segunda-feira, 31 de maio de 2010

JUDEU-MAÇONARIA MEDIEVAL

No seu livro, A Ciência das Religiões, Emile Burnouf escreveu, em 1885:
“A ciência encontra, hoje, as religiões, no estado de separação. Ela se propõe reconstituir, teoricamente, sua unidade primitiva. Estabelecida em teoria, a unidade primitiva dos dogmas antigos da humanidade seria o objetivo supremo da ciência das religiões.
“Mostrar que, sob suas variedades aparentes, essas grandes instituições cobrem uma mesma doutrina fundamental, seria restituir, a cada uma delas, o papel que desempenhou na historia, e, fazer desaparecer, tanto quanto possível, o antagonismo que as mantêm separadas, e, que, por elas, desfez o feixe do gênero humano”.

A unidade primitiva das religiões da antiguidade, conhecidas somente no seu estado de separação, consistia, essencialmente, na identificação dos órgãos e das tradições do povo por meio de cosmogonias, variadas nas suas fórmulas, mas, semelhantes na doutrina ensinada, disciplina imposta, e ritos praticados; as cosmogonias eram adaptações das Sagradas Escrituras (da Bíblia), cabalisticamente interpretada, às diferentes situações e condições nas quais eram apresentadas. Eram variedades de uma mesma doutrina fundamental, a doutrina construída sobre a interpretação material, carnal mesmo, da Tora.

Por meio dessa identificação, dos órgãos e das tradições dos povos, à cosmogonia cabalística, os príncipes de Israel pensavam dominar a sentimentalidade das almas, ao mesmo tempo que, por sua organização comercial e financeira, saberiam ser, efetivamente, os donos da economia mundial. O estudo a ser feito, ou, pelo menos, completado, da influência judaica, mesmo estando submetidos aos Césares, mostraria até que ponto essa pretensão dos judeus, de ser os dominadores do mundo, teria fundamento.

O acontecimento evangélico veio lançar a dúvida nos projetos do judeu, do judeu cabalista, no sentido pejorativo da palavra. Os demais judeus, que por causa de Cristo, passaram a ser chamados nazarenos, depois cristãos, desapareceram rapidamente enquanto judeus. Restaram, somente, os judeus cabalistas, cujo esforço coligado fez crucificar o Messias, usurpador, aos seus olhos, do título de rei dos judeus, apóstata e traidor.

Os judeus cabalistas trataram, inicialmente, com desprezo, o ensino da Igreja, nele vendo apenas essa heresia estúpida e sem futuro, a qual poderiam destruir facilmente, com o conjunto de meios que pensavam possuir, a fim de eliminá-lo, ou, pelo menos, impedir sua propagação. Tinham horror dele por causa do seu dogma, moral e culto, contraditórios com suas tortuosas doutrinas, disciplinas retorcidas e ritos usuais, bem como por causa da sua clareza, da sua pedagogia categórica, oposta ao seu esoterismo.

Os judeus compreenderam a deficiência da tática do desprezo, empregada para derrotar a nascente Igreja, somente quando São João logrou erigir uma muralha em torno do ensino dos Evangelhos, com o formidável documento do Apocalípse, que apresentava a evolução futura do ocultismo hebreu-pagão, utilizando contra ele seus próprios símbolos, acumulados num texto revelador.
Mudaram, então, seus métodos de combate. As perseguições que fizeram desencadear (“Fontes persecutionum synagogae Judoerum”, disse Tertuliano), não valeram de nada. Sua nova tática consistiu em isolar a terminologia evangélica e transformá-la em expressão analógica da sua antropomórfica divindade.

A gnose foi o primeiro ensaio dessa tática seguida, depois, pela Sinagoga, que foi desenvolvida e aperfeiçoada por meio das inúmeras heresias, e, também, seitas e sociedades secretas sem conta, no tempo e no espaço, tudo a fim de consolidar o sonho de Israel. Esse sonho, que parecia ter-se realizado com o drama do Calvário, consiste, essencialmente, como publica Emile Burnouf, em unificar, num “mesmo destino fundamental”, as religiões “reduzidas ao estado de separação” pela pregação dos Evangelhos.

