Historia da Igreja
Para uso interno e didático somente
ADAPTAÇÃO PEDAGÓGICA: Dr. Carlos Etchevarne, Bach.Teol.
TRADUÇÃO Pe. Pedro Anacleto
Introdução.
§ 1. Possibilidade e Valor da Historia da Igreja.
I. Historicidade da Igreja. II. Aprofundamento da Imagem da Igreja.
I. Historicidade da Igreja.
A história é uma peculiar dimensão do ser e do acontecer. O pensamento histórico é uma categoría espiritual própria; não é inata ao ser humano. Quando se quer compreender a Igreja históricamente, cobra um significado especial, o feito da relação da Igreja com seu contexto que a Igreja tem que ver, e por certo essencialmente, com elementos que fazem a seu próprio acionar sócio-institucional, dentro do dever histórico. Por ser útil começar aclarando o conceito de historia da Igreja e certas leis fundamentais que se deixam entrever em seu próprio desenrolar.
1. A Igreja é o corpo místico de Cristo, o Cristo que segue vivendo. Por isso é algo divino e objeto de Fé. Como tal não pode ser captado nem compreendido, no sentido própio da palavra, pela inteligência humana; esta pode, sem embargo, penetrar em sua natureza e em suas obras com profundidade suficiente para fazer dela uma exposição científica.
Uma contribuição importante para alcançar este objetivo é o conhecimento da história da Igreja. Para embora a Igreja é divina, é uma história verdadeira: Jesus Cristo, o Logos divino vindo ao mundo e, assim, a história da encarnação, a vida, a doutrina e sua influência ao longo dos séculos até hoje.
A riqueza de dados sobre a história da Igreja ao longo dos séculos tem-nos ensinado que, quando Cristo e a sua mensagem o divino quebrou no mundo da natureza e deu testemunho de milagres por si só, não destruiu as categorias de ser e de crescer naturais se submeteram a elas. O cristianismo não é transformado de forma alguma em uma magia. Assim a realidade divina cristã, que, como tal, não se pode mudar, como um fenômeno histórico tem tomado ao longo dos séculos múltiplas formas. Como o corpo de Cristo, a Igreja é um organismo vivo que não permanece dormente nos seus alicerces originais, mas é desenvolvida.
A capacidade intrínseca de permanecer idêntica a si mesmo dentro do seu desenvolvimento se faz até certo ponto compreensível no profético. O significado da profético, tal como inspirada por Deus, tem um significado mais profundo e mais amplo do que o autor humano (inclusive na inspiração!) É capaz de alertar a consciência. Muitas vezes é apenas história - cuja Senhor é Deus - que é totalmente desenvolvida neste sentido apenas a partir dessa perspectiva é entendida em toda a sua profundidade como a passagem S. Mt 16:18 1. Apenas a partir desta perspectiva, é possível combinar, por exemplo, a concepção de Jesus no ventre de Maria pelo Espírito Santo e a bem-aventurança do Magnificat (Lc 1:46 ss), com a confissão de que "não entendiam suas palavras," (Mc 9:32).
2. Entre as fontes da história da Igreja destacam por seu valor os escritos reunidos do Novo Testamento: os Evangelhos de S. Mateus, S. Marcos, S. Lucas e S. João, os Atos dos Apóstolos, e o Apocalipse. Estes escritos, na verdade, contém a doutrina cujo anúncio fundamenta e direciona a vida da Igreja desde a sua fundação, ou seja, toda a sua história. Histórias da vida e de todo o ensinamento de Jesus de Nazaré e as vidas de seus seguidores até o fim do século I.
Os escritos do Novo Testamento são organicamente unidos com o Antigo. Assim demonstram a figura e a doutrina de Jesus Cristo, fundador da Igreja, e confirmam as notícias do Novo Testamento sobre as primeiras comunidades. Não é possível, portanto, compreender corretamente o significado dos escritos do NT mais que em relação com o Antigo.
As diferentes condições emocionais e espirituais dos autores, as diferentes fontes que estavam a seu alcance e as diferenças no tempo, na composição e no círculo de leitores, evidentemente justificam, como é natural, a peculiaridade, por vezes de forma acentuada nas Escrituras. Tão pouco falta desacordos e aparentes contradições: a revelação se encarna também na imperfeição da linguagem humana. Em princípio, isto não é mais que uma prova da tese fundamental, já anunciada, que o surgimento do divino na natureza (e em parte também contra ela) significa que o cristianismo não suprimiu as categorias naturais do ser e acontecimento na história da revelação divina.
A revelação não pretende comunicar um saber abstrato e sistemático, senão todo um anuncio de factos salvíficos, muitas vezes expressado por símbolos e parábolas. Também por este lado, é compreensível que ainda exista grandes divergências.
No entanto, não existem contradições reais na Sagrada Escritura. Sua unitariedade é tanto mais notável, porque a maioria dos autores não eram "cultos" e a fixação da mensagem escrita de Cristo por um longo tempo apenas esteve sob regras obrigatórias, pelo qual o Canon pode formar-se "com liberdade".
3. A encarnação de Deus (Jo 1:14) é a base da Igreja; a este facto, por isso, tem de começar qualquer descrição de sua história. Cristo predisse que suas palavras não iam passar (S. Mateus 24:35), mas também que seu reino ia extender-se, com um inesperado crescimento (cf S. Mt 13:31. S. Mt 28:19). O crescimento orgânico sobre o fundamento dos apóstolos (Ef 2:10) e sob a orientação do Espírito Santo (Jo 16:13) é, portanto, uma categoria fundamental na história da Igreja.
A Igreja tem realmente um verdadeiro desenvolvimento, que pode ser seguido no culto, na teologia, administração, literatura e compreensão de si mesma. O seu contacto com os diversos povos e culturas levou a mudanças profundas. Embora os homens em essência são todos iguais, a sua mentalidade é muito diferente.
A forma de pensar dos pregadores da verdade cristã do segundo século é muito diferente da de um moderno teólogo. Tertuliano, Origen, Agostinho, Bonifacio, Tomás de Aquino, Nicolau de Cusa, Fenelon, Sailer, Newman, Schell, etc expressam a fé cristã comum de modo em extremo diferente. Esta diversidade reflecte-se em parte a transformação histórica e o desenvolvimento gradual do pensamento cristão.
4. Há um âmbito na Igreja contra o qual "não prevalecerão as portas do inferno" (Mt 16:18). Na medida em que este âmbito coincide com a essência da Igreja, as portas do inferno não prevalecerão "contra a Igreja."
--> 1. A Igreja é o corpo místico de Cristo, o Cristo que segue vivendo. Por isso é algo divino e objeto de Fé. Como tal não pode ser captado nem compreendido, no sentido própio da palavra, pela inteligência humana; esta pode, sem embargo, penetrar em sua natureza e em suas obras com profundidade suficiente para fazer dela uma exposição científica.
Uma contribuição importante para alcançar este objetivo é o conhecimento da história da Igreja. Para embora a Igreja é divina, é uma história verdadeira: Jesus Cristo, o Logos divino vindo ao mundo e, assim, a história da encarnação, a vida, a doutrina e sua influência ao longo dos séculos até hoje.
A riqueza de dados sobre a história da Igreja ao longo dos séculos tem-nos ensinado que, quando Cristo e a sua mensagem o divino quebrou no mundo da natureza e deu testemunho de milagres por si só, não destruiu as categorias de ser e de crescer naturais se submeteram a elas. O cristianismo não é transformado de forma alguma em uma magia. Assim a realidade divina cristã, que, como tal, não se pode mudar, como um fenômeno histórico tem tomado ao longo dos séculos múltiplas formas. Como o corpo de Cristo, a Igreja é um organismo vivo que não permanece dormente nos seus alicerces originais, mas é desenvolvida.
A capacidade intrínseca de permanecer idêntica a si mesmo dentro do seu desenvolvimento se faz até certo ponto compreensível no profético. O significado da profético, tal como inspirada por Deus, tem um significado mais profundo e mais amplo do que o autor humano (inclusive na inspiração!) É capaz de alertar a consciência. Muitas vezes é apenas história - cuja Senhor é Deus - que é totalmente desenvolvida neste sentido apenas a partir dessa perspectiva é entendida em toda a sua profundidade como a passagem S. Mt 16:18 1. Apenas a partir desta perspectiva, é possível combinar, por exemplo, a concepção de Jesus no ventre de Maria pelo Espírito Santo e a bem-aventurança do Magnificat (Lc 1:46 ss), com a confissão de que "não entendiam suas palavras," (Mc 9:32).
