quinta-feira, 15 de julho de 2010

Filosofia da Maconaria


FILOSOFIA DA MAÇONARIA





Mons. Léon Meurin, S. J.
(Arcebispo de Port-Louis)




Biblioteca de Filosofia e História – N. O. S., Madrid – 1957.




Esclarecimento preliminar.


Para bem compreender a presente obra de Mons. Léon Meurin, o sábio jesuíta e Arcebispo – Bispo de Port-Louis, é necessário conhecer ou recordar bem a famosa Encíclica “Humanum Genus” do santo e sapientíssimo Pontífice Leão XIII, da qual é o maior desenvolvimento filosófico e erudito que se escreveu sobre a essência metafísica (satânica) da maçonaria. Se em outras obras de prelados, como as de Mons. Fava, Jouin e tanto mais, chegando à do eminentíssimo Cardeal Caro, Arcebispo de Santiago do Chile, o essencial aspecto é tocado com sapiência, outros aspectos assinalados pela Encíclica na seita maçônica constituem sua objetividade principal. Sem dúvida por ser insuperável a dialética, erudição e ardente e apostólica coragem de que nesta obra dá testemunho a iluminada mente de seu preclaro autor que – como intitulou sua obra total constante de dois volumes – demonstra que a Maçonaria é a Sinagoga de Satanás.


Mauricio Carlavilla.








Carta Encíclica HUMANUM GENUS





Aos veneráveis irmãos Patriarcas, Primazes, Arcebispos e Bispos de todo o orbe católico que se conservam em graça e comunhão com a Sé Apostólica.



LEÃO XIII, PAPA.


Veneráveis Irmãos, saúde e benção apostólica.
A humana linhagem, depois de se ter por inveja do demônio, miseravelmente separado de Deus, Criador e Doador dos bens celestiais, o gênero humano dividiu-se em dois campos inimigos, que não cessam de combater, um pela verdade e pela virtude, o outro por tudo que é contrário à virtude e à verdade. O primeiro é o reino de Deus na terra, a saber, a verdadeira Igreja de Jesus Cristo, cujos membros se lhe quiseram pertencer do fundo do coração, e de maneira operar a sua salvação, devem necessariamente servir a Deus e a seu Filho único, com toda a sua alma, com toda a sua vontade. O segundo é o reino de satanás. Sob o seu império e em seu poder se acham todos os que, segundo os funestos desígnios de seu chefe e de nossos primeiros pais, recusam obedecer à lei divina e multiplicam seus esforços, aqui para prescindir de Deus, ali para agir diretamente contra Deus. Esses dois reinos, viu-os e descreveu-os Santo Agostinho com grande perspicácia sob a forma de duas cidades opostas uma à outra quer pelas leis que as regem, quer pelo ideal que as colimam; e com engenhoso laconismo, pôs em relevo nas palavras seguintes o princípio constitutivo de cada uma delas: “Dois amores deram nascimento a duas cidades: a cidade terrestre procede do amor de si até ao desprezo de Deus; a cidade celeste procede do amor de Deus até ao desprezo de si” (“De Civitate Dei”, livro XIV, c. 17).
A sociedade dos maçons – Em toda a série dos séculos que nos precederam, essas duas cidades não têm cessado de lutar uma contra outra, empregando toda sorte de táticas e as armas mais diversas, posto que nem sempre com o mesmo ardor, nem com a mesma impetuosidade. Na nossa época, os feitores do mal parecem haver-se coligado num imenso esforço, sob o impulso e com o auxílio de uma Sociedade difundida em grande número de lugares e fortemente organizada, a Sociedade dos “maçons”. Estes, com efeito, já não se dão ao trabalho de dissimular as suas intenções, e rivalizam entre si em audácia contra a augusta majestade de Deus. É publicamente, a céu aberto, que apreendem arruinar a Santa Igreja a fim de, se possível fosse, chegarem a despojar completamente as nações cristãs dos benefícios de que são devoradoras ao Salvador Jesus Cristo. Gemendo à vista desses males, e sob o impulso da caridade, muitas vezes nos sentimos levado a clamar para Deus: “Senhor, eis que os vossos inimigos fazem grande bulha. Os que Vos odeiam levantaram a cabeça. Urdiram contra o Vosso povo projetos cheios de malícia, e resolveram perder os Vossos santos. Sim, disseram eles, vinde e expulsemo-los do seio das nações” (Sl. LXXXII, 2-4).
Entretanto, em tão urgente perigo, em presença de um ataque tão cruel e tão obstinado desfechado contra o Cristianismo, é dever nosso assinalar o perigo, denunciar os adversários, opor toda resistência possível aos seus projetos e à sua indústria, primeiro para impedir a perda eterna das almas cuja salvação nos foi confiada, e depois a fim de que o Reino de Jesus Cristo, que somos encarregados de defender, não somente fique de pé e em toda a sua integridade, mas faça pela terra toda novos progressos e novas conquistas.
Exortações dos Romanos Pontífices – Em suas vigilantes solicitudes pela salvação do povo cristão, nossos predecessores bem depressa reconheceram esse inimigo capital no momento em que, saindo das trevas de uma conspiração oculta, se lançava ao assalto em pleno dia. Sabendo o que ele era, o que queria, e lendo por assim dizer no futuro, eles deram aos príncipes e aos povos o sinal de alarma, e os alertarem contra os embustes e os artifícios preparados para surpreendê-los. O perigo foi denunciado pela primeira vez por Clemente XII (Cons. “In eminenti”, 28 de abril de 1738) em 1738, e a constituição promulgada por esse Papa foi renovada e confirmada por Bento XIV (Const. “Providas”, 18 de maio de 1751). Pio VII (Const. “Ecclesiam a Iésu Christo”, 13 de setembro de 1821) seguiu as pegadas dos citados Pontífices, e Leão XIII, enfeixando na sua Constituição Apostólica “Quo graviora” (13 de março de 1825) todos os atos e decretos dos precedentes Papas sobre essa matéria, ratificou-os e confirmou-os para sempre. No mesmo sentido falaram Pio VIII (Enc. “Traditi”, de 21 de maio de 1829), Gregório XVI (Enc. “Mirari” de 15 de agosto de 1832) e, repetidas vezes, Pio IX (Enc. “Qui pluribus” de 09 de novembro de 1846; Alc. “Multíplices inter”, 25 de setembro de 1865, etc).
O intuito fundamental e o espírito da seita maçônica tinham sido posto em plena luz do dia pela manifestação evidente dos seus modos de agir, pelo conhecimento dos seus princípios, pela exposição de suas regras, dos seus ritos e dos seus comentários, aos quais, mais de uma vez, se haviam juntado os testemunhos dos seus próprios adeptos. Em presença desses fatos simplíssimos era que esta Sé Apostólica denunciasse publicamente a seita dos maçons como uma associação criminosa, não menos perniciosa dos interesses do cristianismo do que aos da sociedade civil. Decretou, pois contra ela as penas mais graves com que a Igreja costuma fulminar os culpados, e proibiu o filiar-se a ela.
Irritados com esta medida, e esperando, já pelo desdém, já pela calúnia, poder escapar às condenações ou lhes atenuar a força, os membros da seita acusaram os Papas que as haviam lançado, ora de haverem proferido sentenças iníquas, ora de haverem excedido a medida das penas infligidas. Assim foi que se esforçaram por burlar a autoridade ou diminuir o valor das Constituições promulgadas por Clemente XII, Bento XIV, Pio VII e Pio IX. Todavia, nas próprias fileiras da seita não faltavam associados para confessar, mesmo a contragosto, que dadas a doutrina e a disciplina católica, os Pontífices romanos nada haviam feito senão o mais legítimo. A essa confissão cumpre juntar o assentimento explícito de certo número de príncipes ou de chefes de Estados que tiveram a peito ou denunciar a Sociedade dos maçons à Sé Apostólica, ou fulminá-la por si mesmos como perigosa, decretando leis contra elas, conforme foi praticado na Holanda, na Áustria, na Suíça, na Espanha, na Baviera, na Sabóia e em algumas outras partes da Itália.
A confirmação dos fatos – Importa sumamente fazer notar o quanto os acontecimentos deram razão à sabedoria de Nossos predecessores. As suas solicitudes previdentes e paternais nem em toda parte nem sempre tiveram o êxito desejado: o que cumpre atribuir quer à dissimulação e à astúcia dos homens alistados nessa seita perniciosa, quer a imprudente leviandade daqueles que, no entanto, teriam sido o interesse mais direto em vigiá-la atentamente. Daí resulta que, no espaço de século e meio, a seita dos maçons fez progressos incríveis. Empregando simultaneamente a audácia e a astúcia, invadiu ela todas as categorias da hierarquia social, e começa a assumir, no seio dos Estados modernos, um poder que equivale quase à soberania. Dessa rápida e formidável extensão resultaram justamente para a Igreja, para a autoridade dos príncipes, para a salvação pública, os males que nossos predecessores há muito haviam previsto. Chegou-se a ponto de haver razão para conceber pelo futuro os receios mais sérios; não por certo no que concerne à Igreja, cujos sólidos fundamentos não podem ser abalados pelos esforços dos homens, mas com relação à secularidade dos Estados, no seio dos quais se tornaram poderosíssimas, ou essa seita da Maçonaria ou outras associações similares que se fazem suas cooperadoras e seus satélites.
Por todos estes motivos, mal deitáramos a mão ao leme da Igreja, claramente sentimos a necessidade de resistir a tamanho mal e de contra Ele dirigir, tanto quanto possível, a nossa autoridade apostólica. Por isto e aproveitando todas as ocasiões favoráveis, havemos tratado as principais teses doutrinárias sobre as quais a opinião perversa da seita maçônica parece ter exercido a maior influência. Foi assim que na nossa encíclica “Quod apostolici muneris” nos esforçamos por combater os monstruosos sistemas dos socialistas e dos comunistas. Nossa outra encíclica “Arcanum” permitiu-nos pôr à luz e defender a noção verdadeira e autêntica da sociedade doméstica, de que o matrimônio é a origem e a fonte. Na encíclica “Diuturnum” fizemos conhecer, consoante os princípios da sabedoria cristã, a essência do poder político, e mostramos as suas admiráveis harmonias com a ordem natural, tanto quanto com a salvação dos povos e dos príncipes. Hoje, a exemplo dos nossos predecessores, resolvemos fixar diretamente a nossa atenção sobre a sociedade maçônica, sobre o conjunto de sua doutrina, sobre os seus projetos, sentimentos e atos tradicionais, a fim de pôr em evidência mais brilhante o seu poder para o mal, e deter nos seus progressos o contágio desse flagelo funesto.
Conspiração de diversas seitas – Existe no mundo um certo número de seitas que, embora difiram umas das outras pelo nome, pelos ritos, pela forma, pela origem, se assemelham e estão de acordo entre si pela analogia da finalidade e dos princípios essenciais. De fato, elas são idênticas à Maçonaria, que é para todas as outras como que o ponto central de onde elas procedem e para o qual convergem. E, se bem que no presente elas tenham a aparência de não gostar de ficar ocultas, se bem que façam reuniões em pleno dia e sob as vistas de todos, se bem que publiquem seus jornais, todavia, se se for ao fundo das coisas, pode-se ver que elas pertencem à família das Sociedades clandestinas e que lhes conservam os usos. Com efeito, há nelas espécies de mistérios que a sua constituição proíbe com o maior cuidado serem divulgados não somente às pessoas de fora, porém mesmo a bom número de seus adeptos. A esta categoria pertencem os Conselhos íntimos e supremos, os nomes dos chefes principais, certas reuniões mais ocultas, e interiores, bem como as decisões tomadas, com os agentes e os meios de execução. Para esta lei do segredo concorrem maravilhosamente: a divisão feita entre os associados, dos direitos, ofícios e cargos; a distinção hierárquica, sabiamente organizada, das ordens e graus; e a disciplina severa a que todos são sujeitos. Na maioria das vezes os que solicitam a iniciação devem prometer, muito mais, devem fazer o juramento solene de nunca revelar a ninguém, em momento algum, de maneira nenhuma, os nomes dos associados, as notas características e as doutrinas da sociedade.
É assim que, sob aparências mentirosas, e fazendo da dissimulação uma constante regra de conduta, como outrora os maniqueus, os maçons não poupam esforços para se ocultarem e só aos seus cúmplices terem por testemunhas. Sendo o seu grande interesse não parecerem o que são, eles se fingem de amigos das letras ou de filósofos reunidos para cultivar as ciências. Só falam de seu zelo pelos progressos da civilização, do seu amor ao pobre povo. A lhes dar crédito, o seu único intuito é melhorar a sorte da multidão e estender a maior número de homens as vantagens da sociedade civil. Mas, suposto que fossem sinceras, estariam essas intenções longe de lhes esgotar todos os desígnios. Com efeito, os que são filiados devem prometer obedecer cegamente e sem discussão as injunções dos chefes; manter-se sempre prontos, à mais leve camada, para executar as ordens dadas votando-se de antemão, em caso contrário, aos tratamentos mais rigorosos e mesmo à morte. De fato, não é raro que a pena do último suplício seja infligida aos dentre eles que são convictos ou de haver entregue a disciplina secreta, ou de haver resistido às ordens dos chefes; e isso se pratica com tal destreza que na maioria das vezes, o executor dessas sentenças de morte escapa à justiça estabelecida para velar sobre os crimes e vingá-los. Ora, viver na dissimulação e querer ser envolvido de trevas; acorrentar a si mesmo pelos laços mais estreitos, e sem lhes haver feito previamente conhecer a que é que se comprometem; homens assim reduzidos ao estado de escravos; empregar em toda sorte de atentados esses instrumentos passivos de uma vontade estranha; armar para o morticínio mãos com cujo auxílio é assegurada a impunidade do crime; aí estão práticas monstruosas, condenadas pela própria natureza. A razão e a verdade bastam, pois, para provar que a Sociedade de que falamos está em oposição formal com a justiça e a moral naturais.
Outras provas, de grande clareza, juntam-se às precedentes e fazem ver ainda melhor o quanto, pela sua constituição essencial, essa associação repugna à sociedade. Efetivamente, por maiores que possam ser entre os homens a astuciosa habilidade de dissimulação e o hábito da mentira, impossível é que uma causa seja qual for, não se deixe trair pelos efeitos que produz: “Uma árvore boa não pode dar maus frutos, e uma árvore má não pode dar bons frutos” (Mt. VII, 18). Ora, os frutos produzidos pela seita maçônica são perniciosos e dos mais amargos. Eis aqui, com efeito, o que resulta do que precedentemente indicamos, e esta conclusão nos entrega a última palavra dos desígnios dela. Trata-se, para os maçons – e todos os seus esforços tendem a esse fim – trata-se de destruir completamente toda disciplina religiosa e social que nasceu das instituições cristãs, e de subtrai-la por uma nova, formada de acordo com as idéias deles, e cujos princípios fundamentais e leis são tiradas do chamado naturalismo.
Tudo o que acabamos de dizer ou que nos propomos dizer deve ser entendido da seita maçônica encarada no seu conjunto, enquanto abrange outras Sociedades que são para elas irmãs ou aliadas. Não pretendemos aplicar todas essas reflexões a cada um dos seus membros tomado individualmente. Entre eles, com efeito, alguns podem se achar, e mesmo em bom número, que embora não isentos de culpa por se haverem filiado a semelhantes Sociedades, não co-participam dos seus atos criminosos e ignoram o escopo final que tais Sociedades forcejam por atingir. Do mesmo modo ainda, pode suceder que alguns dos grupos não aprovem as conclusões extremas a que a lógica deveria forçá-los a aderir, visto decorrerem elas necessariamente dos princípios comuns a toda associação. Porém o mal traz consigo a torpeza que, por si mesma, repele e assusta. Além disto, se circunstâncias particulares de tempo ou de lugares podem persuadir certas frações a ficarem aquém do que desejariam fazer, ou do que fazem outras associações, nem por isso daí se deve concluir que esses grupos sejam alheios ao pacto fundamental da Maçonaria. Esse pacto pode ser apreciado, menos pelos atos praticados e pelos seus resultados, do que pelo espírito que o anima e pelos seus princípios gerais.
Os ensinamentos do Naturalismo – Ora, o primeiro princípio dos naturalistas é que em todas as coisas a natureza ou a razão humana deve ser senhora e soberana. Isto posto, se se trata dos deveres para com Deus, ou eles fazem pouco caso deles, ou lhes alteram a essência por opiniões vagas e sentimentos errôneos. Negam que Deus seja o autor de qualquer revelação. Para eles, fora daquilo que a razão humana pode compreender, não há nem dogma religioso, nem verdade, nem mestre em cuja palavra, em nome de seu mandato oficial de ensino, se deva ter fé. Ora, com a missão inteiramente própria e especial da Igreja Católica consiste em receber na sua plenitude e em guardar numa pureza incorruptível as doutrinas reveladas por Deus, tanto como a autoridade estabelecida para ensiná-las como os outros socorros dados pelo céu em mira a salvar os homens, é contra ela que os adversários desenvolvem mais sanha e dirigem os seus ataques mais violentos. Agora, veja-se a seita dos maçons em obra nas coisas que dizem à religião, principalmente onde quer que a sua ação pode exercer-se com liberdade mais licenciosa: e diga-se se ela não parece ter-se dado por mandato pôr em execução os decretos dos naturalistas. Assim, ainda quando lhe custasse um longo e obstinado labor, propõe-se ela reduzir a nada, na sociedade civil, o magistério e a autoridade da Igreja; donde esta conseqüência, que os maçons se apliquem a vulgarizar e pela qual não cessam de combater, a saber: que é preciso absolutamente separar a Igreja do Estado. Por conseqüência, elas excluem das leis, tanto quanto da administração da coisa pública, a salutaríssima influência da religião católica, e terminam logicamente na pretensão de constituir o Estado inteiro fora das instituições e dos preceitos da Igreja. Não lhes basta, porém, excluir de toda participação no governo dos negócios humanos a Igreja, esse guia tão prudente e tão seguro: mister ainda se faz que a tratem como inimiga e usem da violência contra ela. Daí a impunidade com que, pela palavra, pela pena, pelo ensino, é permitido atacar os próprios fundamentos da religião católica. Nem os direitos da Igreja, nem as prerrogativas com que a providência a dotara, nada lhes escapa aos ataques. Reduz-se a quase nada a liberdade de ação dela, e isso por leis que, em aparências, não se afiguram demasiadamente opressivas, mas que na realidade, são expressamente feitas para agrilhoar essa liberdade. No número das leis de exceção contra o clero, assinalaremos particularmente as que teriam como resultado diminuir notavelmente o número dos ministros do santuário e reduzir sempre mais os seus meios indispensáveis de ação e de existência. Os restos dos bens eclesiásticos sujeitos a mil servidões são colocados sob a dependência e o beneplácito de administradores civis. A comunidades de religiosas são suprimidas ou dispersadas.
Perseguição da Sé Apostólica. A respeito da Sé Apostólica e do Pontífice romano, a inimizade desses sectários tem redobrado de intensidade. Depois de, sob falsos pretextos, terem esbulhado o Papa de sua soberania temporal, garantia necessária da sua liberdade e dos seus direitos, reduziram-no a uma situação simultaneamente iníqua e intolerável, até haverem enfim, nesses últimos tempos, os feitores dessas seitas chegado ao ponto que desde muito tempo era o escopo de seus secretos desígnios, a saber: proclamar chegado o momento de suprimir o poder sagrado dos Pontífices romanos e de destruir inteiramente esse Papado que é de instituição divina. Para pôr fora de dúvida a existência de um tal plano, à míngua de outras provas bastaria invocar o testemunho de homens que pertenceram à seita, e cuja maioria, quer no passado quer em época mais recente, têm atestado como certa a vontade em que estão os maçons de perseguir o Catolicismo com inimizade exclusiva e implacável, com a firme resolução de só parar depois de haverem arruinado completamente todas as instituições religiosas estabelecidas pelos Papas.
Se nem todos os membros da seita são obrigados a abjurar explicitamente o Catolicismo, esta exceção, longe de prejudicar o plano geral da Maçonaria, serve-lhe antes aos interesses. Permite-lhe primeiro enganar mais facilmente as pessoas simples e sem desconfiança, e torna acessível a um número a admissão na seita. Ademais, abrindo suas fileiras a adeptos que vêm de religiões as mais diversas, eles se tornam mais capazes de acreditar no grande erro do tempo presente, que consiste em relegar para a  categoria das coisas indiferentes o cuidado da religião, e em colocar em pé de igualdade todas as formas religiosas. Ora, por si só, esse princípio basta para arruinar todas as religiões, e particularmente a religião católica, porquanto sendo a única verdadeira, não pode ela, sem sofrer a última das injúrias e das injustiças, tolerar lhe sejam igualadas as outras religiões.
Negação dos princípios fundamentais. Vão ainda mais longe, os naturalistas. Audaciosamente embrenhados na trilha do erro sobre as questões mais importantes são arrastados e como que precipitados pela lógica até às conseqüências mais extremas dos seus princípios, seja por causa da fraqueza da natureza humana, seja pelo justo castigo com que Deus lhes fere o orgulho. Daí se segue não mais guardarem eles sua integridade e na sua certeza nem mesmo as verdades acessíveis à simples luz da razão natural, tais como são seguramente a existência de Deus, a espiritualidade e a imortalidade da alma. Enveredando por essa nova trilha de erro, a seita dos maçons não tem escapado a esses escolhos. Com efeito, embora, tomada em seu conjunto, a seita faça profissão de crer na existência de Deus, o testemunho dos seus próprios membros estabelece que essa crença não é, para cada um deles individualmente, objeto de assentimento firme e de certeza inabalável. Eles não dissimulam que a questão de Deus é entre eles causa de grandes dissentimentos. Está mesmo provado que há pouco tempo se travou entre eles séria controvérsia a esse respeito. De fato, a seita deixa aos iniciados, liberdade inteira de pronunciar-se em tal ou tal sentido, quer para afirmar a existência de Deus, quer para negá-la; e os que negam resolutamente esse dogma são tão bem recebidos à iniciação como os que, de certo modo, o admitem ainda, mas desnaturando-o, como os panteístas, cujo erro consiste justamente em, embora retendo do Ser divino não se sabe que absurdas aparências fazem desaparecer aquilo que há de essencial na verdade da sua existência. Ora, quando esse fundamento necessário é destruído ou se quer abalado, por si mesmo resulta vacilarem na razão humana os outros princípios da ordem natural, e não saber ela mais a que se ater, nem sobre a criação do mundo por um ato livre e soberano do Criador e nem sobre o governo da Providência; nem sobre a sobrevivência da alma e a realidade de uma vida futura e imortal que sucede à vida presente.
Corrupção dos costumes. O desmoronamento das verdades que são a base da ordem natural e que tanto importam à conduta racional e prática da vida terá repercussão sobre os costumes privados e públicos. Passemos em silêncio essas virtudes sobrenaturais que, a não ser por um dom especial de Deus, ninguém pode praticar nem adquirir; essas virtudes de que é impossível achar qualquer vestígio nos fazem profissão de ignorar desdenhosamente a redenção do gênero humano, a graça, os sacramentos, a felicidade futura a conquistar o céu. Falamos simplesmente dos deveres que resultam dos princípios da honestidade natural. Um Deus que criou o mundo e governa pela sua Providência; uma lei eterna cujas prescrições ordenam respeitar a ordem da natureza e proíbem perturbá-la; um fim último colocado para a alma numa região superior às coisas humanas e para além desta hospedaria terrestre; eis as fontes, eis os princípios de toda justiça e honestidade. Fazei-os desaparecer (e é esta a pretensão dos naturalistas e dos maçons) e impossível será saber em que é que consiste a ciência do justo e do injusto, ou em que é que ela se apóia. Quanto à moral, a única coisa que achou indulgência perante os membros da seita maçônica, e na qual eles querem que a juventude seja instruída com cuidado, é aquela a que eles chamam “moral cívica – moral independente – moral livre”; noutros termos, moral que não dá lugar algum às idéias religiosas. Ora, a quanto uma lei moral é insuficiente, até que ponto carece de solidez e verga ao sopro das paixões, pode-se verificar bastantemente pelos tristes resultados que ela já tem dado. Com efeito, onde quer que, depois de tomar o lugar da moral cristã, ela começou a reinar com mais liberdade, viu-se prontamente desaparecerem a probidade e a integridade dos costumes, crescerem e se fortificarem as opiniões mais monstruosas, e a audácia dos crimes transbordar por toda parte. Esses males provocam hoje em dia queixas e lamentações universais, às quais fazem eco às vezes bom número daqueles que, muito a contragosto, são forçados a prestar homenagem à evidência da verdade.
Além disso, tendo sido a natureza viciada pelo pecado original e havendo-se, por causa disso, tornada muito mais disposta ao vício do que à virtude, a honestidade é absolutamente impossível se os movimentos desordenados da alma não forem reprimidos e se os apetites não obedecerem à razão. Nesse conflito, muitas vezes é forçoso desprezar os interesses terrenos e resolver-se aos trabalhos mais duros e ao sofrimento, para que a razão vitoriosa fique de posse de seu principado. Mas,  não emprestando nenhuma fé à revelação que recebemos de Deus, os naturalistas e os maçons negam que o pai do gênero humano tenha pecado e, por conseguinte, que as forças do livre arbítrio estejam de algum modo “delibitadas ou inclinadas para o mal” (Conc. Trid., sess. VI, De Justif., c.1). Muito pelo contrário, exageram e poder e a exigência da natureza e, colocando unicamente nela o princípio e a regra da justiça, não podem sequer conceber a necessidade de fazer constantes esforços e de desenvolver uma grandíssima coragem para comprimir as revoltas da natureza e impor silêncio aos apetites. Por isso vemos multiplicar e pôr ao alcance de todos os homens tudo o que lhes pode lisonjear as paixões. Jornais e brochuras de onde a reserva e o pudor são banidos; representações teatrais cuja licença excede os limites; obras artísticas em que se ostentam, com um cinismo revoltante, os princípios disso a que hoje em dia se chama o “realismo”; invenções engenhosas destinadas a aumentar as delicadezas e os gozos da vida; numa palavra, tudo é posto em obra para satisfazer o amor do prazer, com o qual acaba se pondo de acordo a virtude adormecida. Seguramente, são culpados, mas ao mesmo tempo são conseqüentes consigo mesmos, aqueles que, suprimindo a esperança dos bens futuros, rebaixam a felicidade ao nível das perecíveis, a mais baixo mesmo do que os horizontes terrenos. Em abono dessas asserções, fácil seria aduzir fatos certos, posto que incríveis em aparência. De fato, não obedecendo ninguém com tanto servilismo a esses hábeis e astutos personagens como aqueles cuja coragem se enervou e quebrou na escravidão das paixões, têm-se achado na Maçonaria sectários para sustentar que era preciso empregar sistematicamente todos os meios de saturar a multidão de licenças e vícios, bem certos de que com essas condições ela estaria toda nas mãos deles e poderia servir de instrumento ao cumprimento dos seus projetos os mais audaciosos.
Conseqüências na vida doméstica. Relativamente à sociedade doméstica, eis aqui a que se resume o ensino dos naturalistas. O matrimônio é uma mera variedade da espécie dos contratos; pode, pois, ser legitimamente dissolvido à vontade dos contratantes. Os chefes de governo têm poder sobre o vínculo conjugal. Na educação dos filhos, não há nada a lhes ensinar metodicamente nem a lhes prescrever em matéria de religião. A cada um deles compete, quando estiver em idade, escolher a religião que lhe aprouver. Ora, não somente os maçons aderem inteiramente a estes princípios, mas se aplicam a fazê-los passar aos costumes e instituições. Já em muitos países, mesmo católicos, está estabelecido que, fora do casamento civil, não há união legítima. Noutros lugares, a lei autoriza o divórcio, que outros povos se apresentam a introduzir na sua legislação o mais depressa possível. Todas esses medidas apressam a realização próxima do projeto de alterar a essência do matrimônio e de reduzi-lo a não passar de uma união instável, efêmera, nascida do capricho de um instante, e podendo ser dissolvida quando esse capricho mudar. A seita concentra também todas as suas energias e todos os seus esforços em se apoderar da educação da juventude. Os maçons esperam poder facilmente formar de acordo com suas idéias essa idade tão tenra, e dobrar-lhe a flexibilidade no sentido que eles quiserem, nada devendo ser mais eficaz do que isso para preparar à sociedade civil uma raça de cidadãos tal como eles sonham dar-lhe. É por isso que, na educação e na instrução das crianças, não querem eles tolerar os ministros da Igreja, nem como censores, nem como professores. Já em vários países eles conseguiram fazer confiar exclusivamente a leigos a educação da juventude, como também proscrever totalmente do ensino da moral os grandes e santos deveres que unem o homem a Deus.
Conseqüências políticas. Vêm em seguida os dogmas da ciência política. Eis aqui quais são nesta matéria as teses dos naturalistas: os homens são iguais em direitos, todos, e sob todos os pontos de vista são de igual condição. Sendo todos livres por natureza, nenhum deles tem o direito de mandar a um de seus semelhantes, e é fazer violência aos homens pretender submetê-los a uma autoridade qualquer, a menos que essa autoridade proceda deles mesmos. Todo poder está no povo livre; os que exercem o mando só são detentores pelo mandato ou pela concessão do povo, de tal sorte que, se a vontade popular mandar, há que destituir de sua autoridade os chefes de Estado, mesmo contra a vontade deles. A fonte de todos os direitos e de todas as funções civis reside quer na multidão, quer no poder que rege o Estado, mas quando este foi constituído de acordo com os novos princípios. Além disso, deve o Estado ser ateu. De fato, ele não acha nas diversas formas religiosas razão alguma para preferir uma a outro; portanto, todas devem ser postas em pé de igualdade.
Ora, que essas doutrinas sejam professadas pelos maçons, que tal seja para eles o ideal segundo o qual entendem constituir as sociedades, isto é quase sobejamente evidente para precisar ainda ser provado. Já há muito tempo que eles trabalham abertamente para realizá-lo, empregando nisso todas as suas forças e todos os seus recursos. Abrem assim o caminho a outros sectários, numerosos e mais audaciosos, que se mantém prontos a tirar desses falsos princípios conclusões ainda mais destacáveis, a saber, a repartição igual e a comunidade dos bens entre os cidadãos, depois que toda distinção de categoria e de fortuna tiver sido abolida.
Resumo dos erros. Os fatos que acabamos de resumir põem em luz suficiente a constituição íntima dos maçons e mostram claramente por que estrada eles se encaminham para sua meta. Os seus dogmas principais estão em desacordo tão completo e tão manifesto com a razão, que nada se pode imaginar mais perverso. Realmente, querer destruir a religião e a Igreja estabelecidas pelo próprio Deus e por ele asseguradas de uma perpétua proteção, para restabelecer entre nós, após dezoito séculos, os costumes e as instituições dos pagãos, não é o cúmulo da loucura e da mais audaciosa impiedade? Mas o que não é nem menos horrível nem menos suportável é ver repudiar os benefícios misericordiosamente adquiridos por Jesus Cristo, primeiro para os indivíduos e depois para os homens agrupados em famílias e em nações: benefícios que, no testemunho dos próprios inimigos do cristianismo, são do mais alto preço. De certo, em plano tão insensato e tão criminoso bem lícito é reconhecer o ódio implacável de que satanás está animado para com Jesus Cristo, e a sua paixão de vingança. O outro intento para cuja realização os maçons empregam todos os seus esforços consiste em destruir os fundamentos principais da justiça e da honestidade. Com isso fazem-se eles auxiliares daqueles que quereriam que, a exemplo do animal, não tivesse o homem outra regra de ação a não ser os seus desejos. Este intento não tende nada menos do que a desonrar o gênero humano e a precipitá-lo ignominiosamente na sua perdição.
O mal aumenta com todos os perigos que ameaçam a sociedade doméstica e a sociedade civil; conforme expusemos alhures, todos os povos, todos os séculos, concordam em reconhecer no matrimônio algo de sagrado e de religioso, e a lei divina tem provido a que as uniões conjugais não possam ser dissolvidas. Mas, se elas se tornarem puramente profanas, se lícito for rompê-las ao gosto dos contraentes, logo a constituição da família será presa da perturbação e da confusão; as mulheres serão desapossadas da sua dignidade; toda proteção e toda segurança desaparecerão para os filhos e para os seus interesses.
Quanto à pretensão de fazer o Estado completamente alheio à religião e podendo administrar os negócios públicos sem levar em conta a Deus mais do que se Ele não existisse, é uma temeridade sem exemplo, mesmo entre os pagãos. Estes traziam tão profundamente gravada no mais íntimo de suas almas não somente uma idéia vaga dos deuses, mas a necessidade social da religião, que, no senso deles, mais fácil seria a uma cidade manter-se de pé sem estar apoiada no solo do que privada de Deus. De fato, a sociedade do gênero humano, para a qual a natureza nos criou, foi constituída por Deus, autor da natureza. Dele, como princípio e como fonte, promanam na sua força e na sua perenidade os benefícios inúmeros com que elas nos enriquecem. Por isto, assim como a voz da natureza lembra a cada homem particular a obrigação em que está de oferecer a Deus o culto de uma piedosa gratidão porque a Ele é que somos devedores da vida e dos bens que acompanham, dever semelhante se impõe aos povos e às sociedades. Daí resulta como a última relação entre a sociedade civil e os deveres da religião não cometem só uma injustiça, mas pelo seu procedimento, provam a sua ignorância e inépcia. Efetivamente, é pela vontade de Deus que os homens nascem para ser reunidos e para viverem em sociedade; a autoridade é o vínculo necessário à manutenção da sociedade civil, de tal sorte que, quebrado este vínculo, ela se dissolve fatal e imediatamente. A autoridade tem, pois, por autor o mesmo Ser que criou a sociedade. Por isto, seja qual for aquele em cujas mãos o poder reside, ele é o ministro de Deus. Por conseguinte, na medida em que o exigem o fim e a natureza da sociedade humana, cumpre obedecer ao poder legítimo que manda coisas justas, como à própria autoridade de Deus que governa tudo; e nada é mais contrário à verdade do que sustentar que da vontade do povo depende recusar essa obediência quando lhe aprouver.
Do mesmo modo, se considerarmos que todos os homens são da mesma raça e da mesma natureza e que devem todos atingir o mesmo fim último, e se olharmos aos deveres e aos direitos que decorrem dessa comunidade de origem e de destino, não é duvidoso que eles sejam iguais. Mas, como nem todos eles têm os mesmos recursos de inteligência, e como diferem uns dos outros, seja pelas faculdades de espírito, seja pelas energias físicas: como enfim, existem entre eles mil distinções de costumes, de gostos, de caracteres, nada repugna tanto à razão como pretender reduzi-los todos à mesma medida e introduzir nas instituições da vida civil uma igualdade rigorosa e matemática. Com efeito, do mesmo modo que a perfeita constituição do corpo humano resulta da união e do conjunto dos membros, que não têm as mesmas forças nem as mesmas funções, mas cuja feliz associação e concurso harmonioso dão a todo o organismo a sua beleza plástica, a sua força e a sua aptidão para prestar os serviços necessários, assim também no seio da sociedade humana, acha-se uma variedade quase infinita de partes dessemelhantes. Se elas fossem todas iguais entre si e livres cada uma por sua conta de agir a seu talante, nada seria mais disforme do que tal sociedade. Pelo contrário se, por uma sábia hierarquia dos merecimentos, dos gostos, das aptidões, cada uma delas concorre para o bem geral, vedes ergue-se diante de vós a imagem de uma sociedade bem ordenada e conforme a natureza.
Perigos para os Estados. Os maléficos erros que acabamos de relembrar ameaçam os Estados com os perigos mais temíveis. De fato, suprimi o temor de Deus e o respeito devido às suas leis; deixai cair em descrédito a autoridade dos príncipes; daí livre curso e incentivo à mania das revoluções; largai a brida às paixões populares, quebrai todo freio, salvo o dos castigos, e pela força das coisas ireis ter a uma subversão universal e à ruína de todas as instituições: tal é, em verdade, o escopo provado, explícito, que demandam com seus esforços muitas associações socialistas e comunistas; e a seita dos maçons não tem o direito de se dizer alheia aos atentados delas, de vez que lhes favorece os desígnios e, no terreno dos princípios, está inteiramente de acordo com elas. Se esses princípios não produzem imediatamente e em toda parte as suas conseqüências extremas, não é nem à disciplina da seita nem à vontade dos sectários que cumpre atribui-lo: mas primeiramente à virtude dessa religião divina que não pode ser aniquilada, e depois também à ação dos homens que, formando a parte mais sã das nações, recusam suportar o jugo das sociedades secretas e lutam com coragem contra as insensatas empresas destas.
E Oxalá que todos, julgando a árvore pelos seus frutos, soubessem reconhecer o germe e o princípio dos males que nos acabrunham, dos perigos que nos ameaçam! Lidamos com um inimigo astuto e fecundo em artifícios. Ele prima em fazer cócegas agradavelmente nos ouvidos dos príncipes e dos povos; tem sabido prender uns e outros pela doçura de suas máximas e pelo engodo de suas lisonjas. Os príncipes? Têm-se os maçons insinuado no favor deles sob a máscara da amizade, para fazerem deles uns aliados e uns poderosos auxiliares, com a ajuda dos quais oprimissem mais seguramente os católicos. A fim de aguilhoar mais seguramente o zelo desses personagens, eles perseguem a Igreja com calúnias impudentes. É assim que a acusam de invejar o poder dos soberanos e de lhes contestar os direitos. Seguros por essa política da impunidade de sua audácia, eles começaram a gozar de um grande crédito sobre os governantes. Aliás, mantém-se sempre prontos a abalar os fundamentos dos impérios, a perseguir, a denunciar e mesmo a expulsar os príncipes, todas as vezes que estes parecem usar do poder diversamente do que exige a seita. Os povos? Eles zombam deles adulando-os por processos semelhantes. Têm sempre na boca os termos “liberdade” e “prosperidade pública”. A crê-los, foi a Igreja, foram os soberanos que sempre fizeram obstáculo a que as massas fossem arrancadas a uma servidão injusta, e libertadas da miséria. Têm seduzido o povo por essa linguagem falaz, e excitando nele a sede das mudanças, têm-no lançados ao assalto dos dois poderes, eclesiástico e civil. Todavia, a realidade das vantagens esperadas fica sempre abaixo da imaginação e dos seus desejos. Bem longe de se haver tornado mais feliz, o povo esmagado por uma opressão e uma miséria crescentes, vê-se ainda destituído das consolações que com tanta facilidade e abundância poderia achar nas crenças e práticas da religião cristã. Quando os homens atacam a ordem providencialmente estabelecida, por uma justa punição de seu orgulho acham, muitas vezes, a aflição e a ruína em lugar da fortuna próspera com que temerariamente haviam contado para a satisfação de todos os seus desejos.
Igreja e Estado. Quanto à Igreja, se acima de tudo ela ordena aos homens obedecerem a Deus, Soberano Senhor do universo, far-se-ia contra ela um julgamento calunioso se se acreditasse ser ela invejosa do poder civil ou cogitar de se arrogar os direitos dos príncipes. Longe disto. Ela coloca sob a sanção do dever e da consciência a obrigação de dar ao poder civil aquilo que lhe é legitimamente devido. Se ela faz emanar do próprio Deus o direito de mandar, daí resulta para a autoridade um acréscimo considerável de dignidade e uma facilidade maior de conciliar a si a obediência, o respeito e a boa vontade dos cidadãos. Aliás, sempre amiga da paz, é ela quem entretém a concórdia, abraçando todos homens na ternura da sua caridade materna. Unicamente atenta a promover o bem dos mortais, não se cansa de lembrar que se deve sempre temperar a justiça pela clemência, o mando pela equidade, as leis pela moderação; que o direito de cada um é inviolável; que é um dever de trabalhar pela manutenção da ordem e da tranqüilidade geral, e em toda medida do possível, pela caridade privada e pública, vir em auxílio dos sofrimentos dos infelizes. Mas, para empregar muito a propósito as palavras de Santo Agostinho, “eles crêem ou procuram fazer crer que a doutrina cristã é incompatível com o bem do Estado, porque querem fundar o Estado não na solidez das virtudes, mas na impunidade dos vícios” (Epist. 137 ad Volusianum, c. V – nº 20). Se tudo isso fosse mais bem conhecido, príncipes e povos dariam prova de sabedoria política e agiriam conforme as exigências da salvação geral, unindo-se à Igreja para resistir aos ataques dos maçons, em vez de se unirem aos maçons para combater a Igreja.
Em busca de remédios. Suceda o que suceder, o nosso dever é aplicar-nos a achar remédios proporcionados a um mal tão intenso e cujas devastações são apenas sobejamente extensas. Bem o sabemos: a nossa melhor e mais sólida esperança de cura está na virtude dessa religião divina que os maçons odeiam tanto mais quanto mais a temem. Sumamente importa, pois, fazer dela o ponto central da resistência contra o inimigo comum. Por isso, todos os decretos emitidos pelos Pontífices romanos, nossos predecessores, em mira a paralisar os esforços e as tentativas da seita maçônica; todas as sentenças Por eles pronunciadas para desviar os homens de filiar-se a essa seita ou para determiná-los a sair dela, entendemos ratificá-los de novo, tanto em geral como em particular. Cheio de confiança a esse respeito, na boa vontade dos cristãos, em nome de sua salvação eterna lhes suplicamos e pedimos terem para si como uma obrigação sagrada de consciência nunca se afastarem, nem se quer de uma linha, das prescrições promulgadas a esse respeito pela Sé Apostólica.
Quanto a Vós, Veneráveis Irmãos, rogamo-Vos, conjuramo-Vos a unirdes vossos esforços aos Nossos, e empregardes todo o vosso zelo em fazer desaparecer todo o contágio impuro do veneno que circula nas veias da sociedade e a infecta toda. Trata-se para vós de promover a glória de Deus e a salvação do próximo. Combatendo por tão grandes causas, nem a coragem nem a força vos hão de falhar.
Arrancar as máscaras. Pertence-vos determinar, na vossa sabedoria, por que meios mais eficazes podeis triunfar das dificuldades os obstáculos que se levantarem contra vós. Porém, já que autoridade inerente ao Nosso múnus Nos impõe o dever de vos traçar por Nós mesmo a linha de conduta que consideramos a melhor, dir-vos-emos: Em primeiro lugar, arrancai à maçonaria a máscara com que ela se cobre, e fazei-a ver tal qual é. Em segundo lugar, por vossos discursos e por vossos e por vossas Cartas Pastorais especialmente consagradas a esta questão, instruí vossos povos; fazei-lhes conhecer os artifícios empregados por essas seitas para seduzir os homens e atraí-los às suas fileiras, mostrai-lhes a perversidade de suas doutrinas e a infâmia de seus atos. Lembrai-lhes que, em virtude das sentenças, várias vezes proferidas pelos Nossos predecessores, nenhum católico, se quiser permanecer digno do seu nome e ter da sua salvação o cuidado que ela merece, sob qualquer pretexto, pode filiar-se à seita dos maçons. Que ninguém, pois, se deixe enganar por falsas aparências de honestidade. Algumas pessoas, com efeito, podem crer que, nos projetos dos maçons, não há nada formalmente contrário à santidade da religião e dos costumes. Todavia, sendo condenado pela moral o princípio fundamental que é como que a alma da seita, não pode ser permitido aliar-se a ela, nem auxiliá-la de qualquer modo.
Instrução religiosa. Em seguida, com o auxílio de instruções e exortações freqüentes, importa fazer com que as massas adquiram o conhecimento da religião. Neste intuito, aconselhamos muito expordes, seja por escrito, seja de viva voz e em discursos “ad hoc”, os elementos dos princípios sagrados que constituem a filosofia cristã. Esta última recomendação tem, sobretudo por fim curar, bom uma ciência de bom quilate, as doenças intelectuais dos homens, e premuni-los conjuntamente contra as formas múltiplas do erro e contra as numerosas seduções do vício, mormente num tempo em que a licença dos escritos corre paralela com uma insaciável avidez de aprender. Para realizá-lo, tereis antes de tudo o auxílio e a colaboração do vosso clero, se derdes todos os vossos desvelos a bem formá-lo e a mantê-lo na perfeição da disciplina eclesiástica e na ciência das sagradas letras.
Todavia, uma causa de tão bela e de tão alta importância chama ainda em seu socorro a dedicação inteligente dos leigos que unem os bons costumes e a instrução ao amor da religião e da pátria. Ponde em comum, veneráveis irmãos, as forças dessas duas ordens, e daí todos os vossos desvelos a que os homens conheçam a fundo a Igreja Católica e amem-na de todo o seu coração. Porque, quanto mais esse conhecimento e esse amor crescerem nas almas, tanto mais aversão se conceberá pelas Sociedades secretas, tanto mais solicitude se terá por fugir delas.
A Ordem Terceira de São Francisco. Propositadamente aproveitamos o novo ensejo que nos é oferecido para insistir sobre a recomendação por Nós já feita em favor da Ordem Terceira de São Francisco, a cuja disciplina aduzimos prudentes moderações. Cumpre pôr um grande zelo em propagá-la e firmá-la. De feito, tal como foi estabelecida pelo seu autor, ela consiste toda nisto: atrair os homens ao amor de Jesus Cristo, ao amor da Igreja, à prática das virtudes cristãs. Pode ela, pois, prestar grandes serviços em ajudar a vencer o contágio dessas seitas detestáveis. Faça, pois, essa santa Associação todos os dias novos progressos. Entre as numerosas vantagens que se podem esperar dela, uma há que prima sobre todas as outras: essa Associação é uma verdadeira escola de Liberdade, de Fraternidade, de Igualdade, não segundo a maneira absurda como os maçons entendem estas coisas, porém tais como com elas Jesus Cristo quis enriquecer o gênero humano, e como São Francisco as pôs em prática. Falamos, pois, aqui da liberdade dos filhos de Deus, em nome da qual recusamos obedecer a senhores iníquos que se chamam satanás e as más paixões. Falamos da fraternidade que nos prende a Deus como ao Criador e Pai de todos os homens. Falamos da igualdade que, estabelecida sobre os fundamentos da justiça e da caridade, não sonha com suprimir toda distinção entre os homens, mas excede em fazer da variedade das condições e dos deveres da vida uma harmonia admirável e uma espécie de concerto maravilhoso com que naturalmente aproveitam os interesses e a dignidade da vida civil.
Grêmios e Confrarias. Em terceiro lugar, uma instituição devida à sabedoria de nossos pais e momentaneamente interrompida pelo curso dos tempos poderia, na época em que estamos, tornar a ser o tipo e a forma de criações análogas. Queremos falar daquelas corporações operárias destinadas a proteger, sob a tutela da religião, os interesses do trabalho e os costumes dos trabalhadores. Se a pedra de toque de uma longa existência e experiência tinha feito os nossos antepassados apreciarem a utilidade dessas associações, talvez a nossa idade tirasse delas maiores frutos, tantos recursos preciosos elas oferecem para combater com êxito e para esmagar o poder das seitas. Aqueles que só escapam à miséria à custa do labor de suas mãos, ao mesmo tempo em que, pela sua condição, são sumamente dignos da caridosa assistência dos seus semelhantes, são também os mais expostos a ser enganados pelas seduções e astúcias dos corifeus da mentira. Mister se faz, pois, ajudá-los com grande habilidade e abrir-lhes as fileiras de associações honestas, para impedi-los de serem alistados nas más. Em conseqüência, e para a salvação do povo, ardentemente desejamos ver se restabelecerem, sob os auspícios e patrocínio dos Bispos, essas corporações apropriadas às necessidades dos tempos presentes. Não é para Nós medíocre alegria o já termos visto constituírem-se em vários lugares associações desse gênero, bem como Sociedades patronais, sendo o fim de umas e de outras auxiliar a honesta classe dos proletários, assegurar-lhes às famílias e aos filhos o benefício de um patrocínio tutelar, fornecer-lhes os meios de conservar, com bons costumes, o conhecimento da religião e o amor da piedade.
Conferências de São Vicente de Paulo. Não poderíamos aqui passar em silêncio uma Sociedade que tem dado tantos exemplos admiráveis e que tanto tem merecido das classes populares: queremos falar daquela que tomou o nome de seu pai, São Vicente de Paulo. Conhecem-se bastante as obras realizadas por essa Sociedade e o fim que ela se propõe. Os esforços de seus membros tendem unicamente a aplicar-se, por uma caridosa iniciativa, ao socorro dos pobres e infelizes, o que eles fazem com maravilhosa sagacidade e não menos admirável modéstia. Porém, quanto mais essa Sociedade oculta o bem que opera, tanto mais apta está a praticar a caridade cristã e a aliviar as misérias dos homens.
Cuidado com a juventude. Em quarto lugar, a fim de mais facilmente alcançarmos a meta dos Nossos desejos, recomendamos com nova insistência à vossa fé e à vossa vigilância a juventude, que é a esperança da sociedade. Aplicai à formação dela a maior parte das vossas solicitudes pastorais. Qualquer que já possam ter sido a este respeito o vosso zelo e a vossa previdência, crede que nunca fareis o bastante para subtrair a juventude às escolas e aos mestres junto aos quais estaria ela exposta a respirar o sopro peçonhento das seitas. Por entre as prescrições da doutrina cristã, há uma sobre a qual deverão insistir os pais, os pios educadores, os curas, sob o impulso de seus Bispos. Queremos falar da necessidade de lhes premunir os filhos ou os alunos contra essas Sociedades criminosas, ensinando-os cedo a desconfiar dos artifícios variados e pérfidos, com o auxílio dos quais seus prosélitos procuram enlaçar os homens. Os que têm encargo de preparar os jovens para receber os Sacramentos, como convém, agiriam sabiamente se induzissem cada um deles a tomar a firme resolução de não se agregar a nenhuma Sociedade sem ciência dos pais, ou sem consultarem antes seu cura ou seu confessor.
Recurso à oração. De resto, sabemos muito bem que nossos comuns labores para arrancar do campo do Senhor essas sementes perniciosas seriam totalmente impotentes se, do alto do céu, o Senhor da vinha não secundasse os nossos esforços. Necessário é, pois, lhe implorarmos a assistência e o socorro com grande ardor e por solicitações reiteradas, proporcionadas à necessidade das circunstâncias e à intensidade do perigo. Ufana dos seus sucessos precedentes, a seita dos maçons levanta insolentemente a cabeça, e sua audácia parece já não conhecer limites. Ligados uns aos outros pelo vínculo de uma federação criminosa e dos seus projetos ocultos, prestam-se esses adeptos mútuo apoio e se provam entre si a ousar e a fazer o mal. A um ataque tão violento deve responder uma defesa enérgica. Unam-se, pois, também as pessoas de bem, e formem uma intensa coligação de oração e de esforços. Em conseqüência, pedimos-lhes fazerem entre si, pela concórdia dos espíritos e dos corações, uma coesão que as tornem invencíveis contra os assaltos dos sectários. Além disso, estendam elas para Deus mãos súplices, e esforcem-se seus gemidos por obter a prosperidade e os progressos perseverantes do Cristianismo, a tranqüila fruição, para a Igreja, da liberdade necessária, o retorno dos transviados ao bem, o triunfo da verdade sobre o erro, da virtude sobre o vício.
Roguemos à Virgem Maria, Mãe de Deus, se faça nossa auxiliar e nossa intérprete. Vitoriosa de satanás desde o primeiro instante da sua Conceição, desenvolva ela o seu poder contra as seitas reprovadas que tão evidentemente fazem reviver entre nós o espírito de revolta, a incorrigível perfídia e a astúcia do demônio. Chamemos em nosso auxílio o Príncipe das Milícias Celestes, São Miguel Arcanjo, depois São José, o esposo da Santíssima Virgem, o celeste e tutelar padroeiro da Igreja Católica, e os grandes apóstolos São Pedro e São Paulo, esses infatigáveis semeadores e esses campeões invencíveis da fé católica. Graças à proteção deles e à perseverança de todos os fiéis na oração, temos a confiança de que Deus se dignará a enviar um socorro oportuno e misericordioso ao gênero humano exposto a tamanho perigo.
Nesse ínterim, como penhor dos dons celestes e como testemunho da Nossa benevolência, do fundo do coração Vos enviamos a benção apostólica, a Vós, veneráveis Irmãos, bem como ao clero e aos povos confiados à vossa solicitude.
Dado em Roma, em São Pedro, a 20 de abril de 1884, sétimo ano do nosso Pontificado.