Seria necessário elaborar a história das heresias e das seitas, do ponto de vista do papel que desempenharam, nessa tentativa de sujeição da Igreja, única dissidente, à unidade.

O arianismo e o maniqueísmo, desempenharam o papel principal nos primeiros séculos da era cristã, nessa comédia diabólica.


Islã

Porém, a manobra, incontestavelmente melhor sucedida, foi o Islã, nascido num país, e dentre um povo quase desconhecido, e, que, no espaço de um século, construiu um mundo novo, na metade da terra, uma nova civilização que foi, durante muito tempo, a mais avançada em muitos aspectos. Nos anais da humanidade, talvez não haja um fato mais surpreendente do que a propagação do Islã.

O estudo das suas origens cabalísticas, e, da iniciação de Maomé rabinos, está por ser feito, mas parece que existem elementos adequados. Pode-se, facilmente, descobrir a alegoria dos mistérios inumanos no código dessa religião, aparentemente um simples monoteísmo, com um ritualismo reduzido a práticas muito simples, e, de um doutrinarismo restrito à unidade de Deus, e à missão divina de Maomé.
“Nós te demos o Kauter”, diz, com efeito, o Corão.

O Kauter é a realidade viva do antigo ídolo Katray, dos mais antigos habitantes de Meca, nome verdadeiro da pedra negra. Esse nome quer dizer: a abundante multiplicação. Vem de um verbo árabe que exprime a idéia de ser, ou a ação de tornar numerosos, e cujos derivados são: um adjetivo, que significa: abundante, numeroso; um substantivo, que serve para designar um homem liberal, benfazejo, um rio do paraíso que torna os homens numerosos, um senhor.

Na religião do Islã, os nomes da pedra negra, Kethna, a abundante, e, do senhor, Kauter, rio divino cujos inúmeros afluentes irrigam o paraíso, são idênticos a Kronos dos gregos, a Saturno, dos latinos, ao Belfegor dos hebreus, Civa dos indus, Fô dos chineses....
“Nós te demos o Kauter. Dirige tua prece ao senhor e sacrifica-lhe vítimas. Aquele que te odeia morrerá sem descendência...
“Deus é a luz dos céus e da terra. Essa luz é como uma pira, na qual se encontra uma chama colocada num cristal, cristal semelhante a uma estrela dos céus. A chama arde com o óleo de uma árvore bendita, duma oliveira que não é, nem do Oriente, nem do Ocidente...
“Não consideraste que tudo o que está nos céus, e sobre a terra, anuncia os louvores de deus...
“Deus nos criou a todos, no início do pó, depois, com uma gota de esperma, em seguida, dividiu-nos em dois sexos...
“Deus, não há outro deus além dele... vos reunirá todos, um dia, porque ele é poderoso... se Deus tivesse querido, teria feito de vós um só povo, porém, quis provar vossa fidelidade na observância de tudo o que vos deu...
“Malditos sejam aqueles que não crêem por causa da conjuração do grande dia... Adverti-os dos dias de arrependimento, quando se cumprirá a obra... Somos nós que herdaremos a terra, tudo o que nela existe...”

Multiplicação da humanidade sem Deus, extinção, por corrupção, da humanidade cristã, gozo desenfreado dos bens materiais, é o fim para o qual o ocultismo islâmico, assim como os demais, quer conduzir os povos. Isso está apresentado num artigo de “La fleur de l´Inde”:
“... Eis os ingleses, trazidos pela força das coisas, e, por uma sorte de apelo geral de todos os partidos, para se constituírem soberanos de Aunde, a mais antiga cidade da índia em fama, porque não houve um só tipo de desordem, até mesmo sangrenta, que não envolvesse essa cidade, outrora a morada de uma moralidade tão alta.

