sábado, 23 de julho de 2011

16. Heresias nos Séculos II e III: Monarquianos, Gnose, Marcion, Maniqueus.

16. Heresias nos Séculos II e III:
Monarquianos, Gnose, Marcion, Maniqueus.

1. Antes de haver heresias expressamente formuladas, já alguns propagadores do evangelho pregavam coisas um tanto heréticas. Se exagerava, por exemplo, no papel dos anjos, ou mesmo Jesus era qualificado como anjo. Por um desmesurado desprezo da matéria, ou mais propriamente do corpo, alguns ensinavam que o Senhor só havia tido corpo aparente (docetismo) ou condenavam como pecaminoso o matrimônio e o comer carne (como já sucedeu nas comunidades paulinas, 1Tim 4:3).

a) O judaísmo não conhecia mais que uma forma de monoteísmo: o da fé em um só e único Deus. Jesus, plenamente imerso na tradição judaica da fé monoteísta, havia trazido a mensagem do Pai; enquanto o Messias, se havia colocado a seu lado como Filho e havia anunciado ao Espírito Santo. Sobre as relações íntimas destas três pessoas não havia dado muitas indicações: Eu e o Pai somos um (Jo 8:16); o Pai é maior que eu (Mt 24:36); quando vir o Espírito de verdade (Jo 16:13). E, ademais, o mandato de batizar, que põe aos três em igualdade, um junto a outro (Mt 28:19). Segundo esta pregação, Jesus ensinou a Igreja a crer em um Deus Pai, criador do céu e da terra, no Deus Filho e no Deus Espírito Santo, no Deus uno e trino. Surgiu o problema de como Deus é uno, sendo Deus tanto o Pai como o Filho; apartir do século II este foi o centro das controvérsias doutrinais.

b) A primeira tentativa de explicação, fizeram os apologetas (especialmente Tertuliano). Mantendo inquebrantável a plena divindade do Filho, não se apartaram nem um ápice da norma da fé ortodoxa. Mas em seu empenho por encontrar a formulação científica de sua profissão de fé, consideraram ao Filho subordinado de algum modo ao Pai (subordinacionismo). A idéia básica da Escritura, que sempre apresenta ao Pai como único Senhor e concessor do reino dos céus e à vontade do Pai como a ultimamente determinante, parece que reclamava, ao igual que certas expressões isoladas, estes conceitos monárquicos. A fé era irreprovável, mas sua formulação científica defeituosa.

c) Outros, pelo contrário, chegaram a rebaixar e incluir a negar a plena divinidade do Filho ou consideraram ao Filho como uma simples aparência do Pai (modalistas, patripasianos). Estas heresias não tiveram grande difusão nos séculos II e III, mas com a aparição de Ário (§ 26) constituíram uma verdadeira ameaça.

Não faltaram escritores que, combatendo uma heresia manifesta em um determinado ponto, não souberam evitar cair em erros doutrinais em outros pontos. Praxeas (+ 217), que combateu o montanismo, difundiu a sua vez uma doutrina monarquiano-patripasiana.

2. O maior perigo para a jovem e gentil Igreja cristã, talvez o máximo com que jamais se havia enfrentado, foi a gnosis (ou o gnosticismo).

Essencialmente se trata de um movimento religioso pagão dos primeiros séculos de nossa era. A gnose herético-cristã, que é a única que interessa à historia da Igreja, é só uma parte deste vasto e complexo movimento, que no fundo não é mais que uma mistura de religiões (sincretismo).

Este sincretismo, com sua quase sempre inextrincável e confusa proliferação, suas múltiplas variedades e sua mistura de idéias religiosas, tem sido uma das forças determinantes da vida psíquico-espiritual da humanidade do ecumene apartir da expedição de Alexandre Magno até ao Oriente, logo como rejeitou desde o Oriente até o Ocidente e, novamente, como consequência da expansão do Império romano nas antigas zonas culturais do Oriente (§ 4). Durante este processo, que durou séculos, as religiões populares como as idéias filosóficas se penetraram mutuamente: se intercambiaram nomes, imagens, figuras e mitos ou interpretações de origem do cosmos, da purificação do pecado e do perdão. Tudo andava misturado e mal interpretado pelos homens cultos, tão ascéticos como ansiosos de religião, ou completamente materializado pelo povo supersticioso.