LEÃO, PP. XIII (*).




(*) N. do Trad. Bras.: Esta tradução não é de minha lavra. Reproduzi-a de “A Maçonaria no Brasil” de Frei Boaventura Kloppenburg, Ed. Vozes Ltda., Petrópolis – 1961, 4ª. Edição, págs. 328 – 343.

INTRODUÇÃO



“Todos os nossos segredos maçônicos estão impenetravelmente ocultos atrás de símbolos”. (Ensino Oficial do Grau 33).


1 – O número maçônico “trinta e três” nas antigas religiões pagãs.


Os graus da maçonaria são em número de trinta e três, como todo mundo sabe.
Eis que, estudando os textos dos “Vedas” indianos, achamos o seguinte fragmento: “Oh, deuses que, em número de onze, morais nos céus; que em número de onze estais sobre a terra e que, em número de onze, habitais gloriosamente em meio aos ares, que nosso sacrifício vos seja grato!” (1)


(1)  Rig-veda, Adhyaya, II. Anuvaka, XX. Sukta, IV, vers. XX – 11.


O “Atarva-Veda” ensina que no Prajapati (Brahma) se encontram contidos, como membros, trinta e três espíritos (trayas-trinschad devah).
O “Zend-Avesta”, livro sagrado dos antigos persas, contém o seguinte fragmento: “Que os trinta e três Amscaspands (Arcanjos) e Ormuzd sejam puros e vitoriosos! (2)


(2)  Kordah-Avesta, III.


Igualmente podemos ler no “Yaçna”, vers. 33: “Convido e honro a todos os senhores da pureza: os trinta e três mais próximos em torno de Havani (o Oriente), os mais puros, a quem Ahura-Mazda (Ormuzd) instruiu e Zarathustra anunciou”.
Este número misterioso – o “trinta e três” para o qual em parte alguma é possível achar explicação, parece nos indicar uma conexão entre os misteriosos arcanos da antiguidade pagã, e a maçonaria; conexão que merecia ser estudada, e inclusive poderia trazer a descoberta dos segredos mais ocultos desta sociedade tenebrosa.
E não nos enganamos nesta suposição, como veremos.



2 – O número trinta e três na maçonaria.


Os primeiros onze graus da maçonaria, como veremos mais adiante, estão destinados a transformar o “Profano” em “Homem Verdadeiro” no sentido maçônico; a segunda série, que vai do grau 12 ao 22, deve consagrar o “Homem Pontífice Judaico”; e a terceira série, do 23 ao 33, há de consagrar o “Pontífice – Rei Judaico” ou ‘Imperador Kabalístico”.
Os judeus, chefes secretos da maçonaria, foram extremamente circunspectos no que toca a revelar os segredos da organização de sua sociedade secreta.
Poderíamos citar como exemplo a França, que em 1722 não conhecia ainda senão os três primeiros graus, nos quais não obstante, está contida em germe toda doutrina maçônica. Em 1738, este número foi duplicado; em 1758, cresceu até duas séries de onze, mas os três primeiros graus da terceira série lhe foram anexados, chegando a um total de 25 graus. Os oito que faltavam para um sistema “perfeito”, não foram acrescentados até 1802 quando os tenebrosos trabalhos das lojas haviam dado os frutos esperados, e o sangue humano havia corrido em rios.
Paul Rosen, que foi maçom de grau 33, nos dá a descrição da abertura das sessões do Conselho Supremo do grau 33 (1). Diz assim:


(1)  Em “Satan”, pág. 219 (Tournai, 1888).


“Um conselho Supremo deve estar composto por nove Soberanos Grande Inspetores Gerais, no mínimo, e trinta e três como máximo. Nove porque sendo este número o último dos simples, indica o fim de todas as coisas; trinta e três, porque o primeiro Conselho Supremo se reuniu em Charleston aos 33 graus de latitude norte, a 31 de maio de 1801, ficando constituído sob a presidência de Isaac Long, feito Inspetor Geral por Moses, que havia recebido seu grau de Spitzer, Hayes, Franken e Morin. Este o possuía desde 27 de agosto de 1762, quando lhe foi conferido pelo príncipe de Rohan, e outros nove maçons do Rito da Perfeição, que o haviam encarregado de estabelecer em todas as partes do mundo a Potente e Sublime Maçonaria”.
As autoridades maçônicas, como Findel (1) e Clavel (2) declararam que o Morin não tinha licença para estabelecer senão 25 graus. E que a publicação dos oito últimos não teve lugar antes de 1801, mas isto é dito para desviar os espíritos demasiadamente curiosos: o sistema maçônico exige absolutamente trinta e três graus.


(1) “Geschichte der Fraimaurerei” – pág. 847. “Die Ordenslüge des schottischen Ritus der 33 Grade”. “Histoire de la Franc-maçonerie: le Mesonge de l´Ordre regardant le rite écossais de 33 degrés”.
(2) “Histoire pittoresque de la Franc-Maçonerie” – pág. 1003, Ed. de 1844.


No catecismo do Mestre, segundo o Rito Escocês, lemos (3): “A Assembléia geral, reunida anualmente em sessão, e investida do poder legislativo, fixa a lei que nos rege e regula e os interesses comuns da instituição. Em sua ausência os assuntos correntes são administrados por uma Comissão conhecida pelo nome de Conselho da Ordem, e composta por trinta e três membros eleitos da Assembléia Geral”.


(3) Leo Taxil – “Les Frères Trois-Points”. Vol. II, pág. 126.


          Os “mistérios” da maçonaria acham-se ocultos em sua maior parte por lendas, emblemas, insígnias, palavras sagradas, etc. A “Câmara Negra” pela qual deve passar aquele que recebe o grau de Rosa Cruz, é iluminada por trinta e três luzes, dispostas em três candelabros de onze braços cada (4).


(4) Leo Taxil – “Les Mystéres de la Franc-Maçonerie”, pág. 279.


          O Rito de Misrain (Egípcio) compreende 33 graus simbólicos, 33 graus filosóficos, 11 graus místicos e 13 graus kabalísticos.
          Basta para o momento comprovar, no citado rito, a repetição do número trinta e três e do número onze, o que ainda nos levará mais dentro dos mistérios, até a aberta profissão da Kabala judaica.


          3 – O número onze da Kabala judaica.


            Dirijamos a atenção, uma vez que acabamos de mencionar a Kabala, para esta doutrina filosófica dos judeus heterodoxos.
          Também nela encontramos o número “onze” e com ele, a chave dos mistérios maçônicos. Baste-nos para o momento, fazer que o “Ensoph” (Infinito) é, segundo a doutrina da Kabala judaica, a fonte de que provém tudo o que existiu, existe e existirá por toda a eternidade; dela dimana em primeiro lugar, um trio: a Coroa, a Sabedoria e a Inteligência, conhecidos pelos “Sephirot” (números) superiores; em segundo lugar, a outros sete “Sephirot” que com três superiores constituem o Homem Primordial (Adam Kadmon). O Ensoph e os sete Sephirot compõem “no céu” o famoso número onze que se repete na esfera dos espíritos que habitam “em meio aos ares”, tanto como no mundo material, “sobre a terra”, completando deste modo o número de trinta e três.
          Os kabalistas estimam muito os números, sobretudo o “onze”. Um fragmento contido em seu livro principal “Zohar” (Luz) se intitula “Idra Raba” ou seja, “A Grande Assembléia” porque compreende os discursos dirigidos por Simeon Ben-Jocha: a todos os seus discípulos, que eram em número de dez; deste modo o Mestre representava o Ensoph entre dez Sephirot (1).


(1)  Franck – “La Kabbale”, pág. 126 (nota).


4 – O número onze nas insígnias maçônicas.


Bastou para dar certeza de que nos encontramos no verdadeiro caminho que há de conduzir-nos aos mistérios mais recônditos da maçonaria o descobrir o Ensoph, com os dez Sephirot e a Coroa à cabeça, nas insígnias maçônicas.
Nas “Grandes Constituições” do Rito Escocês, art. 66, se encontra a descrição da insígnia a que têm direito, os membros na Grande Loja Central.
“Trazem um cordão em aspa, de branco ‘moiré’, de um comprimento de dez a onze centímetros, adornado por um lacinho de ouro, de cinco milímetros de cada lado; na ponta a uma roseta de cor de papoula. Deste cordão está suspensa uma jóia formada por três triângulos entrelaçados, rematados por uma Coroa. Esta jóia deve ser de ouro ou dourada”.
Os três triângulos entrelaçados representam os nove Sephirot que emanam da Coroa, que os arremata e completa o número de dez.
O cordão branco de dez centímetros representa os mesmos dez Sephirot. Se fala de “dez a onze centímetros” a fim de que reste espaço para acrescentar a borla.
Esta borda dourada, de meio centímetro de cada lado, completa os “onze centímetros e representa o Ensoph (Infinito) que abarca toda a criação ou, para o dizer mais exatamente, toda emanação mediante as quais este se revela”.
A roseta na ponta do cordão representa o pensamento ou, melhor dizendo, a ação fecunda do Infinito pela qual se revela o Universo.
O cordão que é usado pelos Mestres do terceiro grau é azul “moiré”, de um comprimento de “onze” centímetros; e dos “Mestres Secretos” do grau quarto é também azul, mas com beirada negra e do mesmo comprimento.
A diferença das cores nos graus 4 e 33, indica outra idéia: só no último grau trinta e três se chega a obter o que no grau quarto se chora ainda como perdido.
No grau 29 há sete sinais, três contatos e um contato geral, que significam os sete Sephirot inferiores, os três superiores, o Ensoph. Em total, “onze”.
A Câmara do Conselho Supremo do grau 33 do Rito Escocês é iluminada por onze luzes: um candelabro de cinco braços, a oriente; outro de três a ocidente; outro de um braço ao norte; e um quarto de dois braços ao sul. Ainda se pode encontrar o número onze na data 5312 (Era Judaica) – 1312 da Era Cristã – ano da abolição da Ordem dos Templários.
A “bateria” (aplauso) do grau 33 se acha também por meio de onze golpes: cinco seguidos; depois três, um e dois, que tem o mesmo significado das onze luzes.
Nestes dois símbolos, luzes e bateria, vemos reunidos os três mistérios fundamentais da maçonaria.
Primeiro – o mistério da “Ordem abolida dos Templários” que se oculta por trás dos graus inferiores da sociedade secreta. Este é o ano de 1312 que clama por vingança.
Segundo – O mistério da Sinagoga extinta, oculta por trás da sociedade secreta da maçonaria inteira. Para isso temos a era judaica.
Terceiro – O mistério do Anjo Caído, que se esconde atrás dos dez Sephirot; ou seja, a Trindade divina e “os sete anjos que se acham sempre diante do trono de Deus” (1). Aqui temos o número onze: Três ódios conjurados ao Senhor e seu Cristo!


(1)  Apocalipse I, 4. Tobias XII, 15.


5 – A Kabala judaica, base dogmática da maçonaria.


          As indicações citadas nos bastam para considerar justa nossa hipótese de que a Kabala judaica é a base filosófica e a chave da maçonaria. Tal descoberta nos inspirou a idéia deste pequeno ensaio. Servirá para abrir os olhos aos milhares de maçons não judeus que não vêem a escravidão a que os induziram os Fariseus, os judeus da Kabala, e em que os mantém cativos com os mistérios que nunca lhes revelam, nem mesmo no próprio grau trinta e três?
          Veremos assim o motivo da sujeição dos povos cristãos e de autoridades políticas ao domínio da judiaria?


          6 – O paganismo incorporado à Kabala judaica.


            Os kabalistas modernos não representam a sinagoga ortodoxa nem a verdadeira doutrina mosaica, inspirada pelo próprio Deus, mas o paganismo de que foram possessos alguns judeus sectários quando do cativeiro da Babilônia. Basta estudar a doutrina da Kabala judaica e compará-la com as dos antigos povos civilizados, indianos, persas, gregos, babilônios, assírios e egípcios, para ter a certeza de que em todas elas está presente a mesma idéia panteísta de emanação. Em todas elas se encontra certo princípio eterno do qual emana uma primeira trindade, da qual procede todo o universo; não por criação, mas por emanação substancial.
          Nos vemos, portanto, forçados a admitir que existe entre a filosofia kabalística e o paganismo antigo uma relação difícil de ser explicada senão através da inspiração de um mesmo autor: o Inimigo do gênero humano, o Espírito da mentira.


          7 – Satanás no paganismo.


          No curso deste pequeno ensaio deveremos destacar a habilidade com que este inspirador das antigas doutrinas pagãs conseguiu separar, em princípio, a idéia das três pessoas divinas, conhecidas na Antigüidade com mais ou menos precisão, da idéia de sua substância comum e espiritual, representando-as como emanadas num tempo mais ou menos na Trindade, suplantando seja a primeira, seja a terceira Pessoa a fim de obter de um ou de outro modo à adoração dos homens, que exigiu dizendo: “Subirei aos céus, porei meu trono acima dos astros de Deus, me situarei por cima das mais elevadas nuvens, e serei semelhante ao Altíssimo” (1).


(1)  Isaias XIV, 13.


Aqui se descobre a fonte envenenada dos erros e ódios sobrenaturais que enchem o paganismo, tanto antigo como moderno. Assim como a alma do judeu da Kabala e do aspecto da maçonaria, de uma indescritível contra Deus e os que crêem nele.


8 – Os judeus na abolida Ordem dos Templários.


Ao suplantar uma das pessoas da Santíssima Trindade o Príncipe das Trevas, usurpador de honras divinas, soube ocultar-se por trás dos antigos mistérios pagãos, baseados no erro panteístas, e por meio dos mesmos levou o homem a uma perversão inaudita e a uma perfídia que não retrocede diante da espantosa tentativa de destronar a Divina Majestade.
Este espírito do mal, presidindo os antros pagãos, soube penetrar com sua doutrina criminosa no espírito de determinado setor do povo judeu durante o cativeiro da Babilônia. Ligado a seus novos adeptos, em todos os lugares conhecidos por sua extraordinária tenacidade, peculiar à raça, revolucionou e continua revolucionando o mundo. Se os fariseus não titubearam em crucificar ao Cristo, menos ainda haverão de hesitar em perseguir os cristãos, cuja fé, essencialmente espiritual, está em oposição a suas grosseiras esperanças temporais.
Passemos em silêncio o tempo dos gnósticos e das grandes perseguições dos primeiros séculos, em que os judeus tiveram o papel da máxima importância. Detenhamos-nos na Idade Média. Os Templários foram corrompidos na Palestina. Em suas reuniões secretas renunciarem a Jesus Cristo e como lógica conseqüência – se entregaram a perversões.
Não temos de provar aqui o que Deschamps, Pachtler e outros demonstraram à saciedade e irrefutavelmente. A Ordem abolida dos Templários, no princípio, com suas doutrinas e práticas, depois, pela ação de seus membros dispersos, serviram de ideal ponto de partida para o que hoje se chama maçonaria.


9 – Encadeamento dos mistérios e ódios da maçonaria.


Os pontos citados nos podem servir de introdução a este ensaio que pretende mostrar ao leitor, em primeiro lugar, a concatenação dos misteriosos ódios concentrados na maçonaria pela continuação e cumprimento da obra do Anticristo; “pois o mistério da iniqüidade já se opera” (1).


(1)  Tessalonicenses II, 7.


Se na verdade conseguimos colocar o dedo na chaga que corrói a humanidade, logo surgirão homens competentes que se apressarão a seguir-nos e a completar o que nós não temos condição senão de aflorar. Se nossa obra puder ser completada, resultará em conjunto uma História Universal, um tratado de teologia e filosofia e uma ampla exposição da Magia Negra.
Se procurarmos na História, encontramos nela a maçonaria; se estudarmos a maçonaria, encontramos a extinta Ordem dos Templários; se investigarmos as três juntas, veremos os antigos mistérios pagãos, e enfim, no fundo de tudo, encontraremos o próprio Satanás.
O Anjo Caído seduziu os povos antigos com suas doutrinas embusteiras e o paganismo por sua vez seduziu os judeus, obstinados e hipócritas; a Judiaria seduziu e corrompeu a Ordem originalmente religiosa dos Templários, e permanece ainda hoje enganando a grande massa crédula dos maçons.
O judaísmo, que açambarcou o poder civil deste mundo, faz uma guerra sem trégua nem mercê à Igreja de Jesus Cristo, e a todos os que se negam a dobrar os joelhos diante do bezerro de ouro.
A verdadeira doutrina, a autêntica meta da maçonaria, é cingir as têmporas da judiaria com o diadema real e colocar a seus pés o império do mundo.
Alimentamos a esperança de recobrar com esta obra algum dos espíritos transviados, mas não a geração perversa que se oculta atrás das trinta e três dobras dos segredos maçônicos, e ainda além, pois não se a poderia convencer pela razão, já que só cede à força maior. Provavelmente sua derrota se deverá à exasperação popular, ou talvez à defecção e desgosto dos mesmos que conseguiu subjugar e encadear com juramentos ilícitos, os quais por superstição, considerem ainda honestos e válidos.
Poderia parecer que o poder dos chefes da maçonaria está chegando a seu fim, mas não terminará senão depois de uma tragédia inaudita na História do mundo.
“Desmascarar a maçonaria, disse Leão XIII – é vencê-la”. Se lhe arrancamos seus véus, todo espírito reto, todo coração honrado, se afastará dela com horror; e por este simples fato ela cairá, reduzida e execrada pelos mesmos que a obedecem.






A DOGMÁTICA MAÇÔNICA

Livro Primeiro






Capítulo Primeiro: O Ensoph Kabalístico (a primeira causa maçônica).



          1 – Os dogmas da maçonaria ocultos por trás de suas de suas insígnias e emblemas.


          Os dogmas da maçonaria são os da Kabala judaica, e em particular os de seu Zohar (“Luz”).
          Isso não consta em nenhum documento maçônico, pois é um dos grandes segredos que os judeus guardam para só serem conhecidos deles mesmos. Sem embargo, conseguimos descobri-lo seguindo as pistas do número “onze”.
          “Para impedir formalmente o conhecimento de seus mistérios, o ensinamento da doutrina maçônica está velado em cada um de seus trinta e três graus sob três insígnias e sete emblemas convencionais”, derivados da invisível Autoridade Suprema da maçonaria como os três Sephirot superiores e os sete inferiores emanam do inescrutável Ensoph da Kabala.
          “As insígnias são: primeiro, o avental; segundo, o cordão e terceiro a jóia”.
          “Os emblemas convencionais são: Quarto, a Bateria; quinto, a Ordem; sexto, o Sinal; sétimo, a Senha; oitavo, o Contato; nono, a Palavra Sagrada; e décimo, a Era Maçônica. Ao que se há de acrescentar, em vários graus, a Marcha para entrar na Oficina” (1).


          (1) Paul Rosen – “Satanás”, pág. 248.


          É aqui que conseguimos descobrir os dogmas fundamentais da Kabala judaica, incorporados à maçonaria.


          2 – O Triângulo e os Três Pontos, símbolo do Grande Arquiteto do Universo e do homem.


          Entre todos os emblemas maçônicos, o que mais se sobressai é o Triângulo seja formado com linhas ou com pontos. Segundo a Maçonaria Kabalística, é um emblema da Trindade infinita e eterna, da qual o homem é uma emanação finita e temporal. O que um ponto é para uma linha, já que esta é composta por um número infinito de pontos, são três pontos a um triângulo se estão dispostos de tal forma. Os três pontos representam uma forma limitada ou individual de Ser infinito, representado pelo triângulo linear.
          Os pontos que os acrescentam a seus nomes são uma profissão de fé: com eles expressam um dogma essencial – e diga-se já, totalmente errôneo – de sua Ordem; segundo a qual o homem é uma emanação individual da Divindade e, portanto, divino em si mesmo. Pelo que, implicitamente, a maçonaria é uma audaz deificação do homem. O famoso chapéu triangular dos revolucionários de 1789, adotados por Napoleão, não seria acaso um símbolo visível dessa doutrina? Hoje em dia ainda, como todos sabem, o chapéu é chamado “triângulo” no jargão maçônico.
          Tal atributo faz surgir a especulação sobre se o erro dos antigos pagãos, renovado na maçonaria, não representaria um conhecimento da verdadeira Trindade Divina, da qual seriam as contrafiguras as trindades pagãs e a kabalística.






          3 – Os livros sagrados dos judeus e seu conhecimento da Santíssima Trindade.


          O mais antigo de todos os livros, o Pentateuco de Moisés, já nos dá assombrosas indicações de que a trindade de pessoas em Deus é conhecida desde os primeiros tempos. Efetivamente, podemos ler no Gênesis que antes de criar o homem Deus disse: “Façamos o homem à nossa imagem e semelhança”, e que depois da queda de Adão e Eva Deus voltou a dizer: “Eis que Adão se tornou como um de nós”.
          Não é possível imaginar que ao falar assim Deus empregasse o plural na forma em que o fazem os príncipes, pois embora em certas ocasiões se nomeie a segunda e terceira Pessoas honorificamente no plural, em toda a Antigüidade não há um só exemplo de que uma pessoa, ao falar de si mesmo, faça uso do plural. Tampouco cabe supor que ao falar Deus no plural se dirigisse aos anjos, pois o homem não foi criado à imagem e semelhança destes. Não nos resta, portanto senão supor que Deus, ao falar assim, quis revelar a pluralidade de pessoas em sua Divindade.
          O décimo oitavo capítulo do Gênesis conta que “o Senhor apareceu um dia a Abraão no vale de Manbré. Abraão levantou os olhos e viu aparecerem três homens perto dele (...) Abraão se prosternou e disse: ‘Senhor, se encontrei graça diante de seus olhos, não abandones a casa de teu servo’”. Santo Agostinho, meditando sobre estas palavras exclama (1): “Vê três, e não lhe diz ‘Senhores’ mas ‘Senhor’, porque mesmo quando a Trindade está formada por três pessoas, não há senão um só Senhor, Deus”.


          (1) “Contra Maximum” – III, 26.


          Acrescentemos a este testemunho as belas palavras de Bossuet que destacam lucidamente a divindade da Sabedoria, tão elogiada por Salomão e do Espírito de Deus, mediante o qual falaram os profetas. No mistério evangélico que nos ensina que Deus é Uno e indivisível, e ao mesmo tempo Pai, Filho e Espírito Santo “nos são propostas as profundidades incompreensíveis do Ser divino, a grandeza inefável de sua unidade e as riquezas infinitas desta natureza, mais fecunda ainda no interior que no exterior, capazes de comunicar-se, sem divisão, a três pessoas iguais. Assim são-nos explicados os mistérios que estavam envoltos e como que selados nas Sagradas Escrituras. Assim entendemos o segredo destas palavras: ‘Façamos o homem à Nossa imagem’; e a Trindade, marcada na criação do homem, está expressamente declarada em sua regeneração (pelo batismo em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo). Aprendemos o que é esta ‘Sabedoria’ concebida segundo Salomão, ‘antes de todos os tempos’, ‘no seio do Senhor’ (1). Sabedoria que faz todas as suas delícias, e pela qual se regem todas as suas obras. Sabemos que ela é que David viu, engendrada antes da aurora” (2).
(1)  Prov. XIII, 22.
(2)  Salmos CIX, 3.


“E o Novo Testamento nos ensina que o Verbo (‘Memra’ em hebraico) é a palavra interior de Deus, seu pensamento eterno, que sempre está em seu seio, e mediante a qual se fizeram todas as coisas. Com isso respondemos à misteriosa pergunta que nos é proposta nos Provérbios, ‘Dizei-me o nome de Deus, e o nome de seu Filho, se o conheceis’ (3)”.


(3) Prov. XXX, 4.


“Pois sabemos que este nome de Deus, tão misterioso e escondido, é o nome do Pai, entendido neste sentido profundo, que lhe faz conceber na eternidade; Pai de um Filho igual a Ele, e que o nome deste Filho é o nome de Verbo, verbo que engendra eternamente, contemplando a si mesmo, que é a expressão perfeita da verdade, de sua imagem, seu Filho único, centelha de sua claridade e substância de sua substância” (4).


(4) Hebr. I, 3.


“Com o Pai e o Filho, conhecemos também o Espírito Santo, amor de um e de outro e seu coeterno. É este Espírito o que faz os profetas, e está neles para descobrir os conselhos de Deus e os segredos do porvir. Espírito do qual se escreveu: ‘O Senhor e seu Espírito me enviaram’ (5), que é diferente do senhor e o Senhor mesmo, pois que Ele envia os profetas e lhes descobre as coisas futuras”.


(5) Is. XLVIII, 16.


“Este Espírito que fala aos profetas e pelos profetas, está unido ao Pai e ao Filho, e com eles intervém na consagração do novo homem. Assim o Pai, o Filho e o Espírito Santo, um só Deus em três pessoas, mostrado mais obscuramente a nossos pais, está claramente revelado na Nova Aliança”.
“Instruídos em tão alto mistério, e assombrados por sua profundidade incompreensível, cobrimos nossos rostos diante de Deus, com os serafins vistos por Isaías, e adoramos com eles Àquele que é três vezes santo” (6).


(6) Bossuet – “Discurs sur l’Hist. Univ.”, vol. II, cap. XIX.


Os textos do Antigo Testamento, tão eloqüentemente explicados por Bossuet, da mesma forma que pela unanimidade dos teólogos, provam que o mistério da Santíssima Trindade era conhecido pelos israelitas, senão de forma clara e distinta, admitamo-lo, mas o bastante inteligível para os espíritos elevados.
Os versados nos livros antigos dos judeus sabem que se encontram muito freqüentemente neles a menção de três que se chamavam “Jahveh”, “Memra” ou “Schekinah” (verbo ou Habitação de Deus) e “Ruakh hakkadosch” ou “Esch” (Espírito Santo ou Fogo) (1).


(1) Deut. IV, 36.


São chamados os três membros, três graus, três substâncias, três rostos, três terminações, três pessoas; os escritores antigos diziam que Memra ou Schekinah emana de Jahveh e Ruakh hakkadosch, de Jahveh através de Memra.
Conhece-se, enfim, a frase dos kabalistas autênticos: “O Pai é Deus, o Filho é Deus, o Espírito Santo é Deus, três na unidade e um na Trindade” (2).


(2) Jos. Hooke – “Tractatus de vera Religione”; V. Migne – “Theol. Curs. Complet.” III, pág. 369.


4 – A tradição geral dos pagãos e o conhecimento primitivo da Santíssima Trindade.


Sem entrar em discussões estéreis sobre a antigüidade do Rig-Veda, dos Gathas do Zend-Avesta, das tábuas cuneiformes assírias, inscrições hieroglíficas etc, consideramos como historicamente indiscutível que as antigas nações que perpetuaram suas crenças religiosas não puderam receber suas idéias neste aspecto nem de Moisés nem de nenhum outro profeta judeu posterior. Tudo tende a demonstrar que tanto gentios como judeus, com exceção dos judeus ortodoxos, receberam suas doutrinas religiosas de uma mesma fonte, e estas doutrinas foram modificando-se gradualmente de acordo com o clima, costumes, história e características individuais dos países e seus habitantes, assim como – por que haveremos de o esquecer? – sob a influência dos demônios.
Tal fonte comum deve ser buscada na Arca de Noé, quando ainda o gênero humano não estava dividido pela diversidade de línguas, nem por sua dispersão sobre a face da terra. Esta é a única hipótese que pode explicar a identidade de certo número de verdades sobrenaturais que se acham em povos antigos com nomes radicalmente opostos.
A trindade na divindade é um dogma primitivo do gênero humano, como é demonstrado pelos seguintes exemplos:
Os indianos do período védico adoravam Varunna, Indra e Agni; os do período brahmânico a Brahma, Siva e Vischnuh.
Os persas adoravam Ahura (O que existe), Mazda (A Sabedoria) e Atars (o Fogo).
Os habitantes do Egito a Ptah (masculino), Rah (feminino) e Har, chamados mais tarde Ísis, Osíris e Hórus. Os egípcios tebanos, a Amom, Muth e Kohns.
Os assirobabilônios a Bin (o firmamento), Samas (o sol) e Sin (a lua), assim como a Assur, Bel e Hea (céu, terra e inferno).
Os chineses a Thien (o céu), Yang (princípio masculino) e Yin (feminino).
Os fenícios a Banth, Kholpia e Moth.
Os germanos a Alfadher, Wotah e Thor.
Os acádios a Ahnna, Hea e Mulga (céu, terra e inferno).
Os romanos a Júpiter, Neptuno e Plutão.
Os gregos clássicos a Zeus, Posseidon e Efaistos, etc, etc.
Naturalmente não garantimos a absoluta exatidão desta enumeração, pois ainda nos encontramos muito longe de compreender inteiramente as religiões antigas.
É preciso constar aqui que a filologia moderna, com seus grandes recursos, está quase que inteiramente em mãos de professores remunerados por governos maçons, imbuídos conseqüentemente, de preconceitos anticristãos, que lhes permitem considerar as figuras do Olimpo à luz da Revelação primitiva fornecida pelo Pentateuco. Mas não está distante o dia em que a fé na Revelação arrojará clara e abundante luz sobre o paganismo, e cada ídolo terá seu lugar bem determinado na galeria de contrafiguras da verdade. Vamos tentar de qualquer maneira oferecer agora um exemplo, falando em particular da religião de Zarathustra, que tem para nós o mérito de ter conservado a tradição original com maior pureza que as outras religiões. Precisamente, foi ao contato com esta religião que nasceu a Kabala judaica em Babilônia (1).


(1) Rangon – “Cours philosophique des initiations”, pág. 24. Franck – “La Kabbale”.


5 – Os livros sagrados dos antigos persas e o conhecimento da Santíssima Trindade.


Nomeamos como Trindade persa Ahura, Mazda e Athars. Ordinariamente, se cita Ormuzd e Ahriman como aos deuses respectivamente bom e mau dos persas da antigüidade. Este é um erro maniqueu. Os persas reconheciam e adoravam Ormuzd como único Deus, enquanto que hoje em dia entre os persas modernos que ainda subsistem em Bombaim, Ahrinam é temido e detestado como Satanás.
O nome antigo de Ormuzd é Ahura Mazda. O primeiro desses termos corresponde ao sânscrito “Assura” e segundo sua raiz, “as” (ser) significa o Ser, por excelência, “O que existe”. Mazda significa “A grande sabedoria”.
Estes nomes podem ser encontrados nos “Gathas” (hinos) mais antigos, quase sempre separados um do outro, invocados separadamente. Algumas vezes está Ahura antes de Mazda e outras atrás, e o que é mais curioso, em certas ocasiões são nomeados em forma dual, em lugar de singular ou plural (1). “Vão” é o dual do pronome da segunda pessoa, no caso oblíquo. Portanto, é evidente que Ahura e Mazda eram considerados na antigüidade como duas pessoas distintas.


(1) Haug – “Essays”, Gatha, XXVIII, 3: “Jé vao Mazda Ahura pairigaçai vohu managha” (Eu me aproximo de vós dois, Mazda Ahura, com bom espírito). Ver também Yaçna XLIX, 4.


Ahura corresponde ao Assura dos indianos, o Pai do Céu; e Mazda, à Sabedoria, considerada em todos os tempos como emanação essencial de Deus. Salomão fala dela em tal sentido, como vimos anteriormente. E Minerva, a deusa da Sabedoria, teria saído segundo a fábula, do cérebro de seu pai Júpiter.
Se acusa os persas de serem adoradores do fogo; do que eles se defendem, justamente se pelo fogo deveremos entender o que arde no lar, mas não se nos referimos ao fogo divino, “Fogo, filho de Ahura-Mazda”. O Zend-Avesta distingue cinco fogos diferentes: o fogo ordinário, o qual é alimentado com madeira de sândalo e arde continuamente nos templos; o que arde no primeiro e mais célebre templo persa; o que arde nas regiões dos espíritos e finalmente, o “atars-berezi-cavo” que se acha em presença de Ahura-Mazda, que é chamado sempre “Filho de Ahura-Mazda”, emanado deles e ao qual se oferecem loas e sacrifícios para se obter a inteligência, a santidade, a eloqüência, a coragem, a instrução e a energia (1). Este fogo corresponde ao Agni dos indianos, ao Deus Fogo nascido das entranhas de Assura (2).


(1)  Yaçna, LXI.
(2)  Haug – op. cit., pág. 269.


Estas três pessoas divinas, Ahura (o Ser), Mazda (a Sabedoria) e Athars (o Fogo divino) representam Jahveh, a Sabedoria e o Fogo (Esh) do Antigo Testamento, e se encontram na Santíssima Trindade que o Cristianismo adora. Esta verdade revelada tinha que ser conhecida pelos filhos de Noé, que a transmitiram à posteridade. Só esta explicação, que parece bem fundamentada, nos torna possível entender este versículo do livro sagrado dos persas, totalmente inexplicável de qualquer outro modo: “Louvor a Ti, Ahura Mazda, TRIPLO, antes que todas as criaturas!” (3).


(3)  Khordad-Avesta – VII, Qatset Nyayis; V, 1.


Encontramo-nos na pista do “triângulo” da maçonaria, que tantas vezes se encontram nos emblemas das lojas.


6 – A substância infinita, olvidada pelos antigos persas.


Ao tratar do repúdio e ódio dos antigos persas por Ahrinam, teríamos podido acrescentar duas observações importantes. A primeira é que os indianos, parentes próximos dos persas, permitiram no transcurso dos tempos que se identificasse Satanás com o Deus Fogo.
A filosofia dos Brahmanes ensinava que do seio da essência eterna, chama Brahma, com gênero neutro, emanou uma trindade de pessoas, atribuindo a Brahma, a criação; a Vischnuh, a conservação e a Siva, a transformação de todas as coisas do Universo. A adoração a Siva, o regenerador, se trocou prontamente no culto do “phallus” que, com a doutrina hindu-persa-kabalística, voltaremos a encontrar na maçonaria e, sobretudo em suas lojas de adoção.
Eis o ensinamento que se dá ao que recebe o grau trinta e três: “As religiões primitivas consideravam a primeira causa sob o triplo aspecto da criação, a conservação e a destruição (...) O catolicismo inventou um Deus Pai que pensou na criação do Universo, e um Deus Filho que pensa em sua conservação, mas esqueceu de dar um Presidente à destruição, em sua dissecção da causa primeira; o Presidente da Destruição foi por ele tornado Príncipe das Trevas, o Demônio...” (1).