“Aunde não apresentava mais que um espetáculo digno dos tempos de Heliogábalo. Não oferecia mais que a lenta ignóbil de um indianismo e de um islamismo degenerados, atacados, ambos, de gangrena senil, e, caindo, tanto um, quanto outro, em decomposição...”


O simbolismo ocultista medieval

Trata-se, agora, de remover todos os véus, com que os pontífices e adeptos cuidaram de cobrir as doutrinas do mundo oculto, com o duplo objetivo de transmiti-las às gerações futuras e defendê-las do desprezo dos profanos.

Isso somente é possível transmitindo-se em estilo categórico (claro, preciso, conciso) os textos simbólicos sob os quais os iniciadores têm, sucessivamente, dissimulado sua imaginação. É impossível, e inútil, traduzi-los todos, mas, escolhendo-se algumas dessas dissimulações inventadas pelo ocultismo, pode-se reduzir todas essas iniciações a um mesmo ensino doutrinário e disciplinar.

Na sua obra L’entrée au palais fermé du roi (A entrada no palácio fechado do rei), Philalèthe, traduzido por Langlet, sob o título de la philosophie hermétique (História da filosofia hermética), diz o seguinte:
“Se revelasse, sem metáforas, no que consiste a obra, não teria, mesmo entre os mais estúpidos, quem não zombasse da sua arte. Quem quer que tome conhecimento dela saberá que esse ensinamento é coisa de mulher e criança. É por isso que os sábios mantêm o segredo extremamente fechado”.

Os próprios sábios, ao dar à natureza da “grande obra”, os nomes mais recomendáveis – alma, céu, coroa de rei, luz, ouro, oriente, sal, justiça, vida... – não se encontram tomados de respeito, que nunca tiveram; jamais pensaram em não rebaixar sua linguagem, deixando supor, pela vulgaridade das expressões, a baixeza do seu objeto; não lhes repugna, por certo, de maneira nenhuma, empregar, em vez desses nomes esplendorosos, outros, tais como: coisa vil, corpo imundo, sapo, fezes calcinadas, fezes dissolvidas, imundícies, insípida terra fétida...

Um desses sábios, Pernety, assim se expressa:
“Nada induziu tanto ao erro, àqueles que estudam os livros de filosofia química, quanto a multidão de nomes, mais de 600, que deram à sua matéria, e à única operação que devem realizar para alcançar o magistério. Mais que todos, sabem que a matéria, sendo única, tem somente um nome próprio em cada língua. As diferentes cores que ocorrem na matéria, fazem com que dêem o nome às matérias assim coloridas. Por exemplo: quando é preta, os filósofos as chamam: tinta, lama, cabeça de corvo, e de todos os nomes das coisas pretas. Quando ela se torna branca, a denominam: água purificada, neve, cisne... Depois do branco, vem a cor limão, então, os filósofos dizem: nosso azeite, nosso ar, e todos os nomes das coisas espirituais e voláteis. Quando vira vermelho, chamam de: açafrão, alho, ouro, carbúnculo, rubis, e, enfim, de todos os nomes de coisas vermelhas, seja de pedras, plantas ou animais...”

O princípio, ao qual essa linguagem tortuosa deve se relacionar, é, facilmente exposto por Jean Le Pelletier, no seu “Alkaest ou dissolvant universel de Van Helmont” (Alkaest ou dissolvente universal de Van Helmont), quando diz:
“As palavras são nomes inventados para comunicar nossos pensamentos uns aos outros. Pode-se acrescentar a idéia que se quer dar, quando se adverte aquele com que se comunica, o que se entende por tal ou qual palavra, tal ou qual idéia.

“Porém, como não há somente aqueles que participam dessa comunicação, que podem servir-se dessas palavras segundo essa idéia, é necessário que aqueles que desejam saber o que significam as palavras ou sons, dos quais se servem alguns homens, entre si, para comunicar seu pensamento, tomam desses mesmos homens a idéia que atribuíram às palavras que empregam.