O sincretismo, donde queira que de uma ou outra maneira se ocupou das finalizações metafísicas, facilmente se fez panteísta ou quando menos panteizante. Mas nos processos cósmicos descritos o elemento panteísta não se apresentava como amorfo, senão com caráter gradual; ao qual se aplicava tanto aos eons emanantes de dois em dois como às três distintas classes de homens movidos pelo poder divino: gnósticos, písticos, hílicos.

Quando a gnosis trabalha con elementos cristãos, o processo de mistificação se evidência a si mesmo na reelaboração da literatura apostólica recebida, que "é consertada, recopilada e completada com produtos próprios" (Schubert). E este serve tanto para a gnósis siríaca, que fez uma seleção puramente arbitrária, como para os sistemas especulativos muito mais exigentes (como, por exemplo, o de Basílides).

Gnose significa "conhecimento." Nos movimentos religiosos pagãos dos séculos I e II como na heresia cristã que denominamos gnose, a palavra não significa conhecimento em geral, senão conhecimento salvífico, conhecimento de índole religiosa. Já Paulo se havia esforçado para que suas comunidades construíssem sobre o primeiro fundamento da pregação um edifício mais alto, até chegar a uma "epignosis" (conceito superior) do evangelho (Ef 1:16ss). Mas entre este conhecimento superior estava, segundo Paulo, destinado a todos os cristãos, no século II apareceram dentro do cristianismo pregadores de uma nova doutrina, que afirmavam que existia um misterioso conhecimento salvífico que era só acessível a uns poucos, é dizer, aos "iluminados" (= gnósticos), e que esta gnose era diferente da fé (pistis) e superior a ela 48. Em um hino gnóstico disse Jesus ao povo: "Eu darei a conhecer o escondido do caminho santo e o chamarei gnose."

Um traço característico da gnose, que também era efetivo frente a outras religiões, consistia em não tomar o evangelho tal como era comunicado aos demais fieis; buscavam significados profundos, algo especial só para iniciados. E isto, por suposto, o pretendiam desde o ponto de vista religioso, ao qual, no fundo, é tanto como dizer desde o ponto de vista de uma doutrina redentora. O conhecimento misterioso — esta era sua opinião — não só obra a salvação; ele mesmo é a redenção. E esta se verifica, de um ou outro modo, no âmbito do anímico, ainda que primordialmente está condicionada pelo cósmico: ao proto-Deus e às forças divinas (lumínicas) que dele dimanam se opõe à matéria, má por si. Aqui nós falamos, pelo conseguinte, ante um conceito dualístico do mundo, tal como claramente havia sido definido pela primeira vez por Zaratustra, a dizer, que os gnósticos admitem junto a Deus bom e eterno a existência da matéria má, igualmente eterna. O mal do homem consiste em que sua melhor parte se separou da esfera do bom Deus (luz) intrincando-se na matéria. Por isso a redenção significa que essa melhor parte, a luminosa, seja liberada da matéria e conduzida de novo à esfera do sumo Deus (= subida). Na gnose cristã, o papel de mediador corresponde a um ser celeste que se chama Cristo, do qual se afirma que o bem habitou no homem real Jesus ou tomou um corpo aparente (docetismo).
Às vezes a misteriosa doutrina redentora vem acompanhada de ritos similares aos sacramentos. Aqui se faz patente a diferença entre autêntico sacramento e magia: uma misteriosa fórmula ou cifra, por exemplo, converte ao iniciado em homem redimido aqui ou depois de sua morte. Sobre tudo neste ponto central da doutrina cristã, no conceito de redenção, se evidencia a grave deformação, a arbitrária e fantástica tergiversação dos elementos cristãos adotados pela gnose.