(1) P. Rosen, in “Satan”, pág. 287.
O Catolicismo se esqueceu de incluir Satanás na Santíssima Trindade! Eis uma audaz blasfêmia!
A outra observação, é que há uma lacuna muito importante na teologia dos persas antigos, pois se esqueceu, quase totalmente, da substância infinita e eterna que a razão humana põe com justa lógica, à cabeça de tudo o que existe, inclusive antes da trindade das pessoas.
Embora encontremos em Ormuzd o demiurgo das outras religiões antigas, não vemos ainda em nenhuma das figuras do Olimpo persa a que corresponde ao próprio “Ensoph” da Kabala, ao “factum, bythos, koilon ou coelum” de outras nações, à essência que forma o fundo inextinguível e infinito de tudo o que existe no céu e na terra.
Existe uma hipótese não desprovida de fundamento, que dá ao Ensoph persa o nome de “Ahu” baseando-se na antiga oração “Honovar” que os persas modernos repetem, sem a compreender, centenas de vezes por dia.
Inclusive os sábios europeus não estão de acordo sobre o significado desta oração. Está composta no mais antigo estilo bactriano e contêm, em três frases, vinte e uma palavras. Dos quatro termos que na dita oração se acha; dois Ahura e Mazda são de sobejos conhecidos; o terceiro “Rathu” significa segundo o Profº Spiegel (“Vispered”, I, vers. 1) chefe, mestre, senhor, mas não Senhor Deus; o quarto, “Ahu”, que parece ser uma forma vetusta de Ahura, é traduzido ordinariamente como “o Senhor”. Mas, como não é provável que um mesmo Senhor se encontre designado numa oração tão curta por dois nomes distintos, Ahu e Ahura, e como o primeiro destes nomes se encontra oposto ao de Rathus, e os Rathus são em número de trinta e três, parecia opinião aceitável a de que Rathu fosse, em relação a Ahura, o que o Brahme (neutro) é em relação a Brahma (masculino), sendo portanto Ahu, como Brahme, essência infinita e não desenvolvida (avyakt). Ahu e Ahura corresponderiam assim respectivamente, ao Ensoph e à Coroa da Kabala.
Esta hipótese, tanto mais justa na medida em que está fundada em razões convincentes, explicaria a oração Honovar, situaria a religião persa em plena harmonia com a dos povos vizinhos, fazendo-nos compreender a transmissão das idéias panteístas dos persas e outros povos pagãos àqueles judeus que, depois do grande cativeiro, não quiseram deixar Babilônia, terra de seu exílio.
Naturalmente é certo que o Thalmud foi composto em Babilônia por esta época, o que confirmaria a opinião, quase geral, de que é aqui que se deve procurar a origem da Kabala.
A doutrina kabalística não é no fundo, mais que o paganismo travestido rabinicamente, e a doutrina maçônica, essencialmente kabalística, não é outra coisa que o antigo paganismo reavivado, oculto sob uma camada rabínica e posta a serviço das ambições da judiaria.




7 – O Ser infinito nos povos antigos.


A idéia do Ser infinito, fonte de tudo quanto existe, se desenvolveu entre os povos da antigüidade quase ao mesmo tempo. A prova é que, no fundo, seja quase idêntica em seu erro essencial em todos os lugares. Não existe a trindade de pessoas em unidade de substância, mas o Infinito, o Absoluto, a Eternidade, a Imensidão incompreensível, vazia e sem forma alguma, da qual são simples emanações temporais as três pessoas, em vez de ser como a revelação e a razão requerem subsistência, sujeitos e possessores coeternos de tal substância comum.
Segundo o paganismo o ser primordial, que é ao mesmo tempo o não ser diferencia e revela “depois de certo tempo”, emanado de seu vazio interior as três divindades que os pagãos adoram.
Em todas as partes se dá no paganismo certa separação das pessoas e substâncias divinas. Em todas as partes há um Khronos (o Tempo) que mutila seu pai Uranos (o Céu eterno).
O Presidente do Conselho Supremo do grau trinta e três nos permitirá ampliar, já que ele se recusou ao fazer, seu ensinamento sobre a causa primeira com a citação do “Rig-Veda” dos indianos.
O presidente disse: “Existe uma causa primeira, da qual o homem e a criação são efeitos. Toda vez que nós cingimos e limitamos nossas esperanças a este mundo, não vamos mais longe no estudo dessa causa primeira. A religião dos maçons, o Credo religioso maçônico é a afirmação positiva de que existe uma causa primeira, da qual são efeito o homem e o universo, e da qual a alma humana é uma faísca, como ela, imortal” (1).


(1) P. Rosen – “Satan”, pág. 287.


Vejamos agora a ampliação da doutrina indiana: O capítulo XI (Anuvaca) do livro X (Mandala) do Rig-Veda começa com dois hinos que narram a origem do universo, saída do seio de Brahme que é a causa primeira, da Kabala e da maçonaria. Nele lemos:
“Então não havia ser nem não ser, nem mundo, nem céu, nem nada acima do que seja, nem água profunda e perigosa; nem havia morte, nem imortalidade, nem distinção entre o dia e a noite. Mas ‘Tal’ (Isso, o Ser supremo eterno) respirava sem aspiração, só com Swadha (ou Maya – Amor, Desejo) o que subsiste nele, não existia nada do que foi criado depois”.
“As trevas estavam lá, pois elas envolviam este universo que em si era uma massa de água sem forma; mas esta massa, coberta com seu envolvente tenebroso, foi enfim determinada pela força da contemplação”.
“Em princípio formou-se num espírito o desejo, que se converteu na ‘semente produtiva primitiva’ que o Sábio, ao reconhecê-la na inteligência de seu coração, distingue no Não Ser como o limite do Ser”.
“Este raio luminoso dos atos criadores, se instalou no meio? Instalou-se no alto? Em baixo?”.
“Esta semente produtiva se converteu em seguida em inteligência e matéria. Quem sabe exatamente, e quem declararia neste mundo, onde e por que teve lugar esta criação?”.
“Os deuses são posteriores à produção deste mundo. Quem pode então saber de onde saiu, onde tomou sua origem este mundo variado, e se existisse ou não em si mesmo?”.
“Que é a alma? É acaso aquilo que pelo que o homem vê, entende, etc? É o coração, o espírito, a percepção, a memória? Todas estas coisas não são mais que nomes distintos para a concepção. Mas esta alma que consiste na faculdade de compreender, é Brahma, é Indra, é Prajapati, o Senhor das criaturas, os deuses. Igualmente os cinco elementos primários, terra, ar, éter, água e luz e seus compostos (cavalos, bois, homens, elefantes), tudo o que vive, anda ou voa, e tudo que é imutável (plantas, árvores), tudo é o olho da inteligência e a inteligência é seu fundamento. A inteligência é Brahma, o Grande”.
Talvez os maçons compreendam já o que significa a insígnia de seu grau vinte e oito: um cordão de cor branca “moirè” em aspa, com um olho na ponta, bordado. A jóia suspensa do cordão é um triângulo de ouro, em cujo centro há um “olho”.
Também encontraremos a mesma “inteligência” nos três Sephiroth superiores da Kabala judaica.
O Rig-Veda, os Upanischad, Bhagavad-Gita e enfim, todas as fontes dogmáticas reconhecidas como tais pelos brahmanes, ensinam a mesma doutrina. Não há, portanto, nessecidade de multiplicar as provas.
A passagem do Infinito ao finito, é a pedra de toque de todas as religiões pagãs, mas o que chama antes de tudo nossa atenção é esta prodigiosa harmonia entre todas as religiões, entre as diversas mitologias, quando se trata de determinar a causa primeira de todo o universo e a passagem do Infinito ao mundo finito. Mr. George Smith publicou um volume (1) que contém uma nova e importante página do Gênesis caldeu, confirmando o que acabamos de expor. Uma das doze tabuletas recuperadas descreve a origem de tudo o que existe. Veja-se em seguida as quinze linhas que restaram da mesma.


(1) “The Chaldean account of Gênesis”.


1.     “Quando o céu das alturas ainda não tinha nome;
2.     Quando a terra de baixo ainda não tinha nome;
3.     E o abismo não havia aberto ainda seus braços;
4.     O caos das águas deu nascimento a cada um deles.
5.     E as águas se reuniram em um só lugar. Então
6.     Não havia brotado nenhuma árvore, nenhuma flor se havia aberto ainda,
7.     Não havia nascido nenhum dos deuses
8.     Nenhum deles era chamado por seu nome, nem entre eles havia ordem alguma
9.     Então foram feitos os grandes deuses,
10. Então nasceram ‘Lakmu’ e ‘Lakamu’
11. E cresceram...
12. Os deuses Assur e Kissur nasceram em seguida...
13. Transcorreu grande número de dias.
14. O deus Anuh...
15. Os deuses Assur e...”. O resto se perdeu (2).


(2) “Revue des Questions Historiques” – 1º de abril de 1876, pág. 557.


A mesma doutrina pode ser encontrada na mitologia egípcia. Ammoun é o Pai desconhecido de todos os seres. Imediatamente por baixo dele, há dois príncipes de natureza oposta, que nenhum ser finito saberia compreender: “Kneph”, que representa a inteligência ou espírito, e “Athor” que representa a matéria, as trevas não reveladas. Da boca do primeiro sai o mundo, e entre ele e o mundo se situa a alma do mundo, o gênio do Fogo, “Ptah”, que tem como símbolo pagão e agente imediato o sol. Esta é a trindade primordial.
Que significam o mito de Urano e Khronos e outras fábulas idênticas de antigas religiões pagãs? Segundo elas o Pai representa a eternidade incompreensível, infinita e imutável que teve de ser mutilada por seu filho, o Tempo, compreensível, finito e progressivo a fim de que o espírito humano, desorientado por uma imaginação estranha, emocional, permita ao Mestre que a Divindade franqueie, fraudulentamente, o abismo infranqueável que existe entre a eternidade infinita e o tempo finito, assim como baixar o Deus ao nível das criaturas, ou elevar estas ao patamar da Divindade. Uma vez levado a cabo este salto irracional e transferido o espírito humano da idéia do infinito a um terreno finito, sem demasiada violência à razão e à lógica, fica estabelecida a mentira panteísta.







8 – O Ensoph da Kabala judaica; a essência infinita e a Causa Primeira da Maçonaria.


A Kabala judaica diz acerca da Causa Primeira, sobre a qual recusa explicar-se o presidente do Conselho Supremo do grau trinta e três, o que se segue.
Antes de ter produzido o Universo, ou como queiramos chamar o que há fora dele mesmo, antes de ter revestido de qualquer forma, nem de ter dado nenhuma medida a sua infinitude, o Ensoph (1) estava absolutamente ignorante e ignorado de si mesmo, e muito mais de quaisquer outros seres que ainda não existiam. Não tinham nem sabedoria, nem potência, nem bondade, nem nenhum outro atributo, pois um atributo supõe uma distinção e, por conseqüência, um limite.


(1) O Infinito – “en” = sem, “soph” = limite.


É preciso concebê-lo – prossegue o texto – por cima de todas as criaturas e de todos os atributos... Pois bem; uma vez que se tiraram todas estas coisas, o que resta é como o mar porque as águas do mar, não tem por si mesmas, nem limite nem forma. Mas ao se repartir pela terra, produzem uma imagem (em hebraico “dimion”) e nos permitem fazer esse cálculo. A “fonte” dessas águas, e o jorro em que projetam para repartir-se pelo solo, fazem “dois”. Em seguida se forma um “vale” imenso, como quando se cava uma grande profundidade, e esse vale se enche com as águas saídas da fonte; assim surge o “mar”, que deve ser contato como terceiro.
Depois esta vasta profundidade se divide em sete canais, como sete longas veias pelas quais escapa a água do mar. A fonte, a corrente, o mar e os sete canais, foram juntos, o número dez. É assim como a “causa das coisas” (o Ensoph) produziu os dez Sephiroth (números). A Coroa (sobre o triplo triângulo dos membros da Grande Loja Central) é a fonte de onde mana essa luz sem fim, e daí vem o nome “Infinito”, En-Soph, para designar a causa primeira, pois neste estado não tem forma nem figura, nem existe modo de compreendê-la, nem maneira alguma de conhecê-la. E é neste sentido que foi dito: “Não penses numa coisa que está muito acima de ti” (1).


(1) Ecclec. III, 2.


Depois se forma um vaso tão cerrado como um ponto, como a letra (Yod), mas onde, sem embargo, penetra a luz divina; é a fonte da Sabedoria, a própria Sabedoria, em virtude da qual a causa suprema se faz chamar o Deus Sábio (2).

(2) A. Franck  - “La Kabbale”, pág. 129.


Vejam-se agora algumas perguntas que são feitas no grau trinta e três, pelo presidente ao Capitão de guardas: “Que viste ao entrar pela primeira vez no Conselho Supremo?”.
Resposta: “A palavra simbólica da Causa Primeira, emitindo raios através de três triângulos entrelaçados, cujas pontas traziam as letras da palavra ‘Sapientia’”.
Pergunta: “Que significa este emblema?”.
Resposta: “Que a Sabedoria suprema preside os trabalhos do Conselho Supremo e o ilumina com seus raios”.
Na recepção de um aprendiz (grau 1), o recipiendário, com os olhos vendados, está de pé diante do Venerável, que arremedando o Batismo cristão, pergunta ao “padrinho”, o “Irmão Primeiro Supervisor”: “Que pedes para ele?”.
Resposta: “A luz”.
E o Venerável: “Que a luz se faça!”.
Depois dá três golpes. A terceiro o mestre de cerimônias arranca a venda dos olhos do iniciante e no mesmo instante o Irmão que tem a lâmpada de magnésio a dispara e se produz uma viva claridade (*).


(*) N. do Trad. Bras.: Nos primeiros tempos da fotografia como se sabe, o magnésio era usado em forma de pó que deveria ser aceso por um fósforo.


A resposta do Capitão de guardas que acabamos de ver é o magnésio do grau trinta e três.
Os judeus fornecem, inclusive aos adeptos do grau trinta e três, repostas destinadas a confundi-los, explicações inventadas para os desviar de uma eventual curiosidade que os aproximasse da verdade.
A verdadeira explicação kabalística do emblema em questão, os três triângulos entrelaçados trazendo as nove letras da palavra “Sapientia” é que a luz divina que emana do Ensoph pela “Coroa” que está aqui escondida, passa sobre a Sabedoria, para brilhar tanto nela como para ela nos outros oito Sephiroth.


9 – Transição fraudulenta do Ensoph para a Coroa Kabalística.


Consideramos agora a passagem do Infinito ao finito, segundo o texto da Kabala antes exposto. Se a Coroa, a Sabedoria e a Inteligência são a fonte, a corrente e o mar, temos de nos perguntar: de onde vem a “fonte”, já que no Infinito não tem forma alguma? A fonte é uma forma, e a Kabala nos ensina que a “Coroa” não é o “Ensoph”. Procuremos, portanto o desenvolvimento do Ensoph até que se nos revele na Coroa, que é a “Fonte”.
O texto citado não diz nada a respeito, mas oferece aos olhares do homem deslumbrado o “jorro” e o “mar” saindo de uma “fonte” formada pelo Infinito, do mesmo modo como a maçonaria ofusca seus adeptos com o magnésio. O homem deve estar absolutamente fascinado por uma ficção satisfatória, a fim de que “não vá mais longe no estudo da “Causa Primeira” como diz o presidente ao candidato ao grau trinta e três.
Como pode o Ensoph revelar-se na Coroa? Pedimos uma explicação filosófica, racional, sem fábulas nem figurações.
O citado texto diz: “Depois se forma um vaso tão cerrado como um ponto, como a letra ‘yod’ mas onde penetra, sem embargo, a luz divina”.
Outro texto diz: “Antes que Deus se houvesse manifestado, quando todas as coisas estavam ocultas nele, era ao menos conhecido entre todos os desconhecidos. Nesse estado não tinha outro nome que o que é expresso por uma interrogação”.
“Começou por formar um ponto imperceptível: este foi seu próprio pensamento; depois se pôs a construir com seu próprio pensamento uma forma misteriosa e santa; depois a cobriu com uma veste rica e deslumbrante; queremos dizer o Universo, cujo nome deve entrar necessariamente no nome de Deus” (1).


(1) A. Franck – “La Kabbale”, pág. 131.


Todo filósofo sério se perguntará: Que quer dizer esse vaso tão reduzido como um ponto? Que quer dizer o “começou por formar um ponto imperceptível, que foi seu próprio pensamento?” Que quer dizer “formou uma fonte”? Não podia ser nem um vaso material, nem um ponto matemático, nem uma fonte de água. Era seu pensamento! O Ensoph começa, portanto, a pensar. Se durante toda a eternidade não havia pensado, como pôde “começar” a pensar, uma vez que na eternidade não há sucessão, nem princípio, portanto, nem passado nem futuro?
Refleti, irmãos maçons de olhos vendados! Pode a filosofia judaica satisfazer vossa inteligência?
Em “Brahme” se forma primeiro o “desejo”; no Ensoph, o “pensamento”.
A razão pergunta: Como pôde o Infinito pensar sem inteligência, já que a inteligência é o terceiro dos três Sephiroth superiores? Como pôde desejar sem vontade? A inteligência não emana do pensamento, mas o pensamento da inteligência, nem à vontade do desejo, mas o desejo da vontade. Talvez o paganismo faça sua entrada na filosofia com esta reversão da ordem psicológica? Que audácia a dos judeus ao apresentar uma doutrina tão antirracional aos homens que sabem pensar! E que cegos esses homens “sérios” que se deixam vendar os olhos, para que se deslumbre melhor sua visão intelectual diante do magnésio kabalístico!


10 – Erro fundamental de todo panteísmo.


A par desta falta grosseira contra a lógica e a psicologia, existe o pecado original de todo panteísmo, que os maçons devem aceitar cega e implicitamente se quiserem merecer o nome de tais. Em todos esses sistemas, a passagem do Infinito ao finito apresenta o aspecto de uma manobra fraudulenta. Salomão – grande autoridade invocada pelos maçons – disse ao Senhor: “Vós regulais todas as coisas com número, medida e peso” (1).


(1) Sap. XI, 21.


E é o número, no peso e na medida que é necessário buscar a diferença entre o finito e o Infinito, pois em Deus não existe nenhuma de tais coisas. No Infinito tais categorias se elevam por cima de si mesmas e se perdem numa unidade superior.
Expliquemos esta verdade fundamental. Pois como disse o Papa Inocêncio III num sermão contra os albigenses, “deve ser destruída por uma instrução fiel, pois o Senhor não quer a morte do pecador, mas que se converta e viva”.
Não existe número realmente “infinito”; o que nós consideramos infinito é a magnitude “indefinida”, ou a série interminável dos números. Todo número, por grande ou pequeno que seja, pode aumentar-se ou multiplicar-se, diminuir-se e dividir-se, mas nenhuma divisão da unidade poderia reduzi-lo a zero, nem nenhum multiplicador elevá-lo ao infinito real. Entre todo número real, e o número infinitamente grande, da mesma forma que entre o número um e sua fração infinitamente pequena, há uma distância absolutamente infinita e infranqueável.
Para franquear este abismo entre um número atual e o “número infinitamente grande” é preciso recorrer a um número de uma natureza superior que contém em si mesmo todos os números possíveis. É o número divino, o Uno infinito, a unidade de Deus.
Da mesma forma, para salvar a distância infinita entre o número atual e o número infinitamente pequeno, é forçoso recorrer à desintegração de todos os números, ao zero, ao nada.
Demonstramos estas verdades, e obriguemos o presidente do Conselho Supremo do grau trinta e três, a “ir mais longe no estudo da Causa Primeira”. Um pouco de “luz” lhe fará bem, indubitavelmente.
Um ponto matemático não tem extensão, e não pode dividir-se nem aumentar-se. É, portanto impossível, se temos dois pontos situados a uma distância qualquer, colocar entre eles um número suficiente de pontos para formar com eles uma linha. O número “possível” de pontos entre outros dois, é infinito, e é impossível contar o infinito mediante números sucessivos. Se quisermos compreender o número “realmente” infinito desses pontos, temos de recorrer a uma unidade de espécie superior, à linha. A linha recolhe de uma só vez, o número infinito de todos os pontos possíveis entre seus dois limites.
Evidentemente o número “realmente” infinito, a que se pudesse chegar por adição ou multiplicação, é uma impossibilidade. Afirmar sua existência seria tão pouco razoável como fazer um ponto matemático de certa longitude, uma linha matemática de certa largura, ou uma superfície matemática de certa espessura.
Isto é tão claro e evidente que vemos imediatamente a falsidade da seguinte afirmação: O número de grãos de areia, das estrelas ou dos átomos, é realmente infinito; infinito o número de horas, minutos, anos, ou períodos ou evoluções, que o mundo deve ter executado ou sofrido, supondo-se é claro, que tenha existido em toda eternidade.
A conseqüência de tal raciocínio, tão lúcido e simples, é esta: é completamente falso ilógico e irrazoável afirmar que as evoluções passadas do universo são em número infinito, que a matéria, sujeita às sucessões do tempo, existe em toda a eternidade e que enfim, tudo o que pode ser contado, medido ou pesado é “eterno”, no sentido estrito da palavra.
Se não queremos nos desviar, ou nos deixar deslumbrar por um magnésio sofístico qualquer, temos de declarar firmemente que a eternidade anterior do universo é pura fábula absurda; a doutrina kabalística que concerne ao Ensoph, que “começou” a pensar, ou a dos Vedas referente a Brahme que “começou” a desejar, rompem a eternidade, ao dar-lhe um passado e um futuro, e são conseqüentemente, invenções irracionais, enganações cujo fim é visível: basta examinar e considerar as conseqüências do mesmo.


11 – Meta do panteísmo.


A separação que se pretende estabelecer entre a substância e a trindade divina, tem por fim introduzir, com a emanação da trindade divina, a de todo universo. Isto constitui em princípio, a negação da Eternidade da Trindade divina, e depois a negação da criação “ex nihilo”, única solução razoável para a grande pergunta sobre a origem de um mundo governado com número, peso e medida; é a negação da diferença essencial entre Deus e o Universo; é a descida do Criador ao nível de sua criatura, ou a deificação da criatura, do homem em particular; é enfim, uma manobra diabólica, que almeja separar os homens de Deus, dizendo-lhes com enganosa segurança: “Sereis como deuses” (1). A fim de perder suas almas por toda a eternidade; numa palavra, é uma maquinação satânica.


(1) Gên. III, 5.


12 – Verdadeira idéia do Infinito.


Se, queremos compreender a eternidade passada, não devemos tentar contar períodos sucessivos e reais de um número infinito, empresa impossível, mas reunir, em espírito, todos os períodos “possíveis”, tanto passados como futuros, num só momento, como se quiséssemos fazer retrair uma linha a um ponto que contivesse em si toda linha. Teremos então um instante de uma ordem superior, chamado “eternidade”; instante imutável, em que o passado, o presente e o futuro se reúnem e existem juntos.
O tempo é uma sucessão de momentos transitórios; a eternidade é uma permanência simultânea de todos os momentos possíveis.
O tempo é uma série de momentos em sucessão contínua; a eternidade é um simples instante em eterna permanência.
O tempo é um momento em movimento; a eternidade é um instante em repouso.
“O tempo – disse Boecio – é um agora fluído; a eternidade um agora estável”.
O tempo é o passado, o presente e o futuro do universo, criado com o universo; a eternidade é a esperança permanente de Deus.
O tempo é o nascimento, a vida e a morte; a eternidade é a vida permanente, sem nascimento nem morte.
O tempo é uma certa imitação ou participação criada, parcial, sucessiva e transitória da vida; a eternidade (segundo Boecio) é a possessão inteira, simultânea e perfeita da vida interminável.
O tempo pertence ao universo criado; a eternidade, só a Deus.
O tempo é criado; a Eternidade é “incriada”; é o próprio Deus.
O mesmo raciocínio se aplica ao espaço, e disso se tem de chegar à seguinte conclusão: o Espaço é criado; a Imensidão é incriada; é o próprio Deus!


13 – Emanação da Coroa Kabalística.


O Ensoph, para revelar-se, começa por formar um ponto imperceptível, como a “yod” hebraica. Esta é a primeira Sephirah, a “Coroa” (1).


(1) Franck – “La Kabbale”, pág. 130.


Aqui, temos a mentira primordial da Kabala judaica e da maçonaria, o erro que é pai de todo o seu sistema.
O Ensoph não é o Ser eterno, não é Deus. Aquele que quiser fazer-se maçom tem de renunciar a sua razão e ao Deus verdadeiro. A “yod” hebraica representa na Kabala o pensamento criador ou, melhor dizendo formador do Ensoph, produzido após certo período e, por conseguinte, depois de um período limitado, temporal: finito.
Ao grau doze do rito escocês, grau de Grão Mestre Arquiteto, corresponde uma jóia consistente em “um quadrado de ouro em forma de medalha (figura do mundo); sobre uma das faces há gravados quatro semicírculos (o equador e um meridiano entrecortando-se) diante de sete estrelas (os sete Sephiroth inferiores) com um triângulo no centro (os três Sephiroth superiores) que contém a letra “A” (2).

(2) L. Taxil – op. cit., II, 340.


Esta letra significa como a “yod” hebraica, “Arquiteto do Universo”, Jahveh, ou seja, o Demiurgo, o Formador do mundo.
Os Grandes Mestres Arquitetos ignoram muito provavelmente que ao usar esta medalha renegam implicitamente a Deus, Criador do Céu e da Terra.
Este trabalho não é um tratado filosófico; de modo distinto, entraríamos aqui numa série de considerações acerca das fábulas pagãs sobre a passagem do Infinito ao finito, todas elas tão antirracionais como as da Kabala judaicomaçônica.


14 – A doutrina da Criação “ex-nihilo”, a única razoável e verdadeira.


Se se pretende que a dificuldade já assinalada, da passagem do Infinito ao finito se encontra também na doutrina da criação “ex-nihilo” se labora em erro, pois, segundo esta doutrina não é a essência divina que passa do Infinito ao finito, da eternidade ao tempo. O mundo não saiu da substância divina por emanação desta, sendo de tal modo igual a Deus, mas Ele o criou do nada, sendo, portanto, de essência inteiramente diferente.
Para formar o mundo de uma matéria preexistente, bastava agir com uma potência finita. Para “criar” o mundo a partir do nada, se requer uma potência infinita. Quanto maior for a potência, de menos matéria necessita para formar alguma coisa. A potência do Eterno é infinitamente grande, e conseqüentemente, para criar este mundo, não necessitaria de mais que uma matéria infinitamente pequena, ou seja, de “nada”. Formar qualquer coisa do nada é que se chama “criar”.
É certo que “ex nihilo fit”. Mas também é verdade que na Criação não existe somente o “nihilum”, o nada, mas há ainda o Todo Poderoso. E é falso afirmar que com o Todo Poderoso e o nada, nada se pode fazer; é errôneo dizer: “Ex nihilo fit a Deo”.
Assim o nada não é a matéria que o Todo Poderoso empregaria para criar o universo, mas unicamente o ponto de partida criado pela potência divina. Só Deus pode criar. A criação requer uma potência infinita.
E se perguntais: Por que Deus não criou mais prontamente o universo? Responderei-vos que efetivamente o criou mais prontamente, e ao mesmo tempo, mais tarde, porque o mais cedo e o mais tarde, são senão um mesmo momento na eternidade. O tempo começou com o mundo.
E o que Deus fazia antes de criar o mundo?
A resposta é: não existia “antes”; este antes coincide na eternidade com o “depois”. O mundo foi criado no começo.
Mas então antes da criação do mundo, não haveria um tempo infinito?
Não, não havia tempo algum. Um tempo infinito, é uma noção absurda, e esse tempo “indefinido”, que imaginamos com a criação é simplesmente uma ficção.
Mas, onde está então a passagem do Infinito ao finito, da eternidade ao tempo; da imensidade, ao espaço; da divindade à criatura?
Não existe nenhuma mudança em Deus, “nele mesmo”; não se produz uma diminuição, uma emanação, um desenvolvimento, uma evolução do interior de Deus, mas um começo do que antes não existia. Esta transição, este salto, esta passagem do infinitamente pequeno para o mundo da extensão, quer dizer aqui: não houve mudança mais que na criatura, saída do nada e da pura possibilidade de existir para começar a existir na realidade. A eternidade, a imensidade, o infinito, a onipotência, permaneceram imutáveis como sempre.
No dogma da criação não existe nenhuma contradição, nenhum contra-senso, como existem em todas as doutrinas pagãs sem exceção; não há nenhuma derrogação da majestade divina, como na Kabala judaica, nem nenhuma superstição, como na adoração idólatra do “Arquiteto do Universo” de que os maçons são culpados; esperamos que sem o querer.


15 – O erro kabalístico reavivado no panteísmo moderno.


O erro panteísta, sugerido pelo Anjo Caído a alguns dos povos antigos e a certo número de filhos da raça escolhida de Abraham, nunca cessou de estender-se pelo mundo, quase sempre sob a forma de um mistério inviolável. Deixemos passar em silêncio as doutrinas das diversas religiões pagãs da antigüidade, fazendo alusão somente à discussão entre os fariseus e Nosso Senhor Jesus Cristo onde Ele, o Verbo de Deus, pelo qual tudo foi criado se chama, em oposição às idéias kabalísticas dos fariseus, “O PRINCÍPIO”: “Principium qui et loquor vobis” (1).


(1) São João - VIII, 25.


Somente achamos por bem lembrar o princípio do Evangelho de São João que foi evidentemente escrito contra a falsa doutrina filosófica judaica, que havia começado já a corromper as idéias de alguns cristãos e a semear os germes da formidável heresia dos gnósticos, precursores distantes dos iluminados.
São João opõe ao sistema kabalístico de emanação a simples verdade, dizendo: “No princípio (e não: “Depois de certo tempo emanou do Ensoph”) era o Verbo, e o Verbo ‘estava’ em Deus e o Verbo ‘era’ Deus (e não uma diminuição qualquer da luz e do esplendor infinitos de Deus). Estava no começo (quer dizer, durante toda a eternidade) em Deus”.
Deixemos a outras penas a narração da história da Kabala judaica, de origem em Babilônia, de sua influência sobre a filosofia hermética, sobre as seitas gnósticas, sobre a Ordem dos Templários em sua estadia na Palestina e sobre as tão diversas seitas da Idade Média, conformando-nos com chamar a atenção para o fato de que Spinoza, filho de judeus portugueses, depois de ter estudado o Thalmud e a Kabala, e depois de ter sido excomungado em 1655 pela sinagoga ortodoxa de Amsterdam, lançou os fundamentos do panteísmo moderno, que hoje é ensinado por quase todos os professores destinados às Universidades pelos governos maçônicos.
Segundo Spinoza não há mais que uma só substância, que se desenvolve no Universo. Spinoza é o pai indiscutido do panteísmo moderno.
Em 1730 apareceu em Cosmopol (Londres) um livro em latim: “Panteisticon”, escrito por Jean Toland em edição de poucos exemplares que não foram postos à venda. Este livro demonstra que a maçonaria desde sua reforma, em 1717, ensinou na intimidade o panteísmo.
O autor reduz toda maçonaria ao panteísmo de Spinoza. Na página 42 diz: “Os irmãos sustentam, num sentido absoluto, não somente a liberdade de pensamento mas a de ação, repudiando sem embargo, toda licenciosidade. São os inimigos mais encarniçados de todos os tiranos. O maior número reside em Paris, Veneza, Holanda, inclusive alguns vivem na própria cidade de Roma, mas abundam principalmente, e mais que em qualquer outro lugar, em Londres; lá constituíram, por assim dizer, a sede de sua seita... É claro que não faço alusão à Real Sociedade Inglesa, nem à Academia Francesa, nem a nenhuma outra ‘sociedade pública’. (...) Depois de seus banquetes despedem aos servidores, pois estes são gente profana e ignorante, fecham as portas ao uso dos antigos, e conversam sobre os mais diversos temas”.
Página 78: “Talvez os Panteístas devam acusar-se de ter uma dupla doutrina, uma exotérica, ou seja, ‘externa’ ou popular e outra esotérica, ou seja, ‘interna’ e filosófica, revelando esta filosofia secreta somente aos amigos de uma bondade e prudência extremas. Mas quem poderia negar que aos amigos de uma bondade e prudência extremas. Mas quem poderia negar que ao fazer assim agem prudentemente? Nenhuma religião, nenhuma seita, gosta de que a contradigam. O vulgo crê que tudo lhe vem do céu (revelado por Deus). É, portanto necessário que suceda uma coisa no coração e nas reuniões secretas, e outra na rua e nos discursos públicos. Isto é costume freqüente, tanto nos antigos como nos modernos. Estes, na verdade, mesmo se condenando tal dissimulação, não hesitam em se servir dela freqüentemente”.
Página 81: “Se vê, portanto, que deste modo os Panteístas vivem em segurança em meio a numerosos perigos”.
Página 40: “Nada se perde no Universo; as coisas unicamente mudam de lugar. Por conseqüência, embora a ‘criação do nada’ não seja admitida pelos kabalistas judeus, nem por outros filósofos se pode dizer, sem embargo que todas as coisas foram criadas, no sentido de que se movem afastando-se do infinito passado e aproximando-se do infinito provir. E toda vez que o número dos movimentos é eterno como o é o número de coisas que se movem, não existe movimento nem coisa que seja eterna, já que cada coisa se faz de novo e é, portanto, criada”.
Aqui temos a Kabala da judiaria, nomeada e citada com perfeita fidelidade. Jean Toland, nascido na Irlanda, católico apóstata, protestante trânsfuga e finalmente infiel da pior espécie, escreveu este livro para os maçons. Seu título é citado às vezes de forma incorreta. Na edição original e única, hoje muito difícil de ser encontrada, se acha como indicamos: “Panteisticon: sive formula societatis Socratiae in tres particulas divisa, quae Pantheistarum sive dalium continet mores et axiomata, nomem et philosophiam, libertatem et nom fallentim lege neque fallendam. Praemittitur de antiquis et novies eruditorum sodalitatibus et de Universo infinito et aeterno diatriba. Subjicitur et de viri optimi et ornatissimi Idea, dessertatiuncula.” Cosmopoli, MDCCXX.
Em castelhano: “Panteísmo, ou regra da sociedade Socrática, dividida em três partes, contendo os modos e doutrinas, a tendência e a filosofia, a liberdade e a lei incapaz de enganar-se, dos Panteístas ou Societários. Precedida de um estudo sobre as antigas e modernas sociedades de homens eruditos e sobre o infinito e a eternidade do Universo. Seguido de uma dissertação sobre a dupla forma de seguir a filosofia dos Panteístas, sobre o homem virtuoso e perfeito”. Cosmópolis, 1720.
O homem “perfeito” é como já vimos o que a maçonaria forma em seus onze primeiros graus.
Vejamos agora a filosofia dos grandes corifeus do panteísmo moderno, e veremos que não fizeram mais que copiar – por assim dizê-lo – as bases da Kabala judaica.
Poderia-se esperar que os governos maçônicos pusessem nas cátedras de filosofia, em todas as suas universidades, maçons que ensinassem a doutrina maçônica, quer dizer, a da Kabala judaica, mais ou menos velada, sob fórmulas e princípios mais ou menos ilógicos e irrazoáveis, como encontramos em Fichte, Schelling, Hegel, Causin, e todos os demais sedutores da juventude escolar.
Os hindus, tal como vimos, ensinam: “Então, não havia nem Ser nem Não Ser, nem mundo, nem céu, nem o quer que seja por cima de Ele, nem envolvente nem envoltório, nem morte nem imortalidade, mas AQUELE (Tat) respirava sem aspiração, só com Swadha (o Desejo), que subsistia nele. O desejo se formou nele, e isto se converteu na primitiva semente produtiva que o sábio distingue no Não Ser, como o vínculo do Ser”.
Esta ficção, embusteira e ultrajante para com a razão humana, se encontram repetida na Kabala judaica: “Antes de ter produzido o Universo, antes de se ter revestido de forma alguma, e imposto qualquer medida a sua infinitude, o Ensoph estava ignorado de si mesmo. Não tinha sabedoria, nem potência, nem bondade, nem nenhum outro atributo. Depois começou por formar um ponto imperceptível, que foi seu próprio pensamento”.
“Pelo mesmo modo por que Deus, retirado em si mesmo, se distingue de tudo o que é finito, limitado ou determinado; por que não se pode dizer que ‘é’, se lhe designa com uma palavra que significa “nenhuma coisa” ou Não Ser (Ayin)”. (1)


(1) A. Franck – “La Kabbale”, pág. 138.


O mesmo sofisma, que destrói na origem a idéia de Deus, é fielmente copiado pelos professores que acabamos de mencionar. Já Schelling o repetia, dizendo: “O Uno, eterno, tem em toda a sua eternidade, o desejo de engendrar a si mesmo; este desejo é o primeiro raio da vontade, o ‘querer’. Deus, ao engendrar a si mesmo, dizendo o seu próprio desejo, manifesta sua inteligência (...) sua luz”. Que abismo de falsas noções!
Hegel, mais ousado ainda que Schelling retorna ao antigo apogeu do panteísmo: Primitivamente, antes da criação da natureza e do espírito, Deus está ‘em si mesmo’, já que a indiferença, ou seja, a ‘identidade absoluta do Ser e do Não Ser...’.
Este Deus, anterior ao mundo, não tem nenhum dos atributos que pertencem ao mundo contemporâneo, pois é o pensamento idêntico consigo mesmo sem conhecer a si mesmo.
O absoluto se manifesta como espírito, passando “do ser ao converter-se: faz a si mesmo, se realiza! Não é senão depois de se situar fora de si, ao retornar a ele a natureza, quando adquire consciência e se faz espírito, conhecendo a si mesmo como espírito...”.
Estas loucuras kabalísticas, estas falsidades sacrílegas, eis o que a juventude deve estudar e aprender como a “verdadeira sabedoria”; os judeus kabalistas debocham à grande do espírito elevado, científico, filosófico, sublime, destas jovens inteligências que degradando sua razão, fazem o jogo da judiaria kabalística.






16 – O Ensoph como Vazio ou Nada absoluto.


É de uma astúcia verdadeiramente diabólica, separar a essência infinita das três pessoas, necessariamente subsistentes nela de uma maneira absolutamente inseparável. A razão humana se surpreende e deslumbra diante deste pensamento tão falso como audaz, e facilmente deixa o lugar à imaginação, com o que o autor desta fraude gigantesca pode manobrar sem dificuldade, para introduzir-se na Santíssima Trindade e ser “semelhante ao Altíssimo”.
Só o primeiro passo é que é difícil, e já foi dado.
Antes de apreciar esta doutrina fundamental da filosofia judaica observemos os diversos títulos, não menos metafísicos e místicos quanto pomposos com que a Kabala designa a causa primeira.
O Ensoph é “o Oculto dos ocultos” (Temir miccol temerim), “o Inominado”, o “Mistério dos mistérios”, “a Causa das causas” (illath ha illoth), “o Ancião dos anciãos”, “o Velho dos dias”, “o Todo”, “o Não Ser”, “o Nada”, etc, etc. É representado por um círculo vazio que deve ser a origem dos dez Sephiroth. Embora ele mesmo não seja um dos números, lhes dá valor. Os árabes, influídos pelos hebreus, chamam o zero de “cafar” e o designam por um círculo que é como o Infinito da Kabala, sem começo nem fim e vazio em seu interior. A palavra inglesa “cifre”, à francesa “chiffre”, a espanhola “cifra” e a alemã “ziffer” têm aqui sua origem (1).


(1) Que nos seja permitido emitir aqui uma hipótese demasiadamente provável. Segundo a Kabala os dez Sephiroth (números) são emanados do Ensoph (o Infinito, representada por um círculo sem princípio nem fim). Cada Sephirah (cifra) emana da precedente. O inventor dos algarismos ou cifras de nomes arábicos, provavelmente um discípulo de Hermes Trimegisto, tomou como figura do Ensoph um círculo, o zero; como figura da primeira Sephirah, a Coroa, chamada também “a longa face”, um traço comprido, o algarismo “1”. Ele seguiu ajuntando para cada um dos outros números, um outro traço semelhante, até o número “9”; e ele completou a lista dos dez Sephiroth, formando o número “10”, conclusão da primeira dezena; e assim consecutivamente para cada nova dezena. Para chegar a esta idéia só é preciso desmembrar (por exemplo, com a ajuda de varetas) os algarismos árabes como se segue: 0 – 1 – 2 – 3 – 4 – 5 – 6 – 7 – 8 – 9 – 10.


O Ensoph e os dez Sephiroth constituem em conjunto o número místico “onze”.
 Filosoficamente, o ser infinito não é o vazio, mas, pelo contrário, “a plenitude de ser”. A Kabala, ao despojar a idéia do ser de todas as suas formas reais, conserva somente a idéia abstrata da “existência” sem nenhuma “subsistência”. Confunde, como fez depois Hegel, o ser que designa a “existência” com o ser que designa a “essência” ou a “substância” (2).


(2) Esse existentiae e esse essentiae.


Não se pode admitir que uma coisa, numa mesma relação, seja e não seja ao mesmo tempo. Violar este princípio da lógica é renunciar à razão. Se a Kabala – e Hegel – entendem por “ser” a existência é absurdo dizer, que a causa primeira, o Ensoph, existe e não existe ao mesmo tempo; se por isso entendem a “substância” ou “essência”, é igualmente absurdo dizer que o Ensoph é uma substância ao mesmo tempo em que não o é.
Evidentemente dão um duplo sentido à palavra “Ser” quando afirmam que a causa primeira é ao mesmo tempo o Ser e o Não Ser. Segundo eles é o Ser porque existe, e o Não Ser porque está “vazio de toda forma substancial”. “Se entende por Não Ser – diz o ‘Sepher Jetzirah’ – o que não se concebe nem por sua causa nem por essência; é uma palavra, a causa das causas, o que nós chamamos o ‘Não Ser primitivo’, porque é anterior ao Universo” (1).


(1) Franck – op. cit., pág. 160.


Ao “esvaziar” o infinito de toda forma substancial, só resta em nosso espírito, que verifica esta operação de abstração, a idéia de “existência”. A existência sem substância alguma, é uma pura abstração que não se dá em parte alguma, exceto no pensamento que a contém. Portanto não podia existir antes que existisse um ser substancial e inteligente. É, portanto, falso que o Ensoph, o Ser primordial absoluto, vazio infinito, tenha sido a causa primeira de tudo quanto existe.
Só mediante este sofisma, jogando com o significado da palavra “Ser” conseguiu a Kabala, tanto antiga como moderna, dar a si mesma uma base filosófica.
Na verdade, o Ensoph entendido como “Existência vazia e puramente abstrata”, não é absolutamente nada, é o Nada ou o “vazio absoluto”, incapaz de “desejar”, de “reverlar-se”, etc. A Kabala carece pois de razão e lógica em suas afirmações.







17 – O Ensoph como plenitude absoluta do Ser.