“Daí que, se desejo instruir-me na língua de uma nação, arte ou ciência, devo, antes de tudo, informar-me sobre quem compõe essa nação, arte ou ciência, sobre a idéia que atribuíram às palavras ou sons, a fim de se fazerem entender.

“Essas palavras ou sons são recebidas entre essas pessoas com a condição de tal ou qual significação...entendida por cada uma delas.

“Mas, se se conclui que uma dessas pessoas tenha uma idéia nova, e que não encontra palavras, ou sons para significá-la e fazê-la entender aos demais, é porque não lhe é permitido tomar, uma dessas palavras ou sons já aceitos, a fim de significar outras coisas, e, lhes adicionar uma nova idéia, convencionar, com aqueles que decidiu fazer-se entender, que ligou essa nova idéia a essa palavra, da qual já existe uma outra.

“Essa palavra, após essa nova convenção, será, sem dúvida, equivocada, posto que poderá exprimir duas idéias, ou terá duas significações diferentes, de sorte que aqueles que participaram dessa convenção, poderão, se quiserem, servir-se dessa palavra equivocada, tanto de uma quanto de outra dessas diferentes significações...”

É preciso que se conheça, absolutamente, esse princípio fundamental, a fim de aplicá-lo em todas as obras onde é possível supor-se, um pouco que seja, que isso constitua influência das sociedades secretas. Sem isso, corre-se o risco de ser enganado sobre o conteúdo de tais obras. Atacá-las, nestas circunstâncias, seria o mesmo que atacar, vigorosamente, apenas as nuvens da própria imaginação.

“Os filósofos não exprimem o verdadeiro sentido do seu pensamento em linguagem comum, não se deve interpretá-los segundo as idéias que são apresentadas pelos termos usados para exprimir as coisas comuns. O sentido que é representado pelas letras não é o seu.

“Falam por enigmas, metáforas, alegorias, fabulas, similitudes, e cada filosofo as torneia segundo a maneira com que é tocado. Um adepto químico explica suas operações filosóficas em termos tomados das operações da química vulgar. Fala de destilação, sublimação, culminação... de fornos, vasos, fogo, usados pelos químicos, como fizeram Gerber e Paracelso. Um guerreiro, falará de sítios, como Zacharie. Um religioso, fala em termos morais, como Basile Valentin, no seu “Azoth”. Eles têm, numa palavra, falado em termos tão diferentes, e variados, que é preciso estar acostumado para entendê-los. Um filósofo, freqüentemente se embaraça ao tentar explicar um outro, completamente...”

Não contentes com esses tratados em linguagem oculta, os filósofos herméticos “são explicados, muito freqüentemente, mais por meio de símbolos e enigmas, do que por discursos acompanháveis e abertos a qualquer um. D’Espagnet, acredita ser mais capaz de expressar seus pensamentos, e desenvolver seus sentimentos, com seus símbolos, do que com seus escritos. Michel Marie, alaborou um tratado de símbolos, intitulado “Athalantes fugiens...” (Atalantes fúlgidos...), no qual se vê o segredo dos adeptos quase tão completamente representado como num espelho...”

Os símbolos vêm da mais alta antiguidade. A coleção mais antiga, e mais completa, parece ser aquela que, modificada de diferentes maneiras, pela ignorância ou malícia dos homens, resultou nas cartas de jogar e “adivinhar”, entre os diversos povos. O jogo de cartas menos alterado é o chamado “tarô”, que serve para que os boêmios nômades tirem a sorte.

Na maioria dessas coleções de símbolos, os hieróglifos são acompanhados de legendas proféticas, redigidas no estilo de Nostradamus.

Os autores desses símbolos, e da linguagem correspondente, foram, na Idade Média, os alquimistas, propagadores da filosofia hermética; os mágicos, ou magos, apóstolos da magia. Nos nossos dias, são os F.: M.:, obreiros da maçonaria simbólica.