Porque do que aqui se trata sencivelmente, como se tem dito, é que o espírito se libere da matéria que o cerca, e não de que a alma caia interiormente livre do pecado.

3. Houve até trinta sistemas diferentes de gnose. Só possuímos resíduos de sua literatura original; muitas coisas as sabemos unicamente através de fontes cristãs. Ensinamentos altamente instrutivos e em sua maior parte autênticas nos oferecem as recentes descobertas, já estudados em parte, de Nag'Hammadi no Egito. Estas descobertas nos dão a oportunidade de escutar aos mesmos gnósticos e comprovar o valor das exposições dos escritores eclesiásticos ( sendo eles: Ireneu, Hipólito e Epifânio).

Em todos os sistemas há pensamentos da história da revelação judeu-cristã e elementos da filosofía da religião greco-oriental. A mistura é muito variada. Em alguns sistemas predomina o elemento cristão, mas, como já se tem dito antes, o principal não é a humilde aceitação do anúncio da fé, senão que sempre vá por diante a tentativa de construir uma imagem do mundo mediante a razão, que livremente decide. Não raras vezes a razão é substituída pela fantasia e a extravagância (especialmente na gnosis oriental propriamente dita). Característico é o modo e maneira como as sencíveis palavras da Escritura são inchadas, selecionadas e misteriosamente retocadas.

Alguns gnósticos eminentes: Basílides, que provavelmente ensinou na primeira metade do século II no Egito, especialmente em Alexandria. Seu discípulo foi Valentino, que deu seu nome a uma importante seita. Nascido em Alexandria, ensinou em Roma entre 130 e 160 e ali, por volta de 140, pretendeu a sede episcopal. Idéias mais moderadas foram as de Bardesanes de Edessa (+ 222), que o parecer não foi partidário incondicional do dualismo.

De particular importância foram também, ao que parece, os setianos (que tomam o nome de Set, o filho "bom" de Adão, considerado como pai dos autênticos filhos de Deus). De seu círculo procede provavelmente a mencionada coleção de Nag'Hammadi.

A gnose foi uma degradação radical da intangível revelação religiosa de Jesus, fazendo dela uma filosofía, uma aguda helenização do cristianismo, uma falsificação de sua essência em suma. Seu grande êxito se deve: 1) a seu inegável conteúdo religioso, enormemente atraente sobre tudo para a fantasia humana; 2) a grandiosidade de sua imagem do mundo; 3) a sua tentativa de fazer do próprio pensamento do homem o elemento determinante da interpretação da realidade, ainda que dentro de uma revelação.

A declarada oposição entre cristianismo e gnose se faz particularmente aguda quando a hostilidade gnóstica contra a matéria desemboca em zelo exagerado e nas consequentes restrições rigoristas (recusa do matrimônio, do uso da carne e do vinho). Isto é precisamente o que encontramos em Taciano o Assírio, apologeta (§ 14) e fundador dos "encratitas" (= os rigorosos).

O enorme alcance deste fenômeno comumente chamado gnose se demonstra, desde um ponto de vista totalmente oposto, em Marcion.

Na gnose herética se exclui de ver de um modo desconcertante, e mais intensamente que em qualquer outra parte, a incrível vitalidade interna do paganismo durante os séculos II e III. Quantitativamente, os escritos heréticos cristãos-gnósticos superam aos escritos ortodoxos. Mas muitas coisas nelas são tão grosseiramente pagãs e contradizem tão claramente os atos e as doutrinas cristãs fundamentais que resulta difícil compreender que semelhantes idéias puderam fazer séria competência ao evangelho. Mas isto demonstra-o arraigadas que no solo pagão estavam então, através de mil e uma fibras, as idéias das pessoas cultas (das que aqui principalmente se trata). No sincretismo, principal suporte da gnose, como temos dito, sustentavam uma espécie de crescente epidemia espiritual. Seu instrumento literário-teológico consistia em uma exegese alegórica, fantástica, desenfreada, mal aplicada.