O verdadeiro Ser infinito, tal como o entendem os filósofos de bom senso, não é o “Vazio Absoluto” de toda essência, mas a “plenitude absoluta do Ser”; todas as realidades possíveis estão compreendidas nele, em seu grau infinitamente perfeito. Esta é a verdadeira idéia de Deus, que se consegue, não fazendo desaparecer as qualidades substanciais dos seres criados, mas despojando-as de todos os seus limites e fronteiras; deste modo a idéia da substância permanece por inteiro pertencendo ao Criador criatura, mas de forma essencialmente distinta.
Destarte, o Ser infinito é infinitamente grande e absolutamente simples, compreendendo em substância todas as perfeições possíveis, num grau eminente e infinito. Este Ser absoluto é em razão de sua infinitude, incapaz de dividir-se, produzindo de seu seio Sephiroth mais ou menos limitados, como raios de uma luz primordial, ou como águas de uma fonte primigênia, que se debilitam e diminuem em proporção ao seu afastamento, para se extinguir e esgotar no final por completo.
Por outro lado, o Ser realmente infinito, a Inteligência e a Vontade existem desde toda a eternidade, não num estado latente ou não desenvolvida, mas em sua perfeição e energia completas, infinitas e imutavelmente ativas. Portanto, se a Kabala judaica ou hegeliana quer considerar o Ensoph, não como um zero vazio, ou seja, como a pura existência abstrata de toda substância, mas com a plenitude de toda “Substância” possível, ela deve ser explicada filosoficamente; são-lhe precisos argumentos extraídos da razão, e não somente imagens do mar ou da luz, que não são infinitos; ela deve demonstrar-nos que o Ensoph não vai contra a natureza da mesma do Infinito ao desprender de sua substância uma partícula, ou ao fazer sair de seu seio uma gota ou uma faísca, por pequena que seja, sem afirmar implicitamente a composição do infinito, sem sustentar que este Infinito, não se aminora por suas emanações, nem aumenta fora de si, nem se divide dentro de seu ser, nem se multiplica em novos seres. Que a razão nos explique como as formas emanadas, os Sephiroth, não constituem, se continuam estando no seio do Ensoph, forma nele mesmo, e que elas não cessam de ser divinas se saem de seu interior.
Não há resposta filosófica para estas perguntas. Basta o propô-las para atirar por terra todos os sistemas panteístas e kabalistas.
A idéia de Deus é a da plenitude absoluta de todas as perfeições possíveis. A idéia do Ensoph kabalístico, é – ou a do Zero absoluto, o Vazio perfeito, o Nada infinito – ou a de um Ser infinito divisível, que constitui em si uma contradição. Deus é o Ser supremo; o Ensoph é apenas uma pura abstração mental, um ídolo imaginário, tolamente adorado pelos judeus kabalistas e os maçons como causa primordial.




18 – O Ensoph nos emblemas maçônicos.


No rito escocês não se usa o círculo como imagem do Ensoph porque esta “causa primeira”, o desconhecido dos desconhecidos, não é suscetível de adoração. Mas, entretanto, é encontrado muito freqüentemente nas condecorações e demais penduricalhos do rito de Misraim. Este rito, quase exclusivamente judaico, representa a Kabala mais clara e completamente que os demais. No grau 18 a jóia é um triângulo dentro de um círculo, simbolizando os três Sephiroth superiores contidos dentro do Ensoph. No grau 25 o círculo está contido no triângulo, indicando a doutrina que o Ensoph, embora não seja nada de tudo o que é, se encontra sem embargo em tudo o que é, e em primeiro lugar nos três Sephiroth superiores. Com o mesmo sentido, se encontra o círculo num duplo triângulo no grau 26, e num triângulo triplo no grau 27.
O rito escocês conhece o círculo dividido em quatro partes. A jóia do “Mestre Perfeito”, de grau 5, consiste num compasso com abertura de 90 graus que abraça um quarto de círculo graduado.
Veremos ainda que o Ensoph se envolve em quatro mundos. O Universo material, em que vivemos, é um deles. O mundo é por assim dizer, um quarto do total revelado do Ensoph. Nesta totalidade o Ensoph se representa por um círculo perfeito, que não tem princípio nem fim.
Cada um destes quatro mundos, emanados dele, é um quarto de círculo. Isto é indubitavelmente absurdo, mas é a verdadeira explicação do círculo dividido em quatro partes.




















Capítulo Segundo

OS SEPHIROTHS, SUPERIORES À SANTÍSSIMA TRINDADE


          1 – Emanação dos dez Sephiroth.
         

          Antes de dar uma impressão de conjunto dos dez Sephiroth emanados do Ensoph, enquanto concernem à maçonaria, temos de nos situar em sua própria ordem antropológica. Os Três Sephiroth superiores representam a cabeça do homem primordial; os três seguintes, ou morais, são seus dois braços, e o peito e os outros três são físicos, equivalendo à metade do corpo e às pernas; o décimo, está situado sob seus pés (1).
         

          (1) Enciclopédia Britânica, verbete “Cabale”. A. Franck – “La Kabbale”, pág. 149.
         
         
          Estes números se chamam:
          2, 7, 10 e 11: A Coluna do Meio.
          3, 5 e 8: A Coluna da Graça.
          4, 6 e 9: A Coluna da Justiça.
          5, 6 e 7: O Rei Santo.
          8, 9 e 10: A Matrona ou Rainha.

          Mediante a união do Rei Santo e a Matrona, se engendra o Universo; pela união da Matrona ao Rei Santo, são levados os seres individuais à divindade, confundindo-se com sua essência.
          Estas saídas e novas entradas dos seres são outra forma da doutrina indiana do Vedanta: “O sábio considera Brahme como a fonte de todos os seres. Como a aranha emite e volta a recolher sua teia, como as plantas nascem da terra e voltam a ela, assim o Universo vem do inalterável, para voltar a ele”.
          Novamente percebemos que os termos da filosofia indiana são superiores aos da Kabala judaica, embora a doutrina seja, no fundo, a mesma.
          Temos por exemplo que, com relação a esta exposição lúbrica que acabamos de ver, o Vedanta diz em termos filosóficos: “Este universo é efetivamente, Arahme, pois dele sai, nele respira e a ele volta. Adoremo-lo”.
          A vida social dos indianos está baseada na mesma idéia do “Purisch”, “homem primordial” ou Brahma.
          Os “Brahmanes”, casta de sábios e sacerdotes, teriam saído da cabeça de Brahma, os Ksatriyas, casta de reis e guerreiros, procedem dos membros enquanto que os Vaissyas, casta de mercadores, tem sua origem nas entranhas e finalmente os Sudras, operários e lavradores, procedem dos pés.
          Como depois se verá os Ksatriyas maçônicos, os “Cavaleiros Kadosch” (santos) seguem de perto para protegê-los os Brahmanes judeus, trio superior dos graus 31, 32 e 33.
          Para bem compreender a natureza do “Arquiteto do Universo”, diante do qual os maçons dobram os joelhos, e que suplantou em seu espírito o verdadeiro Deus, Criador do céu e da terra, devemos considerar o que a Kabala judaica entende por emanação dos dez Sephiroth, e pelos tais Sephiroth em si.
          Segundo já vimos na Kabala o Ensoph, o Infinito, se encontra acima de tudo, inclusive acima do que é “ser” e “pensar”.
          O Ensoph é o universo, mas o universo não é o Ensoph; em tal estado, carente de limites, não poderia ser compreendido pela mente, nem pronunciado pelas palavras. Assim, era de certo modo “Ayin” (o não-ser).
          O Ensoph deveria tornar-se ativo e criador, a fim de ser conhecido e compreendido. Pois bem, o ato de criação implica uma intenção, um desejo, um pensamento e uma ação, e, portanto, qualidade e propriedades pertencentes, como a Kabala afirma a um ser finito e limitado. Por outro lado, a natureza imperfeita e circunscrita da criatura exclui a idéia de que seja “obra direta” do infinito e perfeito. Conseqüentemente o Ensoph deveria tornar-se criador através de vários seres intermediários, ou seja, os dez Sephiroth, que emanam dele como raios de um foco de luz.
          O desejo de ter-se manifestado e conhecido e, portanto, a idéia da criação, é coeterno com a inescrutável divindade. A primeira manifestação desse desejo primordial se chama a primeira Sephirah ou Coroa, substância espiritual que existia por toda a eternidade no Ensoph, e que em si mesma contém outros nove Sephiroth.
          Os dez Sephiroth constituem com o Ensoph uma unidade estrita e representam o mesmo ser sob distintos aspectos. Chamam-se assim:
         
Trio intelectual:
          1 – Coroa.
          2 – Sabedoria.
          3 – Inteligência.
         
Trio moral:
4 – Amor, Graça, Grandeza ou Misericódia.
5 – Justiça ou Rigor.
6 – Beleza.



Trio físico:
7 – Força ou Triunfo
8 – Esplendor ou Glória.
9 – Base ou Fundamento; e
10 – Reino ou “Schekhinah” (Presença).


Veja-se os termos hebraicos correspondentes aos dez Sephiroth:

1 – Kether.
2 – Khokhima.
3 – Binam.
4 – Khesed.
5 – Din.
6 – Tiphereth.
7 – Nethzakha.
8 – Hod.
9 – Jhesod.
10 – Malkhuth.

Pois bem: quando o Desconhecido dos desconhecidos assumiu uma forma, produziu todas as coisas no duplo aspecto de varão e fêmea, sem os quais nada poderia continuar sua existência sob uma forma qualquer.
A primeira “Sephirah”, a Coroa, está tão próxima do Ensoph que parece conduzir-se com ele embora seja por outro lado, realmente distinta e diferente. Se chama também “Soy” (Jahveh) e “O Santo Ancião”, sendo o Ensoph “O Ancião dos anciãos”.
Sua diferença é tal que, comparada com a do “Ancião dos anciãos” a luz do “Ancião” é como trevas.
A segunda Sephirah emanada do “Santo Ancião”, a Sabedoria, foi feita em forma de macho e fêmea (andrógina e hermafrodita), pois a “Sabedoria” desenvolvida, a “Inteligência”, é a terceira Sephirah. Assim foram criados o varão e a fêmea: a Sabedoria, pai, e a Inteligência, mãe, de cuja união emanaram por graus sucessivos os outros pares de Sephiroth (1).


(1) Zohar – III, pág. 290.


Estes três primeiros Sephiroth, a Coroa, a Sabedoria e a Inteligência constituem o primeiro trio da década “sephírica” e formam a cabeça do “Homem Arquétipo”, “primordial ou celeste” – Adam Kadmon.
Da união do segundo e terceiro Sephiroth, nascem dois princípios opostos: a Graça – masculino, e a Justiça – feminino. Estes dois princípios formam os braços do Homem Arquétipo; o primeiro dá a vida; e o segundo, a morte. Unem-se no centro, o peito de Adam Kadmon que é a “Beleza”. Estes três princípios formam o segundo trio do Homem primordial e representam suas qualidades morais, da mesma forma que o primeiro representa suas qualidades intelectuais, enquanto que o terceiro significa suas qualidades físicas.
Da segunda união dimanam a Força, Sephirah masculino e o Esplendor, que constituem as pernas de Adam Kadmon e engendram a nona Sephirah, a Base ou Fundamento, medula ou potência da geração e desenvolvimento da natureza. De tal ponto de vista Adam Kadmon se chama “Sabbaoth” (exércitos). Este trio se chama também a “Natura naturans” (a natureza que engendra), sendo o mundo físico a “Natura naturata” (a natureza engendrada).
A décima e última Sephirah, o Reino, representa a harmonia, a unidade e o domínio das três classes de atributos precedentes.


2 – Os dez Sephiroth nos emblemas maçônicos.


Após esta exposição da doutrina kabalística não nos será difícil dar o significado da maior parte das insígnias e emblemas maçônicos.
No grau de Mestre, o terceiro do rito escocês, a jóia é um triângulo; no grau de Secretário Íntimo, número 6, do mesmo rito, é um triângulo ou três triângulos entrelaçados; na medalha do Grão Mestre Arquiteto, do grau 12, se encontram sete estrelas, equivalente dos sete Sephiroth inferiores, com um triângulo no centro tendo gravada a letra “A”, simbolizando os três Sephiroth superiores e o Arquiteto do Universo (1).


(1)  Taxil: op. cit., pág. 240.


Nos triângulos maçônicos encontram-se freqüentemente uma letra “yod” hebraica, ou um “S”, ou um olho. É o mesmo Trio, que encerra os sete Sephiroth principais: primeiro a Coroa, que como Grande Arquiteto do Universo, toma o nome de Jahveh; segundo a Sabedoria, e terceiro a Inteligência que tudo vê com o olho.
A representação de dois triângulos entrelaçados está perfeitamente explicada pela união do Rei Santo com a Matrona, isto é, pelo grande princípio fundamental e soberanamente imoral da Kabala judaica, segundo o qual a existência de todos os seres, tanto espirituais como materiais, se deve à união de um princípio varão com um feminino.
Estamos completamente certos de que todos os cristãos entrujados pelo engenho diabólico da sinagoga kabalística que é a maçonaria, somente um muito reduzido número se apercebe de que ao usar as insígnias maçônicas se tornam culpados de terríveis blasfêmias contra o Senhor Deus e sua Santíssima Trindade, assim como do uso de emblemas cuja lubricidade é tal que não podemos aqui explicar completamente.


3 – Anomalias nos Sephiroth superiores.


A Kabala é muito explícita no que se refere a declarar que os dez Sephiroth são os principais atributos de Deus (1).


(1) A. Franck – “La Kabbale”, pág. 128.


Claro está que a Inteligência, a Sabedoria, a Graça, a Justiça, a Beleza e a Glória podem perfeitamente ser atributos divinos, mas o que escapa a nossa compreensão é que a Coroa, o Triunfo, o Fundamento e o Reino sejam também da mesma natureza. Deus não é, nem uma coroa de um rei qualquer, nem um reino sob qualquer rei, nem o triunfo de um triunfador qualquer, nem enfim, o fundamento ou alicerce de qualquer edifício. Que relação têm portanto os Sephiroth assim chamados?
Temos ainda por outro lado, que a inteligência não é o resultado ou o efeito da sabedoria, mas pelo contrário, a faculdade cujo perfeito desenvolvimento conduz à sabedoria. Que motivo há então para reversão da ordem psicológica geral?
Ademais, é doutrina geralmente aceita que a primeira pessoa da Santíssima Trindade engendrou a Segunda, o Verbo ou a Sabedoria, com sua inteligência, do mesmo modo que o espírito humano produz a palavra através da inteligência humana. Portanto, os primeiros dos três Sephiroth superiores deveriam ser a Inteligência. Por que então, ela é suplantada pela Coroa?
Em quarto lugar, temos que a Graça ou o Amor, produzido pela vontade, e que constitui em todas as partes a terceira Pessoa da Trindade, aparece aqui em quarto. Se é absolutamente necessário colocar a Coroa entre as três pessoas divinas do Ensoph, por que situar a Graça entre os Sephiroth inferiores e não estabelecer quatro superiores?
Não teríamos formulado estas interrogações se nos referíssemos a um povo pagão qualquer. Mas merecerão os judeus, conhecedores das Sagradas Escrituras como o provam numerosas citações que delas fazem neste contexto, as desculpas que prazerosamente se outorgariam aos pagãos, desprovidos dos auxílios e esclarecimentos dos profetas, instruídos pelo Espírito de Deus?
Os maçons não fazem a menor idéia das doutrinas kabalísticas que lhes são impingidas por meio de emblemas cuja chave desconhecem. Pois os chefes judaicos da maçonaria se guardam muito bem de pôr seus adeptos na pista da Kabala.


4 – A verdade sobre a Santíssima Trindade.


Assim, para conduzir suas inteligências até a verdadeira luz, temos de dizer-lhes que não há em absoluto separação entre a natureza e as pessoas divinas, nem pode haver. As pessoas em Deus não podem seu mais que as relações subsistentes na essência divina, de nenhum modo divisíveis ou separáveis na essência.
Se, as três substâncias já nomeadas não pode haver substância divina em essência, como sem essência ou substância divina não pode haver diversas pessoas, divinas. A separação feita pela Kabala entra a essência que se desenvolve depois de seu desejo de manifestar-se e as manifestações sucessivas da divindade é um erro capital e funesto, cometido com um fim perverso.
É certo que há processos eternos na substância divina, que em si só pode ser uma, com unidade absoluta e infinita. Esta unidade divina não entra nos números ordinários, porque é unidade de ordem superior a tudo que está sujeito ao número, peso ou medida. O número “Um” na substância divina não se conta como o número seguido de “dois”.
Os processos eternos no próprio seio da natureza não são seus efeitos, como foi dito por Arius, ou mutações da mesma pessoa como supunha Sabelius e dizem ainda os Swedenborgianos, pois não são processos verificados fora da substância divina, mas processos espirituais no interior da substância eterna, semelhantes, mas infinitamente superiores aos processos de nosso pensamento, palavra e sabedoria, produto da inteligência ou do processo de nosso amor, produto da vontade.
O processo da palavra interna em Deus se chama Verbo ou “Filho”. Este último nome é tão próprio como o primeiro, já que a geração significa a origem de um ser vivente segundo a similitude de sua natureza. Pois bem: o Verbo é uma concepção da inteligência; é também a similitude da coisa que representa; o Verbo procede, pois de seu princípio segundo o modo da geração, geração que está de todo espiritual. Por isto, Deus pode e deve ser chamado de Deus Pai e seu Verbo, Deus Filho.
O amor não procede como o Verbo, segundo sua similitude com a coisa amada, mas segundo a inclinação da amante para o amado. Por conseqüência, o amor não procede por via de geração, mas de espiritualização. Por isso se chama também ao amor do Pai e do Filho, Espírito Santo que procede do Pai como de um só princípio...
O objeto eterno do Verbo é a verdade da essência divina; o do amor a bondade desta mesma essência. Na vida interior dos seres espirituais – e Deus é o Ser espiritual por excelência – não há mais que duas ações; a da inteligência e a da vontade. Não há, pois em Deus senão dois processos: a geração do Verbo e a espiritualização do Amor.
Conseqüentemente não há mais que três pessoas divinas em Deus, o Pai e o Filho e o Espírito Santo. Estas três pessoas possuem em comum uma substância divina indivisível; não são três deuses, mas um só Deus.
O Verbo ou Filho é chamado também a Sabedoria, seja esta como for, como a força, a justiça, a beleza, a misericórdia e todas as demais propriedades essenciais, comum às três pessoas divinas. É no Antigo Testamento, sobretudo, que se dá o nome de Sabedoria ao Verbo Divino, pelo qual tudo foi criado. Os judeus kabalistas sem dúvida conheciam bem o Livro da Sabedoria, escrito por Salomão. E, o que mais deve ser aqui destacado, os antigos Persas – de quem os judeus tiraram as linhas essenciais de sua doutrina espúria – reconheciam também a Sabedoria (Mazda) como uma pessoa divina que se confundia com seu Jahveh (Ahura) numa única divindade, Ahura-Mazda, ou Ormuzd, de quem procedia o fogo (Atars).
Poderia-se escrever não apenas um, mas vários livros sobre a Sabedoria, o Verbo, o Logos, que se transforma em Palas Athenéa ou Minerva, bem como em outras figuras semelhantes do Olimpo dos povos antigos. Os judeus kabalistas não inventaram a idéia sobre a qual se baseia esta grande figura; mas seguiram a revelação divina e a crença geral da antigüidade, segundo os quais a Sabedoria é uma emanação direta e imediata do primeiro princípio divino.
Cremos, portanto, estar no bom caminho ao reconhecer os três Sephiroth – Inteligência, Sabedoria e Graça, uma recordação embora um tanto corrompida, das três pessoas divinas conhecidas no Antigo Testamento pelos nomes de Jahveh, Sabedoria e Espírito Santo ou Fogo. E entre os persas por Ahura, Mazda e Atars.
Os outros atributos divinos, como justiça, beleza, etc, são comuns às três pessoas. Não poderiam constituir outras distintas. A divisão dos dez Sephiroth em três superiores e sete inferiores é outro indício do conhecimento que da Santíssima Trindade tinham os autores da Kabala, bem como de “sete anjos” que seus livros mencionam igualmente (1).


(1) Tob. XII, 15.


5 – O Grande Arquiteto do Universo.


O triângulo eqüilátero dos maçons, sem outra adição, representa o “Grande Arquiteto do Universo”. É a Coroa, com “sua” Sabedoria e “sua” Inteligência.
A Kabala judaica, sempre rica em imagens que cativam o espírito humano, contém uma passagem que de novo nos permite chegar à conclusão de que sua doutrina é derivada da filosofia indiana, por intermédio da filosofia persa, como já indica seu número sagrado, “trinta e três”.
Na terceira parte do “Zohar”, fol. 288 (1) se pode ler:


(1) A. Franck – “La Kabbale”, pág. 141.


“O Ancião, cujo nome é santificado (o Kether, a Coroa) existe com 3 cabeças que não formam mais que uma só, e esta cabeça é o mais elevado que existe entre as coisas elevadas. E posto que o Ancião, que seu Nome seja bendito, é representado pelo número três, todas as outras luzes que nos iluminam com seus raios, devem estar igualmente compreendidas no número três”.
A famosa Trimuiti no templo subterrâneo da Ilha Elefantina no porto de Bombaim, representa a cabeça gigantesca de Brahme, com as três cabeças de Brahma, Shiva e Vischnuh. Se a doutrina é igual, não o seriam também os símbolos?
Terá Dante conhecido esta Trimuiti? Terá estudado a Kabala, que começava a ser geralmente conhecida pelos judeus em seu século?
Como é surpreendente a descrição que faz de Lúcifer, o das três caras! “O monarca que reina no império das angústias eternas surgiu até a metade do peito, fora do tanque de gelo; e não seria eu mais alto junto a este gigante, que os gigantes junto a seus braços; qual seria, pois sua altura! Se foi tão belo como é agora horrendo, desde que ousou erguer seu rosto orgulhoso contra seu Criador, não é estranho que se tenha convertido na fonte de todo o mal”.
“Mas qual não foi meu assombro quando vi três faces em sua cabeça! Uma de frente, vermelha como o sangue; as outras unidas a ela, saindo de cada ombro, e unido-se em sua fronte, elevada e orgulhosa. A face da direita parecia escura, quase negra, e a outra, a da esquerda, da cor dos que habitam as margens do Nilo” (2).


(2) A Divina Comédia, de Dante Alighieri – Canto XXXIV do Inferno.


Lúcifer sempre arremedou o nome de Deus. Não podendo triunfar em seu propósito de ser “semelhante ao Altíssimo”, se converteu numa caricatura Dele; que não nos acusem os maçons se lhes dissemos que em si mesmo seu “Grande Arquiteto do Universo” é uma vulgar paródia de Deus, o Criador. E da mesma forma a maçonaria, que é essencialmente obra sua, é um arremedo da Igreja obra do Filho de Deus. A consideração dos trinta e três graus prova a justeza desta observação.






6 – O “Grande Arquiteto do Universo”, completamente distinto do Criador do Céu e da Terra.


A estreita relação que existe entre a doutrina da Kabala e o paganismo e, por conseguinte, da maçonaria com os antigos erros panteístas, é uma prova concreta de que o “Grande Arquiteto do Universo”, adorado pelos maçons, não é absolutamente o Deus dos cristãos, que criou o mundo do nada.
Não precisamos repetir aqui as inumeráveis provas fornecidas por Eckart, Claude Jannet, Deschamps, Pachtler, Leo Taxil e outros valentes campeões do Cristianismo; nos limitaremos a demonstrar a perfídia com que se tentou – e desgraçadamente conseguiu – desviar o juízo de grande número de pessoas, os maçons, por ocasião da famosa discussão no seio da maçonaria, sobre a necessidade da crença num Deus pessoal.
Como é sabida, a grande maioria dos maçons ingleses, em que pese a sua inscrição na seita, estão ainda ligados ao cristianismo da Alta Igreja Anglicana, e crêem num Deus criador do Céu e da Terra.
Uma declaração por parte das autoridades maçônicas, decretando não ser necessária a crença em Deus para permanecer no seio da maçonaria, teria levado a desordem às lojas britânicas, e comprometido gravemente à existência da maçonaria na Inglaterra.
Uma das melhores qualidades do caráter inglês reside no bom senso, que não se deixa ofuscar facilmente por idéias metafísicas que possam transgredir os limites da razão.
A questão da “personalidade de Deus” ou – para empregar o jargão maçônico – do “Grande Arquiteto do Universo”, foi submetida em 1875 ao congresso de Lausanne.
O delegado escocês F. Mackersey, depois de ter assistido à primeira reunião preliminar do Comitê, deixou Lausanne e publicou uma circular em nome do Conselho escocês, declarando que o Congresso não havia expressado em absoluto sua crença num Deus pessoal.
Esta declaração representava um grande perigo: poderia atemorizar a grande submissa massa de maçons ordinários, que nunca se deram ao trabalho de tirar a venda dos olhos, e que sem embargo, são úteis à loja. Era preciso, portanto, opor-lhe outra declaração que, salvaguardando a verdadeira doutrina maçônica panteísta, servisse para tranqüilizar as consciências, desviando a inteligência.
O Conselho Supremo dos Soberanos Grande Inspetores do Grau Trinta e Três do Rito Escocês Antigo e Aceito da Maçonaria para a Inglaterra, o País de Gales e dependências da Grã-Bretanha enviou uma circular com data de 26 de maio de 1876, tendo como endereço emitente o número 33 de Golden Square (1) para as autoridades que lhe estavam subordinadas. Esta circular era assinada pelos dois delegados do mencionado Conselho Supremo no Congresso de Lausanne.

(1) Note-se o número 33 e o significado de Square = quadrado, e de Golden = ouro.


Este documento dizia (temo-lo à vista): “Se o delegado escocês tivesse permanecido até o final não se teria atrevido a emitir sua declaração, insustentável, de que o Congresso não havia expressado a crença num Deus pessoal (...), pois o ponto sobre o qual mais fortemente insistiu este Congresso foi a expressão, como princípio absoluto e fundamental do Rito Escocês Antigo e Aceito de trinta e três graus, ‘a crença na personalidade de Deus como Autor, Criador, Criador Supremo, Grande Arquiteto do Universo, Ser Supremo’”.
Se esta circular maneja com habilidade a superstição dos maçons cristãos chamando o Ser Supremo, reconhecido pelos maçons de “Criador”, não menos destramente salvaguardava a verdadeira doutrina maçônica, explicando este termo mediante a adição das palavras “Criador Supremo”, que implicam numa graduação do ato de criar, e a existência de criadores ou arquitetos inferiores, subordinados ao “Supremo ou Grande Arquiteto do Universo”. A palavra “criar” tem aqui, portanto, o sentido de “organizar”.
A Coroa, primeiro dos Sephiroth, não é o único “Arquiteto do Universo”; é somente o “Grande”, mas sob seu impulso e direção trabalharam para construir e aperfeiçoar os três mundos projetados do Mundo das emanações, a Sabedoria (masculino), a Inteligência (feminino); a Misericórdia (masculino), e a Justiça (feminino); assim como a Força (masculino) e a Glória (feminino). Ou, para reunir esta série de “Arquitetos inferiores”, o Rei Santo e a Matrona.
Se nossa educação não é errônea, e a Coroa representa efetivamente o Anjo Caído de trata, efetivamente, de um Ser pessoal: é o “Criador Supremo”, o primeiro organizador ou mais exatamente, o primeiro “desorganizador” do mundo.
O documento citado continua dizendo: “Os membros (do congresso) esperam que, com a definição dada, ninguém possa tornar-se membro do Rito Escocês Antigo e Aceito sem crer num Deus pessoal, e que isto afastará os chamados livres pensadores, contrariamente à prática de determinadas corporações que os recebem em seu seio, revelando assim tendências puramente materialistas”.
Novamente se manipula aqui a fraqueza dos que crêem num Deus criador do céu e da terra, e ao mesmo tempo, se salva a doutrina kabalística da Loja, fazendo uma distinção entre o livre pensamento “puramente materialista” e o que, junto com a matéria eterna, admite um espírito – como o admite efetivamente a Kabala.
Seguem-se as provas da circular para estas afirmações, que – naturalmente – são essencialmente ambíguas e claramente equívocas. A primeira é o testemunho de um dos delegados presentes que declarou solenemente que “um dos grandes fins do congresso era a de provar ao mundo que o Rito Escocês Antigo e Aceito não admitiria jamais em suas fileiras ninguém que não cresse em Deus como Criador, Autor e Governador de todas as coisas, como Deus pessoal, como Jahveh”.
Esta prova tem o mesmo valor que a afirmação já citada. Já vimos – ainda voltaremos a ver – como a Kabala dá o nome de “Jehovah” a seu “Grande Arquiteto do Universo”, Lúcifer.
A segunda prova é extraída do parágrafo oitavo da Declaração de Princípios Maçônicos. A maçonaria estabelece como princípio que “o Criador Supremo deu ao homem, como seu bem mais apreciado... etc, etc”.
E conclui com esta exclamação: “Se estas palavras não designam o Deus único, que está acima de tudo, e que é um Deus pessoal, nenhuma outra língua poderá fazê-lo”. Esta prova confirma a diferença já estabelecida entre o “Criador Supremo” e os criadores “inferiores”.
Se o conselho tivesse sido sincero, não teria feito melhor dizendo simplesmente “Deus, que fez o Universo do nada?” Esta afirmação teria fechado automaticamente a passagem ambígua deslealdade. O espírito de mentira e hipocrisia está tão arraigado na maçonaria que homens, honoráveis por todos os demais conceitos, não duvidam de recorrer a equívocos que um olho imparcial descobre à primeira vista. Quanto mais avançarmos, mais freqüentemente veremos este espírito falso e embusteiro, inspirado à maçonaria por aquele que “é embusteiro e pai de mentira” (1).


(1) São João VIII, 44.


Enfim, a melhor prova que podemos exibir do equívoco contido nestas declarações das autoridades maçônicas, é esta: depois do congresso de Lausanne, numa “oficina” verificada em 1887, o Conselho do Grande Oriente da França eliminou de sua constituição maçônica a afirmação da existência de Deus, condição até então necessária para a admissão de candidatos. Em 1878 a Grande Loja da Inglaterra tomou a seguinte resolução na qual se pode reconhecer a mesma ambigüidade: “No que concerne à crença na existência do ‘Grande Arquiteto do Universo’, como dos princípios sobre os quais está baseada a Maçonaria, não podemos permitir que se expresse uma negação formal de tal princípio; nem podemos reconhecer como irmãos aos que o negam”.
A Grande Loja teria talvez feito melhor não dizendo nada, pois não se tratava da existência de um “Grande Arquiteto” mas de Deus, que fez o Universo do nada. Mas o equívoco teve bom êxito.
Ainda se foi mais longe. Como o Grande Oriente da França dirigisse uma comunicação à Grande Loja da Inglaterra, na qual negava que “O Grande Oriente da França, ao revisar certos termos de seus artigos constitucionais, tenha manifestado desejos de fazer profissão de ateísmo e de materialismo”; a Grande Loja inglesa solicitou a intervenção do então Príncipe de Gales, seu chefe “visível”, o que de resto não comprometeria em nada aos “invisíveis”.
Foi ordenado ao Secretário da Grande Loja o responder neste sentido: “A crença em Deus é o primeiro princípio de toda verdadeira Maçonaria; este princípio não foi reconhecido pelo Grande Oriente da França; não pode, portanto, pedir à Grande Loja que revogue sua decisão e participe na destruição do que os maçons ingleses consideram desde tempos imemoriais, como a condição primeira e essencial de sua existência maçônica” (1).


(1)  Weekly Register, 21 de fevereiro de 1885.


Poderíamos aqui multiplicar os testemunhos dos adeptos, para demonstrar o que – desde já – veremos mais adiante. Que os “irmãos” se formam gradualmente, primeiro na indiferença religiosa, conforme passam pelos primeiros graus; até o anticristianismo dos “Rosa Cruz” do grau dezoito, ao perfeito panteísmo da “filosofia religiosa” da judiaria kabalista nos graus mais altos. Para chegar finalmente, ao luciferianismo.
A “luz maçônica”, prometida ao candidato que entra na loja, termina nas trevas da teosofia kabalística. Assim que é o delegado escocês ao Congresso de Lausanne aquém nos referimos mais acima, o “irmão” Mackersey, estava coberto de razão: o “Grande Arquiteto” da maçonaria não é o Deus criador adorado pelos cristãos e por todos os homens sensatos; em absoluto. A maçonaria é, portanto, formalmente culpada do crime de idolatria e satanismo.



Capítulo Terceiro
O KETHER – MALKHUTH, COROA DO REINO.



1 – Origem dos Sephiroth: Coroa e Reino.


De onde procede a “Coroa” que temos visto intercalada entre o Ensoph e a Sabedoria, entre a substância eterna e as três pessoas divinas?
Fizemos consulta à Bíblia hebraica para nos aprofundar em tão revelante questão. E foi no Livro de Esther que encontramos o “Kether – Malkhuth”. O rei Assuero pediu que fosse levada diante dele e dos príncipes do reino a rainha Vashti, com seu diadema real. A rainha se negou a isto, e foi destronada como castigo de sua desobediência. Esther, a bela judia, foi escolhida para seu lugar e coroada pelo próprio Assuero com o “diadema real”, que foi tomado de Vashti. Mordechai, o tio de Esther, foi igualmente honrado e galardoado com o “diadema real”, que Amman perdeu por ter querido exterminar a raça judaica. Pois bem: nestas passagens o diadema real é chamado “Kether – Malkhuth”.
Depois da queda da rainha Vashti e do primeiro ministro Amman e da exaltação ao trono da judia Esther e de Mordechai ao posto de primeiro dignitário no reino de Assuero, os judeus exterminaram seus inimigos nos dias décimo terceiro e décimo quarto do mês de Adar; então instituíram uma festa perpétua que devia ser celebrada todo ano nesses dias. E assim nos achamos sobre as pegadas do primeiro e o décimo dos Sephiroth: O HOMEM ARQUÉTIPO É O JUDEU, COM A COROA SOBRE SUA CABEÇA E O REINO AOS SEUS PÉS. Não é este um dos maiores mistérios da Kabala? Estaremos diante do penúltimo segredo da maçonaria? (1).


(1) Ver prancha B.


2 – Aplicação política do Kether – Malkhuth.


Depois de escritas estas linhas, encontramos no livro “Testamento de um antissemita” de M. Édouard Drummont (página 142) a seguinte confirmação de nossa exposição.
Nos “Arquivos Israelitas” de 16 de outubro de 1890, o judeu Singer interpelou diretamente o Chanceler Bismarck e lhe disse sem mais preâmbulos: “Vos rogo que leiais o magnífico livro de Esther, onde havereis de achar a ‘história típica’ de Amman e Mordechai. Amman, o ministro onipotente, sois vós, excelência; Wilhelm é Assuero, e Mordechai o socialismo alemão, propugnado pelos judeus Lassale e Marx e continuado por meu homônimo e correligionário, Singer. Tentastes aniquilar Mordechai e fostes vós, o grande Chanceler, que vos convertestes em vítima”.
Tal imprudência por parte do judeu Singer atraiu a atenção do mundo sobre o livro de Esther, onde aparecia seu correligionário Mordechai coroado com o Kether – Malkhuth, cuja imagem é ostentada na jóia dos Rosa Cruz, os subservientes cavaleiros dos judeus.
“O temor do poder judaico havia sobressaltado a todos os povos. Os judeus fizeram então grande mortandade entre seus inimigos, e ao degolá-los, lhes causaram o mal que aqueles pensavam fazer-lhes”. (1)


(1) Esther, cap. XII.


Na própria capital de Susa mataram quinhentos homens, sem contar os dez filhos de Amman. Em seguida o rei Assuero foi informado dos detalhes da mortandade.
“O rei disse à rainha Esther: Quão grande crês tu que há de ser a mortandade que os judeus fazem em todas as províncias do meu reino? E a rainha respondeu: Suplico ao rei que ordene que aos judeus seja permitido fazer também amanhã o que hoje fizeram em Susa, e que os dez filhos de Amman foram enforcados, e no dia seguinte foram mortos outros 300 homens na cidade de Susa. E em todas as províncias os judeus mataram seus inimigos em tão grande número que aquela mortandade afetou pelo menos a setenta e cinco mil homens”.
Esta súplica da bela judia industriada por seu tio Mordechai ao rei Assuero nos revela num só olhar toda a crueldade de sua raça quando tem a vitória nas mãos. Desgraçados os povos que caem sob o báculo israelita!
Veja-se como entendem os judeus as palavras de David: “Os louvores a Deus estarão sempre em sua boca; em suas mãos terão espadas de dois gumes para se vingarem das nações e castigar os povos, fazendo cativos a seus reis, encadeando-lhes os pés, e colocando aos grandes entre eles ferros nas mãos” (2).


(2)  Salmo CXLIX.


A festa denominada “Purim”, celebrada a 14 de fevereiro, se repete todos os anos em memória de sua “libertação” da tirania de Amman mediante a intervenção de Esther e Mordechai. “Os judeus se dedicam então a roubar a todos os cristãos que podem, especialmente crianças. Nesta noite, imolam só a um, fingindo matar Amman. E enquanto o corpo do infante sacrificado se acha suspenso, debocham dele a seu redor, fingindo debochar de Amman. O rabino faz com o sangue assim recolhido certos pãezinhos, amassados com mel, ‘de forma triângular’, destinados não aos judeus mas aos cristãos amigos seus” (1).


(1) Henri Desportes: “Lê Mystère du sang”, pág. 311.


Os judeus dão a seus próprios filhos, quando estes chegam à idade de treze anos, “uma ‘coroa’ em sinal de poder e força” (2).






(2) Idem.


A “Coroa” sobre a cabeça e o “Reino” a seus pés; aqui podemos contemplar o ideal judaico, pacientemente perseguido geração após geração depois que Jahveh escolheu a posteridade de Abrahan como seu povo predileto. “Adam Kadmon”, o Homem primordial, é o arquétipo judeu. O judeu é o homem por excelência.
Toda a conhecida fraseologia sobre o Homem e a Humanidade, sua liberação e sua liberdade, seus direitos etc, deve ser entendida como sendo aplicada em primeiro lugar aos judeus e depois, através de comunicação, a seus afiliados os maçons. Pois somente na maçonaria se forma o “Homem”, que já é chamado “Perfeito” no grau onze. De maneira que à pergunta: “És Sublime Cavaleiro Escolhido?”, possa responder: “Meu nome é ‘Emmarek’, homem verdadeiro em qualquer ocasião” (3).


(3) Paul Rosen, pág. 251.


A palavra “Emmarek” significa em antigo hebraico: “Eu estou purificado”.
Além do povo judaico e dos indivíduos judaizados através dos mistérios maçônicos não há ‘homens verdadeiros’, pois as demais nações não são mais que “uma variedade dos animais” (1).


(1) Thalmud – cit. em Pontigny: “Le Juif selon le Thalmud”, pág. 105 e ss.


“Não se pode chamar de homens aos goyim” (2), os não judeus.


(2) Thalmud. Ver Tratados “Kerithot”; “Yabamoth”, 61 a; Baba Metsi’a 111 b; etc.


Esta é a doutrina do Thalmud, que é para o judeu o equivalente da Teologia moral, como a Kabala é a Teologia dogmática.
Mas como já dissemos e explicamos, a verdade é que a judiaria engana a seus subordinados os maçons; da mesma forma como são eles próprios enganados pelo Inimigo da raça humana.
Não nos é fácil ver o Tentador oculto sob a forma do “diadema real”, como outrora se ocultou sob a forma de serpente? A maça do Paraíso Terrestre foi transmutada em “Coroa”, com a qual promete saciar o apetite de poder do homem; do único “homem”, o judeu.
Não podemos inclusive escutar as palavras do Eterno Tentador, como foram repetidas a Jesus Cristo quando lhe mostrou todos os reinos do mundo e sua glória: “Tudo isto te darei se prostrado me adorares?” (3).


(3) São Mateus IV, 8-9.


Mas o judeu não respondeu como Jesus: “Retira-te Satanás, porque está escrito: Adorarás ao Senhor teu Deus, e só a Ele servirás” (4).


(4) São Mateus IV, 10.


Como veremos com toda a documentação possível e necessária, nas lojas maçônicas Lúcifer é adorado. Da mesma forma os judeus quando adoram ao “diadema real” como adoraram anteriormente seu bezerro de ouro, se pode ver que em suas crenças Satanás com o nome de Kether ocupou um lugar acima de Deus e da Santíssima Trindade.




Capítulo Quarto
OS SEPHIROTH, INFERIORES AOS SETE ANJOS.


1 – Os sete Ameschaspentas ou Arcanjos dos persas.


Como anteriormente já expusemos, os kabalistas tomaram dos persas princípios fundamentais de sua filosofia. Já tivemos também oportunidade de encontrar nas grandes figuras de Ahura, Mazda e Atar uma espécie de reminiscência da Santíssima Trindade, conhecida e mais ou menos desfigurada, de todos os povos civilizados.
Também pudemos reconhecer esta Trindade Suprema na Inteligência, Sabedoria e Graça que constituem os três Sephiroth que seguem imediatamente a Coroa.
E parece que também encontraremos pegadas dos outros sete Sephiroth e das sete estrelas maçônicas entre os antigos persas. Os sete Ameschaspentas – “benfeitores imortais” – conhecidos no Avesta (1).


(1) Ver prancha C.


São eles:

1º. Ahuramazda (Ormuzd em zend), nome de Deus Supremo e ao mesmo tempo o do primeiro arcanjo, representante de Deus no mundo espiritual. Também é chamado de “Spenta-Mainyus”, o espírito benfeitor. Seu adversário é “Angro-Mainyus”, o espírito do mal = Satanás.
2º. Vohu-Mano (Bahman), o bom espírito, que inspira os bons pensamentos, palavras e ações. Seu adversário é Akamano, o espírito mau.
3º. Ascha-Vahista (Ardibihist), gênio da verdade, da luz e do fogo benigno. Seu adversário, Andra, parece representar a melancolia.
4º. Kschatra-Vairya (Scharevar), gênio do combate, da vitória e do supremo domínio, que tem como adversário Saurva, possivelmente o espírito da debilidade.
5º. Spenta-Armaili (Spendarmat), a deusa, o ideal da beleza e bondade femininas. Seu adversário, Naong-Haiti, é o espírito do orgulho.
6º. Haurvetat (Khordat), gênio da saúde e da força. Seu adversário, Taric, representa a enfermidade.
7º. Amretat (Amerdad) é o gênio da vida e da imortalidade. Seu oponente é Zaric, o gênio da morte.


Não cremos incomodar a Kabala ou o Zend-Avesta sugerindo – sempre com a prudente reserva – que existe certa relação entre:
Os Sephiroth e os Ameschaspentas.
A Justiça e o Vohu-Mano.
A Beleza e o Spenta-Armaiti.
O Triunfo ou a Força e Haurvetat.
A Glória ou Majestade e Ascha-Vahista.
O Fundamento ou Base e Amretat.
A Realeza e Kstraya-Vairya. (1).


(1) Ver pranchas A e C.


Mas seria demasiado longo entrar em detalhes sobre tão interessante questão...


2 – O Arcanjo Ahuramazda e a Coroa kabalística.


Se estas relações são tão profundas como verossímeis, não nos restaria mais que o arcanjo Ahuramazda e a Coroa kabalística, cuja identidade precisaríamos ainda comprovar: a Coroa à cabeça dos Sephiroth superiores e Ahuramazda às dos sete arcanjos persas.
A surpreendente semelhança das demais figuras, tanto superiores como inferiores da mitologia persa com os Sephiroth superiores e inferiores da Kabala judaica, nos parecia um argumento suficientemente forte para admitir a identidade do Arcanjo Ahuramazda com a Coroa. Em tal caso, a elevação da Kabala do primeiro dos espíritos inferiores por cima da Trindade superior divina revelaria uma nova prova da realização da jactância luciferina já nossa conhecida: “Subirei aos Céus, estabelecerei meu Trono acima dos astros de Deus; me situarei sobre as nuvens mais elevadas e serei semelhante ao Altíssimo” (2).