2. Entre as fontes da história da Igreja destacam por seu valor os escritos reunidos do Novo Testamento: os Evangelhos de S. Mateus, S. Marcos, S. Lucas e S. João, os Atos dos Apóstolos, e o Apocalipse. Estes escritos, na verdade, contém a doutrina cujo anúncio fundamenta e direciona a vida da Igreja desde a sua fundação, ou seja, toda a sua história. Histórias da vida e de todo o ensinamento de Jesus de Nazaré e as vidas de seus seguidores até o fim do século I.
Os escritos do Novo Testamento são organicamente unidos com o Antigo. Assim demonstram a figura e a doutrina de Jesus Cristo, fundador da Igreja, e confirmam as notícias do Novo Testamento sobre as primeiras comunidades. Não é possível, portanto, compreender corretamente o significado dos escritos do NT mais que em relação com o Antigo.
As diferentes condições emocionais e espirituais dos autores, as diferentes fontes que estavam a seu alcance e as diferenças no tempo, na composição e no círculo de leitores, evidentemente justificam, como é natural, a peculiaridade, por vezes de forma acentuada nas Escrituras. Tão pouco falta desacordos e aparentes contradições: a revelação se encarna também na imperfeição da linguagem humana. Em princípio, isto não é mais que uma prova da tese fundamental, já anunciada, que o surgimento do divino na natureza (e em parte também contra ela) significa que o cristianismo não suprimiu as categorias naturais do ser e acontecimento na história da revelação divina.
A revelação não pretende comunicar um saber abstrato e sistemático, senão todo um anuncio de factos salvíficos, muitas vezes expressado por símbolos e parábolas. Também por este lado, é compreensível que ainda exista grandes divergências.
No entanto, não existem contradições reais na Sagrada Escritura. Sua unitariedade é tanto mais notável, porque a maioria dos autores não eram "cultos" e a fixação da mensagem escrita de Cristo por um longo tempo apenas esteve sob regras obrigatórias, pelo qual o Canon pode formar-se "com liberdade".
3. A encarnação de Deus (Jo 1:14) é a base da Igreja; a este facto, por isso, tem de começar qualquer descrição de sua história. Cristo predisse que suas palavras não iam passar (S. Mateus 24:35), mas também que seu reino ia extender-se, com um inesperado crescimento (cf S. Mt 13:31. S. Mt 28:19). O crescimento orgânico sobre o fundamento dos apóstolos (Ef 2:10) e sob a orientação do Espírito Santo (Jo 16:13) é, portanto, uma categoria fundamental na história da Igreja.
A Igreja tem realmente um verdadeiro desenvolvimento, que pode ser seguido no culto, na teologia, administração, literatura e compreensão de si mesma. O seu contacto com os diversos povos e culturas levou a mudanças profundas. Embora os homens em essência são todos iguais, a sua mentalidade é muito diferente.
A forma de pensar dos pregadores da verdade cristã do segundo século é muito diferente da de um moderno teólogo. Tertuliano, Origen, Agostinho, Bonifacio, Tomás de Aquino, Nicolau de Cusa, Fenelon, Sailer, Newman, Schell, etc expressam a fé cristã comum de modo em extremo diferente. Esta diversidade reflecte-se em parte a transformação histórica e o desenvolvimento gradual do pensamento cristão.
4. Há um âmbito na Igreja contra o qual "não prevalecerão as portas do inferno" (Mt 16:18). Na medida em que este âmbito coincide com a essência da Igreja, as portas do inferno não prevalecerão "contra a Igreja."
É certo que o Reino de Deus está entre nós (S. Lucas 17:21), manifestando-se parcialmente na força de Deus, de forma que muitos o veem e creem nele; mas só np fim dos tempos aparececera com toda a sua pelinitude, desde o além, neste mundo arrebatado pela rebelião contra Deus e Seu Cristo.
Mas a evolução da Igreja nem sempre tem seguido uma linha reta. Também na história da Igreja, "Deus escreve direito a linhas tortas." Esta evolução tem sido feita, segundo a promessa do Senhor, com a assistência especial do Espírito Santo (S. Mateus 16:18 e 28:20). Pretender pusilanimemente eliminar da historia da Igreja suas inumeráveis debilidades, deficiencais, e as tensões seriam seria como retirar o domínio de Deus sobre ela. Segundo a Escritura, a Igreja não cessa de expandir neste EON, penetrando em todos os povos "até os confins da terra" (Mt 28:19 s). Mas o que não esta revelado é que vai transformar toda a humanidade em um perfeito reino de Deus. A Igreja é, como tal, a Igreja de pecadores, de maus peixes (S. Mt 13:47 s), ou seja, seu desenvolvimento irá também assumir a forma de decadência. É verdade que o reino de Deus está entre nós (S. Lucas 17:21), em parte, demonstrando o poder de Deus, por isso muitos irão ver e acreditar nela, mas só no final do tempo estourar com sua plenitude, desde o mais alem, neste mundo arrebatado pela rebelião contra Deus e Seu Cristo.
Por outra parte, uma das coisas mais grandes e impressionantes da historia da Igreja é o fato de haver permanecido, dentro de seus enormes progressos e inumeráveis debilidades, fiel a sua essência, inefável em seu núcleo e inequivocamente imutável.
Esta realidade divina imutável na historia da Igreja não pode captar-se por completo mais que pela Fé. Mas não forçosamente por uma fé separada da critica histórica. Este é o ponto no qual a historia da Igreja se converte em teologia. O problema é saber em precisar se é ciência, até que ponto e de que modo.
5. Para expor a história da Igreja tal como tem transcorrido, é dizer, como se tem configurado de feitos sob a vontade do Senhor da historia, é condição indisponsavel adotar a atitude cristã básica: ser ouvinte. A história da Igreja não pode deduzir-se das idéias, nem sequer das reveladas; tem que descobri-la com fidelidade e abnegação em que um dia veio a ser e foi sem nossa intervenção.
Isto significa que, na medida em que a Igreja tem vivido uma história, e por te-la vivido, seu estudo guarda afinidade com toda outra ciência histórica. A investigação e exposição da vida da Igreja ao longo dos séculos é realizado sob as mesmas leis da crítica histórica que regem em toda os verdadeira ciência histórica. Além disso, a história da Igreja difere da pura ciência natural, já que trabalha segundo próprios princípios, tomados da Revelação.
A combinação correta de ambos elementos não se produz de modo que os fundamentos teológicos possam determinar inclusive a modificar os resultados históricos, senão que estes estão subordinados à intenção do fundador da Igreja, é dizer, são interpretados e valorizados teologicamente segundo os fundamentos da revelação.
6. Assim, pois o primeiro que há de se fazer o historiador é assegurar o material, fixar o sucedido e documentá-lo historicamente, isto é “prová-lo”.
O grau de demonstrabilidade varia segundo os distintos períodos da historia da Igreja. A Idade Moderna oferece muito mais documentação sobre qualquer caso mais que o Medieval, e este, pelo geral, mais que a Antiguidade:
Em consequencia, pelo que respeita às provas, também as exigencais da ciência histórica são de diversos graus segundo as distintas épocas. A historia da Igreja tem direito, por sua parte, a aceitar essa degradação. Resulta em antihistoria exigi-la, quando se trata de uma tese cientifica da historia da Igreja antiga, uma certaza histórica comparativamente maior, ou inclusive essencialmente superior, que a que se exige para um acontecimento de parecida improtancia entre as sucessões da historia. Um exemplo típico é a questão de se Pedro atuou em Roma e morreu alí. (cf. § 9)
II. Aprofundamento da Imagem da Igreja
1. A historia da Igreja é um meio apropriado para conhecer mais a fundo a essência da mensagem cristã da Igreja.
Quando veio o Messias, seus discípulos não compreenderam que Ele tinha que padecer e morrer e quando chegou a hora temida, creram estar perdida sua causa; quando Jesus voltou ao Pai, as primeiras gerações cristãs creram que viria em seguida a realizar o juízo final, quando no primeiro dia de Pentecostes foi fundada a Igreja, muitos estavam convencidos de que a Igreja seria uma comunidade integrada só por santos e que o pecado jamais voltaria a ter poder sobre os seus membros: o desenvolver histórico percorrendo caminhos muito distintos, tem vindo a demonstrar que ainda que não havia captado o significado completo das palavras de Jesus. A historia da Igreja tem vindo a ser uma pedagogia que faz entender a pregação de Jesus e sua criação: a Igreja
A historia da Igreja ajuda, pois, a formar-se um conceito justo da Igreja. Sua mais específica contribuição a este respeito consiste em impedir uma falsa espiritualização (espiritualismo) e conseguinte volatização da realidade “Igreja”. Dita historia mostra melhor, primeiro, que a Igreja tem um corpo, que é visível, superando assim a falsa distinção entre uma Igreja “ideal” e outra “real” (fazendo a si mesmo entender que só há uma Igreja, que é ao mesmo tempo instituição divina e fruto do crescimento histórico: Igreja invisível e comprovável); e segundo, preserva de uma falsa visão de santidade da Igreja. Esta santidade é objetiva; não exclue a pecaminosidade dos membros e chefes da Igreja nem diminue por causa da mesma.