Daqui se compreende que a reação pagã do imperador Juliano (§ 22) não fora um fenômeno isolado, senão a última das muitas manifestações da vida pagã de grande estilo no âmbito religioso-espiritual e político do império.

4 . O sistema gnóstico mais cristão e ao mesmo tempo mais sério desde o ângulo religioso e moral, e no que mais fortemente se acusou o perigo que este movimento entranhava para a Igreja, foi a doutrina de Marcion. Seu próprio pai, bispo de Sinope, junto ao Mar Negro, o havia excomungado. Logo, primeiramente se refugiou (139) na comunidade de Roma, mas foi expulso dela em 144.

a) Marción não era somente um teólogo, senão também um político.
Havia compreendido que a pura interioridade, que uma doutrina verdadeira só para si mesma não tem suficiente efetividade: como todo valor que queira adquirir grandes proporções e Perdurar, a verdade e a mensagem cristã devem apresentarem-se em uma forma clara e eficiente; se tem de poder governar e administrar. Por isso Marcion fundou em Roma (em 146) sua própria Igreja. Apartir do século III adquiriu uma enorme difusão desde a Gália até o Eufrates: era uma Igreja com seus próprios bispos, sacerdotes, templos, liturgia e inclusive mártires. Unicamente desta forma pode a doutrina heterodoxa de Marcion constituir um sério perigo para a Igreja Católica Apostólica.

b) Marcion defendia o isolamento parcial das idéias específicamente paulinas, suprimindo todos aqueles elementos suspeitosos de recaída no judaísmo (no qual, segundo sua opinião, haviam caído todos os apóstolos, a exceção do "verdadeiro" Paulo e uma parte de Lucas). Fez que a aversão à lei chegasse até a contradição absoluta entre o Antigo e o Novo Testamento: há duas divindades, o Deus bom, que só sabe de amor e de misericórdia, a dizer, o Pai de Jesus, e o Deus mal, o Deus da criação, o Deus da fé judia. Para quebrantar o poder deste, o Deus bom enviou a Cristo em um corpo aparente para trazer-nos a salvação, a qual só se pode conseguir pela fé no enviado.

Para apoiar sua doutrina, Marcion confeccionou um Novo Testamento conforme a suas idéias básicas (tachou, por exemplo, o princípio do Evangelho de Lucas, a epístola aos Hebreus e as cartas pastorais).

5. Naqueles séculos, a impaciente busca da redenção, de purificação espiritual e de conhecimento profundo sempre constituiu no campo cristão uma intensa luta por expor a doutrina de Jesus Cristo em sua genuína pureza. Como Marcion, também Mani, fundador do maniqueísmo (crucificado em 276), acreditava que se havia perdido a verdadeira doutrina de Jesus. Se considerava enviado de Jesus Cristo (O Paráclito anunciado por este) para trazer-nos de novo, como última revelação de Deus, a esquecida verdade de Jesus.

No conjunto dos movimentos gnósticos talvez é este ponto o que apresenta maior perigo: o abuso do nome de Jesus e de sua mensagem, oferecido como interpretação mais profunda. Também isto é aplicável ao maniqueísmo, ainda que este, por mais, sustentar um rigoroso dualismo: a luz é a força do bem; toda matéria é mal. Por isso se prescreve a absoluta abstinência de todo o material (carne, vinho) e se condena o matrimônio.

O maniqueísmo tem tido um alcance mundial: havia seguidores seus desde a África até a China. Repercussões desta religiosidade oriental as encontramos todavia na Idade Média (§ 56, os cátaros).