(2) Isaías, cap. XIV.


Poder-se-ia dizer para fins de argumentação que também entre os Persas o primeiro arcanjo se teria arrogado as prerrogativas divinas, chamando-se inclusive com o mesmo nome do Altíssimo; se a figura verdadeiramente diabólica de Angro-Mainyus ou Ahriman não pusesse um obstáculo a tal suposição.


3 – Uma resolução no céu kabalístico e a queda dos anjos.


Na estranha doutrina da Kabala parecia apresentar-se a confirmação totalmente extraordinária, no que se refere à intrusão de Lúcifer na divindade, por motivo de uma espécie de revolução no mundo invisível da emanação divina (1), que havia tido lugar antes da formação do mundo contemporâneo.


(1) A. Franck – “La Kabbale”, pág. 153.



Esta idéia, estranha à doutrina dos Sephiroth, anuncia uma queda a uma reabilitação na própria esfera dos atributos divinos, uma criação fracassada, porque Deus não desceu com ela para habitar... uma emanação espontânea de sua própria substância, tumultuosa e desordenada.
Tal emanação é incompreensível e inclusive absurda se se admite que a fonte dela é a Sabedoria, mas se torna perfeitamente explicável e por completo racional se se tem em conta à crença dos povos antigos na revolução dos anjos caídos e no arcanjo Lúcifer, transformado em Satanás. Esta queda tumultuosa e desordenada, longe de ter tido lugar entre os três Sephiroth superiores, aconteceu segundo a crença universal na antigüidade, entre os inferiores, que não são efetivamente senão suplantadores dos “sete espíritos criados”, conhecidos tanto das outras religiões como do Antigo e do Novo Testamentos.
A Kabala coloca Samael à cabeça do Inferno, do Reino das Trevas e do “Tohu – Bohu” da Bíblia.
“Os sete tabernáculos ou o inferno propriamente dito, oferece a nossos olhos os tormentos que daí derivam” (2).


(2) Idem, pág. 169. Ver a lâmina H.


4 – Os sete Sephiroth nas insígnias maçônicas.


O número “sete” é encontrado freqüentemente nos emblemas maçônicos, como veremos nos exemplos seguintes.
No grau dezessete, a jóia é um “octágono” em uma de suas faces e em cada um de seus ângulos vão as letras B. D. S. P. H. G. F., iniciais respectivas de Beleza, Divindade, Sabedoria, Potência, Honra, Glória e Força, nomes dos sete Sephiroth. No centro há um cordeiro prateado, deitado sobre um livro que traz sete selos, cada um marcado com uma das letras já mencionadas.
Os cristãos se indignarão certamente, diante desta interpretação blasfema de um dos mais caros símbolos de seus livros sagrados (1).


(1) Apocalipse V, 1.


Já mencionamos as sete estrelas, diante de um triângulo que figura na jóia do grau doze. Outro símbolo completo é os onze sinais e contatos que se dão no grau vinte e nove. Há neste grau sete sinais, três contatos e um contato geral que significam, respectivamente, os sete Sephiroth inferiores, os três superiores e o Ensoph.
O pelicano, símbolo largamente característico da maçonaria, se encontra no grau dezoito equivale ao Ensoph; os três jorros de sangue que saem de seu peito, perfurado por ele mesmo, são os três Sephiroth superiores; os sete pelicanos pequenos representam os sete Sephiroth inferiores (2) saídos da Tríade superior.


(2) Carlille: “Manoal of Freemasonry”, pág. 296.


No grau dezessete se executa também uma marcha de sete passos em hectágono, e no grau trinta – o de “Kadosch” – se dá o “beijo filosófico” que consiste em sete contatos dados com os lábios sobre sete pontos do rosto (3).


(3) Leo Taxil: “Les Frères Trois Points”, vol. II, pág. 270.


5 – Os sete anjos nas Sagradas Escrituras.


O que vem a ser na doutrina kabalística os sete Sephiroth inferiores? Serão uma reminiscência do que já a Sagrada Escritura conhecia?
O condutor do jovem Tobias disse ao se revelar: “Sou o anjo Rafael, um dos sete que sempre estamos diante do Senhor” (1).


(1) Tob. XII, 15.


E São João escreve às “sete” igrejas da Ásia, “A graça e a paz sejam convosco, por Aquele que é, que era e que será, e pelos ‘sete’ espíritos que estão diante do trono do Senhor” (2).


(2) Apocalipse I, 4.


A passagem tirada do livro de Tobias é uma prova da antiguidade da doutrina acerca dos sete anjos. Não fazemos, portanto um juízo temerário dizendo que é uma das verdades contidas na revelação primitiva, conservada juntamente com a da Santíssima Trindade em todos os povos antigos.
No templo de Salomão o “candelabro de sete braços” era símbolo não só dos planetas então conhecidos, mas dos sete anjos reconhecidos no Antigo Testamento.
A Kabala, cuja origem remonta aos tempos do cativeiro da Babilônia, tomou talvez esta idéia dos sete anjos, não só do Antigo Testamento, mas do costume dos reis persas que, segundo o livro de Esther (3) tinham sempre seu trono rodeado pelos sete principais senhores e dignitários persas e medos.


(3) Cap. I, vers. 14.


Estes príncipes jamais perdiam o rei de vista e tinham costume de se sentar em primeiro lugar, depois dele. Temos de acrescentar que estes persas imitavam o céu de seu Deus, sendo o rei em sua majestade uma imagem da divina majestade de Ahura-Mazda, rodeado dos sete “Ameschaspentas”.
Rafael fala a Tobias dos sete espíritos que sempre estão diante do trono de Deus. Tobias foi feito prisioneiro pelos assírios muito tempo antes do estabelecimento do reino persa, em tempos de Salmanasar. O que não sabemos é se os assírios situavam sete príncipes diante do trono de seu rei. A origem da doutrina persa dos sete anjos se perde na antigüidade, pois era conhecida antes da separação de indianos e persas, muito tempo antes de Zoroastro, que parece ter vivido uns mil anos antes de Cristo, no tempo do rei Salomão.
Sem entrar em elucubrações que nos afastariam da meta deste escudo, nos atrevemos a dizer que fica suficientemente demonstrado que nem kabalistas nem maçons inventaram o número dos Espíritos que têm um tão grande papel em seus mistérios, e cuja origem e importância não são provavelmente compreendidas pelos que os empregam.


6 – Os sete anjos e o número Onze no Brahmanismo.


O Eterno, conhecido na religião dos indianos com o nome de Brahme, em gênero neutro, corresponde perfeitamente ao Ensoph da Kabala, e ao Bythos da Gnose. Brahma, Vischnuh e Shiva representam aqui a Trindade Sagrada.
Junto a estas divindades, os primeiros tempos védicos mencionam os “Aditiyas”, filhos de Aditi, deusa que representa a “Infinitude”. Adi significa em sânscrito “o começo”. Os Aditiyas são divindades que correspondem aos sete Sephiroth da Kabala e aos anjos das Santas Escrituras.
Contam-se doze Aditiyas se se incluir Brahme e a Trindade, e sem eles, somente oito ou sete. Aditi tinha oito filhos, mas ao se aproximar dos deuses superiores, ficou só com sete depois de ter repudiado o oitavo denominado Mart-Tanda, o Sol. Estes sete Aditiyas são os sete Sephiroth da Kabala ou os sete anjos da Escritura.
É assim que os Vedas reconheciam os “onze deuses do céu”. O céu é o primeiro dos “Tri-Loka” ou “Tri-Bhuvena”, os “três mundos”: Svarga, Bhumi e Pathala, o Céu, a Terra e o Inferno. À cabeça do segundo mundo se encontra Mart-Tanda, o Sol, filho repudiado de Aditi, conhecido em seu mundo como o Aditiya por excelência. Preside o firmamento e compõe, com os oito Vasus e os dois Aswins os “onze deuses da Terra”. Por sua posição única, este Aditiya por excelência corresponde certamente ao “Metatrono” da Kabala.
Shiva, o “Transformador”, tem um duplo caráter: como Transformador é bom, e corresponde ao Espírito Santo das Sagradas Escrituras. Como destruidor é um Deus terrível, que corresponde perfeitamente a Satanás. Como tal se chama Rudhra, o “Uivador”, e habita com seus dez filhos os Uivadores o Pathala, o Inferno. Os onze Rudhras são os “onze deuses que habitam em meio aos ares”.
Tri-Dasa, “três vezes dez”, é o número redondo das “trinta e três” divindades: os doze Aditiyas, os oito Vasus, os dois Aswins e os onze Roudras (1).


(1) Dawson: “Classical Dictionary of Hindu Mythology”.


Os indianos estimavam muito o número onze. O corpo de Brahma – Prajapati, Senhor das criaturas, é composto por dez membros, que com ele completavam onze Prajapatis. Os dez Prajapatis ou Rischis, Sábios, são provavelmente os dez patriarcas de que descende o gênero humano. Seus nomes se encontram em nossa lâmina E.
Também Vischnuh devia ter sua descendência de dez. Há efetivamente dez “Avatares”, encarnações deste deus, que indicamos na mesma lâmina.


7 – O número onze e os sete anjos do budismo.


O budismo reconhece como primeiro ser a Adi-Buhda, o Sábio supremo e junto a ele, à matéria eterna. Sua lei geral é a metempsicose. O caminho que todos os seres devem percorrer é o da matéria, até o “nirvana”. Os habitantes do universo visível estão repartidos em seis vias: primeira – os habitantes dos infernos; segunda – os animais; terceira – os “Pretahs”, ou demônios famélicos, atormentados pela fome e a sede e que vivem no fundo mar e nos bosques, entre os homens, com forma humana ou de animal; quarto – os “Asuras” ou Gênios, que vivem à beira do mar ou nas ladeiras do Monte Sumeru, Olimpo do Budismo. Estas quatro primeiras são as que se chamam as quatro más condições. Seguem-se: quinta – os homens, e sexta – os “Devas” ou deuses, que habitam os quatro pisos do Monte Sumeru.
A estas seis classes se deve acrescentar os “Nagas” ou dragões, os “Garondas” ou pássaros maravilhosos, os “Kinnaras” e muitos outros seres que como os precedentes estão submetidos a uma metempsicose que segue em escala ascendente e descendente, conforme seus méritos ou deméritos.
No quarto piso do Sumeru se inicia a série de seis céus superpostos que constituem o “Mundo dos Desejos”, cujos habitantes estão ainda submetidos à concupiscência.
No primeiro céu habitam quatro deuses que presidem as quatro partes do mundo; o segundo céu é chamado “dos trinta e três”, porque por ele passeia Indra, com tal número de personagens, convertidos como ele por suas virtudes de sua condição de humanos, à de “Devas”; o terceiro é chamado o céu de Yama, porque lá reside este deus, com pessoas igualmente semelhantes a ele; no quarto céu, chamado “Viagem da Alegria” deixam os cinco sentidos de exercer sua influência e lá é onde os seres purificados e chegados ao grau de “Buhdisatva” vão viver até o momento de descer sobre a terceira na qualidade de Budahs, Sábios; no quinto céu os desejos, nascidos dos cinco átomos ou princípios de sensação, se convertam em prazeres puramente intelectuais; e enfim no sexto habita o Senhor, Iswara, que ajuda a conversão dos demais, e é denominado também “O Rei dos gênios da morte”.
Todos os seres destes quatro últimos céus residem no seio da matéria etérea.
Por cima desta série de seis céus do “Mundo dos desejos” começa outra de céus superpostos, que constituem o “Mundo das formas e das cores” e cujos habitantes estão ainda submetidos a uma das condições da existência material: a forma ou a cor. Conta-se até dezoito “andares” neste mundo das formas, segundo o grau de perfeição moral e intelectual de seus habitantes.
A este mundo se segue o “Mundo sem formas”, composto por quatro céus superpostos, cujos habitantes se distinguem por atributos mais elevados. Os do primeiro céu habitam o “éter”; os do segundo vivem no “conhecimento”; os do terceiro no do “amesquinhamento”; e os do quarto, acima do qual não há nada, isentos por igual do conhecimento localizado e do amesquinhamento que não admite localização, são designados por uma expressão do sânscrito que literalmente traduzida significa “nem pensantes nem não pensantes”. Este último grau é o determinado “Nirvana”, a meta suprema dos desejos e esperanças dos budistas.
Obter o Nirvana é sair da escala dos seres e das vicissitudes da existência; é encontrar-se totalmente livre dos vínculos do corpo, das migrações sucessivas, e por assim dizer, da própria consciência de si mesmo; é o quietismo levado ao absoluto, ao impossível, até a total aniquilação (1).


(1)  Migne, in “Dictionnaire des Religions du monde”.


Um livro budista narra a lenda do rei Rawva que engendrou trinta e dois filhos. Estes trinta e dois príncipes se casaram com suas trinta e duas primas, e tiveram cada um trinta e dois filhos. Esta lenda tem seguramente relação com a doutrina do “Sepher – Jezirah” (Livro da Formação), o mais antigo livro kabalístico e cuja primeira proposição é: “O Eterno, o Senhor dos Exércitos, o Deus de Israel, o Deus vivo, o Deus Todo Poderoso, o Deus Supremo que habita na eternidade, cujo nome é sublime e santo, criou o mundo com os ‘trinta e dois’ caminhos maravilhosos da Sabedoria” (1). Mais o próprio Eterno, o número é trinta e três!


(1) Migne: “Les livres sacrés des paiens”, II, pág. 478.


Baste-nos aqui o ter encontrado, inclusive no Budismo, o número onze trazendo sempre o selo da dupla mentira pagã: a separação da Trindade ou das pessoas divinas da Unidade de sua essência; e a identidade especial da criatura com o Criador.


8 – O número onze e os sete anjos dos Assírios – Babilônios (2).


(2) Ver lâmina G.


A religião dos assírios e babilônios sofreu demasiadas mudanças para que possamos fazer aqui sua descrição. Nos contentaremos, portanto, com a descrição do obelisco de Salmanasar II. Em tal inscrição se situa Assur, Ahura dos persas, à cabeça de todas as divindades, que existem em número de doze.
Deste total de treze devemos, entretanto eliminar as duas últimas, únicas que apresentam caráter feminino: Beltis, esposa de Bel, e Ishtar, esposa de Sin. São puras abstrações e seu culto não chega nem os primeiros séculos desta religião.
Como Assur corresponde a Ahura, Anu corresponde a Ahu e Bel e Hea, aos outros dois Sephiroth superiores ou intelectuais; Bin, Sin e Samas aos três Sephiroth morais; Merodak, Nergal e Ninip aos Sephiroth de ordem física. E finalmente, há Nasku, o “Portador do Cetro de Ouro” que vem a equivaler à última Sephirah, Malkhuth ou o Reino.
A maçonaria pode se gabar de ter “herdado” todos os ídolos do Paganismo!











Capítulo Quinto
OS QUATRO MUNDOS DA KABALA


1 – O mundo das emanações.


A Kabala tem mais de um calcanhar de Aquiles, como pode notar qualquer mente aberta.
Afirma o Zohar – e insiste muito nesta afirmação – que os dez Sephiroth não são “criaturas” do Ensoph, o que suporia uma diminuição de sua força, mas que se trata de uma unidade estrita, tanto entre eles mesmos como com o Ensoph; e representam, portanto, aspectos distintos do mesmo Ser, como os diferentes raios de um foco de luz, ainda aparecendo distintos ao olho, não são senão manifestações diferentes da mesma luz. Por tal razão, todos eles participam das mesmas perfeições do Ensoph.
Portanto, os Sephiroth, como emanações do Ensoph, são infinitos e perfeitos, mas apesar disto, constituem as primeiras coisas finitas. São infinitas e perfeitas quando o Ensoph lhes comunica sua plenitude; finitas e imperfeitas quando essa plenitude lhes é retirada!...
Para poder crer nesta impossível dualidade se faz preciso abandonar as normas da lógica, deixando-se levar por uma ilusão de plenitude finita e infinita ao mesmo tempo; mas sempre divina.
Evidentemente, se esta plenitude é infinita deve ser absolutamente indivisível e de tal modo que, quando é retirada, admitindo o impossível de que isso pudesse ser realizado, será retirada em absoluto e, portanto não restará “nada”. Uma vez que não é composta por partes e sendo assim, não pode ser retirada e conservada em parte.
A conjunção dos Sephiroth ou – para dizê-lo com a linguagem do Zohar – a União do Rei Santo e a Matrona, emanou o mundo segundo sua imagem e semelhança. Se estes dois personagens são seres infinitos, o produto de sua união deve sê-lo também. Mas o Universo não é infinito. Portanto, estamos diante de nova contradição.
O Zohar distingue quatro mundos: o primeiro é o das “emanações” (olam Aziluth); o segundo é o da “criação” (olam Beriah); o terceiro, o mundo da “formação” (olam Yezirah); e o quarto, o da “fabricação” (olam Asiah).
O mundo das emanações é o dos Sephiroth, representado por dez círculos concêntricos, com o Ensoph como ponto central. Como acabamos de demonstrar este mundo é um ser híbrido, algumas vezes finito e outras infinito.






2 – O mundo da criação.


O mundo “briático”, o da criação, é inferior ao das emanações posto que não emana diretamente do Ensoph, mas tem como intermediários o Rei Santo e a Matrona. Este mundo, chamado também “Trono”, tem poderes mais limitados e circunscritos, já que se encontra a maior distância do Ensoph que os Sephiroth celestes. Os celestes são chamados “O Pavilhão do Ensoph”, e são de luz menos cegante que o ponto ou Coroa, mas “sendo demasiado deslumbrantes para poderem ser olhados, o Pavilhão se expandiu para o exterior, e esta extensão lhe serve de Vestimenta. Deste modo tudo se faz mediante um movimento sempre descendente; assim é enfim, como se formou o universo” (1).


(1)  A. Franck: “La Kabbale”, pág. 160.


As palavras “Pavilhão” e “Vestimenta” são tomados dos versículos 2 e 3 do Salmo CIII: “Senhor, Deus meu, revelastes deslumbrantemente vossa magnificência. Estais revestido de testemunhos e de beleza; a luz vos envolve como uma vestimenta. Estendendo o céu, como um pavilhão lhes dais as águas por abóbadas”.
Qualquer homem sensato compreenderá que esta diminuição gradual, possível para a luz e para tudo o mais que é finito, constitui um absurdo aplicado ao Infinito.
O mundo “briático” é formado por um só ser: o anjo “Metatrono”, chamado com este nome grego, porque está situado imediatamente abaixo do trono de Deus, e constitui a vestimenta do Schaddai (Todo Poderoso). Como já assinalamo-lo corresponde, por sua posição única, ao “Mart-Tanda” dos Vedas.
Uma das senhas do Grau de Sublime Príncipe do Real Segredo é Schaddai. Este “Sublime Príncipe” está obrigado a proteger e velar pelo Todo Poderoso da maçonaria; é como sua vestimenta. Por isso que tem grau 32, fazendo de Metatrono para o “Rei” da maçonaria que ocupa o grau 33, supremo da escala. Segundo a Kabala, este Metatrono governa o mundo visível e mantém a harmonia, unidade e movimento de todas as esferas. Tem às ordens miríades de súditos do mundo “Yetzirático”.
Não é necessário demonstrar o absurdo e arbitrário desta doutrina.





3 – O mundo da formação.


Do Metatrono descende o mundo “Yetzirático”, ou seja, da formação, cujos Sephiroth então mais afastados do Ensoph que os do mundo briático e são, portanto, menos luminosos.
Sem embargo, ainda estão libertos da matéria. Esta é a moradia dos anjos, envolvidos em vestimentas luminosas, que se tornam visíveis quando se mostram aos homens.
Há miríades destes anjos, divididos em dez categorias, indubitavelmente em honra dos Sephiroth. Cada um destes anjos está destinado a uma parte do universo, de onde toma seu nome (1).


(1) A. Franck: op. cit., pág. 42.


Como somente podemos dispor da obra de Mr. A. Franck, nos é impossível garantir a exatidão da enumeração e coordenação das dez categorias de anjos subalternos às ordens do Metatrono, que apresentamos em nossa lâmina A. Com toda classe de reservas, consideramos como mais verossímil esta ordem:
O Metatrono tem a função de representar no mundo dos espíritos, ao Ensoph.
Uriel, anjo da luz, e Nuriel, anjo do fogo, aos Sephiroth da Sabedoria e da Inteligência.
Rachmiel, anjo da Misericórdia, a Sephirah da Graça ou Misericórdia.
Zadkiel, da Justiça, a Sephirah Justiça.
Nogah, anjo do planeta Vênus, a Sephirah da Beleza.
Meodim, anjo do planeta Marte, a Triunfo.
Tahariel, do Deslumbramento, a Base ou Fundamento.
Padael, da Pureza, a Glória.
Raciel, dos Segredos e “Yotsem haschammain”, a substância do céu, parecem representar as Sephiroth “Kether” e “Malkhuth”, Coroa e Reino.
Convidamos os especialistas a corrigir esta hipótese, se for o caso.


4 – O mundo da fabricação.


Deste mundo da formação emanou enfim, o mundo da fabricação, ou “mundo material fabricado”, cujos Sephiroth estão compostos com os elementos mais grosseiros dos mundos precedentes e consistem numa substância material, limitada pelo espaço e perceptível aos sentidos numa multiplicidade de formas. Este mundo está sujeito a mudanças e corrupções contínuas.
Advertimos aqui que esta doutrina é uma corrupção do Salmo CIII, ver versículo 6. Nesta passagem David disse: “Fundastes a terra sobre sua estabilidade”. A palavra hebraica que equivale a “fundar” é “iasad”, de onde vem o nome de “Iesod” que como vimos anteriormente corresponde à nona Sephirah, Fundamento ou Base.
A filosofia judaica considera, portanto, o mundo material como uma produção natural do Ser divino, como uma procriação de seus elementos mais grosseiros, engendrados pela união do Rei Santo com a Matrona, que servirá de modelo para a criação dos corpos dos homens e dos animais. Os kabalistas foram suficientemente desavergonhados para atribuir a sua divindade tamanha animalidade. Mas tamanho descaramento era indispensável para sustentar essa monstruosa doutrina que faz emanar a matéria da própria substância divina. E: como desceu esta substância divina do Ensoph para chegar até a base?
Supondo-se que o Ensoph era demasiadamente puro e luminoso para poder conter em si um germe qualquer de matéria, e, portanto de corrupção, e levando em conta por outro lado a criação “ex-nihilo” é considerada como impossível por esta filosofia da judiaria, era necessária uma explicação da origem da matéria, explicação que a Kabala oferece com estas palavras:
“Do Espírito sai uma ‘voz’, que se identifica com ele no pensamento supremo. Esta voz não é outra coisa no fundo, que a água, o ar, o Oriente, o Sul e o Oeste, e todas as forças da Natureza; mas todos os elementos e todas as forças da natureza se confundem nesta ‘voz’ que sai do Espírito”. (1)


(1) A. Franck: Idem, ibidem, pág. 160.


Posto que esta “voz” sai da “Causa das causas” chamada também “Ayin Kadmon” (o Não Ser primitivo), então é certo que em “tal sentido” o mundo foi produzido do nada! Os kabalistas não percebem isto?
Evidentemente se a pura luz do Ensoph e a Coroa podem mudar-se numa voz material ou produzi-la, e se tal voz não é outra coisa que a matéria pode-se provar facilmente que a matéria é extraída da substância divina. O que já nos parece mais difícil é conseguir que aqueles homens que gostam de empregar seu intelecto para pensar possam chegar acreditar que todas estas metamorfoses da luz divina em voz, desta voz divina em água, em fogo, em ar, et cetera; sejam deduções filosóficas de pensadores que se considerem sérios, e não fantasmagorias e charlatanices para enganar bobalhões.
Este é o “alimento intelectual” de que se nutrem os assim denominados livrepensadores, panteístas e maçons. Os quais se recusam a considerar seriamente os dogmas da Igreja; mas engolem sem pestanejar todos os disparates da filosofia kabalística da judiaria.
Nossa lâmina A apresenta o “mundo da fabricação”, que não requer mais nenhuma explicação uma vez que está implicitamente contido no mundo da criação.



5 – Os quatro mundos do kabalismo nos emblemas maçônicos.


Será que os “Grandes Mestres Arquitetos” do grau doze compreendem efetivamente o significado dos quatro semicírculos gravados em sua medalha de grau? Acreditarão eles na existência dos Sephiroth, do Metatrono e das dez categorias de anjos? Se não acreditam, por que se disfarçam com tais insígnias?
Que idéias terão os “Príncipes do Tabernáculo”, do grau vinte e quatro, acerca do pequeno globo dourado, arrematado por um duplo triângulo rodeado de raios, que tem no centro a palavra Jehovah? Saberão que isto significa que o “Grande Arquiteto do Universo” teria fabricado o mundo diante a união do “Rei Santo” com a “Matrona”? Saberão que os raios luminosos do Ensoph se teriam convertido mediante os “amores” destes dois personagens da mitologia judaica, e representados no grau vinte e nove por uma “Cruz de Santo André”, numa “voz” que no fundo, não é senão a matéria de que o ouro também é composto?
Pois então: se o sabem, como podem em sã consciência usar a jóia de seu grau, fazendo com isto profissão de que acreditam em semelhantes sandices pagãs – das quais por sinal, os judeus são os primeiros a descaradamente zombar?
E prosseguindo essa linha de raciocínio: compreenderão igualmente os “Cavaleiros Kadosch”, “Inquisidores Inspetores Comandantes”, e “Sublimes Príncipes do Real Segredo” iniciados respectivamente nos graus trinta, trinta e um e trinta e dois, que segundo a doutrina de sua ordem os quatro mundos devem sua existência à união quádrupla dos princípios sephiróticas masculinos e femininos, sendo representada cada união por uma letra “tau” grega (*) e que as quatro “tau” situadas ao redor do “ponto místico” formam uma Cruz teutônica?


(*) N. do Trad. Bras. – Desde há tempos que numerosos sacerdotes e seminaristas, em especial da Ordem Franciscana, usam o “Tau” ao pescoço como se fosse a Cruz de Cristo. Dentro deste contexto, o que se pode pensar disto?


E se o ignoram nem por isso deixam de usar esta cruz, bordada em seus cordões ou na lapela de seus aventais maçônicos, ou como uma jóia dourada. Por isso se constituem em continuadores do imundo culto do “Phallus” praticado na antiguidade pelos povos pagãos corrompidos. A judiaria kabalista lhes ensinou assim e eles obedecem cegamente. A obediência cega é a maior virtude maçônica. É preciso demonstrar uma obediência total e incondicional... Inclusive além do grau trinta e três!






Capítulo Sexto
O HOMEM TERRESTRE


1 – O Homem kabalístico, emanação dos Sephiroth.


Segundo a doutrina kabalística o homem terrestre é uma emanação do homem celeste (1).


(1) Ver lâmina B.


A alma se compõe de três elementos: primeiro, um espírito (nischmah), emanação do trio intelectual do homem primordial; segundo, uma alma (ruakh) emanação do trio moral e terceiro, um espírito vital (nephesch) emanação do trio físico. O corpo humano se compõe de dois elementos: primeiro por sua “forma modelo”, chamada pelos kabalistas modernos o “princípio fundamental individual” e pelos necrômanos atuais o “perespírito”, que desce com a alma quando tem lugar sua encarnação e constitui o princípio individual (2) e segundo – pela parte material.


(2) A. Franck: “La Kabbale”, pág. 176.


No corpo residem o espírito vital e as forças interiores. As veias, a ossatura e a carne formam a parte material do mesmo e a pele, que é como o firmamento que cobre tudo ao modo de túnica (3).


(3) Idem, págs. 173 – 191.


O espírito ilumina a alma; a alma impõe sua lei ao espírito vital e este age sobre o corpo. Durante o sono a alma sobe ao céu para dar conta de sua jornada.
A “forma modelo” do corpo que desce com o espírito a este mundo para incorporar-se a um corpo preparado pela geração humana volta a subir com o espírito do céu, onde a “Matrona” o apresenta ao “Rei Santo”. Se o espírito não é digno de retornar à divindade que se vê forçado a transmigrar o outro corpo, seja humano ou animal, para sofrer uma nova prova e assim sucessivamente, até que fique completamente purificado.
Finalmente, entre os diferentes graus da existência além túmulo, que se chama também “os sete tabernáculos” existe um conhecido com o nome de “Santo dos Santos” onde todas as almas se reúnem com a alma suprema para se completarem umas às outras. Tudo volta lá à unidade e à perfeição; tudo se confunde num só pensamento, que se estende sobre o universo e o preenche por inteiro... “Em tal estado”, a criatura “não pode distinguir-se do Criador”; o mesmo pensamento os ilumina, os anima a mesma vontade. A alma manda no universo da mesma forma que Deus, e o que ela ordena, Deus executa (1).


(1) Idem ibidem. Pág. 189.


2 – Deificação do homem na maçonaria.


A doutrina kabalística sobre a natureza humana não é apenas representada por emblemas, mas a encontramos sem véus de nenhuma espécie em seus ensinamentos.
“Eis aqui o conjunto de ensinamentos dos chefes supremos da maçonaria (...) Reconhecer a existência de uma Causa Primeira do homem da qual este e toda a Criação são simplesmente efeitos, e da qual a alma humana é uma faísca, como ela imortal. Os trabalhos do quinto grau – Mestre Perfeito – têm por meta demonstrar que o homem, ser finito, não poderia arrancar à natureza seus segredos mais recônditos, nem criar as ciências nem as artes se sua inteligência não fosse uma emanação direta da Causa Primeira”.
Este é o ensinamento primordial que o “Grande Ministro de Estado” ou “Orador do Conselho Supremo” dá ao que está recebendo o grau trinta e três (2).


(2) P. Rosen: op. cit., págs. 253 e 293.




3 – Apreciação da deificação do homem.


Observemos que o ensinamento do “Grande Ministro” é pouco filosófico pois em primeiro lugar, toda emanação direta do Ser infinito e por conseguinte indivisível, não pode ser mais que uma emanação igualmente infinita no interior de sua substância, e portanto unicamente uma relação subsistente da substância infinita. Uma emanação ao exterior de tal substância implica num limite, numa divisibilidade, numa composição de que o Ser infinito não pode ser capaz, como todos sabemos.
Em segundo lugar, a razão apresentada para provar que o intelecto humano é uma emanação direta de Deus é fútil por todos os aspectos, pois não é verdade que para compreender os segredos da natureza ou criar as ciências e as artes, a inteligência humana tenha de ser “necessariamente emanação direta” de Deus.
Uma inteligência criada por Deus, posta em existência por sua onipotência divina é por sua própria natureza portadora de uma luz “criada”, capaz de penetrar os acidentes das coisas até sua substância, está dotada de um “olho intelectual” capaz de ver o que a luz racional lhe põe em evidência. Este processo psicológico que se chama entender e compreender, não requer mais que duas faculdades criadas – a luz e a visão, intelectuais.
Em terceiro lugar, se a inteligência humana fosse uma emanação direta de Deus seria como que o próprio Deus, ou seja, omnisapiente, e incapaz de se enganar, o que não ocorre na realidade.
Deveremos chamar esta doutrina perversa a deificação do homem ou o antropomorfismo de Deus? Os kabalistas formaram sua divindade segundo a natureza humana, desprezando a doutrina da Bíblia, que nos ensina que o homem foi formado à imagem e semelhança de Deus.
É definição comum a todos os filósofos que o fim de toda filosofia é satisfazer o espírito humano no que toca a estas grandes perguntas: que é o homem? Quais são sua origem e seu fim? Qual é a natureza do mundo? Que é Deus?
Uma filosofia que apresenta respostas satisfatórias a estas perguntas, sem ofender as primeiras verdades racionais, e evidentes por si mesmas, sem se contradizer e sem se fundar em hipóteses gratuitas é uma filosofia sã e certa, digna de ser adotada por qualquer homem que seja inteligente.
A filosofia kabalística decididamente não cumpre estas condições no referente a sua doutrina sobre a divindade.
E tampouco ela é afortunada no concernente a explicar o que é o homem. A tripla partição da alma é um erro, demasiado freqüentemente refutado para que nos continuemos ocupando dela. A tripla fonte destas três potências, procurado nos três trios do Homem Arquétipo, é uma hipótese carente de fundamento.
A divindade da inteligência humana, devido a sua origem substancial da Sabedoria divina, pois, com a divindade nesta parte de nossa alma, nos garante ao mesmo tempo sua eternidade, sua onisciência e todos os demais atributos divinos, inseparáveis da substância divina.
Não há nem o que falar de faíscas procedentes do Infinito. O infinito não é um fogo limitado do qual possam saltar faíscas. Este brotar de centelhas de um mar ilimitado de fogo, e sua absorção final ou recaída no forno ilimitado da divindade são puras fantasias. Nossas almas não são fogo, nem faíscas; nem Deus é fogo ou mar. A imagem empregada para fazer adotar esta falsa doutrina não é uma dedução lógica nem um argumento filosófico.
Igualmente, a confusão final das almas voltadas a seu seio seria infinita, o que por si constitui novo absurdo. A divinização da inteligência humana é o cúmulo do orgulho, e o submetê-la à má vontade e ao erro é um insulto à divindade.
Enfim, toda doutrina sobre a origem e destino do homem deve conduzir inevitavelmente a uma desmoralização do gênero humano e à perda eterna. Das almas. A filosofia da Kabala judaica é falsa em todos os aspectos intelectuais e colossalmente má e desastrosa em todos os aspectos morais.
Calcada sobre as linhas essenciais da filosofia persa, lhe é infinitamente inferior no que concerne à moral. O amor à verdade e à pureza, o ódio a Satanás, Ahriman, e a todos os maus espíritos, inscritas em cada uma das páginas do Zend-Avesta, faltam absolutamente a Kabala.
Evidentemente, não foi à finalidade da Kabala iluminar os espíritos de seus adeptos nem aperfeiçoar seus costumes.


4 – Fim prático e político da Kabala.


O espírito da Kabala corresponde por completo a seu primeiro princípio, Kether – Malkhuth, e ao fim do Thalmud babilônico. A Kabala é a dogmática dos judeus heterodoxos, e o Thalmud seu direito canônico. O Thalmud e a Kabala são filhos gêmeos do espírito político da judiaria, considerada como um povo à parte, mesclado em todas as nações do mundo, sem se fundir com nenhuma delas; é a direção suprema deste povo estranho, tal como hoje o conhece o mundo civilizado.
Como explicar filosoficamente o Kether – Malkhuth, a Coroa Real que, desdobrada em Coroa e Reino abraça os outros Sephiroth, como primeiro e último deles? Nem o reino nem a coroa são atributos divinos.
Será realmente a Kabala, uma Kabala judaica? É ensinada e propagada secretamente com o fim de colocar a Coroa sobre a cabeça do judeu e o Reino do Universo sob seus pés? Escreveu-se com este objetivo na Kabala que “a Coroa, o Kether, é o princípio dos princípios, com que se adornam todos os diademas e se formam todas as coroas?”.
O fim da maçonaria é o domínio universal, e a maçonaria é uma instituição judaica.
Não se terá estabelecido a Maçonaria, imbuída do espírito judaico, para ser instrumento deste povo?
Se não é assim, então que se nos explique com melhores razões e argumentos filosóficos que os da Kabala a presença do Kether – Malkhuth, desse “diadema real” que resplandecia sobre a cabeça da judia Esther e de seu tio Mordechai.
O ideal “glorioso” que parece ter inspirado a filosofia da Kabala é o de ocupar o lugar que os judeus ocuparam no reino de Dario, filho de Hysdape. E se o judeu Mordechai, ornado com o Kether – Malkhuth, recebendo a homenagem de todo povo persa é um personagem típico da história dos judeus de todos os tempos, isso arroja uma luz deslumbrante sobre a Kabala e a Maçonaria, sobre sua importância etnopolítica. O “Homem Arquétipo”, o homem por excelência, o modelo de todos os homens é o judeu!


5 – O judeu, Homem por excelência.


Carlille, alta autoridade maçônica, dá a seguinte definição do nome do judeu. “O sentido original do nome e da distinção do judeu era o de um homem sábio e perfeito por devoção à ciência. A palavra tem a mesma significação que Jehovah: literalmente equivale a ‘Deus do Homem’, Espírito Santo ou Espírito inspirado do homem” (1).


(1) Carlille: op. cit., pág. 177.


O “Homem Verdadeiro” ou perfeito, será um vocábulo idêntico ao de judeu? O grau décimo primeiro do Rito de Perfeição e do Rito levado à América pelo judeu Stephen Morin não tinha ainda o título de “Sublime ou Ilustre Cavaleiro Eleito” mas o de “Eleito Ilustre, Chefe das Doze Tribos”. Pois bem, a tribo de Judah estava à cabeça das doze tribos; o “Homem Perfeito” é, portanto, o judeu. A definição de Richard Carlille é maçonicamente ortodoxa.










Capítulo Sétimo
ORIGEM PSICOLÓGICA DA KABALA


1 – O melhor mundo possível.


Qual será então a origem deste orgulho desenfreado que conduz os judeus a considerarem a si mesmos “a Humanidade” e a cada um deles um “homem verdadeiro”, acima de qualquer outra criatura humana? Sobre isto não nos resta nenhuma dúvida: é o mistério do orgulho, do Anjo Caído repetido neste povo.
É difícil levar a compreensão deste mistério aos que não têm idéia alguma do destino que Deus havia dado às criaturas, tanto angélicas como humanas.
Se os incrédulos não admitem o que vamos dizer, acharão pelo menos uma explicação clara, coerente e inteligível da fonte mais íntima desse fenômeno extraordinário que o judeu representa na história universal, assim como dos segredos mais profundos da maçonaria.
A sabedoria divina, que quis criar o melhor mundo possível fez um mundo de seres inteligentes, capazes de compreender sua divina Majestade, de amar sua Bondade infinita e de gozar com Ele sua eterna Beatitude. Pois bem, gozar de um bem “não merecido”. O mérito tem um valor moral que não possui a fortuna.
Era, portanto, melhor aos seres inteligentes o possuir um livre arbítrio, a fim de poderem merecer a felicidade celeste.
Resulta disso que o livre arbítrio implica na possibilidade da prevaricação e, por conseguinte do mal moral, do pecado. Contudo, valia mais permitir também o mal que negar o livre arbítrio aos seres inteligentes. Ao tornar o pecado possível Deus não o criou; o pecado é sempre obra da criatura que abusa do livre arbítrio que lhe foi outorgado.
Mas, sendo infinita a glória de Deus, e não podendo, portanto, ser representada por nenhum ser criado, cuja inteligência não há de ser necessariamente limitada, estes seres inteligentes não podiam constituir um mundo absolutamente perfeito, nem o melhor mundo possível. A melhor criatura possível é, segundo sua natureza, intrinsecamente impossível.
A divina Sabedoria soube salvar esta distância estendendo uma ponte sobre o abismo, necessariamente existente, entre o Criador e a criatura. Este vínculo que une o Infinito com o finito é a graça santificadora, ou seja, “a Caridade de Deus introduzida em nossos corações pelo Espírito Santo que nos foi dado” (1).


(1) Rom. V, 5.



Pela caridade recebemos o espírito da adoção, no qual exclamamos: Abba, Pai. Efetivamente o próprio Espírito dá testemunho ao nosso espírito de que somos filhos de Deus. “Mas, se somos filhos de Deus, também somos seus herdeiros” (2). Desta adoção de filhos de Deus se segue que é necessário distinguir um duplo fim ou vocação do homem: o fim natural e sobrenatural.


(2) Idem VIII, 15-17.


Não temos em nossa natureza absolutamente nada que nos dê direito à herança do céu; do mesmo modo que um filho do povo não tem direito algum à herança do rei.
É igualmente impossível que por nossas boas ações naturais possamos merecer essa herança divina, pois nenhum ato de valor finito poderia merecer uma recompensa infinita. Pois bem, a Graça santificadora que há em nossos corações, introduzida neles pelo “Espírito que habita em nós” (3), se une moralmente a nossos atos. Mediante tal união dos dois elementos cooperantes, nossas boas ações se revestem de uma dupla natureza, da natureza humana e da divina; por causa da primeira merecemos uma recompensa e pela segunda, o mérito adquire um valor infinito. A glória celeste responde então com toda justiça a este mérito que é simultaneamente humano e divino.


(3) Idem ibidem, 11.


Este é o melhor mundo possível. Diante do valor infinito da graça santificadora toda medida de imperfeição desaparece da natureza humana e o mais íntimo dos homens pode ganhar tanta glória como o mais perfeito dos anjos. Deus não estava obrigado a conceder ao homem o fim sobrenatural que o Céu representa. Ao fazê-lo, nos revelou imensa benevolência que não havíamos merecido em absoluto.
Um rei pode deste modo adotar um de seus súditos, dando-lhe sua descendência e a dignidade dos príncipes, sob a condição de servi-lo lealmente. Nem este súdito nem seus filhos e netos poderiam reclamar com nenhum direito esta dignidade com suas honras e gozos principescos.
A dignidade principesca deste exemplo é o que denominamos a graça divina, pela qual somos filhos e herdeiros de Deus.




2 – As melhores criaturas possíveis e sua queda.


Certamente se o súdito elevado a príncipe, de quem acabamos de falar, se tornasse culpado de um delito de traição para com o rei seu benfeitor, tal rei não agiria injustamente ao aplicar-lhe o castigo que merecesse, expulsando-o do palácio real. Mesmo se os filhos do rebelde não tivessem tomado parte alguma nos crimes do pai, sofreriam as conseqüências dos mesmos e seriam privados com ele, e por causa dele, da dignidade principesca.
Eis aqui explicado o pecado original, que consiste essencialmente em que nascemos sem a graça santificadora original, que deveríamos ter, mas que nosso primeiro pai Adão perdeu para ele e toda a sua descendência. Nada mais justo, portanto que a privação desta graça a que não tínhamos direito. Esta perda significa a privação da herança celeste, a que tampouco temos qualquer direito.


3 – O verdadeiro Homem – Deus, arquétipo dos homens deificados.


O pecado de nossos primeiros pais, cometido em conseqüência de uma tentação satânica, não foi julgado por Deus com o mesmo rigor que o pecado de Satanás. A misericórdia de Deus, tão infinita como a sua justiça, encontrou o meio de salvar o homem, com seu consentimento, e conduzi-lo a seu original destino celeste, satisfazendo ao mesmo tempo o extremo rigor de sua justiça.
Do mesmo modo que nossos atos sobrenaturais, que provém de uma dupla fonte, a vontade humana e a graça divina, são merecedores de uma recompensa de valor infinito; também um sacrifício expiatório, oferecido à divina Pessoa por uma pessoa portadora de dupla natureza, a divina, por toda a Eternidade, e a humana ao assumir por algum tempo um corpo e uma alma humana, era capaz de satisfazer tanto as exigências da justiça como as da misericórdia divina.
Esta é a razão suprema da Encarnação do Filho de Deus; como Homem e Deus ele se oferece ao seu pai em holocausto para resgatar a humanidade perdida.
Como Homem, podia ser representante e substituto do gênero humano ao morrer sobre a cruz; como Deus podia dar a seu sacrifício um valor infinito. De tal modo podia recobrar em nosso nome o paraíso perdido, e restabelecer a intenção misericordiosa de Deus para conosco. Estas verdades, tão simples e ao mesmo tempo tão sublimes e consoladoras, formam a base da Religião Revelada. O Filho de Deus, feito homem e vencedor da morte, é o arquétipo de todos os que Nele crêem: “Por seu sacrifício se converteu para todos aqueles que lhe obedecem em causa de saúde eterna” (1).


