sábado, 22 de maio de 2010

HEBRO-PAGANISMO

HEBRO-PAGANISMO



Como estabelecer, através de uma documentação acessível à crítica moderna, o fato histórico da existência permanente, na humanidade, de dois partidos irreconciliáveis: o partido de Deus, e, o partido dos homens, este irrevogavelmente insurrecto contra Deus?
Como demonstrar que esse partido dos “filhos dos homens”, que é o ocultismo, constitui um mundo à parte na humanidade, mundo da “mentira”, das “trevas”, da “impudicícia”, mundo “ímpio”, “mentiroso”, “revoltado”, “perverso”, segundo os qualificativos que lhe dão as Escrituras?
Como desmascarar as origens, as doutrinas, as disciplinas, os meios, os objetos e as pretensões desse mundo, “incapaz de receber o Espírito”, contra o qual peca impudentemente, desse mundo “pérfido”, cujo fim os profetas predizem, que rejeitou os sentimentos divinos, a fim de deificar-se, nas partes mais menos da sua própria natureza?
Esta demonstração, documentação e “desmascaramento”, podem ser feitas, simplesmente, pela utilização da chave da evolução deste mundo, desde o começo, nos arquivos que dispõe, atualmente, a ciência, naqueles textos que escaparam de destruições, voluntárias ou fortuitas.
Todos os autores sacros não cessam de anunciar a existência atual, e a vinda futura, de inumeráveis ímpios, encarniçados em trazer o homem para a sua impiedade.
De acordo com as leis especiais das analogias místicas, o Velho Testamento é prefigura do Novo. Os profetas ligam seus comentários, percepções e descrições, a fatos históricos que são, pelo menos, implicitamente, as bases sensíveis, porém; seu espírito é posto, por esses fatos, em presença de realidades diferentes, proporcionalmente análogas: a queda do anjo, a queda do homem, a queda das cidades, e, as nações degradadas...




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A primeira denominação dada ao mundo “inimigo”, antes do dilúvio, à posteridade de Caim, o homem da terra, que se caracteriza pela inveja, traição, fratricídio, ocultismo iniciador, é: “Os filhos do homem in via Caim abierunt”¬ – em oposição com a descendência de Seth, “ os filhos de Deus”.
Após o dilúvio, encontra-se uma denominação muito vaga: “as nações”, depois, no tempo dos juizes, aquela outra: “os filhos de Belial”, e, entre os nomes de seus deuses, encontram-se: Bala ou Bal, Belfagor, que quer dizer: “o Senhor da boca aberta, que traz um buraco aberto (na boca)”.
Remonta a Caim, por Cam, a declaração que expressa, em poucas linhas, os princípios, objetivos e meios do ocultismo, na sua forma anterior, e, que, na forma atual, desenvolvida no 4º livro de Esdras, se concentram nos pentáculos e estão simbolizados nas experiências, nas mais ridículas e humilhantes práticas, “rito do misticismo oculto que tem o poder agrilhoar milhões de homens, muito orgulhosos e inteligentes”.
No reinado “das nações”, a humanidade conheceu, verdadeiramente, a noite dos abismos da inteligência, o caos formidável das idéias fantásticas, e dos desejos insatisfeitos, que gemem no fundo da idolatria mitológica. O Sol da verdade, mensageiro da Justiça, perde sua claridade.
Como “os filhos do homem”, o entorpecimento da razão natural acentua, por toda parte, os progressos odiosos da luta do vicio das paixões, contra a luz sobrenatural do espírito humano, que é a religião.
Ao seu redor, a palavra profética acaba se ocultando, salvo em Israel. Ela deixa o campo livre para as palavras profanas.
Então, começa o período dos hinos, com os quais estrearam as literaturas antigas, contendo, numa desordem inextricável, as ficções simbólicas da evolução humana, em lugar dos versículos védicos das origens. Hinos profanos, – chineses, indianos, persas, egípcios, gregos, escandinavos, e tantos outros que se perdem –, adaptações fraudulentas, seja em relação ao homem, seja quanto a realidades ainda mais vãs, – animais, plantas, metais-, concepções e expressões relativas ao verdadeiro Deus e à influência incessante da Sua Bondade, sobre o espírito e o coração dos homens. A criatura é posta no lugar do Criador.