Por este lado, e com toda clareza, a história da Igreja se refere a esse conceito sem o qual é impossível alcançar uma frutífera inteligência e interpretação da história, o felix culpa, a culpa dita. A essência deste conceito é o mesmo que dizer que os fenômenos históricos (pessoas, sistemas e ações) e os erros não são sinónimo de culpabilidade histórica, mas que pode ter um significado mais profundo no âmbito do plano de Deus para a salvação e, de facto, a partir do pecado, é muitas vezes decisiva. Este conceito é o reconhecimento do Deus vivo na história. Responde à alegação agustiniana de que tudo que acontecer ao longo do tempo é de Deus. Leva a sério a idéia cristã da providência. O erro ainda é erro, a erva daninha, planta daninha, o pecado, pecado, e alguns outros reprováveis são a antítese do que foi anunciado por Deus. Mas a vontade de Deus que governa o mundo e faz mesmo o erro dos homens útil para o seu santo desígnio.
2. Os ensinamentos do NT exigem claramente a unidade da Igreja (Jo 17:21 ss; Ef 4:5). Aqueles que se desviaram da unidade que foram considerados como desviados da verdadeira doutrina (heresia, seitas, § 15) são tratados de acordo com a palavra do Senhor: "E se fizer caso e não escutar a Igreja, considerá-lo como um pagão" ( Mt. 18:17).
Mesmo as grandes divisões após a Reforma do século XVI destruiu todo o conceito de que o cristianismo é a Igreja. O processo foi concluído para estabelecer a separação e as sucessivas e aparentemente irremediável multiplicação das divisões (especialmente a partir do século XVIII). Também a filosofia moderna, com a destruição do conceito de verdade objetiva e seu relativismo tem tido uma influência decisiva. Mas hoje, mesmo os não cristão, é de reconhecer explicitamente que a divisão em várias “igrejas” estão em contradição com a vontade do fundador da Igreja.
Essa unidade significa que a verdadeira promessa para a Igreja por seu fundador só pode ser plena e objectivamente em uma Igreja. O cristão verdadeiro acredita e afirma que essa Igreja é a Igreja Ortodoxa que é Apostólica, Una e indivisível, que foi fundada por Cristo, nosso Senhor. Isto não significa, de forma alguma, que nela se faz suficientemente acima do depósito da Fé em sua plenitude, amplitude e liberdade, muito menos ainda que o tenha apropriado subjetivamente de uma maneira perfeita em todos os casos. A hirtória da Igreja demonstra o contrário.
Mas a possessão objetiva da verdade por parte da Igreja Ortodoxa está garantido na análise histórico-científica por uma prova direta e outra indireta.
Prova directa: a Igreja Ortodoxa é a única que, apesar dos muitos exemplos de perdas e exaustão, manteve-se em toda essencia na linha de desenvolvimento criado por Cristo e os apóstolos. Só ela, em particular, tem preservado o ministério plenamente vinculativo e obrigatório em consciência, como os apóstolos o tiveram e exerceram (§ 18).
A prova indirecta: se a Igreja Ortodoxa não é a Igreja fundada por Jesus Cristo, resulta que falsas igrejas que se dizem cristãs são, em todos os aspectos essenciais, a legitima fundação sucessora de Jesus. Isto implica: 1) negação da unidade da Igreja, 2) que a Igreja de Jesus poderia ser abertamente coisas contraditórias (cf. as diversas opiniões sobre a pessoa do Senhor, o nascimento virginal, sobre o sacramento do altar) 3) pressupõem que a Igreja fundada por Jesus, imediatamente após a sua partida, teria caído em erros substanciais, contrariamente às suas promessas, 4) significa que o cristianismo teria sido totalmente errado, em substância, já nos anos 50-60 anos, até 1517 (ou, talvez, no periodo do grande cisma quando a Igreja Romana se afastou da Igreja Ortodoxa).
A unidade da Igreja não significa que os não ortodoxos batizados em Cristo e crentes nele, e também os pagãos, não pertençam à Igreja una. A doutrina sobre a vontade salvífica universal de Deus, o Logos spermatikos e a viae extraordinariae gratiae (estradas extraordinária da graça) sobre a distinção (não muito feliz) entre a adesão plena e parcial, fornece as bases conceituais para desenvolver ainda mais Esta ideia de base da Igreja Ortodoxa 2.
3. História da Igreja é um dos melhores instrumentos para lidar com a riqueza e a verdade da Fé Ortodoxa, Fé, não que não só tem satisfeito a tantas personalidades de todos os tempos e lugares, tão grandes e diversas entre si, mas que tem impulsionado a insuperáveis empreendimentos em todos os níveis elevados da vida.
Como membro da Igreja, a ortodoxia cristã sente necessidade natural (que de alguma maneira se torna um dever para culto ortodoxo) de conhecer a vida da familia sobrenatural a que pertence. É também esta necessidade como um homem moderno, como a atual cultura do Ocidente, mas muitas vezes é hostil ou alheia à Igreja, na sua melhor parte é baseada no cristianismo e que tenha sido em grande parte criado pela Igreja. A Europa é cristã nas suas raízes cristãs, graças à Igreja.
4. O estudo da história da Igreja é uma eficaz apologia à mesma. Isto é evidente no que respeita aos seus grandes dias, figuras heróicas e empresas. Mas também é verdade no que diz respeito às diversas e graves deficiências verificadas na história da Igreja. Porque: 1) estes fracassos têm um profundo sentido religioso cristão e como o misterioso significa a continuação da paixão de Jesus pela Igreja. Levar o cristão a conhecer a sua situação: a indigna e pecadora (S. Lucas 17:10) que só é mantida pela força da graça de Cristo, que continuamente mostram, com excepção do núcleo, a Igreja é Igreja de pecadores; 2) a Igreja tem sempre encontrado, muitas vezes em situações mais difíceis, a força de reformar a si e aos seus membros para novos patamares de vida moral e religiosa. Este é um sinal claro de que ela opera não só humanos, mas também a graça divina; 3) desenvolver esta ideia é legítimo, desde que a dizer que talvez a mais impressionante prova da divindade que reside em toda a Igreja radica em que a pecaminosidade, fraqueza e infidelidade dos seus próprios líderes e membros não conseguiram destruir a sua vida.
Com esta queda claro que semelhante "apologia" não consiste, de maneira alguma tendenciosa na cobertura das falhas na história da Igreja. Estas falhas são reais e enormes, e hoje continua a levantar problemas de consciência, a mais de um cristão. Mas desde que Jesus foi condenado como criminoso e amaldiçoado sobre a cruz e ficou sentindo o mesmo como Deus abandonado, não é fácil definir os limites à sua agonia na vida da sua Igreja.
Se mostramos honestamente as deficiências (pelo menos aquelas que podemos comprovar com segurança), podemos apenas esperar que os adversários da Igreja, ou os que têm outras crenças, escutem e confiem no que dizemos ao descrever os aspectos positivos da Igreja e também aceitem a nossa rejeição das doutrinas contrárias à Igreja com a seriedade que é uma opção de consciência cientificamente provada e amadurecida.
Esta atitude foi prescrita pelo fundador com a exigência radical de fazer penitência.
5. Para ter êxito neste exercício é absolutamente necessário que o estudioso tenha a interior liberdade cristã. "O cristão", diz tanto como verdade e amor, ambos na unidade inseparável. Só o conhecimento fecundado pelo amor, que é, pelo entusiasmo chega ao ponto mais íntimo das coisas. Mas o conhecimento amoroso só pode ser destinado a uma realidade.