(1) Heb. V, 9.


4 – O verdadeiro povo de Deus.


Para introduzir no mundo seu Salvador e para provar sua missão e autoridade divina, a Sabedoria de Deus escolheu um povo e lhe destinou o ser depositário da promessa feita ao gênero humano de enviar-lhe um redentor. Por intermédio deste povo, Deus queria reafirmar e precisar por meio de milagres e novas profecias esta preciosa promessa.
Este povo eleito deveria ter em si mesmo e em seu reino temporal a imagem e a figura do futuro Messias e Rei do povo de Deus, assim como o símbolo, o tipo e antecipação do verdadeiro povo de Deus, reconciliado com seu Criador mediante o sacrifício do Redentor. O futuro Rei e seu Reino, Cristo e sua Igreja, deviam ser concebidos e compreendidos no sentido de um rei e um reino espirituais, pois não podiam ter outra missão e destino na terra do que ser neste mundo o tipo terrestre, o começo temporal e a antecipação mística, mas real, da Realeza e do Reino eterno.
Esta realização final de todas as figuras e profecias se deveriam cumprir no céu, sob o cetro eterno do mesmo Redentor divino, que por Seu preciosíssimo sangue havia adquirido o “Kether – Malkhuth” celeste, sob o qual se regozijará o povo glorioso eleito por Deus.
Neste Reino futuro se deveria cumprir – e se cumprirá – o fim primordial para o qual Deus criou o mundo. Lá existirá por toda a eternidade a melhor criação possível: criaturas inumeráveis, angélicas e humanas, dotadas da inteligência e do livre arbítrio, que conheçam a Deus e vejam “a luz da sua luz” (1).


(1) Sal. XXXV, 10.


Eles contemplam diretamente a essência divina e sua beleza infinita; filhos adotivos de Deus, “porque o verão tal como é” (2) e “cara a cara” (3), amando-o por sua própria vontade e abraçando-o para sempre “estremecidos de uma alegria inenarrável e glorificada” (4).


(2)  I Jo. III, 2.
(3)  I Cor. XIII, 12.
(4)  I Pe. I, 8.




5 – A idéia judaica do povo eleito de Deus.


Enfatizemos aqui o erro capital dos judeus heterodoxos, que não souberam compreender o sentido espiritual de todas as profecias e figuras da Aliança que Deus havia feito com sua nação. Imaginaram que o Rei prometido seria um rei terrestre, com Reino e Coroa deste mundo, e o “Kether – Malkhuth” igual às coroas das nações humanas. O Rei prometido haveria de ser para eles o rei de todas as nações, seu reino deveria estender-se por toda a terra, seu diadema real deveria compreender todos os demais diademas reais, que não seriam senão emanação parcial daquele. Assim é que o judeu seria o dono supremo temporal do universo, e todas as predições de seus profetas se realizariam no sentido “material”.
Se quisermos avaliar a esperança e pretensão deste povo, único na história do gênero humano, leiamos algumas passagens do Antigo Testamento “sob seu ponto de vista”.
Tendo Moisés congregado todo o povo de Israel, lhe disse: “Ouvi, Israelitas (...) sois um povo santo e consagrado ao Senhor, vosso Deus, vosso Senhor, que vos elegeu para que fosseis Seu povo mais querido e particular entre todos os povos da Terra. Não se uniu o Senhor a vós, elegendo-vos como Seu povo, porque ultrapassásseis em número aos demais povos, já que pelo contrário sois em menor número que os demais; mas porque o Senhor vos ama, e mantém o juramento que fez a vossos pais, a vos fazer sair do Egito com Sua mão toda poderosa, resgatando-vos da servidão nas mãos do Faraó, Rei do Egito. Sabeis assim que Deus, vosso Senhor, é o Deus forte e fiel, que mantém sua aliança e sua misericórdia até mil gerações com os que O amam” (1).


(1)  Deut. VII, 6-9.


“Por que tremeram as nações dos goyin? Porque meditaram os povos vãos complôs? Os reis da terra se  sublevaram e os príncipes se aliaram contra o Senhor e contra seu Cristo. Rompamos seus vínculos e arrojemos para longe de nós seu jugo. Pedi e eu vos darei as nações  como herança e por possessões os limites da terra” (2).


(2)  Sal. II.


“Sentai-vos à minha direita até que faça de vossos inimigos o escabelo de vossos pés. O Senhor fará sair de Sion o cetro de vosso poder: dominai em meio de vossos inimigos. O Senhor está à vossa direita e Ele fez em pedaços os reis no dia de sua cólera. Ele julgará em meio às nações. Ele completará sua ruína, esmagando contra a terra as cabeças de grande número deles” (3).


(3) Sal. CIX.


“Levanta-te Jerusalém, recebe a luz, pois eis aqui que tua luz chegou e que a glória do Senhor de levanta sobre ti. Sim; as trevas cobrirão a terra e uma noite sombria envolverá os povos, mas o Senhor se erguerá sobre ti e em meio de ti se verá sua glória deslumbrante. As nações marcharão graças a tua luz, e os reis ao resplendor que sobre ti se erguerá. Levanta os olhos e olha ao teu redor; todos quantos vês congregados vêm a ti; teus olhos verão de muito longe teus filhos e filhas congregando-se a teu lado. Então te verás numa abundância de gozo; teu coração se assombrará e se fundirá de alegria, porque serás cumulada das riquezas do mar, e tudo o que há de grande nas nações virá a ti. Serás inundada por uma multidão de camelos, pelos dromedários de Madian e de Epha. Todos virão de Saba para dar-te ouro e incenso; os filhos dos estrangeiros edificarão tuas muralhas, e seus reis te servirão, porque eu te castiguei com minha cólera, mas tive piedade de ti e me reconciliei contigo. Tuas portas estarão sempre abertas, não se fecharam nem de dia nem de noite para que te sejam trazidas as riquezas das nações e para que se te entreguem seus reis. Porque o povo e o reino que não se te entregar perecerão, e eu farei dessas nações um espantoso deserto (...) Os filhos daqueles que vos desprezaram virão prostrar-se diante de vós, e os que vos humilhavam adorarão os sinais de vossos passos na areia. Vós sorvereis o leite das nações, e vos nutrireis ao peito dos reis (...) Eu te darei ouro em lugar de bronze, prata em vez de ferro, bronze em vez de madeira e ferro em lugar de pedras (...) Todo o teu povo será um povo de justos, e possuirá a terra para sempre, porque será como as vergônteas que eu plantei, e como as obras feitas por minhas mãos, para dar-me glória. Pois eu sou o Senhor, e farei todas estas maravilhas de uma só vez quando chegar o tempo.” (1)


(1) Isaías cap. LX.


Se lemos estas profecias e as entendemos em sentido literal temos a solução do enigma, a explicação dessa atividade febril nos será revelada: O SONHO DOS JUDEUS, que crêem ser o povo destinado por Jehovah a dominar todas as demais nações. As riquezas da terra lhes pertencem, e as coroas dos reis não devem ser senão emanações, dependências do Kether – Malkhuth.



6 – Naturalização pelos judeus do Homem e o povo eleito por Deus.


Em sua cegueira, não vêem nem querem ver os judeus que aos textos citados, e cujo número poderíamos centuplicar, se deve dar uma explicação espiritual. Por exemplo, no primeiro texto citado do segundo salmo há este versículo: “O Senhor me disse: tu és meu filho; eu te engendrei hoje”. Estas palavras são dirigidas ao que é chamado explicitamente o Cristo do Senhor. É, portanto, necessário interpretar o contexto de forma a que se harmonize com este versículo. Pois bem, David não podia dizer, referindo-se a sua própria pessoa, que era o filho do Senhor “engendrado por Ele hoje”. O verbo “jalad” significa precisamente “engendrar” e não criar. O olho profético de David tinha, portanto à vista o futuro Messias que canta em tantos de seus salmos.
Na realidade o Filho de Deus é engendrado por Deus Pai na Eternidade. A palavra “hoje” confirma esta exegese, posto que na eternidade não há passado nem futuro, sendo um “hoje” permanente e perpétuo. A explicação judaica deste texto num sentido natural é incompatível com o contexto do versículo.
Igualmente o outro texto tirado do salmo CIX deve ser interpretado como referido ao futuro Messias e de modo algum ao rei temporal da judiaria. Inclusive o próprio Salvador o comprova, quando pergunta aos judeus: “Como se diz que Cristo é filho de David, quando se expressa assim no Livro dos Salmos: Disse o Senhor a meu Senhor: Senta-te a minha direita até que faça de teus inimigos escabelos de teus pés. Assim, portanto, se David o chama Senhor, como pode ser seu filho?”.
Se os judeus tivessem estudado melhor seus livros sagrados e tivessem prestado fé à divina revelação, teriam compreendido as palavras de seu profeta Isaías: “O próprio Deus virá e vos salvará” (1).


(1) Isaías XXXV, 4.


“Uma Virgem conceberá e dará à luz um menino que será chamado Emmanuel (Deus Conosco); pois um varão nasceu para nós, um filho nos foi dado, e será considerado o Admirável, o Conselheiro, Deus o forte, o Pai do século futuro, o Príncipe da paz” (2).


(2) Idem VII, 14.


“Brotará uma vergôntea do tronco de Josué, e uma flor nascerá de sua raiz e o espírito do Senhor repousará sobre ele” (3).

(3) Idem IX, 6.


Com todos estes textos e infinidade de outros semelhantes os judeus teriam podido e devido chegar à conclusão de que o Messias prometido deveria ser ao mesmo tempo Deus e Homem; como Deus seria o Senhor de David e como homem, seu descendente.
Finalmente, no texto grandioso e imponente que citamos em terceiro lugar há passagens que teriam podido conduzir à conclusão de que as grandes promessas enumeradas pelo profeta se referiam à Jerusalém espiritual, à Santa Igreja do Salvador. Porque disse: “Teus filhos distantes trarão sua prata e se ouro, e os consagrarão ao nome do Senhor teu Deus, e do Santo de Israel que te glorificou”, isto é, ao Messias Jesus Cristo. Todos os que te desprezavam, adorarão os sinais de teus passos na areia, e te chamarão a cidade do Senhor, a Sion do Santo de Israel”.
Da Jerusalém espiritual teriam podido elevar os olhos ainda mais para o alto, para a Jerusalém celeste, porque o profeta acrescenta: “Não tereis o sol para iluminar durante o dia, e a claridade da luz não luzirá durante a noite, mas o Senhor se converterá em vossa luz eterna, e Deus será vossa glória. Vosso sol não se porá, nem vossa lua sofrerá diminuição, porque o Senhor será vosso farol eterno e vossos dias de pranto terão acabado” (1).


(1) Isaías XI, 1-2.


Como se pode ver a judiaria com sua incredulidade, sua ambição e avareza não souberam conhecer o caráter espiritual, sobrenatural e divino do Messias prometido e seu reino. Assim é que o judeu audazmente substitui o Messias por si mesmo e faz de sua nação o “reino de Deus”.
Jesus Cristo, como Deus – Homem, é o modelo e arquétipo dos homens salvos; mas o judeu kabalista considera o Homem Arquétipo como uma emanação de seu “Ensoph” e constitui a si mesmo, com exceção dos demais homens, como emanação direta da Divindade celeste. Nega a divindade do Filho de Deus, o Descendente de David que é Deus e Homem, e afirma a sua própria divindade dizendo com referência a si mesmo, que é o Homem e Deus!
Ao perverter assim toda a revelação divina, o judeu aplica a si supersticiosamente todas as grandes profecias dos profetas sobre Cristo e Sua Igreja.
Consideremos a força imensa que uma idéia revelada, majestosa e arrebatadora, mas falsa e naturalizada, deve ter exercido sobre um povo imbuído dela ao longo de milhares de anos e que se atém à mesma com uma tenacidade e uma obstinação mais que prodigiosas.
E foi assim que com o passar das gerações, cada uma acrescentando seus estudos e comentários ao Thalmud e à Kabala, a idéia do domínio universal se transformou na religião dos judeus, arraigando-se em seu espírito, onde permanece indestrutível e como que petrificada.


7 – A idéia do homem e do povo eleitos na maçonaria.


Já nos é conhecida à tripartição dos trinta e três graus da maçonaria. A doutrina kabalística faz descer a luz desde o alto até o mais ínfimo do universo, por meio de onze figuras em cada um dos seus três mundos. A maçonaria faz subir seus adeptos desde as trevas dos profanos até a cúpula da “luz” maçônica, em três vezes onze graus. A primeira parte de seus mistérios tende a formar o Homem ou Judeu; a segunda o Pontífice e a terceira o Soberano kabalístico.
Na seita se judaízam os profanos, que se tornam pontífices e enfim soberanos. Assim o judeu que o é de raça e nascimento domina todo o universo pela maçonaria, com o “Kether” sobre sua cabeça e o “Malkhuth” a seus pés.
Este é seu porvir. Assim Jehovah o prometeu, e Jehovah é fiel a sua aliança com seu povo eleito. Os homens devem então se converter em eleitos por antecipação.
O último trio dos onze primeiros graus aperfeiçoa o homem, de modo que este se torna um dos “eleitos”; ou seja, membro “honorário” da judiaria. Os graus nove, dez e onze da maçonaria são os do “Eleito dos Nove”, “Eleito dos Quinze” e “Ilustre Cavaleiro Eleito”.
É verdade que esses “eleitos” tem que jurar vingança à morte do Grão Mestre, e tem de se constituir em cavaleiros defensores dos judeus, mas os perigos da vingança não são para eles um preço demasiadamente caro para a “honra” de serem chamados pelos judeus “homem puro, perfeito e eleito”, com eles. Assim tem como privilégio de seu grau o de usar como insígnia um punhal; o “Eleito dos Nove” tem um punhal com folha de prata e montagem dourada; o “Eleito dos Quinze” um punhal de ouro com folha de prata, e o “Cavaleiro Eleito” um punhal ou adaga, com punho de ouro e folha de prata.
Na segunda série de onze graus, encontramos no grau quatorze o “Grão Eleito Perfeito e Maçom Sublime”, chamado também “Grão Escocês da Abóbada Sagrada”. Os contatos deste grau são semelhantes aos do grau onze. O voto feito pelo “Ilustre Cavaleiro Eleito” por sua própria pessoa é repetido pelo “Grão Eleito Perfeito”, pelo povo verdadeiro, isto é, judaizado. Finalmente na terceira série de onze o grau trinta corresponde ao “Grão Eleito Cavaleiro Kadosch”. Entre a judiaria este é o “cavaleiro” por excelência, que jura ódio e vingança contra Reis e Pontífices, pela morte do último Grão Mestre da pervertida Ordem dos Templários, Jacques Bourgignon de Molay.
Esta estranha mescla de uma ordem de Cavalaria já extinta, imbuída de sentimentos de ódio e vingança, com uma hierarquia teosófica, baseada na Kabala, doutrina filosófica da Sinagoga decaída, nos levará mais tarde a considerar o segundo elemento essencial da maçonaria: a Ordem religiosa dos Templários, abolida há muitos séculos.



Capítulo Oitavo
HERMES TRIMEGISTO E A KABALA JUDAICA


1 – Origem judaica da filosofia hermética.


A dogmática da Kabala foi guardada pelos judeus, como a moral do Thalmud, com um zelo e um cuidado que denotam ao mesmo tempo em que uma grande prudência humana, a má fé de uma consciência criminosa. A política da judiaria tem sido sempre a de adaptar-se em sua atitude para com as demais nações, tanto com em sua conduta doméstica, aos princípios e regras contidos em seus livros sagrados. Os quais nunca deram a conhecer aos não judeus, nem aos judeus cuja discrição não estivesse à altura requerida pela imensa importância de um segredo que controlava a segurança e a existência civil de todo um povo.
Colocar o Thalmud e a Kabala ao alcance de todo o mundo seria subtrair aos judeus o segredo de sua força assombrosa entre as nações; e talvez, até essa mesma força.
A influência desses dois como que suportes secretos se fez e se fará sentir sempre que se trate de aumentar as riquezas ou o poder dos judeus; ou de denegrir o que eles consideram como uma seita abominável: a religião de Nosso Senhor Jesus Cristo.
O Egito pareceria ser o primeiro país dotado de uma filosofia supostamente patriótica; mas na realidade derivada da Kabala. O autor principal (para não dizer os autores) dos tratados filosóficos conhecidos com o nome de “Hermes Trimegisto”, ou “Mercúrio três vezes grande”, foi um adepto da Kabala e provavelmente judeu de Alexandria, na opinião de Isaac Casaubon, falecido em 1614. Carecemos de dados históricos para confirmar tal hipótese, mas o conteúdo da filosofia hermética o provará à evidência.
A fraude pela qual este judeu põe suas supostas revelações na boca da antiga divindade egípcia Hermes e de seu filho Thot ou That é demasiadamente grosseira para que deixemos de fazer menção dela.






2 – A Unidade hermética e o Ensoph kabalístico (1).


(1) Ver lâmina G.


Hermes querendo mostrar a seu filho Thot a imagem de Deus, na medida em que é possível representá-la, disse “A Unidade, princípio e raiz de todas as coisas, existe em tudo como princípio e raiz. Não há nada sem princípio, contém todos os números e não é contida em nenhum; ela nos engendra a todos e não é engendrada por nenhum outro” (1).


(1) “Le Cratère ou la monade. IV. Hermes Trimègiste a son fils That, pág. 34.


“Há um Criador e um Dono de todo este Universo. O lugar, o número e a medida não poderiam ser conservados sem um criador. Não poderia haver ordem sem um lugar e uma medida, oh, filho meu! Dá a Deus o nome que melhor lhe quadre, chama-o o Pai de todas as coisas, pois é único, e sua função própria é a de ser Pai e se queres que empregue uma expressão atrevida, te direi que ‘sua essência é engendrar e criar’. E, como nada pode existir sem criador, Ele mesmo não existiria se não criasse sem cessar (...) Ele é o que existe e o que não existe, pois o que existe Ele o manifestou, e o que não existe, está ainda Nele. Não tem corpo, e tem muitos corpos, ou melhor ainda, todos os corpos, pois não há nada que não seja Ele e tudo é Ele. Por isso tem todos os nomes; por isso é o Pai único e por isso mesmo não tem nome e é o Pai de tudo” (2).


(2) “Le Dieu invisible est. V. Trés apparent”. Pág. 37.


“Toda coisa é uma parte de Deus, e Deus é tudo. Ao criar tudo, se cria a si mesmo sem se deter jamais, pois sua atividade não conhece termo e, da mesma forma que Deus não tem limite, sua criação não tem princípio nem fim” (3).


(3) Idem, pág. 291.


Estas citações bastam para demonstrar o sistema panteísta de emanações e a identidade da “Unidade hermética” com o “Ensoph kabalístico”.


3 – O número onze e o Homem primordial na filosofia hermética.


O trio superior emanado da Unidade se chama a Inteligência, o Verbo, o Deus Fogo ou Espírito.
Hermes desde que lhe deixemos o nome de que se apropriou para enganar os egípcios, restabelece a Trindade antiga, que a Kabala teve de perverter para introduzir a Coroa – Kether, sobre a cabeça do judeu. Esta está mais em harmonia com a Bíblia.
“A Inteligência, o Deus varão e fêmea, que é a vida e a luz, engendra por meio da palavra (Logos) outra inteligência criadora, o Deus Fogo e do Espírito (Pneuma) que forma por sua vez Sete Ministros que envolvem em seus círculos o mundo visível e o governam por meio do que se chama o Destino” (1).


(1)  Poimandres, id., pág. 6.


“A Unidade contém racionalmente a Década, e a Década contém a Unidade” (2).


(2) “La reconaissense”, V. Pág. 100.


Aqui temos o número onze da filosofia hermética: a unidade que é a fonte da Trindade divina, Inteligência, Palavra e Espírito, sendo este último ao mesmo tempo o formador dos Sete Ministros.


4 – Apreciação da filosofia de Hermes Trimegisto.


Os judeus de Alexandria pareciam ter querido descartar os perigosos “Sephiroth” da Coroa e Reino, introduzidos pelos judeus da Babilônia em seu “Homem Arquétipo”, não por amor à verdade, mas porque assim convinha à direção política do povo judeu.
O sistema hermético restabelece a Santíssima Trindade bíblica, conhecida dos judeus, mas perverte a verdadeira doutrina revelada, estabelecendo uma distinção: a que existe entre a Unidade e a Trindade e ensinando que o Universo emana da substância divina. Esta falsa doutrina lhes bastava para preparar o espírito egípcio para ser dominado intelectualmente pela judiaria, impedindo assim a propagação da doutrina cristã neste país.
Nada prova a existência de uma “doutrina hermética” em tempos anteriores a Cristo. Pelo contrário, a precisão com que aqueles anunciam o mistério da Santíssima Trindade e sua fertilidade ao procriar os diversos mistérios da formidável heresia gnóstica sem provas de que sua origem se deva à grande perspicácia dos judeus, que queriam com tal sistema perverter a doutrina cristã desde seu nascimento, conservando assim a influência judaica no terreno da inteligência. Dando deste modo um passo a mais para a conquista do mundo; ou pelo menos a do então território altamente estratégico, o Egito.
O que a filosofia egípcia foi para o Egito de seu tempo, viriam a ser outros sistemas filosóficos para outros países e outros tempos.


5 – O hermetismo e a maçonaria.


Nós não vemos os mistérios herméticos representados na maçonaria, seja por símbolos, senhas, palavras sagradas ou outros véus de sua doutrina como vimos os mistérios da Kabala, provavelmente, porque o hermetismo era especialmente destinado ao Egito, se adaptava a suas crenças e agradava a suas paixões nacionais.
O “irmão” Ragon (1) acrescenta a filosofia hermética à alquimia, como a Kabala e a magia. Nisto não está equivocado.


(1) “Orthodoxie maçonnique, survie de la maçonnerie occulte et de l’ initiation hermetique”. Ed. Dentu, Paris. 1853.


À pergunta “Qual é o número mais perfeito?” Responde: “O número ‘Dez’ porque contém a Unidade, que fez tudo, e o ‘Zero’, que é símbolo do caos e da matéria, de que tudo saiu; encerra assim em sua figura o criado e o incriado, o começo e o fim, a potência e a força, a vida e o nada”.
“Ordo ad Chao” é a divisa do Conselho Supremo do grau trinta e três. Segue como em tudo o mais o kabalismo.
Paul Rosen (2) disse que a idéia dos graus herméticos e kabalistas do vigésimo segundo ao vigésimo oitavo é a de estabelecer o reino do racionalismo e afirmar a impossibilidade absoluta do milagre. Nossa exposição prova, portanto, que toda maçonaria é baseada sobre as doutrinas kabalísticas e herméticas; que no fundo são uma e a mesma coisa.


(2) P. Rosen - op. cit. Pág. 199.


6 – O autor oculto da doutrina hermética.


Chegamos anteriormente à justa conclusão de que se os judeus enganam o mundo com a Kabala, eles são por sua vez enganados por Satanás, que não procura senão a perda das almas dos mortais para se elevar sobre elas, na busca de sua utopia de se situar acima de Deus. O nome com que seja honrado lhe é indiferente, sempre que seja ele honrado e não o verdadeiro Deus. Na Kabala se faz chamar Kether; na doutrina hermética toma o nome de Inteligência e de “Poimandres” (do grego Pastor dos homens).
Com inconcebível audácia, este arcanjo caído se põe à cabeça de toda esta algaravia filosófica alexandrina. O começo do primeiro livro, chamado “Poimandres”, nos mostra todos os meios de se conduzir de Satanás e a impressão terrível que produz sua aparição na alma daqueles a quem visita em seu êxtase diabólico. Hermes escreve:
“Achava-me em um dia refletindo sobre os seres, meu pensamento subia às alturas inacessíveis e todas as minhas sensações corporais estavam como que adormecidas, como por efeito desse torpor que segue a saciedade, os excessos ou a fadiga. Me pareceu de repente que um ser imenso, sem limites determinados, me chamou por meu nome e disse: Que queres ouvir e ver? Que queres saber e conhecer?”.
“- Quem sois?, lhe perguntei”.
“- Sou o que tu desejas e em todas as partes estou contigo”.
“- Desejo – respondi então – ser instruído sobre os seres, compreender sua natureza e conhecer Deus”.
“- Recolhe em teu pensamento tudo o que desejas saber e eu te instruirei”.
“Com estas palavras mudou de aspecto e em seguida me foi todo descoberto e vi um espetáculo indefinível. Tudo se convertia numa luz suave e agradável que encantava minha vista. Mas de repente, desceram trevas espantosas e horrendas de formas sinuosas; me pareceu que estas trevas se mudavam e não sei que natureza úmida e turva que exalava fumaça, como o fogo, e não sei que som lúgubre. Depois saiu delas um grito inarticulado, que parecia ‘a voz da luz’. Uma ‘palavra santa’ desceu da luz para a natureza e um ‘fogo puro’ ergueu-se da natureza úmida rumo às alturas; era sutil, penetrante, e ao mesmo tempo ativo”.
“E o ar por sua ligeireza seguia o fluido da terra e da água, se elevava até o fogo de onde parecia suspender-se. A terra e a água se mesclavam, sem que se pudesse ver uma através da outra, e recebiam o impulso da palavra que se ouvia sair do fluido superior”.
“- Compreendeste – me disse o ‘Poimandres’ – o que significa esta visão?”.
“- Se me explicardes, compreenderei – lhe respondi”.
“- Esta ‘luz’ – me explicou – sou eu, a ‘Inteligência, teu Deus’, que precede a natureza úmida saída das trevas. A palavra luminosa (o Verbo) que emana da Inteligência é o filho de Deus”.
“- Que quereis dizer? – repliquei”.
“- Aprende-o – me disse. O que em ti vê e ouve é o Verbo, a palavra do Senhor; a ‘Inteligência é Deus Pai’. Não se podem separar um do outro, porque sua união é sua vida”.
“- Vos agradeço – respondi”.
“- Compreende então a luz – me disse – e conhece-a”.
“- Com estas palavras, permaneceu longo tempo me olhando o rosto e eu tremi diante de seu aspecto”.
Não se pode deixar de reconhecer neste relato a astúcia diabólica do que arroga o direito ao trono do Altíssimo e pretende ser o princípio do Verbo de Deus.
Psellas, doutor e escritor bizantino, falecido em 1076, disse em sua obra “Da ação dos demônios” em relação a este “Poimandres”que se faz passar por Deus Pai: “Este feiticeiro parecia conhecer bem as Escrituras Sagradas, pois delas partir para expor a criação do mundo. Inclusive não se privou de copiar algumas expressões de Moisés, como nesta frase: “Crescei, aumentai e multiplicai-vos em multidão”; que certamente tomou do texto mosaico.
“Não é difícil perceber quem é este ‘Poimendres’; é aquele a quem chamamos ‘Príncipe deste mundo’, ou um dos seus; pois como disse São Basílio, o diabo é ladrão e rouba nossas tradições, não para limpar as suas de impiedade, mas para colorir e embelezar sua falsa piedade com palavras e pensamentos verdadeiros e torná-la assim verossímil e aceitável para a grande massa”.
O mesmo estratagema é praticado pela maçonaria. As palavras verdade, liberdade, igualdade, fraternidade, pátria, prática do bem e etc, tem muito distinto significado na boca de um maçom do que na boca de um profano, ou num dicionário.
Pio IX disse com grande razão: “É preciso dar às palavras seu verdadeiro significado”.


7 – A deificação do homem, meta da gnose hermética.


O fim a que tendem todos os esforços de Satanás é arrastar o homem ao abismo eterno, sempre por meio do orgulho, avareza ou luxúria, sempre propondo ao homem torná-lo semelhante ao Altíssimo. A alma humana segundo Hermes, de origem divina, encarnada por algum tempo, deve voltar à luz divina pela Gnose, conhecimento ou ciência.
Já que desce por meio dos “sete ministros” ou “sete princípios da harmonia” ou “sete governadores do mundo”, por meio deles deve também se elevar.
“Oh, inteligência – diz Hermes – ilumina-me sobre o modo em que a ascensão se verifica. Primeiro, disse ‘Poimandres’, a dissolução do corpo material deixa os elementos em liberdade para a metamorfose; a forma visível desaparece, o caráter perdido sua força se entrega ao demônio; os sentidos regressam a suas fontes respectivas e se confundem com as energias (do mundo). As paixões e os desejos voltam à natureza irracional; o que resta, se eleva através da harmonia abandonando na primeira zona a faculdade de crer e descrer; na segunda a indústria do mal e da enganação se faz impotente; na terceira a ilusão dos desejos; na quarta a vaidade do mando; na quinta a arrogância ímpia e a audácia temerária; na sexta o afã de riquezas e na sétima as mentiras insidiosas. Assim, despojada de todas as obras da harmonia, chega à oitava zona conservando apenas sua própria potência, e canta com os demais seres hinos em honra ao Pai. Os que lá estão se regozijam com sua presença e a alma recém chegada”, semelhante àquelas, ouve a voz melodiosa das potências que estão acima da oitava natureza, cantando louvores a Deus. Então sobem em ordem ao Pai e abandonam suas potências e assim ‘nascem em Deus; tal é a ventura final dos que possuem a Gnose; tornam-se Deus!’”.
Sempre a mesma mentira daquele que a princípio e desde sempre é embusteiro, e quis ser semelhante ao Altíssimo! Não deveriam os maçons refletir e considerar como pode a verdade estar onde se vê a causa da antiga serpente? Haverá consolo mais fraudulento que aquele com que Hermes enfeitiçava seu filho That: “Ignoras que te converteste em Deus e filho do Uno como eu?” (1).


(1) “De la Renaissance”, pág. 101.


E conclui o diálogo mostrando uma vez de onde veio a falsa sabedoria da Gnose: “Aprende de mim, filho meu, a celebrar o silêncio da virtude, sem revelar a ninguém a geração que te transmiti, pois teme que não nos venham a considerar como diabos!” (1).


(1) Idem, pág. 104.


O príncipe das trevas sempre odiou a luz e por isso tapa os olhos de seus adeptos.






Capítulo Nono
A GNOSE E A KABALA


1 – Os números onze e trinta e três na gnose.


Os kabalistas judeus não poderiam permitir ao Cristianismo o estabelecer-se no mundo sem lhe fazer uma guerra encarniçada, como a fizeram ao próprio Jesus Cristo. Esta guerra foi no terreno da doutrina representada pela Gnose.
Para que se possa compreender melhor o sistema mais perfeito da Gnose, inspirado pela Kabala judaica e elaborado pelo heresiarca Valentiniano, acrescentamos a este capítulo um esquema desta doutrina, que fará ressaltar ainda mais a identidade essencial e a diferença acidental que há entre a Kabala propriamente dita e a Gnose, por um lado, e o Cristianismo e a Gnose, por outro; onde se verá que “A Gnose não é mais que o Cristianismo kabalizado” (1).


(1) Ver lâmina H.


Esboçado no princípio por Rhemanus, este esquema foi utilizado por Pamelius em sua edição das obras de Tertuliano em 1616, no livro contra os valentinianos. Aqui lhe demos uma forma um tanto distinta, para facilitar seu reconhecimento aos maçons que o reconhecerão através de suas insígnias.
Em todos os elementos da Kabala judaica se encontra a Gnose. Os números onze e trinta e três, as três esferas, a separação efetuada entre a Divindade e as diversas pessoas, a Trindade, os sete anjos, a revolução no céu e, sobretudo os dois sexos, masculino e feminino, atribuídos aos “éons”, nome gnóstico para os Sephiroth kabalísticos, palavra que quer dizer “seres eternos”.


2 – O “Bythos” gnóstico e o Ensoph kabalístico.


Segundo os gnósticos há no universo camadas distintas, segundo a dignidade dos seres que as habitam. Na altura mais sublime mora “a Profundidade”, nome que de modo algum convém a quem ocupa o lugar mais elevado. O “Bythos” é o Infinito, o Eterno, o Invisível, o Incompreensível, como o Ensoph.
A idéia é a mesma com diferente nome; ou seja, a Kabala em lugar do Cristianismo.
O Gnosticismo, de certa forma mais conseqüente que a Kabala, dá a seu Bythos uma cônjuge. Porque não haveria de fazê-lo, se todos os demais entes gozam das suas? Mas, onde ele a encontraria senão dentro de si mesmo?
Se o Ensoph pode engendrar em si mesmo a Coroa, constituindo-se assim em hermafrodita, também o Bythos pode na mesma qualidade engendrar a Sigeh, o Silêncio, ser feminino. Assim como Bythos, a profundidade, está em contradição com o lugar que ocupa, o mais elevado, “Sigeh”, o Silêncio, o está com seu gênero. Seja como for, Bythos faz de sua filha sua esposa, e esta será a mãe, avó e bisavó, dos “éons celestes”, venerados pelos maçons em suas insígnias.
Este par divino gerou na profundidade do silêncio dois filhos, um varão e uma fêmea. Os gnósticos insistiram sempre em que sua doutrina deve ser guardada “no mais profundo silêncio”. Nisto tanto os gnósticos como sua esposa de maneira perfeita.
Não repetiremos aqui as observações feitas sobre a separação das pessoas divinas e o Infinito. A refutação da doutrina kabalística é também a do gnosticismo.


3 – O “Nous” gnóstico e o “Kether” kabalístico.


O filho de Bythos e de Sigeh se chama “Nous”, o “Espírito Inteligente”.
Este filho é perfeitamente semelhante a seu pai, e seu igual em tudo. Só ele pode compreender a imensa e incompreensível grandeza de seu pai. Da mesma forma que o Kether em relação com o Ensoph kabalístico, e a Inteligência referente à Unidade hermética, o “Nous” é “Pai de Tudo”, pois responde, como demonstramos a Deus Pai, que os verdadeiros israelitas e os cristãos adoram; à primeira pessoa divina, separada da substância divina, chamada aqui “a Profundidade”.
Se na filosofia hermética se substitui o Kether pela Inteligência, a Gnose seguiu Hermes. Os judeus não tinham razões políticas quanto ao Cristianismo nascente, mas seu único impulso residia no ódio religioso; portanto, não tinham nenhum motivo para substituir a primeira pessoa da Trindade, a Coroa, sobre a cabeça do Homem Arquétipo judeu. Eles sabiam de sobra que o Pai engendrou o Filho pela inteligência, com uma geração puramente espiritual e, por conseguinte sem ajuda de um ser feminino, pois bem claramente ensinam esta verdade pela boca de Poimandres.


4 – O Gnosticismo e a Santíssima Trindade.


Em seu ódio contra a Igreja nascente a judiaria se serviu de outro meio diferente dos empregados na Pérsia e Egito. A peçonha herética deveria dissolver a doutrina sobre a Santíssima Trindade e a pessoa de Jesus Cristo. Assim, encontramos Deus Pai no terceiro “éon”, Deus Verbo no quinto e Deus Espírito Santo; mas, quão degradados, dissecados, numa palavra ridículos!
Deus Pai tem o nome de “Nous”, Inteligência, e recebe por mulher “Aletheia”, a Verdade, e com ela engendra ao “Logos”, o Verbo que por sua vez desposa “Zoeh”, a vida. Nous, só, sem intervenção de sua cônjuge, engendra “Christos” = Cristo, e sua cônjuge “Pneuma-Hagion” que vem a ser o Espírito Santo feito mulher. E pensar que os maçons misraimitas julgam que os judeus lhes ensinam a mais sublime das filosofias!
O hermetismo, mesmo com toda a perversidade de sua doutrina, mostra no trio Inteligência, Palavra e Deus do Fogo um pouco de decência, mas a Gnose, suposta “ciência por excelência”, ultraja ao mesmo tempo o bom senso e decência e o pudor.
A Divindade e a Trindade, com suas respectivas companheiras, formam uma “Ogdoada” ou coletividade de oito, representada no grau noventa do Rito de Misraim por um quadrado dentro de uma estrela de quatro pontas.
Por seu lado o Verbo e a Vida engendram a princípio ao “Antropos” e a “Ecclesia”, o Homem e a Igreja, e depois cinco pares de éons, que com suas divinas companheiras elevam o número de oito a trinta. Este número corresponde a Sophia, a Sabedoria, que tem tão grande papel em todos esses sistemas judaicos e nas insígnias maçônicas.


5 – A revolução no céu gnóstico.


A história da estranha sublevação no céu, com a qual a Kabala já nos entreteve, se repete no “Pleroma” dos gnósticos.
Parece que o Inspirador destes dois sistemas filosóficos mentirosos teve sua parte nela.
“Nous”, a Inteligência, único que conhecia seu pai “Bythos”, se sentiu tentado a que os outros “éons” o conhecessem, mas sua mãe “Sigeh”, o Silêncio, o proibiu. Esta mesma dama segundo Tertuliano (1) encarece também a seus queridos heréticos o guardar o mais profundo silêncio.


(1) Adversum Valentinianos, c. IX.


Não obstante, um grande desejo de conhecer o Pai Supremo empolgou o coração de todos os éons e estava a ponto de estourar uma revolução quando a mais jovem, Sophia, a Sabedoria, levada por sua curiosidade e invejosa de Nous, o único que gozava do Pai, saiu de seu lugar, sem “Teletos” o Perfeito, seu marido, e tentou se aprofundar na “Profundidade”.
Mas havia tentado o impossível e estava a ponto de desvanecer-se quando “Hórus” interveio para acalmar e repor em seu lugar. Este Hórus, o Limite, é um ser maravilhoso. Formado pelo mesmo Bythos, se encontra fora do Pleroma, Céu superior, ou o Olimpo dos gnósticos.
O “termo do Infinito” é um absurdo. Mas deixemos de lado as reflexões mais sérias que não cabem aqui.
“Sophia”, voltou à razão graças à intervenção de Hórus e se arrependeu de se ter deixado dominar pela paixão e foi restituída ao seu marido. Mas em razão desta paixão a pobre “Sophia” havia concebido um ser informe e abominável, que Hórus teve todo o cuidado em deixar fora do Pleroma, que ele infectaria, pondo-o no “Kénoma”, esterqueira do Pleroma; este ser é a “Matéria Informe”, pois o princípio masculino não havia contribuído para sua geração.
Não há por que o assombrar-se de que esta “Sabedoria” fosse uma mulher – homem, uma “aphrodithermes”, já que seu bisavô era um homem – mulher, um hermafrodita que havia engendrado “Sigeh”, sua filha e esposa.
Notemos que toda esta tragicomédia foi inventada, como o magnésio maçônico, para cegar a razão humana a fim de que não perceba o salto mortal do Infinito para o finito, dado por um aborto do seio da divina “Sabedoria”.
Restabelecida a calma no Pleroma, Nous se apressou a procriar outra “Syzigia” ou par de éons, para impedir uma repetição da revolução tão felizmente dominada. Este par é, como dissemos, o “Christos” e o “Pneuma-Hagion”, Cristo e Espírito Santo respectivamente.
Aqui temos na verdade uma das mais atrozes blasfêmias. Se o Pneuma-Hagion é do gênero feminino, e companheira do Christos, o pensamento é detestável; se for do gênero masculino é duas vezes mais horrível.
O trabalho destes dois éons consistia em apazigar e instruir os onze pares de éons, ignorantes e sediciosos. Assim chegamos já aos trinta e dois éons. Falta-nos ainda um para chegar ao sistema gnóstico – kabalístico.
Os éons, satisfeitos com a instrução recebida por meio de Christos e o Pneuma-Hagion se uniram para dar a Nous uma mostra de sua gratidão, e resolveram formar o “éon” perfeito, dando-lhe cada qual o que de mais precioso tinha. Aqui temos a origem do número trinta e três, último grau, e último éon denominado “Jesus Soter”, Jesus o Salvador.
Jesus é tudo o que são os éons masculinos e igualmente possui tudo o que tem os femininos.
Temos assim aqui também o número kabalístico “onze”, formado pelos oito primeiros éons com os três mais importantes situados ao final, e o número trinta e três, acrescentando-lhes os trinta e dois éons saídos do Verbo e do Homem. A tripartição deste número é tão evidente como a dos trinta e três graus da maçonaria.
Perguntamo-nos sem embargo, quem dentre os maçons que usam as jóias representativas destas “fábulas e genealogias sem termo” (1) crêem hoje em dia nelas. E se não crêem, porque se deixam enganar pelos judeus?


(1) I Tim. I,4.


6 – A Khokhma kabalística e o Akhamoth gnóstico.


O aborto da Sabedoria expulso do Pleroma, recebeu o nome de Akhamoth, as Sabedorias.
Akhamoth, corruptela de “Khakhemoth” em hebraico, é o plural de Khokhma, Sabedoria. A idéia sugerida por este plural é que a Sabedoria infinita se decompõe no finito, como uma linha em seus pontos individuais. As Sabedorias são a prole da Sabedoria.
O segundo ato da tragédia valentiniana é representado fora do Pleroma, no vazio epicurista, supondo-se que haja um vazio no qual Deus não esteja presente. Não se podem contar os erros dos gnósticos, pois não se acabaria nunca.
A exilada Akhamoth se achava desolada, só, fora do Pleroma; não tinha forma nem face; era uma coisa abortiva e defeituosa. Os deuses superiores, movidos de compaixão, impulsionaram o éon Christos a descer com Pneuma-Hagion para dar a Akhamoth uma forma extraída de sua substância, mas não de sua ciência.
E assim se formaram: das paixões que Akhamoth havia herdado de sua sábia mãe, a substância “material”; de sua conversão à substância “espiritual”. Suas lágrimas se converteram nos rios e mares; seu riso ao ver Christos, fez-se luz.
O éon Christos, cansado de sua existência fora do Pleroma, voltou a ele como Pneuma-Hagion e enviou outro paráclito, Jesus Soter, grau trinta e último dos éons, com toda corte de seus anjos satélites, que havia sido formados com ele pelo conjunto dos éons celestes.
Akhamoth admirou a beleza dos anjos, se enamorou deles e engendrou a substância espiritual segundo sua imagem.
Assim temos a origem das três substâncias, material, animal e espiritual nascida das paixões, da conversão e da imaginação do aborto Akhamoth (!).
Nisso podemos reconhecer sem dificuldade os três triângulos do Homem arquétipo da Kabala, o intelectual, o moral e o físico.






7 – O Arquétipo do Universo no gnosticismo.


Tendo formado Akhamoth, com as ajudas mencionadas, as três substâncias fundamentais, preencheu com elas o terceiro círculo chamado o “Sabbathon” ou Setenário, por razão dos sete céus que compreende.
Começou por formar diversas criaturas. A primeira criatura foi aquele a quem os cristãos adoramos como único Criador do Céu e da Terra, chamado por eles o “Demiurgo”. O formou da substância animal, pois era incapaz de formar seres espirituais, já que a espiritualidade não lhe era consubstancial.
Os maçons do quinto grau, “maçons perfeitos”, que ainda crêem em Deus se surpreenderão grandemente ao saber que o Deus a quem rogam se encontra em seu avental, no terceiro e último dos círculos concêntricos no centro dos quais há uma pedra quadrada (o mundo) que tem a letra “J” (Jehovah) (1).


(1)  Sal. XLVIII, 3: “Minha boca dirá as sabedorias”.