Depois dos hinos, as epopéias e as teogonias consagram, através de um encadeamento sistemático, essas ficções e aberrações. Exprimem, de uma maneira, por vezes cruel, as dores, os arrependimentos, os desesperos e as aspirações da humanidade desencaminhada.
Uma parte imensa da humanidade se embrutece, nas volúpias as mais impuras, e, nas humilhantes superstições. A luxúria e o medo disputam, entre si, a presa das almas, enquanto os tiranos, sem escrúpulo sem piedade, levam a escravidão até os limites da desumanidade, e, enquanto os falsos deuses, inspiradores e cúmplices dos tiranos, reclamam vítimas humanas.
Pode-se seguir o fio da história geral do ocultismo hebro-pagão nas profecias; se bem que profundamente obscuras, aparentemente, precisam somente de um primeiro raio de luz.
Os profetas, por certo, adotaram, freqüentemente, a linguagem daqueles que desejavam retirar do erro. Linguagem única na terra, empregada desde os tempos mais remotos. Estranha terminologia, e estilo selado, que torna, às vezes, incompreensíveis, as palavras dos profetas, que conhecem as trilhas tenebrosas da Sinagoga, inacessíveis aos profanos.
Pode-se, também, acompanhar essa história nas próprias cosmogonias. Traduzindo-se, os nomes das suas divindades, encontram-se os nomes de certos estados do organismo. A tradução revela, muito bem, a obscenidade anunciada por esses sistemas religiosos, que estão na origem cabalística da sua redação.
Todos os elementos, atualmente incorporados, – e são muito numerosos – dessa história, encontram-se na publicação das diversas academias e sociedades culturais.Foram, até mesmo, comparados, por alguns autores, a fim de elaborar uma ciência das religiões. Um deles, Emile Burnouf, corretamente, propôs-se a “reconstituir, teoricamente, a unidade primitiva..., das religiões que se encontram, hoje, em estado de separação”.
Essa reconstituição, da unidade primitiva das religiões esotéricas, pode e deve permitir identificar-se, cientificamente, as cosmogonias de Canchoniaton, e, as de Berose, Manethon, Zend Avesta, Manés, e de tantos outros, confundidos nessa literatura trimegistíca, ou de Hermes três vezes santo. Sobre Hermes, nada se sabe, mas, após a época de Alexandre, seu nome era, entre os gregos, equivalente a Krisma.
Fizeram-se longas, e pacientes pesquisas, sobre a descendência de Caim, facilmente reconhecido pela sua ambição de conquistar o mundo, por meio da mentira e da crueldade, através do acorrentamento anárquico dos homens à sua impureza.
O mau espírito dos hinos, epopéias e teogonias cosmogônicas, oprimem o pensamento humano, rebaixa, até o fundo seu ideal sublime, e, seu indefectível esplendor.As instituições sociais, criadas por instigação desse espírito, atormentam seus escravos, a ponto de exercitar, neles, o desejo apaixonado do nada. Estado lamentável que se prolonga durante séculos, que a história recusou relatar os horrores, mas, do qual, posteriormente, o drama antigo representou os crimes e os castigos célebres, servindo-se desses grandes exemplos para inspirar os povos, ao respeito à justiça e à moralidade.
Dessa forma, os gregos se puseram a glorificar as virtudes naturais da justiça, temperança, prudência. O excesso de sofrimento, e infidelidade, tinha feito o homem voltar-se para si mesmo, e, desacreditar as supertições. Vitória da razão natural, e revanche o espírito humano, sobre as sugestões rasteiras!
Essa aurora de um novo dia foi à época das elegias, sátiras, odes, do primeiro ensaio da filosofia, da primeira emoção, e, do primeiro apelo de um povo, que não deveria mais cessar da aspirar à posse da Beleza.
A filosofia, ou a arte de pensar, estuda a natureza nos seus diferentes fenômenos gerais, a fim de descobrir suas leis, e, determinar o lugar do homem na harmonia universal.Ela analisa, com o maior cuidado, as concepções naturais de verdade, beleza, bondade; as idéias da alma, de Deus, de esperança numa vida futura. Ela exerce uma influência preponderante sobre todos os gêneros da literatura, e, só ela pode explicar as evoluções ideológicas.