Alquimia

A alquimia também é filha da Cabala. Basta, para se convencer disso, observar os símbolos de Nicolas Flamel, Basile Valentin, os textos do judeu Abraham, e os oráculos, mais ou menos apócrifos, da Tábua de Esmeralda, de Hermes.

“Um segredo físico imenso está, aliás, coberto sob as palavras dos anciãos ...”
os adeptos não têm, jamais, ilusões sobre isso. Comparam suas alegorias ou símbolos, visivelmente inspirados nas idéias que Henri Kunrath transmite no título do seu livro:
“Amphiteatrum sapientiae aeternae, solius verae Christiano–cabalisticum, divino–magicum, nec non physico-chimicum, tertricinium, catholicum, instructore Henri Kunrath, theosophiae amatore fideli et medicinae utriusque doctore.”

Isso quer dizer que a doutrina da sabedoria eterna, a única verdade, é, ao mesmo tempo cristã, cabalística, divina, mágica, física, alquímica, três vezes trina e católica. Por ela o homem é posto na posse da ciência divina, e, da medicina universal.

A alquimia é “uma parte da filosofia natural que ensina a produzir os metais na terra”, nos diz Zacharie. Paracelso, diz mais, que ela “é uma ciência que mostra como transmutar os metais, um no outro.”

Pernety desenvolve essa definição, ensinando que:
“Ela é a ciência e a arte de fazer uma grande fermentação, que transforma os metais imperfeitos, e que serve de remédio universal para todos os males dos homens, animais e plantas. Os verdadeiros alquimistas conhecem a natureza e suas operações, e, servem-se desses conhecimentos para atingir, como diz São Paulo, àquelas do Criador.

“Quando se lê as obras de Hermes Trimegisto,seu chefe, de Gerber, Morien, Raymond Lulle, do Cosmopolita, de Espagnet, e de tantos outros filósofos alquimistas, verifica-se que todos eles falam do amor de deus e do próximo, e publicam, claramente, os procedimentos da verdadeira química, ou alquimia, que são os mesmos que os empregados pela natureza, se bem que resumidos pelos auxílios da arte.

“O tipo ou modelo da arte alquímica, ou hermética, não é outro que a própria natureza. A arte, mais poderosa que a natureza, pelos mesmos caminhos que esta, liberta, em certos casos, mais perfeitamente, as virtudes naturais dos corpos de prisão onde estão encerradas, amplifica sua esfera de atividade, e, reúne os princípios que os vivificam...

“O fogo, que serve de fato nas operações alquímicas, não é o fogo vulgar das nossas cozinhas... É o fogo celeste, espalhado por toda parte, que é a causa principal da pedra exaltada pelos filósofos, em conseqüência do que eles dizem que ela é o pai. Esse fogo, entretanto, não agiria se não fosse excitado por um fogo celeste, volátil, que se estende pela dissolução filosófica de uma terra conhecida pelos filósofos, e que eles chamam a mãe de sua pedra...”

Verifica-se, prontamente, que para bem compreender essas explicações e definições, é necessário saber-se o quê os filósofos entendem pelas palavras: metais, transmutação, pedra, fogo, remédio, medicina. Somente os filósofos estão habitados a nos ensinar. 
Ou,“Seus metais não são mais que os diferentes estados da natureza, durante as operações do seu magistério, ou da grande obra. É essa própria matéria da qual se extrai o espírito, do qual se faz a pedra em branco ou em vermelho... É a semente dos corpos que é a matéria prima dos alquimistas, na qual eles distinguem a semente macho, que tem condição de forma, e, a semente fêmea, que é a matéria própria para receber essa forma. Assim, quando os químicos falam da sua matéria prima, eles entendem, mais freqüentemente, a semente fêmea, se bem que falam, algumas vezes, de uma e de outra...”

Portanto, a alquimia, em geral, é a ciência da reprodução. Mais especialmente aplicada ao homem, ela se torna, propriamente, a química humana, isto é, a arte de produzir, através do sofrimento, e com a maior perfeição, o maior número possível de nossos corpos humanos.