O “Grande Arquiteto do Universo”, se tal é nosso Deus, não é senão uma criatura animal, produto de um aborto engendrado pela “Sabedoria” rebelde a seu avô “Nous” (!).
A vós, maçons que ainda são cristãos, pediríamos que estudassem os “mistérios” de vossa sociedade secreta e ficareis aterrorizados ao saber que não são senão um amontoado de infames blasfêmias impostas pela extinta Sinagoga. Até quando permanecereis sujeitos ao jugo desonroso da judiaria perpetuamente revoltada?
Deste “Demiurgo” cego e inconsistente, conduzido por Akhamoth, forma formadas todas as coisas visíveis: do lado direito as coisas animadas; do esquerdo as inanimadas. Por conseguinte é de um lado masculino e do outro feminino, ou seja, mais um hermafrodita, ou “Aphrodithermes” chamado também “Matropater”, mãe – pai e “Rei”. Este “Demiurgo” formou depois o mundo, como representado em nossa lâmina “H” pelo terceiro globo abaixo do “Kénoma”.
Abaixo de seu trono colocou sete “céus” ou anjos. Observemos a repetição, fora do Pleroma do número kabalístico “onze”, Akhamoth, incompreensível como o Bythos, formando as três substâncias elementares e com elas uma “Tétrada” ou quarto do qual emana o “Sabbaton” ou formação de sete elementos que com a Tédrata, constitui o número “onze” do universo.
Não nos servirá para nada acompanhar Valentiniano em suas fábulas absurdas sobre a origem das coisas terrestres que conhecemos. As “Metamorfoses” de Ovídio são muito mais espirituais e interessantes. Digamos apenas que uma das criaturas do Demiurgo é “Diabolos”, o Diabo, em cuja formação entrou uma faísca espiritual que – como já vimos – não teria sido comunicada por Akhamoth a sua criatura, o “Demiurgo – Jehovah”. O diabo se chama “Kosmocrator”, o Príncipe do Mundo. Por sua natureza espiritual é superior a Jehovah. Nova forma na verdade, de tentar ser “semelhante ao Altíssimo!”.
A sociedade dos espiritualistas nos agradecerá provavelmente, já que lhes descobrimos a verdadeira natureza de seu “Deus”, superior ao dos cristãos.
Prosseguindo: a terra que habitamos está situada em meio ao sétimo céu. Cada homem é uma pedrinha, “em bruto” (1) quando ainda é “grosseiro, ignorante e sem instrução” e cúbica, quando já está “polido e civilizado” segundo as idéias maçônicas.


(1) L. Taxil. Vol. I, pág. 421; II, 43.


O corpo do homem por sua vez não é formado da terra que conhecemos, mas de uma espécie de matéria invisível, fluida e capaz de ser fundida e moldada.
Ninguém saberia dizer de onde vem, onde existe e que é este fluido filosófico, fonte do “paraespírito” dos espiritistas modernos (1) a não ser que se admita que provém da pituitária e é uma espécie de subproduto da Sabedoria que os maçons adoram (2).


(1)  “Não há nada de novo debaixo do sol!” – Ecl. I, 10.
(2)   L. Taxil, II, pág. 401.


Omitimos as atrozes blasfêmias que o gnosticismo ensina sobre Nosso Senhor Jesus Cristo e sua Santa Mãe a Virgem Maria. O ódio judaico as acumulou de forma tão brutal, que nos é extremamente repugnante expô-las.
No fim do mundo o corpo do homem, feito de esterco, será aniquilado. Igualmente o serão as almas dos “Koihkoih”, homens “hílicos” de disposição completamente material. As almas dos “psychikoi”, homens “psíquicos”, por natureza de uma disposição animal, subirão ao céu do Demiurgo, se não se converterem à seita secreta dos Gnósticos, que tem todas almas escolhidas. Os “pneumatikoi”, homens espirituais, tem almas inteiramente espirituais e subirão ao Pleroma de Bythos, a Profundidade, onde se converterão em cônjuges dos anjos que ainda não se tiveram casado.
Muito tememos que estas pobres almas iludidas descerão, sim, ao Bythos ou profundezas do Inferno, onde continuarão sendo escravas do Anjo caído. E assim terminará a tragédia.



8 – O Gnosticismo nas insígnias maçônicas.


Seria enfadonho percorrer os noventa graus do Rito de Misraim (egípcio). Baste-nos indicar que o último grau, de “Soberano Grão Mestre Absoluto”, tem como senha “Sophia”, palavra grega que equivale a Sapiência ou Sabedoria. Já vimos o ridículo papel que esta deusa desempenha no Gnosticismo.
Os maçons devem dizer: ditosa incontinência deste “éon” feminino que é a causa de nossa existência! Também o podem dizer os “Grãos Mestres Absolutos” do nonagésimo grau, que tem ainda como senha “Ísis” em lugar de “Sophia” ao que deve ser respondido “Osíris”. Esta alternativa demonstra a identidade essencial do Hermetismo e do Gnosticismo e prova que a maçonaria tem como costume o esconder seus mistérios sob diferentes formas que correspondam à mesma idéia.
O sinal hieroglífico do grau nonagésimo misraímico é um triplo círculo que encerra uma estrela de quatro pontas, que tem no centro um quadrado contendo um “Delta” radiante, com o “Iod” hebraica no centro. Os três círculos representam as três esferas: Pleroma, Kénoma e Sabbaton; a estrela de quatro pontas e o quadro são os símbolos da “Ogdoada” sagrada; o triângulo representa os três últimos cones e a Iod hebraica o Demiurgo – Jehovah, “Grande Arquiteto do Universo”.


9 – Propósito do Gnosticismo.


Observa-se imediatamente que o Gnosticismo não é nada mais que a Kabala disfarçada, adaptada especialmente para um fim: introduzir-se no Cristianismo nascente para destruí-lo.
O desejo mais ardente da judiaria tem sido sempre o de apagar até o último vestígio da “infame heresia do Nazareno”. São Paulo, defendendo-se dos judeus diante do governador romano Félix, disse: “Confesso diante de vós que ao seguir a seita que eles chamam ‘herética’, sirvo a meu Deus e Pai”. (1)


(1) Atos XXIV, 14.


Assim, da mesma forma como seus ancestrais haviam estraçalhado o Corpo de Cristo com seus chicotes ensangüentados, os judeus dos primeiros séculos tentaram fazer em pedaços Sua pessoa e natureza divinas, dividindo-se entre esses seres imaginários aos quais chamam “éons” masculinos e femininos.
Embora não tenham conseguido triunfar nesta obra diabólica, em que pese sua aliança com a heresia, conservam desde sempre uma inaudita tenacidade para atacar o Dogma cristão, criando sempre e sempre novas seitas, filhas mais ou menos diretas da Kabala; e assim acabaram por associar ao veneno de sua doutrina dissolvente a enganação e a violência das paixões humanas, quando a maçonaria foi criada, sendo como é a aliança da Sinagoga extinta com uma Ordem religioso-cavalheiresca decaída.
Assim foi que ao ódio da judiaria e ao de Satanás se uniu o do apóstata. “Um triplo laço muito dificilmente se rompe” (2).


(2) Ecl. I, 12.


O Inferno, a Sinagoga e a Apostasia: aqui temos os inimigos coligados contra o Senhor Deus e seu Cristo, ao cabo de séculos e séculos de história do mundo.



Capítulo Décimo
OS OFITAS E A KABALA JUDAICA


1 – Origem judaica da seita dos ofitas (1).


(1) Ver lâmina I.


A doutrina dos ofitas, os adoradores da serpente, é como o gnosticismo, filha da Kabala judaica.
Os judeus da Kabala, apóstatas da verdadeira doutrina revelada, haviam-se rebelado logicamente contra Jahvéh, submetendo-se ao jugo de Lúcifer, o inimigo de Deus. Não querendo mais adorar a Deus começaram a adorar Satanás, seguindo o exemplo dos demais povos idólatras de seu tempo.
O espírito humano, uma vez extraviado, sempre tenta explicar as verdades que conhece segundo as exigências e conveniências de sua idéia preconcebida ou segundo os desejos de suas paixões. É raro sem embargo que tenha chegado a dar a Lúcifer o nome de Deus e a Deus o de Lúcifer, sem ruborizar-se.
Este caso se dá entre outros, na seita dos ofitas, precursores dos maçons, adoradores de Lúcifer sob a forma de serpente. Além do número mágico de “onze”, as palavras hebraicas Akhamoth, as Sabedorias, e de Jaldabaot, como chefe da milícia celeste, demonstram suficientemente a origem judaica desta seita, que naturalmente não era mais que um derivativo dos princípios judaico-gnósticos, destinados aos sectários mais ousados; como em nossos tempos a “Maçonaria Florestal” e a “Ordem dos Juízes”, e a dos “Filósofos e Grandes Comandantes Desconhecidos” (1) que são reputados como os mais ardentes e “avançados” entre os “Mestres” e os “Kadosch”.


(1) L. Taxil: “Le Culte du Grand Architecte”, págs. 211 e 233.


2 – O número trinta e três na doutrina dos ofitas.


O primeiro princípio, o Ser supremo de que tudo deriva é como para os valentinianos o Bythos, a Profundidade a quem chamam também com Zoroastro, a Kabala, o Hermetismo e os Gnósticos, a “Fonte da Luz”.
Do (I) Bythos emana (II) Ennoia, o Pensamento, e do pensamento (III) Pneuma, o Espírito, princípio feminino, “mãe” de toda vida e “luz do alto” (1). A este último princípio está subordinado outro princípio eterno (IV), Hylé, a Matéria; que se decompõe em (V) Água; (VI) Trevas; (VII) Abismo; e (VIII) Caos.


(1) Wetzer et Welte: “Encyclopédie”, verbete “Ophites”.


Os dois primeiros seres, arrebatados pela beleza da Sabedoria eterna – Sophia, se uniram a ela, fecundaram-se com a luz divina e deram à luz a dois novos seres: um varão e perfeito (IX) o Christo divino o qual engendra (X) a Santa Igreja, e o outro fêmea e imperfeito, (XI) “Sophia Akhamoth prouneikos”, a Sabedoria das sabedorias que precede o antagonismo (2). Imperfeita porque ela não recebeu mais que a porção que sobrava do orvalho da luz – “ikmas tou photos” – pelo que é um germe imperfeito da vida eterna.


(2) Antagonismo entre o Bem e o Mal.


O “Pneuma”, sabedoria do alto, deveria realizar a idéia criadora no mundo celeste; e Akhamoth, sabedoria que precede a luta, na esfera terrestre. Enquanto que o “Christo”, semelhantemente a sua mãe “Pneuma”, se eleva até a luz primordial e forma com os primeiros princípios “Ennoia” e “Hylé” a Santa Igreja, protótipo da Igreja dos Pneumáticos; “Sophia Akhamoth” põe em movimento o Caos que projetou livre pela primeira vez, sobre a água. Assim atrai toda a matéria, se obscurece com tal visão e, arrancada ao reino da luz, perde a consciência de sua elevada origem e do reino de onde saiu.
Outra vez se reproduz o Ensoph da Kabala com os dez Sephiroth. O Bythos representa a divina natureza inefável; Ennoia o Deus Pai; Christo, o filho e Pneuma o Espírito Santo. Os sete anjos que estão diante do trono do Senhor se convertem na Igreja celeste, a Sabedoria imperfeita, a Matéria e suas quatro divisões como visto logo acima. A aberração é sempre crescente!
Sigamos agora os ofitas ao segundo de seus mundos, “o ar do centro” segundo os Vedas, em que se reproduz o número onze. Sophia Akhamoth, que conservou em sua queda um fundo de luz divina, olvidou em sua decadência tudo o que lhe era superior e imaginou que era a Potência suprema. Para exercer sua virtude criadora engendrou (I) o Demiurgo Jaldabaoth – Jal, chefe supremo de “Zabaoth”, a milícia celeste. Este seria o Deus dos judeus, o Jehovah da Bíblia.
Este Demiurgo é uma natureza perversa e dominadora, e desejou separar-se de tudo quanto lhe era superior, tornar-se independente de sua mão “Akhamoth” e fazer-se passar pelo Deus supremo. Para este fim criou um anjo à sua imagem e semelhança, e este criou outro e assim sucessivamente, até se completar o número de seis (I mais VI = VII), ou seja, os “Os Sete Príncipes dos Planetas”. Estes por sua vez criaram o homem (IX), massa informe espojando-se sobre a terra, a quem “Jaldabaoth” comunicou a alma. Para isto foi usado um raio de luz que por disposição secreta de sua mãe, Akhamoth, se transmitiu de seu ser para a natureza do homem.
O homem atraiu a si toda a luz da criação e muito prontamente apresentou não a imagem de seu criador Jaldabaoth, mas a do Deus supremo.
Diante disto o Demiurgo lançou terríveis olhares para o próprio fundo da matéria, onde se refletiu sua imagem e de onde nasceu um ser cheio de ódio, de maldade e de inveja (X), Satanás, “Ophiomorfos”, ou seja, sob forma de serpente ou o pérfido “Nos”, semelhante ao Ahriman persa. O Demiurgo, ainda sob o efeito da cólera, produziu também (XI) a “mulher” e as demais existências terrestres com o objetivo de manter o homem cativo nesta esfera grosseira e ínfima. Também proibiu, a fim de arrancar-lhe a Sabedoria, a Akhamoth, toda a outra relação com o mundo superior, o comer da árvore da ciência (*). Mas a Sabedoria enviou em seu socorro (XII) o gênio Ophis, a serpente, que persuadiu o homem a comer do fruto da citada árvore. Assim o homem chegou ao conhecimento de sua origem e de seu alto destino.


(*) N. do Trad. Bras. – Sic. A frase anterior foi traduzida ao pé da letra; entenda-a quem puder.


Vejamos agora a terceira parte do drama dos ofitas.
O primeiro par humano foi então expulso por “Jaldabaoth” da região etéria do paraíso, onde viviam os corpos etérios para a terra tenebrosa, encerrados em corpos opacos e terrestres. Durante esse tempo a Sabedoria divina havia retirado a semente divina de luz do Demiurgo e havia distribuído seus raios aos homens (1). O Espírito “Ophis” por sua vez havia caído com o homem e se havia materializado em sua queda, tomando a forma de um Satanás em miniatura, uma cópia reduzida do grande diabo “Ophiomorfos”. Por um sentimento de orgulho, de ciúme e vingança para com os homens que haviam motivado sua queda, engendrou seis espíritos, constituindo com eles (I mais VI = VII) os “sete espíritos governadores da terra” e do mundo material, hostis desde então a raça humana.


(1) Wetzer et Welte: op. cit.


Jaldabaoth, por seu lado procurou a maneira de dificultar o uso da luz divina pelo homem. Embora conseguisse triunfar na maior parte dos casos, a Sabedoria conservou certo número de escolhidos que guardaram a semente da luz divina.
Finalmente, a Sabedoria Akhamoth recorreu a sua mãe Pneuma e a pedido desta o “Deus Supremo” enviou “Christos” em socorro dos homens. Jaldabaoth que fez nascer Jesus de uma Virgem se uniu a ele no momento de seu batismo no rio Jordão. Então Jesus – Christos obrou milagres no mundo e anunciou o Deus desconhecido. Jaldabaoth, enganado, fez crucificar Jesus – Christos pelos judeus.
A Sabedoria e Christos ressucitaram Jesus e lhe deram um corpo etério. Jesus comunicou sua ciência a um pequeno número de Eleitos, os Pneumáticos, que no fim do mundo darão entrada no Pleroma; os Psíquicos terão destino semelhante ao dos Psíquicos do gnosticismo, e os “Phisicos” irão com Jaldabaoth para a Gehena.
Depois de ter demonstrado mediante a simples exposição da doutrina dos “ofitas” o íntimo parentesco destes com os gnósticos e as demais doutrinas já expostas e a repetição dos números kabalísticos de onze e trinta e três, devemos acrescentar a observação de que alguns dos ofitas consideraram “Ophis” como um “bom espírito”, como símbolo da Sabedoria e a esta em certo sentido panteísta, como a alma universal estendida na humanidade e em toda a natureza, da qual tudo emanou e à qual tudo deve voltar depois de ser purificada.
Estes, que eram os ofitas propriamente ditos (2), haviam introduzido um culto à serpente semelhante ao de Marcion.


(2) Wetzer et Welte: op. cit.


Eles tinham por hábito criar e alimentar uma serpente viva, que guardavam numa espécie de cofre ou cova por trás de seu altar, crendo que Jesus Cristo teria sido a serpente que havia tentado Eva. A faziam lamber e deste modo consagrar o “pão eucarístico” que depois repartiam, e em seguida todos beijavam a serpente (1).

(1) Santo Agostinho: “De Haeres”, cap. VII.


Os “Sethitas” e “Cainitas” são degenerações dos ofitas, os Sethitas dizem que Caim, Abel e Seth eram os três troncos das três raças diferentes: os Hílicos que deviam sua origem aos maus espíritos; os Psíquicos que receberam o ser do Demiurgo e os Pneumáticos, saídos de uma semente divina de Sophia Akhamoth.
Evidentemente os Pneumáticos correspondem ao trio intelectual do Homem Kabalístico, os Psíquicos ao trio moral e os físicos ao triângulo inferior deste personagem imaginário, que cobre a parte física.
Os “Cainitas” ensinam a existência de duas forças, uma superior a Sophia e outra inferior, Hystera (úteros, vulva). Eva teria tido Caim da Sophia celeste e Abel da Hystera. A Sophia tomou sob especial proteção a Caim, que dotou de uma ciência superior de modo que sendo o mais forte matou Abel; que era mais fraco e favorecido por Hystera. Assim entenderam o culto a Caim, a Cam, aos Sodomitas e em geral a todos os personagens reprovados do Antigo Testamento. Até mesmo cultuaram Judas Iscariotes como tendo sido de natureza Pneumática, perpetuamente atacado com os demais pelo mau Demiurgo, sempre protegido pela boa Sophia, tendo sido todos transformados em outros tantos “éons”, modelos da humanidade (2).


(2) Wetzer et Welte: op. cit., verbete “Cainittes”.


As práticas e crenças dos “ofitas” tiveram seus modelos na antiguidade, pois Satanás creu em todos os tempos que deveria perpetuar a memória de sua vitória sobre Eva e celebrar seu triunfo com uma honra especial tributada à Serpente que é, por natureza, digna representante da malícia do demônio.


3 – A demonolatria dos Ophitas na maçonaria.


Paul Rosen inclui em seu livro “Satanás” uma lâmina que representa o sistema combinado das iniciações antigas e modernas. A serpente se encontra em forma de círculo no centro do quadro, na glória que emana do triângulo. Esta é a divindade eterna. Sobre o círculo há duas larvas estilizadas e duas “Câmaras do Centro”, emblemas do desenvolvimento eterno por meio da geração. Depois vem uma serpente fecundando com seu alento uma mulher – Lúcifer fecundando Eva e engendrando nela a Caim. Outras seis representações mostram a serpente de Osíris, a serpente do paraíso envolvendo a “árvore da ciência do Bem e do Mal e mordendo uma maça; a serpente ‘Knaphis’, deus de Elefantina, ilha do Nilo; o ‘Python’ da mitologia grega; a serpente indiana e a serpente de bronze dos israelitas. Todas elas marchando sobre a cauda, segundo a antiga fábula que diz que a maldição de Deus: ‘Te arrastarás sobre o ventre’ (1), implica em que a serpente andava antes sobre a cauda e não aceita o castigo”.


(1) Gên. III, 14.


Vejamos agora o ensinamento que o “Muito Respeitável” dá no grau terceiro ao neófito: “Vou fazer-te conhecer o herói do drama simbólico, em que acabas de tomar uma parte ativa: me refiro a nosso mestre Hiran (...). Seu passado era um mistério. Enviado ao Rei Salomão, pelo rei dos tírios, adoradores de Moloch, este personagem, tão estranho como sublime, soube desde sua chegada impor-se a todos. Seu gênio audaz o colocava por cima dos demais homens; seu espírito escapava à humanidade, e todos se inclinavam diante de sua vontade e da misteriosa influência daquele a quem se chamava ‘o mestre’ (...) A ‘bondade’ e a ‘tristeza’ estavam pintadas em seu rosto ‘escuro’ e sua ampla fronte – ouvi-me bem, Irmão meu – refletia ao mesmo tempo o espírito de Luz e o Gênio das trevas...”.
O venerável irmão orador continua: “Ninguém conhecia a pátria ou a origem deste sombrio personagem, a quem seu gênio elevou acima de todos os demais homens e que desprezava a multidão vulgar. Mas aquele que veio como estrangeiro em meio ‘aos filhos de Adão não era afetivamente da descendência do primeiro homem’. Se sua primeira mãe foi também a dele, Adão foi somente o alimentador de Caim”.
“Escuta bem irmão meu, a genealogia de Hiran, ‘o verdadeiro fundador da maçonaria’ e compreenderás que os filhos de Hiran formam na sociedade humana uma raça de seleção”. Remontemos aos primeiros dias do mundo, à época em que Adão e Eva estavam ainda no paraíso. Eblis (2), o Anjo da luz, não pode contemplar a beleza da primeira mulher sem cobiça-la. Poderia Eva resistir ao amor de um Anjo? (...) Caim nasceu daquela união. Sua alma, faísca do Anjo da Luz, Espírito do Fogo, o elevava infinitamente por cima de Abel, o filho de Adão. Mas Deus, ciumento do gênio comunicado por Eblis a Caim, desterrou Adão e Eva do Paraíso para castigá-los, assim como a sua descendência, pela fraqueza de Eva.


(2) Corruptela de “diabolos”; é um dos nomes de Satanás. É exatamente o nome sob o qual os maometanos designam o Arcanjo Caído.


“Adão e Eva detestavam Caim, causa involuntária daquela sentença iníqua. Inclusive a mãe dirigia todos os seus afetos para Abel. Quanto a este ensoberbecido por esta injusta preferência, correspondia com desprezo ao amor fraternal de Caim. E uma prova ainda mais cruel deveria ser suportada pelo nobre filho de Eblis. Acrinia, a primeira filha de Adão e Eva, unida a Caim por um profundo afeto e mútua ternura, foi dada por esposa a Abel, por imposição de Jahvéh – Adonai. Este Deus zeloso havia amassado o barro para fazer Adão e lhe havia dado uma alma servil; por isso temia a alma livre de Caim (!)...”.
“Impulsionado pela injustiça de Deus, a de Adão e a de Eva, Caim matou o mau irmão. Adonai, esse Deus que tantos seres afogaria no dilúvio universal fez da morte de Abel um crime indigne de perdão”.
“Sem embargo Caim, para redimir sua falta excusável, cometida num momento de legítima cólera, pôs ao serviço dos filhos do barro àquela alma superior que procedia do Anjo da Luz, Eblis. Ensinou-os a cultivar a terra; Henoch, seu filho, os iniciou na vida moral; Mathusael lhes ensinou a escrita; Lamech lhes deu o exemplo da poligamia; Tubalcaim, seu filho, ensinou-lhes a arte de trabalhar os metais, aperfeiçoou seus conhecimentos e os propagou para bem dos homens. Nohema, que conheceu carnalmente seu pai Tubalcaim, lhes ensinou a arte de fiar e fazer telas para se vestirem (1)”.


(1) Tubalcaim é a “palavra de passe” do grau de mestre no Rito Escocês.


“Foi Hiran, o descendente de Mathusael, de Lamech, de Tubalcaim e de Nohema que empregou todo o seu gênio na construção deste templo que o orgulho de Salomão elevou a este Adonai, o Deus implacável cujo ódio persegue ao longo dos séculos aos descendentes de Caim, geração após geração”.
O Anjo da Luz, a serpente, se chama também Abaddon e este é o nome que São João lhe dá no Apocalipse (1).


(1) Apoc. IX, 11.


“Abad” em hebreu quer dizer ser exterminado, e Abaddon, perdição, o Exterminador... Bryant (2) disse que era um homem do Deus serpente e que Hinsius tem razão ao identificá-lo com a serpente Python (3)”.

(2) Mythology; II, pág. 202.
(3) “Nom dubitandum est, quia Pythius, hoc est spurcus ille spiritus, quem Hebraei Ob et Abaddon, Hellenistae ad verbum Apollyona, caeteri Apollyona dixerunt, sub hac forma que miseriam humano generi invexit primo cultus”.



A palavra sagrada do décimo sétimo grau é Abaddon (4). Com toda certeza os maçons que ainda são cristãos não se dão conta de que se tornam culpados da mais odiosa de todas as idolatrias: a demonolatria.


(4) Leo Taxil, II, pág. 172.


Estamos em presença das antigas lendas dos gnósticos e dos ofitas, praticadas em nosso século nas lojas maçônicas. Veja-se como a judiaria heterodoxa explica as palavras de Jahvéh à serpente, “Porei inimizade entre ti e a mulher, entre sua raça e a tua” (5).


(5)  Gên. III, 15.


Os maçons poderão dizer talvez que não levam a sério todas essas asneiras. Mas então, por que se prosternam perante a estrela flamígena, símbolo deste Espírito da luz, ou melhor, dizendo, do Fogo maldito que sobe do Abismo? Por que perseveram em tais perversidades até o grau trinta em que os judeus os fazem levantar a mão armada com um punhal contra esse Adonai injusto e cruel para com o “Anjo da Luz”?
Os dois eixos sobre os quais gira toda a doutrina, a moral, a teoria e a prática da maçonaria são a adoração de Satanás e a do “Phallus”.


4 – Apreciação das doutrinas ofito-maçônicas.


Ninguém nos pedirá uma refutação destas doutrinas tão absurdas como blasfemas que colocam com astúcia verdadeiramente diabólica Eblis, Eva, Caim e Adão, o “alimentador” de Caim, em paralelo com o Espírito Santo, a Santíssima Virgem, Jesus Cristo e São José? Quem não sabe também que nem a serpente nem o espírito criado por Lúcifer poderiam jamais fecundar a Eva? A pretensa diferença entre as duas raças não existe mais que no sentido espiritual; os filhos de Deus são os que admitem a graça divina em seu coração e os filhos dos homens (1) são os que a recusam.


(1)  Gên. VI, 2.


Os judeus falsificaram a passagem das Escrituras que diz: “Porei inimizades entre tu e a mulher; entre tua raça e a sua” (2). É verdadeiramente inconcebível que homens razoáveis tenham podido admitir e propagar adoração de Satanás sob a forma de serpente. E sem embargo, esta é a mais antiga das idolatrias.


(2) Gên. III.


Dois acontecimentos chegados até nós pela revelação formam a base de tudo que se relaciona com a Ophitolatria ou Ofitolatria entre todos os países, inclusive a China: a grande batalha ocorrida no céu, entre Satanás e São Miguel, concluída com a derrota de Satanás e a tentação de Eva, seguida da profecia da derrota de Satanás pelo “filho da mulher”, o Divino Redentor. Este tema, tão grandioso como interessante, não entra no quadro de nosso esquema. A doutrina da maçonaria deve uma grande parte de seus dogmas às últimas ramificações desta antiga ofitolatria, primeira variação do Sabeismo puro (3).


(3) Ver sobre esse assunto: “Mithology”, II vol., pág. 197. E Bryant, pág. 458.

Não sabemos com o que nos assombrarmos mais, se com a audácia desavergonhada de Satanás, ao se apresentar ao homem sob a forma de Serpente, para lhe solicitar adoração; ou a formidável credulidade dos homens que admitem como razoáveis tais aberrações. É verdade que os maçons não beijam a serpente; mas não é mais ou menos o mesmo, quando dobram os joelhos diante do imundo “G” da “Estrela Flamígena”? (1).


(1) Leo Taxil, vol. II, pág. 24.


Queremos crer que nossos cristãos encadeados à maçonaria praticam seus ritos sem compreender nem seu sentido nem sua importância. Que eles a reflitam sobre as palavras de Nosso Senhor Jesus Cristo aos judeus: “Vós tendes por pai ao demônio” (2). “Serpentes, raça de víboras, como evitareis o castigo?” (3). E já antes dEle, havia dito São João Batista: “Raça de víboras, quem vos ensinou a fugir da cólera que vem?” (4).

(2)  São João VIII, 44.
(3)  São Mateus XXIII, 33.
(4)  São Lucas III, 7.
Capítulo Décimo Primeiro
O MANIQUEISMO E A KABALA


1 – Origem judaica do maniqueísmo. O número onze.


Não faltam certamente provas para demonstrar a origem judaica do maniqueísmo e a presença da “moral” maniquéia na maçonaria.
No que se refere à origem, Mr. Claude Janet (1) cita uma declaração positiva por parte da judiaria. Numa carta dirigida a Mons. Agustin Barruel por Mr. Jean – Baptiste Simonine consta que este recebeu verdadeiramente de forma pouco louvável as confidências mais secretas dos judeus piemonteses ligados à maçonaria de lá.


(1) N. Deschamps: “Les Sociètés Secrètes”, vol. III.


Segundo estas declarações, “Manés e o infame ‘Velho da Montanha’ (o chefe da Seita dos Assassinos) haviam saído de sua nação”; “os maçons e os iluminados haviam sido criados por judeus”; “todas as seitas anticristãs não tinham origem judaica” e “os judeus planejavam ao cabo de século ter o mundo nas mãos, abolir todas as demais seitas para fazer imperar a sua, converter em outras tantas sinagogas todas as igrejas cristãs e reduzir os adeptos desta religião à mais negra escravidão”.
Portanto, Mannio Manés, autor do Maniqueísmo, era judeu. Considerando-se o nome de “Manés”, isso parece muito provável. Com desejo de se fazer notar pelos cristãos, resolveu proclamar-se como o Paráclito prometido por Jesus Cristo, que deveria ensinar a seus discípulos toda a verdade. Com tal objetivo tomou por nome a palavra síriocaldaica que significa Paráclito, o Consolador.
De Curbicus que era seu nome original se converteu em “Manem” ou, helenizando a palavra, em Manés (2).


(2) Do grego “Kurbis”, mesa triangular sobre a qual se inscreviam as leis em Atenas. “A Senhora das nações (Jerusalém) se converteu em viúva; de todos quantos lhe eram queridos, não há nenhum só que console (Menaham)”. Ver: Threni, I, 1, 2.


São Arquelau, bispo da Mesopotâmia (1) que dá este detalhe, conta também que com vistas a combater os cristãos, seus mais temíveis inimigos, formou o projeto de aliar seus princípios com os do Cristianismo.

(1) Acta disput. Contra Manetem, nº 36.


Como veremos, “seus princípios” eram os da Kabala perso-judaica. Santo Agostinho (2) cita palavras do maniqueu Faustus que admite o testemunho de Hermes Trimegistus. Manés mandou seus discípulos comprar os livros dos cristãos, dos quais tirou ou aos quais acrescentou tudo quanto seria respectivamente adverso ou favorável a sua doutrina.


(2) Contra Faustus, 1. XIII, c. 1.


Manés, convidado por São Arquelau a uma discussão pública, se apresentou vestido com uma indumentária extraordinária. Usava borzeguins altos, uma capa de diversas cores, que dava certa sensação etéria, um grande bastão de ébano nas mãos, “um libro babilônio sob o braço”, uma perna envolta num tecido vermelho e a outra num tecido verde... (3). Mas não seria a Kabala esse “livro babilônio”?


(3) Mansi: Concilies, vol. I, pág. 1129. Rohrbaker, V, pág. 548.


Segundo fontes orientais Manés nasceu de uma família sacerdotal na Pérsia. Seria esta família uma de judeus que haviam ficado em Babilônia? Mas seja qual for o resultado destas premissas, o certo é que o conteúdo kabalístico na doutrina maniquéia é suficientemente evidente para se poder deduzir daí a nacionalidade de seu autor.
O que mais nos surpreende é a misturada de absurdos maniqueus que logo veremos; e que prova exatamente, a presença da Kabala em tal doutrina (4).


(4) Ver lâmina J.


O Ensoph está representado por Deus. Aos cristãos daquela época já não se poderia enganar com a idéia do Abstrato, separado da Santíssima Trindade. Esta aparece representada por (9º) o Espírito Todo Poderoso; (8º) Jesus o Homem Primitivo, e (11º) o Espírito Santo, a menos que se queira aceitar (10º) a Virgem da Luz como sendo a “Sabedoria” kabalística, a que parece corresponder Deus Filho. Em tal caso a Santíssima Trindade iria relevada ao extremo das onze divisões do reino da luz.
Não conseguimos encontrar no restrito número de livros de nossa biblioteca os nomes de todas as divisões do reino das Trevas, mas os nomes dos cinco elementos tenebrosos (1) que correspondem aos dos elementos luminosos, sugerem que também os demônios tinham entre eles uma hierarquia criada para a guerra ofensiva e defensiva contra os bons espíritos guerreiros, emanados de Deus.


(1)  Santo Agostinho: “De Haer”, cap. XLVI.


A repetição dos cinco elementos no mundo da mistura, representados por cinco espécies de animais, é uma das numerosas reminiscências da religião persa que se encontram no sistema de Manés.
O “Khordah-Avesta” diz no “Patet Aderbat”, oração de penitência: “Se cometi algum pecado contra as criaturas do Ormuzd, as estrelas, a lua, o sol, o fogo, os cães, os pássaros, as cinco espécies de animais, me arrependo disso e digo: Senhor, perdoai-me, lamento meu pecado”.
Anquetill relata a tradição dos Parsis, segundo a qual a primeira espécie de animais compreende aqueles que têm os pés bifurcados; a segunda os que têm fendido; a terceira os que têm cinco unhas; a quarta os pássaros; e a quinta os peixes.
Provavelmente Manés, em honra deste número “cinco”, dava suas instruções, sentado sobre uma poltrona para a qual se subia mediante “cinco” degraus. Esta poltrona, ornada de pedras preciosas, era exposta anualmente como uma relíquia preciosa à veneração dos sectários durante a festa do “Bema” (Cátedra), celebrada no dia da Páscoa (2).


(2) Idem, “Contra epistolam Manihore”, I, cap. VIII.


Os maçons encontram o “Bema” e toda a doutrina maniqueísta nos cinco degraus que conduzem ao assento do Venerável; eles os acham também em seus quadros (1), onde se vê o firmamento, a lua, o sol, as três janelas (2) e sobretudo na famosa “estrela flamejante” diante da qual se ajoelham para adorar o Grande Arquiteto do Universo.


(1)  L. Taxil: op. cit., II, pág. 9.
(2)  Santo Agostinho, “Contra Faustum”: I, XX, cap. VI. “Vós dizeis que o sol, que aparece aos olhos de todo o mundo como redondo, é triangular e por uma janela triangular do céu é que a luz chega ao mundo”.


2 – As cinco regiões celestes dos maniqueus e a estrela flamejante dos maçons.


A idéia blasfema de uma duplicidade de sexos e de uma geração divina com relação à geração animal, tal como a Kabala e a Gnose haviam anunciado, não era nem o bastante convincente nem o suficientemente atraente para que os cristãos primitivos se deixassem prender nela. Era, portanto preciso conseguir a destruição do Cristianismo por meio completamente distintos, por um sistema austero na aparência, mas na realidade destinado a destruir a moral dos discípulos de Cristo e com ela, sua fé.
A virgindade e o celibato, duas jóias das mais preciosas na coroa da Esposa mística de Cristo, deveriam servir de ponto de partida para a hipocrisia judaica na corrupção do povo cristão. O matrimônio seria declarado imoral, a matéria qualificada como criação do espírito maligno e deste modo estaria a porta aberta a todos os possíveis vícios da carne.
Damos um quadro da doutrina maniqueísta, para que se possa compreender melhor sua filiação kabalista, e o resumo do que afirmamos. Imediatamente se volta a encontrar os números kabalísticos, “onze” e “trinta e três”; assim como a maior parte das doutrinas já estudadas.
O maniqueísmo da mesma forma que o Parsismo, representado por “Bundehesch”, reconhecia dois seres eternos iguais, incriados e vivos: o princípio da Luz e o princípio das Trevas; o primeiro é bom e o segundo é mau. São respectivamente Ormuzd e Ahriman. Cada um destes dois princípios tem seu reino. Sua oposição é absoluta e sua distância é imensa.
Estes reinos, organizados em linhas de igualdade consistem em cinco regiões, povoadas por inumeráveis seres, emanados de seus respectivos princípios, que são representados pela estrela flamejante em cada um dos dois reinos. É certo que no das trevas a estrela não é flamejante, mas no reino da mescla a matéria, que tem origem tenebrosa, recolhe em si as faíscas e raios da luz conquistada no céu.
A estrela flamejante representada por uma transparência diante da qual os maçons dobram os joelhos para a adorar (1) não parece estar relacionada com a Kabala, mas com o maniqueísmo do qual a maçonaria tomou numerosos símbolos.


(1) Leo Taxil: “Le culte du Gran Architecte”, pág. 13.


Para enganar os profanos e os iniciados dos graus inferiores os chefes disfarçados da maçonaria dão prolixas informações sobre o número místico representado pela estrela flamejante. Significam segundo eles, os cinco sentidos exteriores, as cinco faculdades internas (2), as cinco ordens da arquitetura (3) e os cincos grandes sábios: “Sólon, Sócrates, Licurgo, Pitágoras e I. N. R. I.” (4).


(2) Idem, cap. II, pág. 15.
(3)  Ibidem, pág. 340.
(4)  Ibd., pág. 8.


“Jesus Cristo é adorado como Deus pelos cristãos e deve ser respeitado como sábio pelos filósofos”, diz o Venerável ao novo Companheiro (5).


(5) L. Taxil: Idem, II, pág. 28.


Em outras ocasiões a estrela flamejante representa os cinco meses de produção na natureza (6), os cinco pontos da felicidade, as cinco luzes da maçonaria, as cinco zonas da maçonaria (7) ou os cinco sinais dos maçons: vocal, gutural, peitoral, manual e pedestre (8).


(6) Rangon: “Initiations”, pág. 245.
(7) Carlille: “Manual of Freemansonry”, pág. 215.
(8) L. Taxil, II, pág. 44.


Mas o verdadeiro sentido desta estrela flamígena é indicado pelo Venerável que recebe o Companheiro e lhe diz: “Todos os emblemas que decoram os templos da Maçonaria nos recordam o grande templo do Universo, e esta estrela flamejante que vês acima de minha cabeça é a figura sagrada que nos recorda a causa misteriosa de tantas maravilhas: o Grande Arquiteto do Mundo”. Ao pronunciar estas últimas palavras ele assesta um vigoroso golpe com sua maça sobre a mesa. Todos os presentes inclinam a cabeça para saudar a estrela flamejante (1).


(1) L. Taxil. II, pág. 30.


No ritual para a sagração de um templo maçônico podemos ler: “O Mestre de Cerimônias sobe a um escabelo e acende as velas que estão no interior de um vidro transparente, que representa uma estrela de cinco pontas e que se encontra suspenso no ar, sobre a cabeça do Venerável. Quando o Venerável desce do escabelo o Primeiro Vigilante diz: “Venerável, a estrela flamejante brilha com mais vivo esplendor”. O Venerável depois de um golpe de maça (malhete) diz: “Irmãos meus, invoquemos a divina luz”. Ele desce do trono e “se põe de joelhos” diante da lanterna veneziana em forma de estrela de cinco pontas.
Os Vigilantes dão um golpe de malhete cada um. Toda a assembléia se prosterna. O Venerável levanta as mãos e diz: “Luz divina, chama misteriosa, fogo sagrado, alma do universo, princípio eterno dos mundos e dos seres, símbolo venerado do Grande Arquiteto, único soberano onipotente, ilumina nosso espírito, nossas obras e nossos corações, e introduz em nossas almas o fogo vivificante da Maçonaria”.
Todos respondem juntos: “Assim seja”.
Observemos que a letra “G”, se encontra quase sempre no centro desta figura simbólica. Assim vem a completar e precisar ainda mais a idéia kabalística da divindade. Cremos que já expusemos suficientemente que o panteísmo kabalista não reconhece mais que uma reprodução eterna e contínua do Ser infinito, que em si não é cognoscível, mas que o é através de seu desenvolvimento. Este desenvolvimento se faz por emanação, ou melhor dizendo, mediante uma geração produzida por dois seres que se completam mutuamente.
É assim que segundo a Kabala, se formaram os mundos. A letra “G” significa, portanto, para a substância do mundo, “geração” e para a sua forma, “geometria”. Conhecer, ou melhor, crer nesta doutrina é para os kabalistas a verdadeira ciência. Neste aspecto, a letra “G” adquire um terceiro significado: “Gnose”.
Quando a letra G se acha na estrela flamejante, simboliza a doutrina do maniqueísmo; quando está no centro de um triângulo representa a doutrina da Kabala que no fundo é a mesma coisa. Esta letra é a expressão mais íntima da divindade preconizada pelo panteísmo kabalístico da judiaria. A “divindade” consiste no “ato gerador eterno”, mediante o qual existem todas as coisas. Assim a maçonaria ao adorar a estrela flamejante renega a Deus, criador supramundano do universo, e comunga com a doutrina de que matéria e força, por si sós, resistem juntas de eternidade em eternidade.
Segundo o maniqueísmo a estrela flamejante significa “Deus”, “atividade geradora” ou “força em meio aos cinco elementos: luz, ar, fogo, água e coração”. Segundo a Kabala significa a mesma divindade: a união do Santo Rei e a Matrona, dois triângulos que se unem num ponto comum e formam uma estrela de cinco pontas. Em substância não é senão um triplo triângulo entrelaçado.
Cornelius de Lápide (1) menciona a palavra “Pentalpha”, o que significa “alfa quíntuplo” e que resulta de um pentágono em forma de estrela e diz que Antíoco Soter, de quem os demais reis da Síria receberam o nome de Antíoco, teve certa noite uma visão. Viu nela Alexandre a seu lado, ordenando-lhe que fizesse para seus soldados o “sinal de saúde” cujo hieróglifo se encontrou ao cabo de algum templo e que consistia num TRIPLO TRIÂNGULO ENTRELAÇADO por cinco linhas que se tocavam nas pontas, de modo que seus cinco ângulos formavam cinco alfas.


(1) “Commentaria in Apocalypsim”, cap. I, vers. 8.


Antíoco obedeceu, mandou pôr o pentagrama em seus estandartes e o fez costurar sobre o traje militar de cada um dos soldados. Prontamente obteve uma gloriosa vitória sobre os gálatas. Ainda existe uma medalha de prata do tempo de Antíoco com a inscrição do citado pentagrama e as cinco letras da palavra grega “Hugeia” (saúde) inscritas em seus cinco ângulos.
No exército dos imperadores bizantinos havia uma ordem de guerreiros denominados “propugnatores” (campeões), que usavam um escudo de cor azul com margem vermelha e o centro verde, contando neste centro o supradito “pentalpha”.
Por tudo isto não parece difícil chegar à conclusão de que a Estrela Flamejante e seu significado têm sua origem na judiaria babilônia.
A visão noturna com que Antíoco foi “honrado” nos recorda vivamente aquela outra com que o “Poimandres” favoreceu Hermes Trimegisto. Quem eram estes Alexandre e Poimandres, senão o que se faz adorar pelos “irmãos” cujos olhos são vendados pelos judeus para lhes dar “a luz” e que se encontra à cabeça do pentágono maniqueísta em nossa lâmina?


3 – Ormuzd e Ahriman; a serpente de bronze e o Adonai dos maçons.


