmente baixo em suas brutas manifestações externas, que às vezes chegavam a concretizarem-se em múltiplas formas de superstição e paganismo. Bonifácio também teve então que lutar, como durante toda sua vida, contra o antigo clero, totalmente desconsiderado, que dentro do Império franco se correspondia com uns bispos da mesma estirpe, proprietários de terras e casados.
Com a ajuda de grande número de colaboradores provenientes da Inglaterra (entre outros Lull e Burchard), a que se somaram valiosos elementos dos mosteiros femeninos ingleses (Santa Tecla; Santa Lioba, parente e amiga sua), completou o santo sua obra missionária ao oriente do Reno e na atual Francônia com a ereção de vários mosteiros (também mosteiros de monjas: Tauberbischofsheim, Kitzingen e Ochsenfurt, que se converteram nas primeiras instituições cristãs para a educação de meninas na Alemanha). A amplidão de seu campo de trabalho o obrigou, com farto sentimento, a empregar também sacerdotes insuficientemente formados.

3. Porém tanto, na cúria romana se reconheceu a importância da obra de Bonifácio e se o elevou à dignidade de arcebispo (732), mas sem atribuir-lhe uma arquidiocese. Uma terceira viagem a Roma [738/39] o serviu para apresentar um minucioso programa da tarefa que ficava por fazer. Se tratava principalmente da organização eclesiástica. O trabalho se iniciou com a ajuda de Odílio, duque da Baviera, na Igreja bávara.
Apesar da atividade de Ruperto de Worms em Salzburgo, de Emerano em Ratisbona e de Corbiniano em Freising, na Igreja bávara só havia então um bispo: o de Passau. Bonifácio dividiu a Igreja bávara em quatro bispados (Salzburgo, Passau, Freising e Ratisbona). Posteriormente se agregou Eichstätt. Novos conventos se converteram em focos de vida religioso-eclesiástica. Os sínodos provinciais ajudaram a eliminar deficiências e fomentaram todo tipo de bens.
No Império franco propriamente dito Bonifácio não pode empreender a organização da Igreja erigindo novas diócesis até depois da morte de Carlos Martel (741), sob a proteção de Carlos Magno e do menos fervoroso Pipino.
Carlos Magno

Em Hessen-Turíngia erigiu os bispados de Würzburgo, Erfurt e Büraburg (742). Para eles pediu expressamente ao papa as bulas de confirmação, coisa que até então nunca havía sucedido. Enquanto esteve em sua mão, pois, Bonifácio transmitiu à Igreja franca sua vinculação pessoal com o papa, contraída por ele mediante seu juramento de fidelidade no ano 722, extendendo assim a jurisdição papal a esta Igreja; um proceder de incalculável importância.
Bonifácio se converteu de fato no primado do reino franco-oriental (Austrasia). Ele se fez patente na decisiva participação que teve no primeiro concílio geral franco-oriental do ano 743 (o chamado Concilium Germanicum, convocado por Carlos Magno, que publicou seus decretos e os deu com isto força de lei). Alí fez que os bispos prestassem juramento de fidelidade ao papa: uma nova ampliação da jurisdição pontifícia. Aos mosteiros exigiu-os a introdução da regra de São Bento; se regulou a educação do clero e do episcopado, que segundo as descrições das cartas do santo estavam em sua maior parte incrívelmente corrompidos desde o punto de vista moral (proibição da caça e do serviço das armas). Os bens arrebatados às igrejas deviam serem devolvidos (mas não suscedeu assim).