Assim, pois a para conhecer a verdade (em especial na história da Igreja) são necessárias o entusiasmo e a crítica, o amor e verdade. A atitude geral tem de ser um entusiasmo desapaixonado. Isto não significa indiferença ou ceticismo, mas é a plenitude do amor, porque o é da verdade. É um otimismo autentico, cristão, realista, longe de todo entusiasmo fanático e estéril. Só tal apologia é duradoura e útil para a causa sagrada da Santa Igreja. Só ela ajuda a carregar a cruz, que jamais pode faltar no cristianismo.
Assim, pois a para conhecer a verdade (em especial na história da Igreja) são necessárias o entusiasmo e a crítica, o amor e verdade. A atitude geral tem de ser um entusiasmo desapaixonado. Isto não significa indiferença ou ceticismo, mas é a plenitude do amor, porque o é da verdade. É um otimismo autentico, cristão, realista, longe de todo entusiasmo fanático e estéril. Só tal apologia é duradoura e útil para a causa sagrada da Santa Igreja. Só ela ajuda a carregar a cruz, que jamais pode faltar no cristianismo.
Jesus Cristo, a sua natureza, sua vida, sua paixão, a sua ressurreição e a sua pregação resumem toda a mensagem do Pai para a humanidade. A história da Igreja fundada por Ele deve ser narrada tal como na realidade aconteceu, e não de outra forma. O valor e o juízo deste desenvolver dependem naturalmente da medida em que esta se manteve fiel à mensagem do Pai em Jesus Cristo.
6. Todo estudo histórico corre um grave perigo: tende a tomar como reprodução objetiva da totalidade da história o que pode capturar nas fontes preservadas (leis, escritos, monumentos arquitetônicos, etc) .. A vida real das pessoas, da massa, passa facilmente então para segundo plano. Este reducionismo perigoso, inaceitável, mas também pode ocorrer na história da Igreja. A doutrina e a atuação da hierarquia e dos teólogos estão na maioria das vezes relativamente bem documentadas, enquanto a fé e seu impacto sobre os outros membros do povo de Deus são muito pouco ou nada.
No entanto: a plenitude da Fé Verdadeira na massa dos membros da Igreja é, claramente o que, juntamente com o ministério e os sacramentos, constitue a realização do Reino de Deus na terra. E tanto, talvez a maior parte deste êxito reside no anonimato sob a imperceptível mudança do quadro histórico, e permanece desconhecida em seus detalhes, é importante, pois sabermos que conhecemos apenas uma pequena parte do que constitui a vida histórica da Igreja. Toda história é mais rica que o seu rosto visível. Logicamente, isto é aplicavel em muito maior grau à história dos mistérios de Deus no mundo.
7. O que é válido para a história política, o é também para a eclesiástica: há que captá-la pensando, o que supõe interpretar, julgar e avaliar. É necessário destacar os diferentes significados de cada pessoa e cada evento. A mera justaposição de factos isolados é apenas um passo, ou conduz a um historicismo relativista e a conseqüente negação da verdade absoluta.
A plenitude e a riqueza da história da Igreja, ainda mantem a distância crítica, deve ser fortemente proclamada vivamente, para interpelar e convidar ao individual. Porque é verdade que a história avança, no passado, mas não é apenas passado: se aproxima viva, ou porque nos oferece tesouros a serem verificados, quer porque nos obriga a apresentar um desempenho melhor e mais puro na sua missão histórica, que no seu tempo não se resolveu satisfatoriamente. Isto aplica-se à história em geral. Para a história da revelação da salvação, o que compromete-nos fundamentalmente, tem, como é natural, uma dimensão muito maior, mesmo no negativo. Também na história da Igreja é o fator fundamental a evolução negativa e interpretações erradas, mesmo com impacto universal. Estas têm de ser expostas como tais, claramente. Quem renuncia expor a verdade e distingui-la da mentira, mesmo que descreva com tons positivos fenômenos que se dizem cristãos, mas não descrevem a história da Igreja de Cristo.
1 Para cimentar este pensamento na Sagrada Escritura, cf. Jo 11:51: "Isto não aconteceu a ele, sendo sumo sacerdote naquele ano, ele profetizou ...."
2 Uma síntese clássica desta fé nos dá Agostinho: "Como muitos dos que não pertencem a nós, no entanto, são nossos, e como muitos de nós estão fora?"
§ 2. Articulação da História da Igreja.
I. Articulação Objetiva.
II. Articulação Temporal.
III. As Distintas Épocas.
I. Articulação Objetiva.
I. Articulação Objetiva.
1. O acontecer histórico-eclesiástico, nos apresenta inicialmente com uma multiformidade, em muitos e muitos cenários diferentes e épocas diferentes. Mas esta multiformidade não é desconexa. Em princípio, existe uma força que atenua ou até mesmo supera qualquer digressão, é a pessoa do fundador da Igreja, à qual todos temos sempre referido e com os quais todos dizem respeito a sua herança religiosa. Além disso, as fontes do NT, como já dissemos, e a Igreja é um corpo inteiro. E toda esta unidade orgânica sempre tem tido consciência que tem crescido, é certo, mas era extremamente intenso nos primórdios do Cristianismo. Sua história, portanto, também é uma unidade, que se baseia no único fundamento que é Jesus Cristo, seu trabalho, seu ensinamento e da sua fundação, e sempre em torno dos mesmos temas que Ele propôs e impôs como tarefa.
Contudo, uma vez que a Igreja, ainda sendo obra da graça divina, se apresenta a homens mortais e fatos passageiros condicionados por intempéries e, conseqüentemente, sua vida e sua história são a si mesmo múltiplas, não só no sentido da multiplicidade acima menscionada, mas no sentido estrutural, isto é, como o desenvolvimento de diferentes níveis estruturais. Deste ponto de vista, se pode articular a história da Igreja: a) à vida fundamental básica, b) à vida interna e, c) à vida externa da Igreja.
2. A vida fundamental da Igreja é o elemento divino que há nela, a Igreja toma o sentido estrito; é o corpo místico de Cristo que vive na graça de Deus, independentemente da natureza moral-religiosa de seus membros, ou seja, a graça em si que é a verdade objetiva e a santidade obdjetiva da Igreja, nunca encoberta pela sombra do erro e do pecado.
Desta vida fundamental brota, com a colaboração dos membros da Igreja, sua vida interna e externa.
A vida interna da Igreja pertence quanto a Igreja faz de seu próprio centro, independentemente da "sociedade perfeita" (o Estado) que existe ao seu lado, e sem referência ao "mundo" e, portanto, é na sua vida que se liga directamente a esfera religiosa. Da vida interna da Igreja formam partes, por exemplo, a sua vida de piedade sacramental e extra-sacramental, suas actividades caritativas, a sua teologia, em suma: a própria consciência religiosa que de si mesmo tem a Igreja.
A vida fora da Igreja são especialmente suas relações com o Estado e com o mundo e, consequentemente com, a cultura e com outras religiões e assim como sua disseminação externa. "Externo" não significa simplesmente ou exclusivamente "fora". Dado o caráter inerente missionário do cristianismo, as relações da Igreja com o estado, e o mundo e a cultura são essenciais para as suas vidas.
Para entender a história da Igreja e a Igreja mesma é extremamente importante distinguir as manifestações atuais da Igreja os planos da vida histórico eclesiástica que acabamos de indicar e sobretudo sua íntima conexão recíproca.
II. Articulação Temporal.
1. Fazer uma divisão cronológica do processo histórico, e fazê-la corretamente, não é acidental, mas um dos requisitos mais importantes para compreender a história. É verdade que o fluxo da vida é uma continuidade histórica, é um continuum, mas como tal, não é uma simples mistura de relatórios. Está articulada em si mesma, independentemente do espírito humano que contempla. Em certa medida, portanto, a relação pode ter uma entrada em cada uma das suas fases de desenvolvimento. E essa entitulação - o que é muitas vezes chamado de "articulação", se você escolher sabiamente, é uma ajuda excepcional para conhecer e compreender a história, evidentemente sob o pressuposto de estar consciente do valor limitado de qualquer subdivisão em períodos. Quem já profundamente tem repensado a fundo em um bom panorama da história da Igreja e tem chegado a ter uma visão clara do desenvolvimento, que tem lugar no mesmo, a) dispõe de um marco seguro e fácil para abarcar a qualquer momento dentro do qual pode ordenar e situar os detalhes históricos e colocar no seu devido lugar, e, b) a visão de conjunto nos permite detectar e compreender as informações à luz do desenvolvimento global, contribuindo assim para capturar o significado mais profundo da história.