Os maniqueístas como os ofitas, adotaram uma dualidade eterna dos princípios do bem e do mal, que tomaram da extinta religião dos antigos persas.
Quando nos aprofundamos no antigo zoroastrismo, percebemos seu panteísmo na triplicidade de Ahura – Mazda, que em primeiro lugar é Deus; depois “Ameschaspenta”, ou arcanjo; e em seguida, primeiro Yazata, ou anjo. Talvez seja neste sentido que o “Quarset – nyayis” (1) do “Khordah – Avesta” o chama “triplo antes que todas as outras criaturas”.


(1)  Capítulo VII.


O sumo sacerdote dos Parsis de Bombain escreve: “Em alguns dos livros ‘Pehlvi Pazand’ se chama também Ahura – Mazda, no sentido de alma humana”. É doutrina da Kabala que a alma humana é uma emanação direta da inteligência divina, uma faísca do “Deus Fogo”. Como Deus Ormuzd não tem rival, igual ou semelhante. Como arcanjo tem um irmão gêmeo, Ahriman. Neste aspecto tem o nome de “Spenta – mainyus” (Espírito benfeitor), enquanto seu irmão gêmeo se chama “Angro – mainyus” (Espírito malfeitor). O trigésimo “Yasna” do Zend – Avesta estabelece esta doutrina de modo indubitável: “Estes dois ‘gêmeos’ celestes fizeram primeiro compreender por eles mesmos o bem e o mal, em pensamento, palavras e atos”. Os sábios distinguem exatamente um do outro, mas não os imprudentes.
“Quando estes dois seres celestes se puseram a criar, ao princípio, a vida e a mortalidade e o mundo tal como enfim deveria ser, o Mal para os maus e o Bom Espírito para os puros, o Mau escolheu o mal para agir e o Espírito Santo, ao preparar o céu inquebrantável, escolheu o bem, como o escolhem os que satisfazem Ahura com suas ações manifestas e sua crença em Mazda”. A palavra “Yema” dos Zend – Avesta equivale ao sânscrito “Yaman” e significa gêmeos.
Segundo o professor Dr. Haug, os versículos 21 e seguintes do Yasna XIX devem ser traduzidos assim: “Eu, Ahura – Mazda, pronunciei por mim mesmo esta palavra (o “Ahuravairyo”) que concerne ao Senhor celeste e ao dono terrestre ( Ahu e Rathu) antes da criação dos céus, antes da água, antes da terra, antes da árvores, antes do nascimento do justo bípede, o homem, antes da matéria solar para a criação dos arcanjos. De meus dois espíritos, o benfeitor produziu toda a boa criação, pronunciando o ‘Ahuna – vairyo’, a oração por excelência”.
Se esta tradução esta correta Ahura – Mazda tem, como Deus, dois espíritos emanados dele, o Spenta – Mainyus e o Angro – Mainyus. Como o arcanjo é o primeiro dos dois e antagonista de Ahriman.
Assim entendido o zoroastrismo está em perfeita harmonia com as doutrinas de outras nações contemporâneas, e explica a origem do mal moral de maneira irrepreensível: pela má escolha que um dos primeiros seres fez por sua livre vontade.
Sem embargo, a antiga doutrina persa perdeu prontamente este princípio verdadeiro da unidade de Deus e da origem do mal como conseqüência da perversidade voluntária de um espírito criado: Ormuzd e Ahriman passaram a ser reconhecidos como dois princípios coeternos, um dos quais vivendo na luz sem começo e o outro nas trevas sem princípio. Entre ambos existindo um espaço vazio, o “Vai”, onde se verificava a mescla.
Como se pode verificar, Manés não fez mais que copiar o parsismo extinto, ao qual em vez de dar caráter judaico pondo sobre a cabeça do “Homem primitivo” a “Coroa” de Esther e a seus pés o “Reino” persa, deu uma nomenclatura cristã, dando ao “Homem Ideal” o nome de Jesus. Se isso foi por ódio ao Cristianismo, denominado pela judiaria “a heresia”, se tratava de um truque para enganar aos cristãos, ou se tentavam as duas coisas ao mesmo tempo, é assunto que nos parece inútil tentar elucidar nesta oportunidade.
Mas, entretanto é conveniente comprovar que no grau vinte e cinco da maçonaria, “Cavaleiro da Serpente de Bronze”, se explica que “a Divindade se decompõe em dois princípios, o Bem e o Mal que lutam entre si. Seu nome variou, segundo os países onde se pratica o culto. Entre os hebreus o mal é Adonai; entre os persas é Ahriman; Typhon para os egípcios; o bem então é Lúcifer, Ormuzd, Osíris...” (1).


(1)  L. Taxil, op. cit. II, pág. 245.


Os ofitas nos ensinaram que a serpente é um dos emblemas do “Anjo da Luz”, que curou os hebreus no deserto; os verdadeiros israelitas têm em grande veneração a serpente, situada sobre uma cruz, que lhes recorda o milagre do deserto quando seus antepassados, castigados por serpentes, “cuja mordedura queimava como fogo” (2) foram salvos enfim da praga ao olhar para a serpente de bronze que Moisés havia colocado “para servir de insígnia”.


(2) Num. XXI, 6.


O próprio Jesus Cristo disse: “Assim como Moisés elevou a serpente o deserto, é preciso que o Filho do Homem seja elevado para que quem creia nEle não pereça, mas ganhe a vida eterna” (1). Moisés ergueu a serpente de bronze, a fim de que toda a gente do campo de Israel a pudesse ver. Assim Cristo foi elevado sobre a cruz, para que todo mundo pudesse vê-lo. E do mesmo modo como esta serpente de bronze tinha a forma das demais, mas não seu veneno, assim Cristo tomou a forma dos pecadores sem ter pecado. O hebreu disse: “Põe-na sobre um estandarte”. Provavelmente o estandarte que levava a serpente de bronze tinha forma de cruz, para a fixar mais firmemente.


(1) São João III, 14-15.


Ezequias, rei de Judá, “Mandou fazer em pedaços a serpente de bronze que Moisés havia feito, porque os filhos de Israel lhe haviam queimado incenso até então”. (2)


(2) Reis XVIII, 4.


Esta idolatria teria talvez por base a mesma doutrina perversa que encontramos nos ofitas: que Adonai era quem enviava os males e Satanás, ou a serpente, quem os curava; que Adonai era quem havia proibido a Adão e Eva o comer o fruto da árvore do conhecimento do Bem e do Mal, e o Anjo da Luz, Satanás, quem lhes havia ensinado a verdade, fazendo-os comer o fruto maliciosamente proibido.
Assim se prova uma vez mais que o “Grande Arquiteto do Universo” não é o Adonai da Bíblia, mas o Anjo da Luz, o “Gênio do Trabalho”, o Espírito de Fogo (3).


(2)  L. Taxil. II, pág. 245.


Se esta substituição do verdadeiro Deus por Satanás e sua adoração sob o disfarce dos símbolos maçônicos é um crime espantoso, o símbolo da serpente de bronze sobre a cruz é um atrevimento não menos detestável. O modelo utilizado pelos maçons não é uma cruz completa, pois lhe falta a parte superior: constitui pois um “tau” grego, o símbolo impuro do ato gerador. A serpente, reconhecida como Deus, deixa sua forma de círculo ou sua eternidade, se desenvolve no tempo, em torno ao “phallus”, pela geração, pelo “trabalho” do Rei Santo e da Matrona. E assim cria o mundo.
Já conhecemos a doutrina da Kabala sobre os quatro mundos, sendo representado cada um por um quarto de círculo. Pois bem: se acrescentarmos esse quarto círculo ao “tau” grego, e na parte superior deste representarmos a eternidade por um anel; e por esse anel passar a serpente como se fosse um cabo, descendo de cima até tocar o quarto círculo, temos a “âncora maçônica” que representa a emanação do mundo de seu princípio, o qual se gaba de ser o “Princípio do Bem”, mas que não é senão aquele que quis suplantar Deus, ser “semelhante ao Altíssimo”. A Loja maçônica de Port-Louis se chama “Loja da Tripla Esperança”. Sobre a porta da entrada se pode ver três dessas “âncoras maçônicas” idolátricas.
O maniqueísmo propagou as doutrinas phalolátricas da judiaria antiga e sua demonolatria. E ainda os maçons que crêem ser cristãos se deixam arrastar ao culto a Satanás, com juramentos falsos e sacrílegos! Assim se tornam escravos da judiaria e através desta, do próprio Satanás.
Quando virá o novo Ezequias que quebre o ídolo da serpente de bronze que os “irmãos” do grau vinte e cinco trazem sobre o peito, preso por uma fita cor de fogo? Na verdade o reino do Príncipe das Trevas está bem afirmado sobre a terra!
A negação de um Deus pessoal e a deificação do homem constitui uma das bases da moral maçônica e conduz diretamente a um orgulho diabólico. A preconização e santificação do ato gerador constituem a outra base, e leva aos mais grosseiros excessos da voluptuosidade animal.
A doutrina da Kabala segundo a qual o Universo é o resultado de uma ligação eterna entre o “Rei Santo” e a “Matrona”, assim como o ensino gnóstico que faz consistir todas as suas divindades, com a “Ogdoada” à cabeça, em pares de sexo oposto, estão representadas em todos os símbolos da maçonaria: o “esquadro” sobre o “nível”; o “compasso” que abarca um quarto de círculo; a letra “tau”; a “rosa” sobre a “cruz”; os “dois triângulos” entrelaçados; os “dois triângulos tocando-se num ponto comum”, símbolo dos casais humanos, divinos e infinitos; as “cinco pontas”, figurando um casal humano ou finito enlaçado; a estrela flamejante, etc.
Como se vê o ateísmo ou o panteísmo, que vêm a ser a mesma coisa, reverte ao culto do “phallus”, com todas as suas perversidades, tal qual como os imundos mistérios da antiguidade o conheceram e praticaram.
Em uma palavra, a maçonaria é o paganismo ressuscitado em sua forma mais repugnantemente indecente. Saberão os maçons que ainda se consideram cristãos por que seus adeptos usam o avental no lugar em que usam, tanto os Irmãos como as Irmãs? Que perguntem por que o Aprendiz tem de usar a lapela do avental levantada: por que o Companheiro (1) pode usa-la abaixada: o que quer dizer a roseta (rito francês) sobre o avental branco; ou o bolso na lapela (rito escocês) do avental do Mestre.


(1)  O primeiro que tem direito de assistir às seções das “Lojas de adoção”.


Eles que tentem saber o que significa o olho sobre a lapela azul do avental do Mestre Secreto (grau quarto), etc. Logo verão que se deram, esperamos que inconscientemente, ao culto imundo do “phallus”. Para cúmulo da vergonha, enquanto a Kabala e a Gnose ensinavam uma espécie de casamento entre seus casais fantasistas, o maniqueismo ainda se mostrava mais audaz, preconizando o amor livre e o infanticídio, como veremos mais adiante.


4 – A “Virgem da Luz” dos maniqueus e o “Casamento” dos maçons.


Prossigamos com a mitologia maniqueísta.
O Príncipe das Trevas, imitando o Ahriman persa, estava cego pela luz que vinha de longe e resolveu ataca-la. O bom Deus que conhecia a intenção de seu inimigo, quis preservar o seu reino de todo o perigo. Para tanto produziu a “Mãe da Vida”, a qual engendrou o “Homem Primitivo” que é chamado também de Jesus. Este se armou de Luz e se lançou à luta contra o Príncipe das Trevas e seus aderentes demoníacos. Mas infelizmente foi vencido.
Os demônios o prenderam e lhe tiraram uma parte de sua brilhante armadura. Vendo Jesus cativo, Deus produziu outra força, o “Espírito poderoso”, chamado também “Espírito da Vida” e o enviou em auxílio de Jesus. O “Espírito poderoso” estendeu a mão a Jesus e o libertou, mas não pôde recuperar sua armadura brilhante, parte da Luz celeste, que os príncipes da treva eterna haviam tomado e encerrado no âmago da matéria, que era criação sua.
Para resgatar estes restos da luz divina, Deus fez emanar de si outros dois seres que completam o número mágico onze, a “Virgem da Luz” e o “Espírito Santo”, chamado também “a Terceira Majestade”. Esta trindade divina, composta pelo Espírito da Vida, a Virgem da Luz e o Espírito Santo trabalharam para a libertação da luz divina em cativeiro, de “Jesus patibilis” (Jesus passível).
Com este objetivo o Espírito Santo criou o mundo. Por sua vez os príncipes das trevas criaram Adão, segundo a imagem do “Homem Primitivo”, Jesus a quem haviam entrevisto, da mesma forma como a Akhamoth dos gnósticos criou os homens inteligentes conforme a imagem dos anjos aos quais havia entrevisto.
A simples exposição de um tal sistema basta para evidenciar o fim para o qual foi criado.
Um ódio a Deus verdadeiramente diabólico faz Dele uma divindade impotente, que teme uma cisão de seu reino pelo Príncipe das Trevas; um Deus incapaz, que produz para sua defesa um ser feminino: a “Mãe da Vida”, a fim de que engendre (não se sabe se por sua própria natureza andrógina ou com intervenção do próprio pai) o defensor do reino da Luz, uma divindade à qual o ódio e a malícia judaicos dá o mesmo nome de Deus adorado pelos cristãos: Jesus. Que se revela uma “divindade” imbecil, que ataca ineptamente o reino das trevas, cai em cativeiro e é despojado de sua armadura luminosa. Quem não vê imediatamente nesta fábula blasfema e irracional a obra odiosa da aliança de Satanás e a Sinagoga?
Vencido na pessoa de seu representante “Jesus”, Deus se vê obrigado a produzir um ser mais forte que o primeiro. Mas também desta vez o “Deus” maniqueu calculou mal as forças de seu emissário; este consegue salvar “Jesus” mas é incapaz de reconquistar a armadura celeste, que os demônios retém! Que insulto rasteiro à sabedoria, previsão e onipotência do verdadeiro Deus!
Pela terceira vez Manés põe a trabalhar seu “Deus” e o faz criar outra mulher: a “Virgem da Luz”, e com ela sua obra prima: o Espírito Santo. Este é o “Espírito Santo” prometido por Jesus Cristo nos Evangelhos para ensinar toda a verdade a seus discípulos; encarnado afinal e por sua vez em Manés!
Temos aqui que fazer constar que este heresiarca não unia a seus seres celestiais em matrimônio. Queria destruir a Cristandade mediante a imoralidade. O matrimônio – instituição divina – deveria desaparecer. A “Virgem da Luz” (que deusa!) deveria tirar das trevas as almas de varões e fêmeas, mostrando-lhes seus auxiliares celestiais na forma de rapazes e garotas sedutores. Eis o meio empregado por uma divindade para arrancar os restos da armadura luminosa arrebatadora a Jesus, o “Homem Primitivo”.
E a maçonaria? Foi o maniqueísmo que tirou a idéia para condenar o casamento e preconizar o amor livre. Onde? Em primeiro lugar em suas lojas de adoção. Não queremos repetir aqui o que Leo Taxil já disse em seu livro: “As Irmãs maçons”. Parece que se está relendo a história da “Virgem da Luz”. Se as lojas de adoção são efetivamente tal como nele se representam, não constitui outra coisa que a realização prática das fábulas lascivas que Manés ensinava a seus discípulos.
Vejamos em segundo lugar, a doutrina maçônica sobre o casamento. De forma um tanto indireta, para não ferir a honestidade ainda latente, condena o casamento, como havia condenado antes o maniqueísmo.
No centro da sala, de frente para o Oriente, há uma coluna larga e curta sobre a qual estão as alianças numa bandeja com flores; no centro, uma caçarola bem cheia de brasas ardentes.
Aqueles que já visitaram os templos dos “shivaitas” da Índia, reconhecerão esta “coluna larga e curta” como idêntica à que sempre há em tais templos; significa o “phallus” de Shiva, Deus do Fogo. As brasas ardentes sobre a coluneta representam o enlace entre os mistérios maçônicos e a phalolatria do paganismo antigo.
O “Venerável” pronuncia durante a cerimônia palavras cujo significado é muito claro pelos que recordarem a doutrina maniqueísta sobre o casamento. Por exemplo:
“- Se considera o casamento como a ‘verdadeira religião’ do gênero humano”.Isto bem entendido, se refere à coabitação dos cônjuges.
“O casamento emancipa os jovens: os torna independentes e livres para desenvolver sua natureza e suas faculdades”.
“Querida irmã, dá a teu marido esta ‘aliança’, cuja forma é emblema da perpetuidade”. Os dois círculos entrelaçados representam como já tivemos oportunidade de ver, a “eternidade” da união do Rei Santo com sua Matrona.
O Venerável, estendendo as mãos sobre as cabeças dos esposos diz: “Vos confirmo no laço sagrado do matrimônio, e vos dou a consagração maçônica que vossas virtudes merecem”. O casamento civil é declarado implicitamente nulo sem esta confirmação.
Mas qual é o valor de tal confirmação? Vejamos na continuação.
Ao terminar a consagração maçônica do casamento, o Venerável pergunta ao primeiro Vigilante:
“- De onde deve proceder a constância no casamento?”
E o outro responde:
“- Da liberdade recíproca do esposo e da esposa”.
Dizem em seguida o Venerável:
“- Que pensas da indissolubilidade do casamento?”
“- Que é contrária às leis da natureza e da razão; às leis da natureza porque pode acontecer que as conveniências sociais unam seres separados por antipatias naturais, que não se revelam senão durante o casamento; às leis da razão porque pretende subjugar o mais caprichoso e volúvel dos sentimentos”.
Volta à carga o Venerável:
“- Qual é, portanto o corretivo do casamento?”
“- O divórcio”.
Saibam os cristãos que sua religião não admite o divórcio, mas se atém firmemente à indissolubilidade do casamento. Se este pode ser rompido, porque o divórcio encontrou guarida na legislação moderna, isso é obra da maçonaria, guiada pelos judeus, que se atém a esta instituição do Antigo Testamento mais que a todas as suas profecias e a sua moral. E assim nossa sociedade cristã se vê obrigada a tolerar esta atroz invasão de usos e costumes judaicos e da lascívia kabalística e maniquéia.


5 -  Últimos desdobramentos das seitas kabalísticas.


Os números onze e trinta e três, que nos guiaram até aqui, pareciam desaparecer com o maniqueísmo primitivo para depois reaparecer no sistema maçônico. Já é o simples dualismo persa, o Deus bom e o Deus mau, o que se apodera das almas refratárias à verdade, espíritos que em todos os tempos formaram as massas de que se compõem as grandes seitas. Em quase todos os movimentos sectários da Idade Média voltamos a achar este dualismo a que nos referimos.
As seitas que abandonaram o terreno dogmático para se situar inteiramente no da moral, foram os “valdenses” e os “albigenses” que representavam menos uma seita à parte que uma espécie de amálgama de todas as demais. Seu dogma principal está perfeitamente refletido na resposta que um de seus adeptos, depois de sua conversão, deu ao arcebispo Arnold de Kölln: “Consideram como sendo falsidades tudo o que a Santa Igreja crê e afirma”.
A sua perversão, havia sucedido a negação da verdade.
Sua crença de que o autor do mundo visível era distinto do que fizera o mundo invisível era uma relíquia do maniqueísmo. Tal crença implica automaticamente numa igualdade entre Deus e Satanás. Isto é tudo o que o espírito maligno poderia desejar, era-lhe suficiente. Se tratava efetivamente de atribuir a formação do corpo ao Deus mau, para ter uma base sobre a qual estabelecer toda a ordem moral, política e social pelo que o Cristianismo seria aniquilado.
É inútil repetir aqui tudo quanto se pode encontrar nas crônicas medievais sobre valdenses e albigenses. Seu espírito e sua moral ficavam reduzidos a uns poucos princípios: um orgulho desenfreado que os fazia não reconhecer nenhuma autoridade fora de seu próprio arbítrio; um ódio feroz contra todas as autoridades existentes e em primeiro lugar contra a Igreja e seus ministros, e que prosseguia contra o poder civil, a ordem social e a doméstica, baseada na propriedade e no casamento; finalmente um segredo absoluto, no referente a seus mistérios e seus chefes, desconhecidos do povo. Mistérios, revelados somente aos adeptos que tivessem provado sua fidelidade ao longo de muitos anos.
Os “Cataros”, que com toda verossimilhança procediam dos Países Baixos, se introduziram na Westphalia e nas províncias renanas; foram descobertos porque, por volta da metade do século XII, se produziu um cisma entre eles. Se tentou então converte-los, refutando-os publicamente.
Nos documentos deste século constam dois fatos importantes: o primeiro é que esta seita, depois de se ter fortificado em suas resistências contra a Igreja, estendeu tal resistência contra tudo o que na sociedade tinha preeminência: odiava a nobreza, assim como a todos os principais personagens do Estado, esforçando-se em reger as instituições civis conforme suas idéias; o outro fato é que tais sectários empregavam todos os meios a meu alcance para se assegurar do domínio. Por isso tentaram seduzir o jovem rei Henrique VII (1).


(1)  Hurter: “Innocent III”, pág. 48.


Na França em 1184, um carpinteiro chamado Durand pretextou uma aparição da Virgem e por tal motivo, reuniu um bom número de seus compatriotas e os agrupou com o nome de “Irmãos do Gorro Branco”; aplicou os princípios da heresia patarina e dedicou todos os seus esforços à derrocada do poder superior. Pretendia criar o pretenso estado de igualdade existente entre os homens primitivos, segundo o qual não deveria existir nenhuma diferença externa entre eles. Toda autoridade, tanto espiritual como temporal era declarada perniciosa.
Seus adeptos elaboraram um pacto de fraternidade entre eles, com o objetivo de assegurar a golpes de punhal, o domínio de sua seita (2). A novidade nesta seita de coalizão de todos os elementos contrários à ordem era o zelo absolutamente fanático que caracterizava seus adeptos e promotores; o que já era antigo, característico mesmo de todos os movimentos semelhantes, era o apoio que a judiaria lhes prestava.


(2)  Hurter, op. cit., pág. 50.


Lucas de Tuy (1) disse: “Os príncipes do Estado e os Juizes das cidades aprenderam as doutrinas heréticas por intermédio dos judeus aos quais tinham por familiares e amigos”.


(1)  “De altera vita adversus Albig. Errores;” III, 3.


Quando o conde de Toulouse se submeteu ao Papa Inocêncio III a 18 de junho de 1209 e prestou juramento a seu legado, Millon, antes de lhe conceder a absolvição da excomunhão em que havia incorrido, ordenou-lhe que devolvesse aos bispos os cargos que lhes havia tirado, como chefe dos albigenses. Assim como expulsasse os mercenários do país, obrigando-se a não se servir deles no futuro; a “afastar os judeus de todo os cargos em sua corte” e seguir fielmente para o futuro as ordens do Papa e de seus legados. Outros dezesseis barões, vassalos do conde, tiveram também de prestar juramento no sentido de não se aliar a bandoleiros e “não dar cargo a judeus” (2).

(2)  Hurter: “Innocent III”, pág. 79.


O Concílio de Avignon decretou a exclusão dos judeus de todos os cargos públicos (3).


(3)  Idem, pág. 95.


Esta medida era certamente mais humana e efetiva que o exílio, pois não sobrecarregava os povos vizinhos com a praga da usura e das kabalas judaicas.
Estava terminado o papel das heresias baseadas na doutrina da Kabala. A cruzada contra os albigenses havia destruído seus últimos vestígios.
Uma nova era começava para os judeus, e Satanás se serviu deles de maneira ainda mais hábil que nas passadas. No século XIII se mencionou publicamente a Kabala, e ao mesmo tempo teve início a desmoralização dos Templários que produziu finalmente o trágico fim desses desgraçados cavaleiros. Foi quando os restos da Ordem dissolvida se aliaram secretamente com os kabalistas.
Doravante a propaganda do erro judaicopagão se faria por meio dos sucessores dos templários, ocultando-se na corporação dos pedreiros (massons) católicos e chamando-se os franco-maçons.
Ao erro e ao engano se uniria ainda a violência.
Quanto aos francomaçons, a doutrina kabalística deveria ser o fundamento de novos esforços, servindo de guia aos chefes da judiaria para a formação e o governo de uma nova falange destinada a prosseguir, em estreita aliança com Satanás, os ataques contra Nosso Senhor Jesus Cristo e sua Igreja.
A nova seita combinaria com a essência das heresias judaicopagãs a astúcia, a violência e o ódio de três inimigos do nome de Cristo: o Anjo caído, a sinagoga extinta e a Ordem religiosa apóstata abolida.
O “Divide et impera” será doravante o lema dos judeus. E sua política de destruir o Cristianismo por meio dos próprios cristãos, de forma a obter para si, valendo-se dos adeptos de seus “mistérios”, o “Kether-Malkhuth” do mundo. Como já vimos, “dois judeus fundaram a Maçonaria”.
Sua obra foi iniciada habilmente, e habilmente tem sido continuada até nossos dias. Conseguirão conclui-la ?






6 – A judiaria em todas as seitas kabalísticas.


Não se poderia exagerar a importância da medida imposta aos ex-albigenses de expulsar todos os judeus dos cargos públicos. É uma prova da convicção existente naqueles tempos de que os judeus eram fautores, se não autores, de todos os abomináveis erros que pululavam nas seitas que teve de sofrer a unidade da Santa Madre Igreja.
Efetivamente a essência das doutrinas heréticas, desde gnósticos e maniqueus até os albigenses, volta sempre e sempre à Kabala, e originalmente, ao antigo paganismo que esta havia absorvido. Pois bem, ninguém tinha interesse em reavivar o antigo paganismo, pois a doutrina cristã o havia substituído de forma amplamente vantajosa. Não existiam mais pagãos que conservassem as crenças de seus antepassados. Somente os judeus poderiam ter interesse em se por à afirmação e livre desenvolvimento da civilização cristã.
Em toda a sua longa história vemos este povo animado, guiado, entusiasmado, possesso de exaltação, exasperado, segundo as diversas circunstâncias de sua posição, por uma única grande idéia: a vinda de seu “Messias”. A simples lógica dos fatos nos obriga portanto a declará-los culpados de todas as desditas que as múltiplas seitas saídas da Kabala atraíram sobre a grande família cristã.
Santo Estevão lhes arenga: “Homens de cerviz dura, incircuncisos de coração e de ouvidos, que sempre resistis ao Espírito Santo; o mesmo que fizeram vossos pais fazeis vós. A qual dos profetas não perseguiram vossos pais? Mataram aqueles que prediziam o advento do Justo, ao qual vós acabais de atraiçoar e dar a morte” (1).


(1)  Atos. VII, 51.


Parece como se precisamente por essa tenacidade, a Divina Providência tivesse escolhido este povo como guardião de suas revelações, a fim de que não se perdessem pela ligeireza e inconstância dos demais povos. Isto mesmo representa uma prova permanente das promessas feitas aos homens, sendo o portador indigno delas. Este povo chamará sempre, como os sinos nas torres das igrejas, o povo ao verdadeiro templo de Deus, sem entrar ele mesmo.
Não falaremos aqui das esperanças de advento de um Salvador e Rei temporal, que o levaram a resistir às legiões de Titus com incrível furor.
O demagogo “Bar-Kokhba” (Filho da Estrela), chamado mais tarde Bar-Khosba (Filho da Mentira) (2) que dizia ser o Messias, excitou a judiaria em tempos do imperador Adriano a sacudir o jugo dos romanos. Akhiba que foi um dos fundadores da doutrina thalmúdica, que gozava de grande reputação e influência, e que havia calculado erroneamente o tempo do advento do Messias, se erigiu em sustentáculo de Bar-Kohkba, aumentando assim consideravelmente a cegueira dos judeus que tomavam este último pela estrela prometida. No início Bar-Kokhba teve sorte em sua luta contra os romanos, pois não somente se apoderou de Jerusalém mas de outras cidades e praças fortes guarnecidas pelas legiões na Palestina.


(2)  Wetzer et welte: op. cit., verbete “Akiba”.


No início da revolta os romanos não deram grande importância a estes movimentos na Judéia, tantas vezes perdida e reconquistada, mas quando Adriano se apercebeu de que os judeus estavam revolucionando todo o universo, enviou à Palestina Julius Severo, o general mais capaz de seu tempo. Este, sem se atrever a atacar simultaneamente a multidão imensa que combatia desesperadamente, resolveu faze-lo por separado e no espaço de pouco mais de dois anos que foi o tempo que durou aquela guerra, fez perecer mais de seiscentos mil judeus, sem contar os que foram vitimados pela fome, fogo ou a miséria, nem os que foram vendidos como escravos depois de aprisionados. Os judeus consideram ainda hoje este desastre o maior que jamais sofreram, incluindo-se a guerra contra Titus.
Bar-Kokhba fez perecer durante esta guerra, pelo menos cento e quatro mil cristãos. Os romanos os vingaram. Inclusive Jerusalém perdeu seu nome, passando a se chamar “Aelia Capitolina”; as pedras de seu templo serviram para a construção de um teatro, e a judiaria foi desterrada de sua capital.
Em que pese a desolação a que foram reduzidos como conseqüência das mentiras de seus falsos profetas, sua cegueira era tão grande que em 432 D.C. voltaram a dar fé a um impostor. Na ilha de Creta surgiu um certo Moisés, que afirmava ser o primeiro Moisés ressuscitado e enviado pela segunda vez à terra para que seu povo atravessasse a pé enxuto o mar que o separava da terra de seus pais. Os judeus, arrebatados de entusiasmo, abandonaram suas atividades e propriedades e seguiram seu novo guia às margens do mar e, à sua ordem e inquebrantáveis em sua fé, se precipitaram em massa nas águas, perdendo muitos a vida (1).


(1)  Görres: “Mystique”, V, pág. 55.


Os que sobreviveram a esta calamidade pretenderam ter sido enganados por um espírito das trevas, o demônio Samäel.
Mais um exemplo para demonstrar a força incompreensível da esperança que esse povo estranho tem de ver um dia o Messias prometido subjugar o mundo inteiro a seu favor.
Em princípios do século dezessete, quando Sabbathai Zewi se apresentou como o filho de David e Messias prometido, teve um precursor, Nathan de Gaza, que tendo-se transformado em clarividente conhecia e narrava coisas passadas das quais naturalmente, nada poderia saber. Tinha visões e previa o futuro. Prontamente surgiram outros profetas e profetizas na Samaria, Andrinópolis, Tessalônica, Constantinopla e muitos outros lugares. Homens, mulheres jovens, garotas, inclusive crianças, se sentiam possuídos do espírito profético e se rebolavam pela terra, como epiléticos, entravam em convulsões e anunciavam em língua hebraica ou aramaica, nenhuma das quais poderiam conhecer, coisas extraordinárias, que haviam sucedido há muito tempo ou ainda iriam acontecer. Todas as “profecias” terminavam com estas palavras: “Sabbathai Tzevi é o verdadeiro Messias da casa de David, a quem a ‘Coroa e o Reino’ foram outorgados”. (1)


(1)  Görres: “Mystique”, vol. V; pág. 65.


Eis novamente em voga o “Kether – Malkhuth”, tão conhecido dos “irmãos maçons”!
O entusiasmo despertado entre a judiaria sofreu logo uma rude decepção, pois este novo Messias passou...para o Islamismo. É assim que depois de ter ignorado seu altíssimo destino o povo judeu segue errante pelo mundo, a fim de servir de testemunha viva do Cristianismo.
Na Alemanha e outros países do Ocidente os judeus eram tratados como ajudantes de câmara do reino, dos quais o rei podia usar a seu bel prazer. Os grandes vassalos os viam como a escravos e na verdade, apesar das admoestações dos Papas e Bispos, que tentavam adoçar sua sorte, sofriam uma escravidão verdadeiramente opressiva.
Todos os anos, pelas festividades da Paixão do Senhor, quando eles se permitiam blasfêmias contra os Mistérios cristãos ou roubavam crianças para crucifica-las (*) a aversão e a indignação contra eles aumentavam tremendamente.


(*) N. do Trad. Bras. – Os sinistros assassinatos rituais. Ver a propósito: “Los crimenes rituales: una patraña antisemita?” de Albert Monniot.


Oprimidos em todos os lugares receberam como compensação através da usura as riquezas da Cristandade, sem excetuar-se sequer os tesouros da Igreja. Conseguiram apoderar-se da maior parte da prata em circulação, que faziam frutificar por meio de complicadas operações especulativas. Eram nisto protegidos pelos poderosos, que compartilhavam com eles os lucros dos juros escorchantes. Mas o povo, duplamente escalpelado por senhores e escravos, sentia cada vez maior indignação contra este ofício do qual era vítima e contra a riqueza sempre crescente daqueles estrangeiros, que se agarravam como parasitas às nações em que viviam para sorver-lhes a substância.
Estamos seguindo Görres nesta narração. A tempestade se formou lentamente, anunciando-se de vez em quando por alguns relâmpagos isolados, mas enfim, quando as Cruzadas comoveram a Europa até seus fundamentos, estourou em todas as partes ao mesmo tempo. Na França, Espanha, Inglaterra, Itália, às margens do Reno e do Danúbio, na Bohemia e na Hungria, a judiaria foi perseguida com encarniçamento inexpressável. No ducado de York, Inglaterra, quinhentos judeus que se haviam refugiado numa fortaleza lhe atearam fogo, depois de matar suas mulheres e filhos, e pereceram entre as chamas.
Foram perseguidos em todas as partes, mas a compaixão e o ouro que não haviam deixado de guardar voltaram a lhes abrir as portas. Luiz VII, rei da França, os tolerou e Pedro o Venerável, abade de Cluny de 1122 a 1157, que conhecia bem o Thalmud e que havia mandado traduzir na Espanha o Corão, intimou o príncipe a que empregasse as riquezas dos judeus contra os sarracenos.
Veja-se como se expressa em sua epístola trigésima sexta.
“O que dizeis dos judeus – Oh, Rei – é bem conhecido de todos. Se eles enchem seus celeiros de grãos, suas adegas de vinho, seus sacos de prata e suas arcas de ouro, não é trabalhando a terra nem servindo na guerra, nem praticando qualquer outro ofício útil e honorável; mas enganando os cristãos e comprando a preço vil aos ladrões os objetos de que estes se apoderam.”
“Se qualquer ladrão, arrombando uma igreja, lhe rouba os candelabros, os incensários e inclusive a própria cruz ou os sagrados cálices, tudo vai parar nas mãos dos judeus, e goza graças a eles de uma condenável segurança; e não somente encontram lugar de refúgio depois de seus roubos entre eles, mas ainda vendem à sinagoga de Satanás o que roubaram à Santa Igreja de Deus.”
“Os cálices que guardaram o Corpo e o Sangue de Cristo vão parar nas mãos daqueles que mataram aquele Corpo e verteram aquele Sangue, cobriram de opróbrios o Salvador do mundo enquanto viveu sobre esta terra, e contra quem ainda hoje em dia não cessam de blasfemar”.
Estas palavras explicam – mas não justificam – a barbárie com que os povos daquela época tratavam os judeus, de quando em quando.
O Thalmud conta que as estrelas errantes são as lágrimas que Eloi-him verte duas vezes por dia devido ao cativeiro de seu povo. Todas as manhãs ruge como um leão, golpeando com seus pés o firmamento. Todos os dias exalam um lamento torturado, e grita: “Desdita!” “Desdita sobre mim por ter feito de minha casa um deserto, por ter entregue meu templo às chamas e ter dispersado meus filhos pelas nações!”
Um povo que soube conservar seu orgulho nacional até em sua abjeção e que se atreve a pôr na boca do próprio Deus sua indignação e dor, deveria sentir-se profundamente afetado pelo desprezo e maus tratos de que era objeto. Mas indefeso e desencorajado, sua cólera concentrada não se podia manifestar à luz do dia e se via constrangida a recorrer ao mistério.
Não trataremos aqui da história, cem vezes repetida, dos assassinatos de meninos cristãos, cometidos pela judiaria com fins litúrgicos. Tais imolações não faziam se não aumentar o furor das multidões contra eles. Também se lhes imputava a mania de envenenar as fontes e rios, e a prática de todo o tipo de feitiçaria diabólica. Sabe-se o poder que os judeus atribuíam às palavras “Schemhamnphorasch”; o “nome explicado”. Aquele que soubesse usar estas palavras poderia criar um novo mundo; com elas é que Moisés fazia seus milagres, os profetas prediziam o porvir, e o próprio Jesus que as havia aprendido de Jehoschea no Egito, fazia por meio de tais palavras coisas maravilhosas. Tal palavra conteria não só a essência de Deus, mas também toda a sua potência, sabedoria, verdade, justiça, misericórdia e bondade. Estava escrita à entrada do templo de Jerusalém, sobre a pedra que Jacob havia ungido. Quando da destruição do templo pelos romanos esta palavra se perdeu com a pedra na qual estava gravada (1).


(1)  Görres: Mystique, V, pág. 68.


Os maçons conhecem esta “famosa” palavra: no grau 14, “Grande Escocês da Abóboda Sagrada”, se dá ao iniciado a explicação da pedra cúbica com ponta. Esta pedra grotesca, carregada de letras e números, é um cubo, rematado por uma pirâmide, sendo que num dos lados estão as palavras “Schem-Hamm-Phorasch”. São as palavras com que terminam as grandes evocações diabólicas no ritual de magia negra. James VI, rei de Inglaterra e Escócia, cujo nome é evocado no grau 14 da maçonaria, tinha fama de se ter entregue às “ciências ocultas” (1).


(1)  L. Taxil; II, pág. 164.


Sendo a Kabala tão querida pelos judeus era natural que se entregassem a seu estudo com afinco para achar nele consolo. Assim acharam os pontos de apoio para se porem em comunicação com os espíritos que ela preconizava; com a ajuda deles, pensavam vingar-se dos cristãos e tomar posse das riquezas. A Kabala sempre teve reputação de ser a fonte principal da magia negra.
Esboçamos a ponte pela qual a judiaria do século XIV passou da elaboração de doutrinas heréticas à de uma nova sociedade, clandestinamente teológica, secretamente política e publicamente filantrópica. Os templários hereges foram seus aliados. A aliança entre a Sinagoga extinta e uma Ordem cristã decaída se ia realizar.


Livro Segundo – OS CAVALEIROS DOS JUDEUS KABALÍSTICOS




Capítulo Primeiro – OS TEMPLÁRIOS ABOLIDOS




1-              A Loja de Kulwinning e o Zero Kabalístico.




Certo dia em que conversávamos com um homem de Estado, tão notável como justo e honrado, lhe expusemos as provas históricas da relação da maçonaria com os testos da ordem templária, suprimida em 1312. E enfatizamos o fato de que a Loja de Kulwinning era a “loja-mãe” da maçonaria universal. Nosso honorável amigo nos respondeu que esta demonstração lhe interessava vivamente; tanto que ele mesmo havia chegado a ser no passado venerável da citada loja e que sempre lhe pareceu muito curioso que tivesse o número “zero” enquanto todas as demais lojas maçônicas eram inscritas com seu número correspondente.
Já vimos que o zero – que forma um círculo – é a figura do Infinito. Em si mesmo o zero não vale nada; só tem valor quando está em composição com outros números. Da mesma forma “Ensoph”, por si mesmo e por si só, é o “Desconhecido dos desconhecidos” e só pode ser compreendido quando se manifesta nos dez “Sephiroth”. Da mesma forma como o zero é o fim de uma dezena e o começo de outra, o Ensoph se encontra afastado nos números de todos os mundos.
A aplicação da filosofia kabalística ao número zero da loja de Kulwinning, que é a fonte de todas as demais lojas do mundo, se torna assim evidente.
O ano de 1717 é sem dúvida alguma o do estabelecimento da maçonaria inglesa, “reformada”, mas esta sociedade existia desde muito tempo antes na Escócia, inclusive sem o nome de “Maçonaria”, constituída pelos descendentes de alguns templários dispersos. Estes se haviam associado para se vingar da supressão de sua Ordem, e com esta finalidade haviam constituído um novo Conventículo em Kulwinning; não com o nome de “Templo” evidentemente, mas – o que vem a ser o mesmo – com o de “Herodom”, que significa “Casa Santa”.
“No século doze – disse Paul Rosen – existia no Oriente uma seita de cristãos joanitas, os quais pretendiam que os Evangelhos não eram mais que alegorias. Seu chefe, Teóclito, iniciou mistérios da seita a Hugues de Payens, chefe dos templários, Ordem fundada em 1118, e fez deste seu sucessor”.
“Os templários professavam, portanto o gnosticismo primitivo; seus ensinamentos tiveram destacado lugar na maçonaria, que se dedicava à propagação deste gnosticismo puro, e deram à luz o ‘Ritual Templário’ de 1743” (1).


(1)  P. Rosen. Op. cit., pág. 84.


Não conhecemos a fonte desta informação. De qualquer maneira, se está baseada num fato histórico, explica a degradação moral em que caíram os templários, e que motivou a dissolução de sua ordem.




2 – O “Baphomet” dos templários maçons.


Léo Taxil, em seu livro “Mistérios da Maçonaria”, situou a origem da desmoralização dos templários em suas relações com os muçulmanos, sobretudo com os “Ismaelistas”, que formavam uma sociedade secreta maometana que professava o maniqueísmo em seus mistérios. Prestavam culto a um ídolo chamado Baphomet, “imagem satânica do naturalismo” e faziam reviver os sujos manejos dos maniqueus. A palavra “Baphomet” vem do grego, dos vocábulos “Baphé”, imersão, e “Methis”, sabedoria. Significa, portanto “batismo da sabedoria”. O termo é, portanto kabalístico, hermético, gnóstico, ofídico e maniqueu.
Como era este ídolo? Há quem diga que se tratava de uma cabeça barbuda, montada sobre quatro pés, e que tinha uma ou três faces (2).


(2)  A. de Saint – Albin: “Les francs-maçons et les Sociétès secrètes selon les actes du procés des Templiers”, pág. 18.


M. de Hammer (3) descobriu uma dezena destas “cabeças de Baphomet”, como as chamava e decifrou as inscrições árabes, gregas ou latinas que ostentavam, assim como os símbolos que tinham gravados. A “Métis” ou sabedoria está representada nestes ídolos, conforme o ideário dos gnósticos, por uma figura humana que reúne os atributos dos dois sexos. Está acompanhada pela famigerada letra “tau” (o phallus que os egípcios chamam “a Fonte da vida e do Nilo”), da serpente, da representação do batismo de Fogo e ademais, de outros símbolos maçônicos tais como o sol, a lua, etc.

(3)  V. Bergier: “Dictionnaire de Theologie”. Ver o verbete: Baphomet.


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Attikis, Greece
Sacerdote ortodoxo e busco interessados na Santa Fé, sem comprometimentos com as heresias colocadas por aqueles que não a compreendem perfeitamente ou o fazem com má intenção. Sou um sacerdote membro da Genuina Igreja Ortodoxa da Grecia, buscamos guardar a Santa Tradição e os Santos Canones inclusive dos Santos Concílios que anatematizam a mudança de calendário e aqueles que os seguem, como o Concílio de Nicéia que define o Menaion e o Pascalion e os Concílios Pan Ortodoxos de 1583, 1587, 1593 e 1848. Conheça a Santa Igreja neste humilde blog, mas rico no conteúdo do Magistério da Santa Igreja. "bem-aventurado sois quando vos insultarem e perseguirem e mentindo disserem todo gênero de calúnias contra vós por minha causa. Exultai e alegrai-vos pois será grande a vossa recompensa no Reino dos Céus." "Pregue a Verdade quer agrade quer desagrade. Se busca agradar a Deus és servo de Deus, mas se buscas agradar aos homens és servo dos homens." S. Paulo. padrepedroelucia@gmail.com