Na ausência de dados incontestáveis sobre as filosofias do Oriente, só se pode seguir o progresso da razão no nosso Ocidente.
Enquanto as Cabiras da Samotrácia, e, os Coribantes da Frigia, celebravam, à noite, nos antros fechados, mistérios cujo segredos eram rigorosamente guardados pelas leis mais severas, dos quais aqueles de Eleusis, consagrados a Ceres; o de Isis, dos egípcios, eram os mais célebres; a filosofia, de Thales a Sócrates, percorria as elevações do pensamento, e, conhecia que, quando se tivesse explicado tudo aquilo que é representado nos mistérios, e, se tivesse tudo representado num sentido razoável e satisfatório, ter-se-ia adquirido, antes, o conhecimento da natureza das coisas do que a natureza dos deuses.
E, buscando sempre subir mais alto, a filosofia não deixou mais de procurar a verdade, de Sócrates a Dionísio, de Dionísio aos nossos dias, em fases notáveis que representam os esforços sucessivos da razão.
Durante esse longo período, tomando, sempre, no sentido próprio, as palavras empregadas num sentido misticamente figurado, o partido dos homens, ou “rei do Norte”, trava sua luta contra o partido de Deus, “rei do Sul”.Seu principal meio de luta é a corrupção, pela luxúria e luxo, o arrastamento ao desprezo de Deus, até a deificação da hiperestesia orgiástica, onde se consome a besta humana.
O “rei do Norte”, Satanás, humanamente representado por seus escravos dos dois sexos, busca, em vão, submeter o “rei do Sul”, o Espírito Santo, humanamente representado pela Igreja com sua hierarquia, às seduções da carne divinizada. Ele excita, pela pornografia frenética das suas iniciações, a exibir e gabar suas impudicas nódoas.
Ele malogrará, porque não enxerga, aqui em baixo, senão evoluções e revoluções da natureza simples e das paixões humanas, na simplicidade da sua evidência superficial, ainda mais, deformada e desbotada, pelos fornicadores já julgados. Cairá, porque é incapaz, efetivamente, de abrir os olhos para as operações do Espírito de Deus, para os ensinamentos, o fim, as condições e os meios da sua vida militante.
Os mentores do reino do Norte sofrerão a ruína final, não no furor dos tumultos e das batalhas, mas por um sopro de Javé, pelo esplendor de sua esperança, que forçará os filhos dos homens a reconhecer sua impotência, e seu nada, no dia irrevogalmente fixado.


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A fim de justificar as trilhas tenebrosas do ocultismo, conduzidas pela Sinagoga, precisaram de monumentos históricos e documentos autênticos.
Quando os iniciadores dispuseram de um livro, as Sagradas Escrituras (Bíblia), através de subterfúgios complicadíssimos, fizeram-no o fundamento alegórico de suas obsessões, e, se empenharam em espelhar essa falsificação no mundo, principalmente por meio de composições escritas, que se tornaram livros sagrados dos povos. É assim que se explica a observação de Burnouf, que transcrevemos: “A identidade das doutrinas que esses livros contêm, em relação àqueles da Índia, e, a identidade dos símbolos que propõem, com aqueles dos cristãos... A Índia deve ser considerada como o berço da literatura hermética... Pode-se considerar o livro de Hermes como um dos mais fortes elos que unem o Oriente ao Ocidente”.Hermes disse: “A linguagem é diferente, mas o homem é o mesmo”. Burnouf explica que:
“A mesma doutrina universal foi escrita nos livros gregos, latinos, siríacos, armênios; praticou-se, ostensiva ou secretamente, sediou-se num grande número de cidades do Levante, veio a fazer de Roma seu próprio centro, ao lado da sede dos Césares”.
Basta, portanto, citar algumas passagens de qualquer uma das cosmogonias hebro-pagãs, dos iniciados da antiguidade. Sanchoniatom delara que:
“... O principio universal dos seres é fluido agitado pelos ventos... um abismo tenebroso e negro como o inferno”.