De fato, todas as alegorias e símbolos da alquimia tratam somente da obra, mais ou menos misteriosa, da geração humana, imagem, no dizer dos filósofos, da geração primitiva e da manutenção do universo, tipo exemplar da constituição definitiva da sociedade perfeita, que está em vias de formação sobre a terra.

Tais são, com efeito, as três realidades, ou mundos, que esses pensadores, cuja potência intelectual é, aliás indiscutível, têm a pretensão de descrever, analogicamente, nas suas obras: o microcosmo, ou pequeno mundo, isto é, o homem, considerado como homem e mulher, andrógino; o macrocosmo, ou grande mundo, quer dizer o todo, o mundo inteligível, ou a sociedade humana universal.

É, em virtude dessa classificação, que eles dizem com Eliphas Lévy:
“Toda palavra tem três sentidos. Toda ação possui um tripla partida. Toda forma tem uma tríplice idéia. O absoluto retribui, de mundo em mundo, com essas formas. Toda determinação da vontade humana modifica a natureza, interessa a filosofia e se escreve no céu.”
Apoiando-se nessa tripla analogia, os adivinhos e tiradores de sorte, os hierofantes do ocultismo alquímico, fazem passar, num determinado mundo, as lendas enigmáticas, os símbolos da grande obra, através de profecias concernentes à marcha geral da Igreja, nela juntando os desenvolvimentos ou confirmações de igual valor, inspirados por alguns iluminados de um ou de outro sexo, pela voz frouxa – Bath Kohl – dos rabinos. Qualquer que seja a utilização dessa falsa analogia, os fundamentos analógicos são, sempre, o andrógino gerador e o mistério da geração, razão mais profunda da alquimia, e de todas as seitas ocultas.

Suas alegorias e seus símbolos referem-se, principalmente, à obra de multiplicação do homem.
Em si, no Espírito do Criador, essa obra é tudo o que há de maior e mais belo na ordem natural humana. Porém, no espírito do ocultismo, em estado de carência e revolta, ela se transforma, inevitavelmente, nas paixões da ignomia. Ela devora e degrada seus orgulhosos adoradores.

A noção dos metais e das transmutações, foi metaforicamente aplicada a essa obra, e à natureza dessa obra.
“Essa matéria não se encontra... senão na semente dos corpos, e no ponto de perfeição próprio à geração, isto é, quando ela não tinha sido corrompida pela natureza, ou pela arte, e que se a tomou como tal... Ela é a potência de engendrar que foi reduzida ao ato, por meio do fogo...”

É, sem dúvida, a metáfora do fogo, velha como o pensamento humano, que deu origem à metáfora dos metais. Como sempre se disse, em todas as línguas, o fogo dos fornos e o fogo do amor, querendo, um dia, ver metais num fogo como no outro; e, o rito alquímico foi inventado; depois, minuciosamente conduzido pelo refinamento dos adeptos, até ao extremo limite da analogia.
“Distingue-se os metais”, – diferentes estados da matéria –, “em metais perfeitos”, – também chamados corpos –, “que são o ouro e a prata, e, em metais imperfeitos, que são o cobre, o chumbo, o estanho, o mercúrio... esses estados” – ou metais – “são em número de 27. Como há 7 planetas, há 7 metais comuns. É por isso que os filósofos dão a regência a 7 planetas, que dizem dominar cada estado. Cada um se manifesta por cores diferentes. A primeira regência é a do Mercúrio, que tem a cor preta... A matéria, chegando ao estado de putrefação, ... é o seu Saturno e o seu chumbo... A cor cinza, que precede a cor preta, é seu Júpiter e seu estanho...”