2. Assim como a vida do indivíduo é diferente quando criança, adolescente e adulto, e o mesmo é verdade em povos inteiros, assim ocorre com a Igreja. A questão é complicada, neste caso, porque a Igreja é uma realidade em todo o mundo e persistente ao longo do tempo (espaço-temporal da universalidade da Igreja): estes povos para os quais a Igreja pregou e onde Ela realizou o seu ideal no curso da história e, por sua vez, utilizou a sua melhor forma e sustentou com forças a Igreja. Isso mudou não apenas o cenário da história da Igreja, mas ainda assim, a vida eclesial de cada período, povo e o lugar.
Na medida em que um cenário e vida que nela se está formando uma certa unidade, temos uma unidade histórica, o "princípio" e o "fim" de uma semelhante unidade é, assim, justificado a marca momentos de divisão e de desenvolvimento .
3. Durante a história da Igreja, além de inúmeros outros pontos menos evidentes, há dois eventos especiais que justifiquem a separação da história da Igreja em três grandes secções principais, falando sobre uma Antiguidade cristã, uma Idade Média e uma Idade Moderna. Esses dois eventos são os seguintes:
a) A grande migração dos povos nos séculos IV, V e VI derruba o marco 5 em que se desenvolveu até então, a história da Igreja, o antigo Império Romano (fim da Antiguidade), reduz e amplia a vez do cenário da história da Igreja e, acima de tudo, faz entrar na cena da história universal como fatores ativos a povos totalmente novos, fornecem a semente da Palavra de Deus uma terra diferente: o jovem povo germanico e mais tarde os povos eslavos. A maturação destes novos povos, em estreito contacto com a Igreja (e, em multiplas tensões com Ela) a história completa da Idade Média.
b) A transformação radical da vida espiritual do Ocidente a partir do décimo quarto e décimo quinto séculos relaxa cada vez mais estreita relação entre estes povos, eles vão gradualmente adquirindo autonomia espiritual, com a Igreja, que tinha pertencido como da forma mais natural, a maioria dos membros ..
4. Este esquema só é válido para o Ocidente. Os fatores que determinam a sua história até hoje diferem radicalmente daqueles que caracteriza a estrutura do Oriente cristão.
A continuação da Antiguidade helenista ou bizantina no Oriente é fundamentalmente salvaguardar a sobrevivência do Império Romano Oriental (até a queda de Constantinopla em 1453). Em vez disso, uma das mais graves consequências da separação entre a Igreja oriental e ocidental, no século XI, é que no Ocidente desaparecem quase totalmente o contato com as fontes da vida da Igreja grega (dos Pais gregos!) . Na Igreja Oriental não para de forma alguma a vida durante os séculos que nós chamamos a Idade Média ocidental, mas, pelo contrário, é extremamente activa, embora não muito conhecida e apreciada como uma atividade em teologia ocidental, piedade e ordens religiosas. Em contrapartida, a Igreja oriental está mais perto da atmosfera primitiva do cristianismo na liturgia e na natureza da sua teologia (por exemplo, podemos citar os Nossos Veneráveis Pais e Teólogos do século XIV, São Gregório Palamas, São Gregório Sinaita e Nicolas Cabasilas entre outros).
5. Os dois eventos assinalados da história da Igreja são de uma evidência gritante. No entanto, não devemos exagerar a sua importância "divisionista". Na história que nunca se dá o caso de que uma época se acabe totalmente ao ponto que se inicie outra totalmente nova, por inteiro distinta da primeira. Pelo contrário: no período que chega ao fim ", e parte dela, de desenvolvem pequenas partes que, por sua vez, tornam-se determinantes da nova era. As épocas se entrecruzam.
Assim, durante a Antiguidade Tardia, a Igreja tem tido um crescimento contínuo na área da (e decadente) cultura antiga, que depois passou para as novas aldeias com doutrina cristã e, portanto, cria e desenvolve com eles o que chamamos de Idade Média. Estes mesmos novos povos, no rescaldo da Antigüidade são antes agentes colaboradores, e, até mesmo os defensores do Império Romano do Ocidente, em progressiva decadência, antes de destruí-lo gradualmente e substitui-lo por novos reinos nacionais e antes de surgir deles a civitas christiana, o “cristianismo ocidental”.
Deve ser lembrado que o processo de diversas áreas da vida da Igreja não apresenta as mesmas curvas e nem sempre coincidem seus pontos culminantes e decadentes.
A vida nunca se deixa acabar completamente em uma fórmula, porque é muito rica. O mesmo pode ser dito, e com maior razão, a vida histórica, que é complexa por natureza. Por isso, quando caracterizar este trabalho com diferentes épocas e períodos, apenas enfatizamos mais, mas não pode ser considerada como de sentido exclusivo.
E então se você quiser uma exposição mais detalhada, surge a possibilidade de subdividir a mencionada divisão tripartida da história da Igreja em um maior número de unidades de espaço, tempo e matéria.
6. Isto não é que um pensamento seja expresso em Alexandria, em Roma ou na Inglaterra, ou uma instituição surja em Roma, Antioquia ou Citeaux. O pensamento, em cada caso, terá diferentes orçamentos, tem efeitos intrínsecos, bem como a instituição irá realizar vários poderes. A idéia do marco cultural é de extrema importância para toda a história, e sua compreensão é altamente decisiva para o estudo da história (§ 5).
O perigo de uma concepção da história que funcione com esta ideia a subestimar ou mesmo ignorar o papel fundamental da personalidade criativa, não é muito grande quando você está escrevendo a história do cristianismo desde o seu início, a sua continuidade e sua essência se baseia unicamente na pessoa do fundador. A história do Cristianismo e da Igreja é a história de seguir Cristo ou o seguimento desejado, e em parte conseguido, ou falhado nesta tarefa fundamental.
É verdade que o objectivo, em geral e ao transcendente na verdade e santidade que tem o cristianismo é de importância decisiva. Mas, por outro lado, a sua importância e utilidade sempre dependem essencialmente da sua apropriação pelo indivíduo. A ação de Deus com o homem como se crê e ensina no cristianismo e aparece em muitas formas ao longo da história da Igreja, é sempre uma acção pessoal de Deus com o homem pessoal, criado à Sua imagem e semelhança .
III. As Distintas Épocas.
1. Antiguidade cristã, vista globalmente, é caracterizada pelo fato de que o cristianismo foi durante este tempo diante de uma civilização madura, altamente desenvolvida e consolidada, uma civilização crescida sem o cristianismo e antes dele, que em seu conjunto a ele era estranho e continuou a sê-lo: o antigo paganismo do Mediterrâneo.
a) Uma consequência imediata e igualmente importante deste fato foi que na Antiguidade, o Cristianismo esteve primeiro lugar e acima de tudo. Então, neste período, ou pelo menos na sua primeira metade, é diante de todo tempo a vida interna da Igreja, com o predomínio quase exclusivo da atividade religiosa.
Neste tempo, a Igreja criou as bases estabelecidas para o período da sua fundação (Jesus e seus apóstolos), as formas fundamentais de sua própria vida interior (piedade, liturgia, e constituição), assenta os criterios essencias no que respeita ao ambito e as características de seu patrimonio e missão (a luta contra o judaismo e a gnosis; escritos confessionais diante da perseguição do Estado, o recolhimento dos escritos do Novo Testamento, um símbolo de Fé; controvérsias trinitárias e cristológicas) e dá testemunho da revelação de Cristo pela pregação, a vida e a definição dos dogma.
b) No plano externo, a situação é fundamentalmente diferente antes e depois do ano 313. Antes desta data, a Igreja, no que diz respeito à sua vida exterior, está localizada principalmente na posição defensiva; na perseguição tem de sustentar uma sangrenta luta pelo seu direito à existência, procurando ao mesmo tempo definir de algum modo, pelo ensaio de sua relação com a cultura. Os cristãos são uma minoria insignificante. Em vez disso, a partir de 313, o cristianismo está livre e tornou-se gradualmente a religião do Estado, o representante do poder civil se faz cristão. A acção da Igreja se torna ativa, assumindo uma maior iniciativa por todo o curso de sua vida externa. Também flui para a Igreja as "massas". A Igreja estreita os laços com o Estado e a cultura, e torna-se uma parte importante do mundo. As lutas "espirituais”, pelo contrário, se mudam no interior da Igreja e cobram maior importância, mas trazem em si mesmas traços de profunda mudança na posição da Igreja em respeito ao Estado e a cultura (questões trinitárias e cristológicas, os concílios).