Isso não deve acabar jamais, e, remontando ao curso dos tempos, não teve, nunca, começo. No mesmo instante em que esse fluido apaixona-se por seus próprios princípios, e que se produz uma união, essa união toma o nome de Deus.
Esse é o principio da criação de todos o seres.
Porém, o fluido amoroso só conhece sua própria criação. Dessa união do fluido primordial provém uma concepção...Alguns dizem que é uma substancia elementar, outros, que é uma participação de uma mistura desconhecida.
É dali que vem toda a fonte da criação, a geração de todos os seres.
Há, no início, elementos indiferentes, dos quais nascem elementos caracterizados... Estes, são chamados “interiores dos céus”.Têm a forma de ovos.
“Então, Moth, dessa maneira, brilha como o sol, a lua, as estrelas e os grandes astros”.
Sob a ação tórrida dos raios solares, um possante calor se desenvolve no seio do ar, produzindo, assim, os ventos, as nuvens e as grandes efusões das chuvas celestes. Divididos, primeiro, e, separados sob influência do calor, os diversos elementos se chocam, pouco depois, na atmosfera. Seu choque projeta relâmpagos e raios. Nos esplendores dessa explosão primordial, os seres inteligentes despertam de um profundo sono, sob a impressão do terror ocasionado por esses estrondos formidáveis.
“Começaram, então, a se mover, distinguidos em dois sexos, na superfície da terra, nas profundezas das águas...”.
Tais são os elementos da cosmologia de Sanchoniatom, que dedicou a maior importância ao estudo da historia universal, desde o seu berço, isto é, desde a origem do mundo; à pesquisa, nos escritos os mais antigos, dos primeiros deuses: o céu e a terra que são, como diz Varrão, “os mesmos que Serapis e Isis para aos egípcios, Tautés e Astarté, entre os gregos... descritos nas obras de Toth, Hermes, Ammonius...”.

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Quando o hebro-paganismo foi destruído pela pregação evangélica, a Cabala recomeçou o trabalho de fecundação iniciática, nas sociedades cristãs, por meio da adaptação dos textos evangélicos ao seu sistema, apresentados, por assim dizer, como uma forma nova de interpretação cabalística dos textos bíblicos, dos fatos da história, e, dos fenômenos naturais.
Após tentativas inúteis, sob a condução de uma tradição oral, essa tradição, ou Cabala, foi, escrituralmente fixada nos livros ocultos, que se tornaram as fontes doutrinais dessa acomodação, desenvolvidas nos Talmudes. Os livros da Criação, e dos Esplendores, – Sepher Zohar e Sepher Ietzirah, Sepher Dzniut –, são os mais importantes.
Eles representam um esforço da razão, no momento do seu despertar, para descobrir o plano do universo, e, o elo que liga, a um princípio comum, todos os elementos dos quais nos passam, em resumo, da universalização às nações abstratas, retiradas de um estudo apaixonado do homem, bissexual e procriador.
Necessariamente inexatas, essas noções são transportadas, por um lado, ao mundo astral meteorológico; por outro, ao mundo social, à sociedade humana universal, à qual se aplica o nome e a natureza do Deus da Cabala. É assim que o homem, bissexual, microcosmo, se faz à imagem do macrocosmo, deus.
Enquanto que o Gênese mosaico, interpretado pela Tradição, é uma memória da Criação, ditada pelo Criador, que nela fez conhecer seu pensamento, sua vontade, e seu objetivo, as fontes do Talmude são uma memória do ser humano, ficticiamente universalizado.
No homem, segundo suas memórias imaginarias, a palavra e a escritura, ou seja, a concepção das suas obras, o enunciado dessas concepções, e, as execuções dessas determinações, são uma mesma coisa, sob três aspectos diferentes. A criação é a escritura de Deus, é a sua palavra ou seu verbo, seu pensamento.
A palavra humana manifesta, por meio de sons ou sinais, o procedimento das letras do alfabeto, – os rabinos só conhecem o alfabeto hebraico –, formas manifestantes do mesmo sopro. A escritura se traça, de acordo com essas formas figuradas, com sinais elementares, vias da sabedoria e da ciência perfeita.