Há, evidentemente, cores, assim como planetas e metais. São cores convencionais. Aceitando-se essas convenções complementares, seguem-se as analogias do metal e do fogo, mas, adicionando-se essa suposição, da qual se aguardou, em vão, a confirmação de que os diferentes estados da natureza metálica, pretensamente uma e idêntica, sob a forma de mercúrio, chumbo, estanho e outras mais, não têm senão uma fixação, maior ou menor, de elementos ígneos na matéria.

Os metais submetidos à ação do fogo passam, de acordo com os graus de calor adquirido, ou a quantidade de fogo armazenada nos seus poros, pelas diversas cores da combustão. Os filósofos quiseram dar os nomes dessas cores sucessivas aos estados, também sucessivos, do corpo orgânico em formação pela ação do fogo vital.
“...A fim de que a razão de todos possa existir mais plenamente... falaremos de cada eu o que se segue...
“Se nasce com o primeiro eu, de nada descende, senão do humor... semelhante a muitas variedades de congelação, com algumas ramificações, pelo que, então, Saturno é um signo no qual tudo se coagula, naquilo que coagulou no momento da Lua...
“Se nasce do segundo eu, o sangue brota aos poucos, posto que Júpiter então reina e domina, pela operação do humor da água, já convertida em sangue e muitos membros...
“Se nasce do sétimo eu, se evade muito, e pode fugir pelo domínio da Lua quando, pela sua regência, a ordem das funções está completa, pelos planetas, nessa criatura...
“Pois bem, a ordem de operação dos sete planetas estando completa, a qual é feita ao final do sétimo eu, quando o embrião e germe nasce e foge, ou, não nasce, os supracitados planetas começam a reinar na matéria...”

Com essas noções, nada mais fácil do que compreender a natureza das transmutações, daí não se poder negar a realidade.
“Aqueles que negam a transmutação metálica, e que o vêem como impossível, têm espíritos maus, ou não prestam atenção àquilo que a natureza opera, a cada instante, sob seus olhos, e neles próprios.”

O resultado final, dessa transmutação de natureza hermética, é a pedra filosofal, ou de projeção.
“Pedra e não pedra... magistério perfeito... chamado Pedra, não daquilo que tenha qualquer semelhança com a pedra, mas daquilo que resiste aos ataques do fogo mais violento, como as pedras... É um pó impalpável, muito constante, pesado e de bom aroma, o que fez que se chamasse pó de projeção...”

Se bem que nada tenha de pó, ou de projeção, esse pó fictício é chamado de projeção porque “é um pó que, sendo projetado sobre os metais imperfeitos em fusão, os transforma em prata ou ouro, segundo a obra tenha sido conduzida ao branco ou ao vermelho...”

A fusão, ou dissolução dos metais, se obtém por meio de um “dissolvente universal”, ao qual van Helmont e Paracelso deram o nome de Alkaest. O dissolvente universal não é outra coisa, de fato, como seu nome indica, que o ato da união recíproca dos geradores, ou, se se desejar refiná-lo, no sentido das mais engenhosas revelações, o princípio formal e ativo da semente, no estado de efervescência que atingiu pela operação do magistério.

A palavra Alkaest vem, de fato, de uma raiz árabe, que quer dizer: coabitar com uma fêmea, engendrar.
“O Alkaest é um licor muito conhecido entre os árabes”, cuja religião, como todas as falsas religiões esotéricas ou ocultas, é filha da Cabala.

Do mesmo modo, a palavra alquimia vem duma raiz árabe cujo sentido é: esquentar, proteger, defender, conservar, salvar. Dela vem “o camelo reprodutor, que se usa para cobrir as fêmeas, e se deixa pastar e beber à vontade”. A mesma palavra também significa: leão. Daí a escolha dessa palavra para designar os diferentes estados da matéria, no curso das operações da grande obra: Leão vermelho = semente masculina; leão verde = semente feminina; leão voador, leão encantador, leão velho.

Pernety, Kasiminski, Morien, Raymond Lulle, Gerber, Jean Léger, Abraham Judeu, Nicolas Flamel ... foram os iniciadores do rito alquímico, cujo triunfo teria sido a transformação da sociedade humana num incontável rebanho de camelos humanos, explorados pelos iniciados.