A antiguidade cristã é o tempo do nascimento da Igreja, sua primeira atividade missionária e da sua consolidação da sua existência frente ao Estado, e a heresia, bem como a sua configuração e de sua autointerpretação dogmática basica.
2. Ao contrário da Antiguidade cristã, a Idade Média é caracterizada pelo facto de que a Igreja está alí em primeiro plano ", sem ser oposta por uma cultura outra cultura. É ela que cria uma nova cultura cristã eclesiástica 4, em seguida, conduz à sua plena autonomia. Mas a Igreja também participa nesta mudança. Podemos dizer que a Igreja e os povos germânicos crescem juntos para formar, em um entendimento mútuo cada vez mais íntima realidade que nós chamamos Ocidente cristão medieval: a Europa é cristã até as suas raízes. Devido a um grande vida interna muito florescente (monaquismo, liturgia, arte, teologia, direito e a piedade popular), a Igreja agora dedicada com dinamismo ao campo da vida exterior: a) volta os olhos em direção à cultura e a integra plenamente na vida cristã eclesiástica, b) passa a primeiro plano as questões políticas eclesiásticas, isto é, as questões relacionadas com a sua constituição, assim bem como as referentes às relações entre Igreja e Estado.
3. A Idade Moderna. Depois de um certo isolamento da vida cultural e espiritual dentro de uma mesma cristandade, a vida cristã eclesiastica sucumbe em parte diante dessa vida cultural que a Igreja tinha ajudado a criar e que gradualmente se separa da Igreja até se opor a ela: a) como não-católica, b) e não-cristã, c) e não-religiosa. O desencadeamento desta luta tem suas raízes na Idade Média, em determinadas atitudes da hierarquia medieval (luta contra o Império a favor da idéia do papado), e o seu desenvolvimento nas três fases mencionadas da Idade Moderna.
Mas também aqui a vida interna da Igreja mostra um múltiplo e de certa forma maravilhosa riqueza, embora com altos e baixos dolorosos de força e fraqueza.
4. Muito diferente é o grau e a forma em que aceitaram o cristianismo os homens de diferentes épocas. Cada época, na verdade, tem a sua própria perfeição apenas acontecidas relativamente por pouco tempo.
Para o mundo oriental e americano, nossas categorias não são válidas, sem uma alteração substancial. Nos países de missão o crescimento depende também de muitas outras condições, em geral, a longo prazo, parece sentir a tensão entre a forma da doutrina cristã, de cunho europeu, e as antigas civilizações indígenas, primitivas ou avançadas, que foram em sua maioria estranhos ao Ocidente e a seu intelectualismo.
5. A Igreja trouxe redenção para a humanidade. A história discutido sem paixão remonta espontaneamente à profecia do verdadeiro evangelho: neste mundo nunca haverá uma vitória final (João 14:17, 15:18, 16:20, 18:36). História da Igreja é uma sucessão de altos e baixos na luta pela verdade e santidade cristã contra o erro, a mentira, o pecado, dentro e fora. Também a história da Igreja revela-se como o fundamento da Fé cristã, a teologia da cruz.
3 O processo é complicado e de longo prazo. O avanço do Islam a partir do Sudeste e, em seguida, seu dominio no Mediterrâneo ocidental fez mais profunda a dissolução, mas não provocou (contra Pirenne).
4 A este estado de coisas chegou progressivamente; os séculos V, VI e VII que foram transitório durante o período de vida normalmente seguidas as leis da antiga civilização romana.
1. A história da Igreja na Antiguidade é dividida em duas grandes épocas: a "pausa" é marcado pelo chamado Edito de Milão, no ano 313 (§ 21). A primeira época, portanto, abrange a vida da Igreja no Império Romano pagão (até 313), o segundo, seus avatares no Império Romano, "cristão" (desde 313 até a invasão dos bárbaros).
No desenvolver da primeira época podem distinguir-se as diferentes fases em: a) a tomada e destruição de Jerusalém pelos romanos em 70 dC, b) o desaparecimento das últimas testemunhas directas – que viram ou escutaram - a vida do Senhor , por volta do ano 100, e a morte do último discípulo dos apóstolos, por volta de 130 (ou 150).
a) A tomada de Jerusalém significa o fim da política judaica, eliminando o mais perigoso inimigo da Igreja no momento: tanto o Judaísmo rígido inimigo dos cristãos, como o cristianismo judaizante, que se tinha tornado herético e, em seguida, a dispersão forçada da primitiva comunidade cristã para fora de Jerusalém.
b) A figura histórica de Jesus, graças aos discípulos dos apóstolos, continua a influenciar diretamente na comunidade até cerca do ano 130. Esta foi imediatamente de um singular vigor. A personalidade, a imagem e até mesmo a voz, por assim dizer, do Senhor que veio e agiu como algo vivo. Caso contrário, ninguém poderia explicar a expansão a inconcebível força de expansão de um "pequeno rebanho" (Lucas 12:32), aparentemente perdido, contra uma potencia mundial que era a Roma pagã. Mais tarde, a ligação imediata com a vida histórica de Jesus foi substituída, de modo geral e definitiva, por uma conexão só e imediata: esta mudança é absolutamente crucial. Assim, entre outras coisas, a íntima necessidade de fixar a doutrina pregada por Jesus.
2. Na primeira época, os anos 30-70 (130) indicam o tempo do cristianismo primitivo, foi a época puramente religiosa da fundação da Igreja, o tempo dos apóstolos e dos discípulos e dos apóstolos, enquanto o vida cristã não tem praticamente nenhum contato com a cultura. O cristianismo primitivo é a melhor ilustração das palavras de Jesus: " não sois deste mundo" (S. Jo 18:36). Dominam as idéias escatológicas: Espera-se o iminente fim do mundo, certamente não de maneira uniforme, e sempre claro (epístolas de S. Paulo), mas a ponto de considerá-la desnecessária e condenável mesmo aqui na terra. É tempo em que o entusiasmo religioso e o amor enchem quase toda a vida dos cristãos. O cenário é preferencialmente Palestina, Samaria, Síria, Ásia Menor, Macedônia, Grécia (Jerusalém, Antioquia, a missão de Paulo), depois também Roma e Espanha. "
O segundo período desta primeira época, os anos 70 (130) -313, abarca o tempo greco-romano. Agora, a situação (com os elementos mencionados) se caracteriza, embora muito lentamente, com a relação da Igreja com o "mundo", mais concretamente: a) com a cultura grega, é o tempo de apologética e teologia emergentes lutas contra as dúvidas e as heresias (gnosis), b) com o Estado romano, é a Igreja que combate e sofre, mas que reforça o Estado, é o tempo das perseguições.
3. Na segunda época (313 até o fim da migração dos povos), o cristianismo é livre. Ser um cristão não é mais um risco, mas uma vantagem, os bispos são socialmente e juridicamente privilegiados. Cristianismo se tornou a religião do Estado e a Igreja imperial. Mas o Cesar também era "senhor" da Igreja. No ambito interno é o tempo da teologia dos Padres da Igreja, o nascimento do monaquismo e das grandes controvérsias doutrinais: a) no Oriente, o conflito Trinitário (quarto século) e cristológico (séculos V, VI e VII ); b), no Ocidente, a questão do grau (pelágianismo) e a disputa sobre a Igreja e sua santidade objectiva (donatistas), é o tempo de Santo Agostinho.
4. O limite minimo da Antiguidade cristã não pode ser fixado unitariamente. No Oriente, no entanto, pode-se fixar muito mais tarde do que no Ocidente. Aqui no Ocidente, apesar do imenso e longo ponto da invasão dos povos bárbaros, é muito difícil estabelecer com certo grau de precisão o ano que marca o "fim" da Antigüidade e do "início" da Idade Média. E isto por várias razões. Primeiro, porque somente o desaparecimento de um dos elementos que caracterizam a Antiguidade cristã, ou seja o Império Romano, no quadro geográfico e político. Mas o outro elemento, o interno, não desaparece: a cultura antiga, que é diluída e transferida. No âmbito propriamente eclesiástico a vida continuou a manter os seus antigos caminhos, mesmo após a invasão dos bárbaros.
§ 4. O Entorno do Cristianismo Nascente.