É com esse espírito que se deve ler os livros, fontes do Talmude, e, por ele, de todo o esoterismo ocidental, no período cristão.
O “livro dos Esplendores” pode dar uma idéia exata desses livros, através de alguns extratos:
“O rabi Simeão reuniu, ao seu redor, os iniciados na ciência primitiva, e resolveu explicar-lhes os livros da alta teogonia, chamados livros dos Mistérios”.
Todos sabiam o texto de cor, mas, só o rabi Simeão conhecia o sentido profundo desses livros, que até então fora transmitido, oralmente, e de cor, sem nunca ser explicado, nem mesmo escrito: - Renovai-vos, disse-lhes, que vossos pés sejam livres como vossas mãos...”.
É o “Graditur ore persevo, terit pede, digito loquitur” dos Provérbios (VI, 12-13):
“... Ai de mim, se revelo os grandes mistérios; ai de mim, se os deixo cair no olvido...”.
É a alternativa da desgraça, que é, por assim dizer, a do antigo povo de Deus, cuja grande obra da multiplicação definha, malgrado as promessas, em seguida ao esquecimento dos grandes mistérios, isto é, da ciência profunda da geração carnal. Os longos revezes de Israel são devidos, pensam os rabinos, à imprudente revelação, pelos mestres a estrangeiros, desses mistérios reservados ao único povo verdadeiro, a fim de assegurar sua preponderância numérica sobre os demais povos do mundo.
“... Não há mais que um só Deus verdadeiro, diante do qual os deuses nada são. Não há mais que um só verdadeiro povo, aquele que adora o verdadeiro Deus”.
Depois, ele chamou seu filho Eleazar, e o fez sentar-se diante dele. Do outro lado pôs o rabino Abba, e disse:
- Nós formamos o triangulo...”.
Simbolicamente idêntico ao ternário fundamental, cuja ação fisiológica e mística é preponderante.
“... que é o tipo fundamental de tudo o que existe. Nós figuramos a porta do Templo...”.
Isto é, a infância, pela qual é necessário passar, a fim de torna-se gerador.
“... entre as duas colunas”.
Quer dizer, o pai e a mãe, porque eles são suficientes para construir o templo esotérico.
“O céu inclina para nos escutar, mas eu não lhe falarei sem véus. A terra se tumultua para nos entender, mas, eu não lhe darei nada sem símbolo...”.
“Rabi Simeão diz, ainda: A doutrina secreta é para as almas recolhidas. As almas agitadas, e sem equilíbrio, não podem compreendê-la...”.
“O mundo inteiro está fundamentado sobre o mistério, que é preciso adivinhar, quando se trata de coisas terrestres, e cujos pontos devem ser reservados, quando se trata de dogmas misteriosos, que Deus não revelará, jamais, nem ao mais elevado dos anjos... Mas, Deus se faz homem, para ser amado e compreendido pelos homens”.
Desgraçadamente, esse Deus não é aquele que se fez homem na pessoa de seu divino Filho; é aquele que se fez homem, e se faz conhecer, por cada homem, sob a imagem emprestada por ele, o véu da carne.
“Quando Deus quis criar, ele lançou um véu sobre a sua glória”.É o organismo da carne.
“E nas dobras do seu véu, ele projetou uma sombra...”.
Quer dizer que a condensação das maravilhas do universo, na atividade limitada do organismo, é designada, desse ponto de vista, microcosmo.
“Após o que, ele permitiu a noite...”.
É o tempo da gravidez.
“... de deixar aparecer às estrelas”.
Fases sucessivas da formação da criança no seio de sua mãe.Esta noite parte do primeiro rebate do instinto gerador, e vai até o nascimento.
“Deus retornou em seguida para a sombra, que ele fez para dar-lhe uma figura”.
Essa figura é o homem, cujo crescimento, alem dos limites naturais, é Deus, que se torna homem quando adquire confiança individual na razão pessoal, o conhecimento exato de suas formas, e, de suas atitudes psico-fisiológicas.