6. O sistema de Marcion, apesar de seus princípios gnósticos-dualistas, era uma tentativa de salvar o cristianismo precisamente das redes ameaçantes desta gnose. Houve outra tentativa no campo da vida moral, empreendido por Montano (§ 17). Ambos fracassaram. A única oposição vitoriosa foi a da Igreja, diante de tudo por haver conservado com humildade e fidelidade a herança apostólica.

Os herejes ensinavam doutrinas em aberta contradição com a consciência geral da fé da Igreja. Também eles sabiam perfeitamente que para o cristianismo só podiam considerar-se como válidas, as verdades respaldadas pela pregação apostólica. Por isso, para garantir suas novas opiniões, invocavam uma oculta tradição apostólica. Junto com a já mencionada mutilação das Sagradas Escrituras, criaram uma rica literatura de novos evangelhos (apócrifos) 49, atos dos apóstolos, etc. Ademais, dado que os gnósticos, com seu desprezo pelo histórico, e com sua tendência à interiorização exagerada (espiritualização) e seu docetismo, ameaçavam com liquidar a vida histórica de Jesus, a tarefa dos adversários do gnosticismo estava já previamente traçada.
A impugnação científico-literária da gnose (por exemplo, por Tertuliano), apesar de sua grande importância, partiu sempre mais ou menos da iniciativa privada dos respectivos escritores, a não ser que foram precisamente bispos, como Irineu. Mais importante foi a refutação oficial da Igreja, duplamente importante e eficaz porque se verificou em forma de positiva confissão de fé. A peça mais essencial dela é para nós a concessão batismal oficial. A confissão romana mais antiga que conhecemos ( 125), que corresponde mais ou menos a nossa "confissão de fé apostólica," se opõe claramente a tentativa de volatilizar ou espiritualizar a pessoa e a vida de Jesus: reconhece a encarnação real de Deus na história, em Maria a Virgem, isto é, Jesus Cristo, que padeceu e foi crucificado em um tempo concreto e determinado, "sob Pôncio Pilatos."

Ao mesmo tempo se confessa a unidade de Deus criador e Pai de Jesus Cristo e a divindade de Jesus Cristo.

Todavia mais importante foi a fixação do cânon do Novo Testamento. Se o Antigo Testamento era o livro sagrado da comunidade primitiva, os escritos dos apóstolos e de seus discípulos imediatos (Marcos e Lucas), surgidos como escritos ocasionais, ganharam uma alta consideração geral nos lugares donde não se podia (e tão logo como não se podia) escutar a pregação dos apóstolos. As cartas de Paulo se intercambiavam nada mais a serem escritas (Col 4:16) e chegaram a serem colecionadas (cf. 2 Pe 3:15ss). Seu emprego no culto, por uma parte, e os recortes da revelação, por outra (Marcion e Montano), urgiam uma fixação, tanto mais quanto que outros escritos não autênticos (apócrifos) tratavam de conseguir autoridade valendo-se do nome dos apóstolos. Por diversas alusões sabemos que até o ano 200 o patrimônio neotestamentário estava substancialmente fixado (Fragmento Muratoriano de finais do século II). Certo que varia a ordem de sucessão, como também se citam alguns escritos não apostólicos da Igreja primitiva umas vezes como obrigatórios e outras como discutidos. Mas seu emprego na liturgia e seus primeiros comentários fizeram em seguida que se destacassem definitivamente os escritos inspirados. Deste modo, Atanásios em sua 39ª carta pascal (367), recolhe um índice de nossos vinte e sete livros do Novo Testamento 50. Um Sínodo de Roma confirma este cânon no ano 387, e a ele se aderem uns anos mais tarde os sínodos africanos de Hipona e de Cartago.