Após o nascimento de Cristo, a Palestina pertencia ao Império Romano. Desde Pompey conquistou Jerusalém (63 aC), não havia mais um estado judeu independente, apesar de conservou-se o principado hereditário. Após a morte de Herodes, o Idumeo (37-4 aC), foi procurador na Judéia e Samaria, Pôncio Pilatos. Com Agripa I (41-44 d.C) voltaram novamente ambos os territórios (sob a soberania romana).
a) O ponto central, a capital, era ao mesmo tempo o modelo de todo o império era Roma, “a cidade ", uma verdadeira maravilha do mundo. E, como uma idéia (ou seja, como a encarnação do eterno império), Roma foi uma verdadeira potência, que em toda a Antiguidade e na Idade Média, exerceu uma enorme influência, mesmo de grande importância inclusive para a Igreja. Esta influência não é um dos maiores fenômenos da história, e que só é possível capturar uma aproximação razoável. Certamente (como para a história geral como para a eclesiástica), a influência foi positiva a longo prazo, mas também muitas vezes nocivas, especialmente quando se pensa sobre a ideia de soberania encarnada na ideia de Roma, como foi possível Constantinopla, a "segunda Roma," a jurisdição eclesiástica contra o papado, como a fomentou e, finalmente contribuíram para os excessos de ambas as partes, para a desastrosa divisão de Igrejas Oriental e Ocidental (§ 47, com a idéia do terceiro Roma [Moscovo], como o herdeiro de Bizâncio a partir do século XV, cf. vol. II).
Havia majestosos palácios, luxuosos e requintados, que então, e em ritmo crescente, começaram a serem centros de vida prazeirosa. Havia teatros e anfiteatros, celebrando suas conquistas com todos os tipos de artes imorai e crueldades. Mas não havia lugares de amor ao próximo, que acomodavam aos pobres e enfermos, como os nossos hospitais. O fato de que havia religiosas e associações caritativas, que previa ajuda (especialmente para garantir um enterro digno), e a influência da filosofia estóica pouco suavizava este quadro, mas não mudou essencialmente. Faltava a força capaz de transformar a vida. A imoralidade penetrava cada vez mais profundamente em todos os círculos (como no império em geral). Um luxo exagerado e um sibarítismo refinado, se uniam com um desprezo pela vida humana, especialmente pela vida dos estratos mais baixos dos escravos. Será sempre uma prova impressionante de tudo isto, os freqüentes combates de gladiadores, em que muitas vidas foram sacrificadas para este simples prazer de espetáculo. Inclusive em tempos do imperador Tito (79-81), "o favorito dos deuses e dos homens", foram mortos nesses combates muitos milhares de homens (só em Cesaréia 2500, após a destruição de Jerusalém!) .
c) No resto do Império Romano, especialmente nas cidades, as colônias civis e guarnições militares, a vida corria segundo o modelo de Roma. O império era de certa forma uma multiplicação de Roma. Isto tinha as suas vantagens para a difusão da mensagem cristã, mas, por outro lado, chgado o caso, a luta contra ele.
3. Jesus Cristo veio "quando o tempo estava cumprido" (Gl 4:4, Ef 1:10). Esta grande palavra de Paulo, além de seu conteúdo essencial (histórico-salvífico) fica cheia de sentido iluminador para a história quando se considera que tal cumprimento se já havia realizado nos domínios da cultura de então.
Para evitar equívocos, devemos ter em mente que o "cumprimento" de que falamos não pode ser entendido como um fundamento a partir de que a mensagem cristã viria a ser, por assim dizer, um complemento natural. Refere-se sim mais a uma disposição espiritual e religiosa dos espíritos e das almas, de modo muito diferente em cada caso (o que muitas vezes chegou até à superstição), no que poderia associar-se a mensagem cristã, e que - por vezes decisiva – dando-a uma interpretação contrária. O "cumprimento" em nada elimina o contrário, mesmo a contradição do cristianismo com o mundo. Grande parte dos cristãos de Antiguidade, apesar das suas ligações com o meio pagão e particularmente o grego, foram observadas principalmente como algo novo, como uma contradição com a sabedoria e a cultura deste mundo, foram chamados para deixar o mundo. E esta foi uma interpretação autêntica da pessoa do Senhor crucificado e ressuscitado. Ele é o começo absoluto.
A preparação da vida e obra de Jesus até que a plenitude do tempo foi realizada, a) principalmente na história do povo eleito, o povo judeu, mas b) também na história da gentilidade greco-romana.
4. No tempo de Jesus, a religião judaica tinha se fixado com várias tendências. Duas destas orientações resultaram especialmente importantes para o destino de Jesus e sua doutrina. A uma tinha sido imposta a Palestina, e a outra estava entre os judeus que viviam fora da terra prometida, em todas as grandes cidades do Império Romano e, em então mundial, ou seja, o judaísmo da Diáspora (= Dispersão). A orientação Palestinense é caracterizada sobretudo por uma estreita e invulgar ossificação radicalmente fechada para todos os não-judeus, embora em graus muito diferentes. Houve saduceus, fariseus e essenios.
Os saduceus eram provenientes de círculos abertos à cultura grega. Quando se agruparam (em breve), a fé na ressurreição não chegou a uma crença geral dos judeus, e, portanto, daí rejeitaram a ressurreição. Nos tempos de Jesus tinham-se tornado em um partido político.
Os fariseus eram ainda mais rígidos e fechados, como o sugere os seu nome hebraico. Eles eram um grupo de chassidim (piedosos). No tempo de Jesus foram dominadas pelo grupo dos escribas.O Essenes eram um ramo dos chassidim. Entre eles havia círculos similares como uma ordem religiosa (com celibato, oração comum; no Egito, havia comunidades semelhantes, os terapeutas). Recentemente, após a descoberta dos escritos do Mar Morto (que é outro ainda discutido, nenhuma unidade), eles sabem de uma configuração especial, o dos essenios de Qumran, em cuja comunidade se destaca uma figura ímpar, a do "mestre da sabedoria”. " Talvez João o batista esteve a eles associado.
O judaismo fariseu tratava sobretudo de conseguir a justiça através do exato cumprimento literal das muitas exigências da “lei”. Na qual havia um monte de exteriorização, autojustificação e hipocrisia, que Jesus repetidamente censurou duramente (Mt 23:13 ss).
O judaismo fariseu também teve força interna. A melhor prova é o fato de que ela poderia vincular tão fortemente para a sua causa um espírito nobre como Paulo (§ 8). Além disso, foi um perigoso ideal, que judaísmo acabou de se sacrificar por dar a morte a si mesmo, mas por isso não deixou de ser um ideal. Era o orgulho de ter consciência, em toda a sua singularidade e exclusividade, os verdadeiros judeus, nascido da heróica luta dos macabeus, foi a vigorosa tentativa de ficar longe de tudo "impuro".
Os judeus odiavam os romanos, destruidores da sua independência política. A maior glória do povo judeu consistia em não reconhecer outro rei que Yahvé do céu. Os judeus, por sua vez, tinha pouca simpatia entre os romanos e gregos. No entanto, a religião monoteísta e moral interiorizada dos profetas e de alguns salmos e escritos didáticos tinham essa força de atracção que um número considerável de pagãos se converteram em prosélitos (ou seja, novos) do judaísmo. Muitos converteram-se plenamente e foram submetidos a circuncisão e todo o cerimonial da lei, outros estavam buscando uma relação mais estreita com o judaísmo com o único e exclusivo direito de aceitar a fé em um só Deus, eles eram os "temerosos de Deus ", que conhecemos no Novo Testamento (por exemplo, Atos 2:5, 13:43, 17:17). Os prosélitos e temerosos de Deus "são prova da preocupação no seio da religião no paganismo de então.A força de atração da religião judaica e a moral judia exercia sua influência no judaísmo da diáspora. Ela manteve todo seu compromisso para com todos os elementos essenciais da religião judaica, mas livre da excessiva estreiteza e rigidez do judaísmo palestiniano. Foi mais aberta ao mundo, e à universal filosofia greco-helenista. Em meados do segundo século a. C., o filósofo Aristóbulo tentou mostrar em Alexandria a harmonia entre a Lei mosaica ea filosofia grega. Esta relação é visto de forma muito acentuada nos escritos do judeu Filon de Alexandria, um filósofo da religião (um contemporâneo de Jesus, 25 aC - 40 dC). Os escritos que não foram menos importantes para a evolução da doutrina da Igreja. Eles oferecem uma exegese alegórico-místico-filosofica do Antigo Testamento e mostram uma verdadeira ligação entre a religião judaica e a filosofia grega. Este tipo de judaísmo tornou-se a mais importante ponte entre o jovem cristianismo e o paganismo. Nele encontramos claramente estruturado, pela primeira vez, uma posterior síntese cristã: auto-confiante e intransigente em substância, mas ensaiando sem cessar o diálogo a fim de melhor compreender os seus fundamentos e radicalmente aberta a todos os valores espirituais para transmitir a todos os homens a única verdadeira religião.