“A imagem divina é dupla. Há a cabeça da luz, e a cabeça da sombra; o ideal brando, e o ideal negro; a cabeça superior, e a cabeça inferior. Uma é o sonho do homem-deus, a outra é a suposição do deus-homem. Uma figura o Deus dos sábios, a outra,o ídolo do vulgo... O homem que busca Deus, não pode encontrar mais que o homem ideal ...”.
Assim, quando Deus está conforme as suposições, ele realiza o Deus dos sábios. Fora dessa conformidade, não faz mais do que esboçar o ídolo do povo, como fez a reforma de Jesus, que se tornou uma imensa heresia, que invadiu o mundo.
“Está escrito: O mistério do Senhor pertence àquele que o apreende... A Sinagoga dos Sábios é o corpo da humanidade, o corpo de Deus... O homem e a mulher unidos, em conjunto, compõem o corpo perfeito da humanidade...
“O homem que se separa da humanidade, recusando-se a se unir com sua companheira, não encontra ponto de apoio na grande síntese humana; fica de fora, estranho às leis de atração e transformação da vida. A natureza, envergonhada dele, o fará desaparecer, como nós nos apressamos em fazer desaparecer os cadáveres...
“É o equilíbrio do homem que faz o equilíbrio do mundo, e, se o homem não existisse, não haveria mais mundo, porque o homem é o receptáculo do pensamento divino, que criou e conserva o mundo. O homem é a razão de ser da terra. Tudo aquilo que existiu, antes dele, foi o trabalho preparatório do seu nascimento. A criação inteira, sem ele, não passa de um aborto...
“É assim que, nas suas visões, o profeta viu os anjos construírem um trono no céu, e, sobre esse trono, estava a figura semelhante à imagem do homem...
“Esse trono é vaso de fogo que dá a vida, e esse fogo vivifica, em vez de devorar e destruir...
“Se Deus deixa o trono, o fogo se extingue, de medo de consumir o mundo...”.
“Quando a potencia se põe no centro, ela cria um novo universo, microcosmo, e todos os outros se deslocam para gravitar em torno dele...
“O nariz curto e enrugado de Deus invisível sopra o fogo e a fumaça. É o vulcão da vida terrestre. É, também, o que os grandes rabinos entendem como o fogo eterno...
“Esse fogo não pode ser apaziguado, senão pelo fogo do altar, e, essa fumaça não é impelida, senão pela fumaça do altar...”.
“Cada pêlo da barba nascente termina num ponto de luz. Cada ponto de luz é um trabalho de parto do sol. Para receber cada sol, abre-se uma noite, que o novo astro deve fecundar, noite cheia de fantasmas e de homens, que o sol nascente ilumina, e nomeia com um sorriso...
“A forma do homem resume todas as formas, tanto das coisas superiores, quanto das coisas inferiores. Porque essa forma resume tudo aquilo que, dela nos servimos para representar Deus, sob a forma de Ancião Supremo...
“Quando o protótipo conjugal se equilibra, pelo apaziguamento do Deus da sombra,o casal adâmico se aproxima, e faz um geração equilibrada... A harmonia se faz, então, entre o céu e a terra... O mundo superior fecunda o mundo inferior , porque o homem,mediador entre o pensamento e a forma, encontrou, enfim, a harmonia...
“Houve, então, a glória divina do alto, e, a gloria divino de baixo... Tudo isso que existe é um corpo animado por uma só alma...
“A cabeça luminosa derrama, sobre a cabeça negra, um orvalho de esplendor... Abre, diz Deus à inteligência, porque minha cabeça está cheia de orvalho, e, sobre os caracóis dos teus cabelos, rolam as lágrimas da noite... Esse orvalho é a maná do qual se nutrem as almas dos justos, os seres têm fome, e o apanham a mãos-cheias nos campos do céu...”.
Essas citações parecem suficientes para demonstrar quais mistérios são “revelados”, debaixo do véu desse simbolismo. Esses mistérios consistem, essencialmente, na união funcional dos geradores. Nessa união, o homem e a mulher, formam o corpo perfeito da humanidade, que é, o mesmo tempo, o corpo individual de Deus.
Por analogia, a Sinagoga dos Sábios, agindo sobre as massas, cegamente submissas à sua obediência, é o corpo humanitário de Deus.