Nestes atos encontramos um caso típico de como se formavam os dogmas no princípio: a diversidade de opiniões no interior ou os ataques do exterior fazem necessária uma explicação; segue uma resposta imediata da parte das forças carismático-criadoras, porque o Espírito sopra aonde quer (Jo 3:8). A discussão posterior aclara a resposta, dando-o validade universal. Si se logra um verdadeiro consenso, quer dizer que o magistério dos bispos também a aprova e a resposta passa a formar parte da pregação ordinária. Se não se logra o consenso em importantes questões doutrinarias, então o magistério dos bispos, em comunhão com o bispo de Roma (às vezes atrás de um considerável lapso de tempo), aclara os termos do pensamento da Igreja, fixando-os assim definitivamente.

Dado que a formação do cânon é uma decisão doutrinal intra-eclesial, a apelação à Bíblia enquanto palavra de Deus posto por escrito implica em si mesma o reconhecimento tanto dos dons da graça como do ministério da Igreja primitiva, à que o Espírito Santo tem eleito como instrumentos de composição, seleção e tradição da Escritura. Se a gênese da Sagrada Escritura em sua forma atual não é compreensível sem a intervenção da Igreja, também sua compreensão correta brota da fé de toda a Igreja, ao qual, por outra parte, sempre requer um encontro pessoal com a palavra de Deus. Tanto nos evangelhos (S. Mateus, João) como na profissão de fé se dizia expressamente que a doutrina tinha que ser interpretada segundo os profetas e, em geral, segundo a Escritura; a mesma profissão de fé era a norma segundo a qual devia ser exposta a doutrina e, consequentemente, também interpretada a Escritura. A comunhão eucarística com os sucessores dos apóstolos constituía uma garantia especial da pureza da doutrina. Por isso se exigiu muito logo a conexão ininterrompida dos chefes com a pregação apostólica. A ortodoxia estava particularmente assegurada com a sucessão apostólica dos bispos.

Desde o momento em que a Igreja venceu a gnose, se fez impossível de uma vez para sempre a dissolução da religião cristã em uma filosofia. Foi uma solução decisiva para todos os tempos.
O trabalho dos impugnadores da gnose (Ireneu, Tertuliano, Hipólito) pode muito bem considerar-se neste resumo: ao dilema de "criação ou redenção," "conhecimento ou fé," opuseram a síntese de "criação e redenção," "fé e conhecimento."

48 Aqui se baseia a mencionada tripartição das classes de homens em gnósticos (o pneumáticos), psíquicos (písticos) e hílicos. Só os primeiros chegam à verdadeira bem-aventurança junto aos anjos. Os psíquicos alcançam o céu inferior. Os hílicos, imersos na matéria, serão vítimas do fogo, irão em uma ou outra forma à perdição.

49.A eles pertenece também o Evangelho de Tomé, cujo texto completo tem sido recentemente descoberto (cf. § 6).

50 Outros catálogos dos livros sagrados se encontram em Cirilo de Jerusalém (+ 386) e Gregório Nazianzeno (+ 390).

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Attikis, Greece
Sacerdote ortodoxo e busco interessados na Santa Fé, sem comprometimentos com as heresias colocadas por aqueles que não a compreendem perfeitamente ou o fazem com má intenção. Sou um sacerdote membro da Genuina Igreja Ortodoxa da Grecia, buscamos guardar a Santa Tradição e os Santos Canones inclusive dos Santos Concílios que anatematizam a mudança de calendário e aqueles que os seguem, como o Concílio de Nicéia que define o Menaion e o Pascalion e os Concílios Pan Ortodoxos de 1583, 1587, 1593 e 1848. Conheça a Santa Igreja neste humilde blog, mas rico no conteúdo do Magistério da Santa Igreja. "bem-aventurado sois quando vos insultarem e perseguirem e mentindo disserem todo gênero de calúnias contra vós por minha causa. Exultai e alegrai-vos pois será grande a vossa recompensa no Reino dos Céus." "Pregue a Verdade quer agrade quer desagrade. Se busca agradar a Deus és servo de Deus, mas se buscas agradar aos homens és servo dos homens." S. Paulo. padrepedroelucia@gmail.com