4. Em seguida, o raio de ação do santo se ampliou novamente. Pelo Concílio de Soissons (744) e pelo primeiro concílio geral franco (745), Bonifácio apareceu (naturalmente com a aprovação do mordomo) inclusive como chefe supremo da Igreja de Neustria e, pelas decisões conciliares, também como seu reformador.
Pela introdução da constituição de metropolitas, também então expressamente decretada, fracassou ante a oposição do antigo episcopado franco, apesar do êxito das gestões com o papa. O mesmo Bonifácio não chegou a ser metropolita com sede em Colonia, como se havia decretado, senão que recebeu o bispado de Maguncia (746).
Em seu enérgico proceder contra indignos membros do clero, Bonifácio encontrou a natural oposição. Os bispos francos nativos, casados em sua maioria, que só pensavam em dinheiro, no prazer e no poder, se mostraram contrários desde os primeiros anos até o fim à vida de missionário. Não venceu totalmente a resistência, mas se iniciou a reforma e a organização canônica com clara visão do objetivo, de modo que eles mesmos puderam logo desenvolverem-se orgânicamente. Logrou o que se propôs: a renovação das Igrejas da Germânia e da Gália e, de acordo com as tradições da Igreja de sua pátria inglesa, fundada por Roma, sua união com o centro determinado pela vontade divina. Em um sínodo do ano 747, Bonifácio consseguiu que os bispos francos anunciassem que "eles haviam decidido manter firmemente sua unidade com a Igreja de Roma e a submissão à mesma."

5. Como escola modelo e seminário para toda Alemanha, Bonifácio fundou no ano 746 o mosteiro de Fulda, nomeando abade do mesmo o bávaro Sturm. Para o mosteiro obteve, mediante indulto papal, isenção completa no sentido de independência canônico-eclesiástica de qualquer bispo diocesano (tem aqui outra notável ampliação do poder pontifício na Igreja territorial franca 23). O mosteiro de Fulda foi também (como os mosteiros ingleses) um centro de formação. Fulda foi a alegria do ancião missionário, convertendo-se em um centro de atividade religiosa, econômica, científica e artística. Bonifácio foi enterrado também em Fulda, quando, retornando a seu primeiro amor, fazendo uma viagem de missão à Frísia (seu bispado de Maguncia já o havia assegurado previamente para seu discípulo Lull), morreu martirizado junto com alguns companheiros no ano 754, com idade aproximada de oitenta anos.

6. Nos últimos decênios, a São Bonifácio se tem negado o título honorífico de "apóstolo dos alemães." O conceito de "alemães" não se corresponde, efetivamente, com o de "germânicos," os evangelizados por Bonifácio; tampouco foi ele o único que trouxe a luz do evangelho às tribos das quais posteriormente se formou o povo alemão; ainda, foi missionário em uma época em que a tarefa missionária já não se centralizava preferencialmente nos pagãos. Nem porém, este título tem sua razão de ser: a) primeiro porque foi muito relevante a região em que o santo evangelizou os pagãos (parte da Frisia, Hessen, Turingia); b) porque, ainda, purificando e reavivendo antigos centros eclesiásticos, conseguiu lograrem decisivos; c) porque, mediante a organização eclesiástica, deu nova vida real e duradoura a toda a Igreja franca; d) e finalmente, o mais importante: 1) porque de forma profunda e indelével inculcou novamente na consciência da Igreja franca o ideal cristão e, mais concretamente, o sacerdotal, segundo as normas da Igreja antiga; e 2) porque toda sua tarefa, como ele mesmo disse, foi uma legatio romana, porque trabalhou expressamente como representante do papa. Em resumo, ele penetrou até mesmo ao centro da Igreja 24; somente assim pode prestar apoio às débeis igrejas territoriais. O fato de que Bonifácio "como legado do papa fortalecera a influência de Roma na Igreja alemã por ele dirigida, únicamente se pode a ele reprovar caso se pensa de um modo completamente anti-histórico" (Heuss). Porque com ele "deu tanto à cristandade alemã como a toda a cristandade ocidental o impulso vital decisivo, potente e fecundo, pelo qual se alcançou o esplendor da Igreja e com ele a civilização da Idade Média" (Sohm).
Naturalmente, não há quem esqueça que Bonifácio teve que realizar todo seu trabalho de reforma dentro do marco característico das igrejas territoriais. Pois Carlos Magno e Pipino consideraram a reforma da Igreja como coisa enteiramente suas. As declarações do mordomo da Austrasia no ano 743 no Concilium Germanicum e as de seu irmão Pipino em Soissons no ano 744 exigem esta interpretação. Os bispos reunidos figuraram como conselheiros, o mordomo promulgou as decisões eclesiásticas em suas capitularia como leis. Isto se deve a que nos concílios também tomavam parte os grandes do mundo.