“O homem que teme o Senhor tem, por ele, o gozo e a propriedade dos mistérios do Senhor. Ele é deus sobre o trono, dirige e suporta o equilíbrio. Aquele que está separado da fêmea é caído...”
E o caído, por excelência, é o Cristo e sua Igreja.
É inútil insistir na interpretação fisiológica dos símbolos do fogão, do vulcão, do fogo, do altar do sacrifício, do nariz, da barba, do maná, do orvalho, da noite, do sol, da luz; mas, pode-se dizer uma palavra sobre o simbolismo do trono, lugar da mais gloriosa manifestação daquele que o ocupa.
Esse símbolo foi escolhido como emblema do lugar da geração. É chamado, pelos rabinos, “o lugar” por excelência, o “maçom”. O iniciado é objetivamente idêntico ao trono. A noite é o símbolo poético do objeto, do qual, o trono e o altar, são os símbolos positivos e místicos.
“O que sabemos serve de base para o que cremos. A ordem que vemos necessita daquela que supomos nas alturas, que nossa potência não alcança”.
Tudo se relaciona com a obra da carne. Tudo se explica pela analogia com a obra da carne.
Os nomes próprios, as personificações, as definições dos escritos ocultos, são verdadeiras sínteses de épocas fisiológicas, e, de regimes particulares, concernentes à obra da carne.
Os escritos fabulosos, e os textos esotéricos, são alegorias, pelas quais são descritos, malignamente, todos os estados sucessivos do organismo, e, de suas relações fisiológicas, durante a evolução dos fenômenos da geração, assim como as pretensões dos adeptos à hegemonia universal, com a exposição dos procedimentos adotados e aperfeiçoados, no correr dos séculos, para impor seu ideal a todos os povos.

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Em resumo, antes da Era Cristã, o hebro-paganismo tinha unificado todos as mitos, na sua expressão comum da divindade.
A pregação evangélica retirou, ao hebro-paganismo, esse monopólio da direção da sentimentalidade das almas. Após o drama do Calvário, o órgão complexo e misterioso das sociedades secretas, inspiradas e guiadas pelo Judeu, se esforça em refazer sua unidade; pelo desnaturamento progressivo do dogma e da moral católicos; pela multiplicação dos adeptos; pela unificação das doutrinas e das disciplinas; dos meios e dos objetivos.
Para expor a identidade dos segredos, em todos os tempos e países, e sua sujeição à mesma Cabala, um dos procedimentos mais demonstrativos consiste em fazer a analise dos seus textos e fórmulas, em aproximá-los, do ponto de vista lingüístico e etimológico, e, de confundi-los numa mesma significação, pela tradução, num mesmo texto categórico, dos seus diversos simbolismos.
Todas as seitas, e todas as Sociedades Secretas, que nasceram no Ocidente, derivam da Gnose. Sob nomes diversos, com formulações diferentes, elas projetam, sobre planos particulares, os ensinamentos gnósticos, eles próprios derivados da Cabala.

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Attikis, Greece
Sacerdote ortodoxo e busco interessados na Santa Fé, sem comprometimentos com as heresias colocadas por aqueles que não a compreendem perfeitamente ou o fazem com má intenção. Sou um sacerdote membro da Genuina Igreja Ortodoxa da Grecia, buscamos guardar a Santa Tradição e os Santos Canones inclusive dos Santos Concílios que anatematizam a mudança de calendário e aqueles que os seguem, como o Concílio de Nicéia que define o Menaion e o Pascalion e os Concílios Pan Ortodoxos de 1583, 1587, 1593 e 1848. Conheça a Santa Igreja neste humilde blog, mas rico no conteúdo do Magistério da Santa Igreja. "bem-aventurado sois quando vos insultarem e perseguirem e mentindo disserem todo gênero de calúnias contra vós por minha causa. Exultai e alegrai-vos pois será grande a vossa recompensa no Reino dos Céus." "Pregue a Verdade quer agrade quer desagrade. Se busca agradar a Deus és servo de Deus, mas se buscas agradar aos homens és servo dos homens." S. Paulo. padrepedroelucia@gmail.com