Por certo, é somente na geração, livre e fecunda, digno compadre do rito que constrói (n.d.t. – no original: Maçonne) que o rito que destila, esperava encontrar o remédio da medicina universal.
“Remédio curador de toda doença, se não tivesse o inconveniente de ser desconhecido dos homens em geral, e, pouco conhecido dos grandes médicos... O verdadeiro e único meio de remediar a todos esses inconvenientes seria publicar os procedimentos chamados de medicina universal ... Mas, aqueles que pensam ter sabido e posto em prática ... declaram que ele resultaria num ainda mais grave inconveniente para a sociedade, por causa do abuso que dele fariam os perversos. Não ensinaram, portanto, em seus tratados, esse assunto, senão de forma enigmática, alegórica, metafísica, a fim de que não se tornasse inteligível, senão àqueles que só deus favorece...”

O nome de deus, como tantos outros, é a negação da obra prima de Deus, porque os ocultistas dizem:
“Quando nos servimos de palavras consagradas – deus, céu, inferno... –, que saibam bem, de uma vez por todas, que nos afastamos tanto do sentido próprio dessas palavras que a iniciação fica separada do pensamento vulgar”.

Os maiores pontífices do ocultismo têm, aliás, profetizado o caráter soberano da medicina universal, chamando-a: o dia do Juízo.
“Deixai os tolos buscar nossa obra, e cair em erros após erros na sua busca. Eles não atingirão, jamais, sua perfeição, até o dia em que o sol e a lua se converterão num só corpo, o que não se poderá fazer senão no dia do Juízo”.

Foi-lhe dado esse nome porquê:
“Nessa conjunção perfeita do verdadeiro matrimonio, fez-se a separação dos seres e dos condenados, isto é, da terra grosseira, impura, chamada de danada pelos próprios químicos vulgares, e, da mais pura substância da matéria ... Essa substância, não é outra coisa senão o pó que se eleva da borra, e se separa... é a cinza das cinzas, terra resumo, sublimada, honrada, eleita... o que fica no fundo... É uma terra condenada, rejeitada, as fezes e as escórias do corpo que se deve rejeitar, porque não tem nenhum princípio de vida, e, tudo aquilo que for a verdadeira pureza dos elementos, será destruído no dia do Juízo...”

Com essa idéia do dia do Juízo, o pensamento do filosofo, no caso Raymond Lulle, abarca o mundo, evidentemente, e contempla, em sonho, é verdade, a ação secular do ocultismo sobre as sociedades, com vistas a preparar um dia do Juízo terrivelmente ao contrário, quando a grande obra, tendo obtido suas realizações sociais, os adeptos vencedores destruirão seus inimigos sob as rodas do seu carro do triunfo.

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Attikis, Greece
Sacerdote ortodoxo e busco interessados na Santa Fé, sem comprometimentos com as heresias colocadas por aqueles que não a compreendem perfeitamente ou o fazem com má intenção. Sou um sacerdote membro da Genuina Igreja Ortodoxa da Grecia, buscamos guardar a Santa Tradição e os Santos Canones inclusive dos Santos Concílios que anatematizam a mudança de calendário e aqueles que os seguem, como o Concílio de Nicéia que define o Menaion e o Pascalion e os Concílios Pan Ortodoxos de 1583, 1587, 1593 e 1848. Conheça a Santa Igreja neste humilde blog, mas rico no conteúdo do Magistério da Santa Igreja. "bem-aventurado sois quando vos insultarem e perseguirem e mentindo disserem todo gênero de calúnias contra vós por minha causa. Exultai e alegrai-vos pois será grande a vossa recompensa no Reino dos Céus." "Pregue a Verdade quer agrade quer desagrade. Se busca agradar a Deus és servo de Deus, mas se buscas agradar aos homens és servo dos homens." S. Paulo. padrepedroelucia@gmail.com