7. Enquanto à situação religioso-política do Império franco antes de São Bonifácio (§ 37), seu trabalho pode considerar-se válido também para o Ocidente: a revitalização dos sínodos, seu proceder contra os usos e os costumes pagãos, o nomeamento de bispos zelosos da reforma e, entre outras coisas, sua tentativa de designar arcebispos. Estes obtinham seu poder mediante a recepção do Pallium, enviado diretamente do papa.
Recepção do Pallium

Isto deu origem a relações frequentes, ordinárias e regulares com o mais importante e autorizado defensor da idéia da antiga Igreja e com o centro de pensamento e de ação da Igreja universal: como temos visto, um meio essencial para lograr a unidade do Ocidente, tão ansiada como necessária para o saudável desenvolvimento do cristianismo.
Tudo isto, porém, não quer dizer que as tribos evangelizadas por Bonifácio se converteram em sua maioria em cristianismo pleno e conforme a revelação bíblica. Segundo posteriores manifestações do santo, seu juízo do ano 742 sobre a situação moral e religiosa de seu rebanho segue sendo mais ou menos válido: "Os povos da Germânia tem sido em certo modo sacudidos e levados ao bom caminho."

22. Neste juramento: "A ti, santo apóstolo Pedro e a teu sucessor... Gregório e seus sucessores..., por este teu santo corpo," ele não prometeu somente a fé e a unidade católica, a fidelidade e a obediência ao sucessor de Pedro, senão também "não fazer causa comum com os extraviados" e informar minuciosamente a Roma. De atuar contra esta promessa, sería considerado culpável do juízo eterno e do castigo de Ananías e Safira. Esta declaração de juramento "a tenho escrito com minha propria mão... e, como é costume, a tenho depositado sobre o santo corpo de São Pedro e o tenho jurado diante de Deus, juiz e testemunha." Um dado significativo das intenções político-eclesiásticas do missionário germânico, que pensava (e devia atuar) de modo tão decididamente eclesiástico-universal, é que havia apagado da fórmula de juramento a referência habitual ao direito romano e ao imperador romano do Oriente.

23. Antes que Fulda, tivesse obtido o privilégio da isenção Bobbio, o mosteiro de Columbano; aqui tinha tratado simplesmente de assegurar a vida monástica contra eventuais ataques do exterior (segundo o modelo irlandês).

24. E isto também no concernente ao humano-pessoal: "Qualquer alegria ou dor que me saisse fora do passo, costumava comunicá-lo ao sumo sacerdote sucessor dos apóstolos."

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Attikis, Greece
Sacerdote ortodoxo e busco interessados na Santa Fé, sem comprometimentos com as heresias colocadas por aqueles que não a compreendem perfeitamente ou o fazem com má intenção. Sou um sacerdote membro da Genuina Igreja Ortodoxa da Grecia, buscamos guardar a Santa Tradição e os Santos Canones inclusive dos Santos Concílios que anatematizam a mudança de calendário e aqueles que os seguem, como o Concílio de Nicéia que define o Menaion e o Pascalion e os Concílios Pan Ortodoxos de 1583, 1587, 1593 e 1848. Conheça a Santa Igreja neste humilde blog, mas rico no conteúdo do Magistério da Santa Igreja. "bem-aventurado sois quando vos insultarem e perseguirem e mentindo disserem todo gênero de calúnias contra vós por minha causa. Exultai e alegrai-vos pois será grande a vossa recompensa no Reino dos Céus." "Pregue a Verdade quer agrade quer desagrade. Se busca agradar a Deus és servo de Deus, mas se buscas agradar aos homens és servo dos homens." S. Paulo. padrepedroelucia@gmail.com