Além disso, o judeu Flavio Josefo (segunda metade do século I) escreveu suas obras históricas (Antiquitates judaicae; De bello judaico) como o padrão helenístico e para ilustres helenístas.
A religião judaica está exposta nos escritos do Antigo Testamento em hebraico e, em parte, em grego. A tradução do livro sagrado em grego pelos setenta sábios (LXX = Septuaginta) da comunidade judaica de Alexandria (séculos II e III aC) significou o maior transmissão da religião monoteísta paleotestamentaria para o mundo pagão. Com esta tradução, o Antigo Testamento, tornou-se a Sagrada Escritura da antiga cristandade. Não foi um dos muitos livros dos cristãos, para eles era o livro sagrado. Os escritos do Novo Testamento apareceram gradualmente e sendo recolhidos posteriormente (§ 6).
Mas o conteúdo do Antigo Testamento não é filosofia, mas revelação religiosa, escritura inspirada e testemunho da ação salvifica de Deus na história do seu povo eleito. Detém um claro monoteísmo e a mensagem moral-religiosa dos profetas, baseado na autoridade divina.
Este livro mostra além do Judaísmo, o momento da salvação messiânica. Embora os judeus no início da nossa era, por um lado incentivando uma esperança messiânica tingidas com muitos tons políticos, os escritos "apocalípticos" e a mensagem profética, por outro lado, tinha preparado para compreender o clima de iminente doutrina religiosa do Messias Salvador. Neste sentido, o Judaísmo é um testemunho para a Igreja quando esta toma posse da herança do povo eleito.Também foi de grande importância para a história da Igreja a clara consciencia de Israel, incentivada e baseada nos escritos sagrados do pensamento do povo eleito. Esta convicção, reforçada com a promessa e ao mandato missionário do Senhor, fui como uma legítima herança ao cristianismo. E deu lugar a uma concepção cristã, não judeu-cêntrica, do mundo e da história. A característica dessa concepção, no seu conteúdo, é que, em última análise, tudo depende de Deus, e é importante para a sua orientação que haja primeiro o seu anúncio e em conseqüencia, a história não segue um movimento circular de retorno, mas verdadeiramente realizada, que aponta para um objectivo final, que uma vez por todas encerrará toda a história (mas com um novo ser da eternidade próxima ").
O fato de que o cristianismo, assim, torne-se o herdeiro do judaísmo deu a oportunidade de transformar a Igreja em um síntese enormemente frutífera: a Igreja tem o título legal e honorifico de um passado antiquissimo, respeitável e provado, sendo ao mesmo tempo nova e jovem.
5. Apesar do que foi dito, no início da nossa era as religiões pagãs do Império Romano não tinham deixado de ter importância. Toda vida, pública e privada, ainda estavam cheios de sacrifícios, oráculos e magias de todos os tipos, em honra dos deuses. Uma grande e influente casta sacerdotal exercia um variado e refinado culto.
A estes foi, então, acrescentado, pela exigência dos imperadores, o culto de novas divindades. Juntamente com a personificação do Estado da deusa Roma, aparece a pessoa do Imperador rodeado pelas honras divinas. O culto a César floresceu especialmente nas províncias orientais (o Leste é a pátria do culto ao soberano em geral). Este culto ao imperador, já insinuado com César e consumado com Augusto, Domiciano tornou-se obrigatório para todos.
Grande parte da religião pagã daquele tempo foi de pura exterioridade. Globalmente, a antiga religião mitológica e pagã dos deuses olímpicos já haviam ultrapassado o seu apogeu há muito tempo, tanto no Oriente como na Grécia e em mesmo em Roma. As tentativas de Augusto para fazê-la reviver tiveram pouco sucesso. A ilustração filosofica, junto com um crescente desejo de interiorização, tinham exercido uma crítica vitóriosa sobre as antigas divindades, como Cronos, Zeus e Hera. Semelhante propagação e divulgação do culto ao imperador não é simplesmente uma prova da crescente religiosidade. O culto do imperador, na sua essência, foi apenas uma expressão do escuro conceito pagão de Deus, sem santidade e de caráter absoluto.Além disso, o paganismo, de então, tinha um positivo zelo religioso, de ordinário não insistimos nele o suficiente, mas o fato é que ele foi gradualmente se afastando da religião oficial do Estado, prescrita e praticada. As pessoas cultas, se não se sucumbiram ao ceticismo quanto ao mais, se refugiaram em uma religiosidade filosofica que não muitas vezes tendia fortemente ao monoteísmo, ou pelo menos uma espécie de universalismo religioso. As classes sociais mais baixas (mas culta) buscavam a salvação e redenção, nos antigos mistérios renascidos ou nos novos mistérios de origem oriental, que, através do enigmático e impressionantes sinais exteriores ( "batismo", sagrado alimento), acreditavam encontrar a expiação e a união com a divindade. Mas o conteúdo religioso destes mistérios helenistas eram muito diferentes e, muitas vezes, problemáticos. Isto aplica-se particularmente aos seus paralelismos com a morte e ressurreição de Jesus: são crassos (e escuros) superstição e idolatria, em contraste com a figura do Senhor, que é a vida (Jo 1:4) e dá a sua vida na Fé , fantasmagoría, diante dos múltiplos testemunhos historicos provados daqueles que Jesus apareceu após a sua ressurreição. Particularmente significativa é a diferença entre autojustificação pagã e a confição cristã de culpa e remissão gratuita.
Extremamente importante, e por muitos séculos fortes concorrentes e inimigos do cristianismo foram os mistérios de Mitra, que era uma espécie de "batismo". O culto da Grande Mãe (Cibeles, Attis) conhecemos o taurobolio, que o iníciado era aspergido com o sangue de touro para ser limpo do pecado.
A mencionada interiorização também tinha contribuído o direito romano. A sua aplicação por parte do Estado, tolerante e intolerante ao mesmo tempo, foi marcadamente positivo. Mas graças a jurisprudência, o conceito de aequitas (= justiça baseia-se na interioridade, ou seja no direito natural) tinha-se tornado uma preponderância decisiva. Baseado nisso, uma vez que era um princípio reconhecido também pelos pagãos, os apologistas cristãos do segundo século puderam desempenhar uma crítica contra a atuação do Estado, hostil aos cristãos, e aos respectivos princípios jurídicos.
6. Estas novas correntes da religiosidade pagã demonstram que, junto ao Judaísmo, também o paganismo foi “um educador para Cristo "(Clemente de Alexandria).
O mais importante ainda, para além da ânsia de resgate, foi o processo de evolução em direção ao monoteísmo. Isto já estava aberto desde muito tempo na religiosidade filosófica: em primeiro lugar, com Jenófanes (= 475 aC), o primeiro monoteísta na Antigüidade Clássica, com Platão (= 348 aC) e Aristóteles (= 322 aC); e tornou-se em geral, característica da situação espiritual da época, após a volta à religião que deu ao grande pensador grego estóico Posidonio da Síria (135-50 aC). Seneca, Epicteto, Marco Aurelio e, anteriormente, também Cícero, um aluno de Posidónio, os mais notáveis representantes desta tendência no início da era cristã. Muitos homens educados, contemporâneos de Jesus, foram atraídos pela elevação moral do estoicismo. O monoteísmo de Seneca e seu ideal de ensinar filosofia para muitos homens da antiga idolatria, e preparando-os para o cristianismo. Mas, por outro lado, o brilhante espírito deste contemporâneo de Paulo reuniu muitos, por sua vez, impedindo a sua adesão ao cristianismo. Mais tarde, a ética e os valores vitais estóicos continuaram a influência de diversas formas no pensamento cristão, a forte eloquência de Seneca e partes de sua antropologia entusiasmaram a muitos humanistas cristãos, que o tomaram por modelo (o que pode então logo facilitar a interpretação moralista da mensagem cristã da salvação como a redução no campo de graça).
De forma ainda mais direta na preparação para o cristianismo influenciou a prática de superar a grande variedade de deuses, com o anseio de unidade que se manifestavam em todas as áreas culturais do Império Romano.
Como resultado de um longo processo, que entrou na sua fase decisiva com a expedição de Alexandre o Grande para o Oriente (334-324 aC) e a subsequente transmissão da cultura oriental para o Ocidente do Império Romano foi se formando uma cultura unitária: a helenístico-romana. A intensa mistura de diversos povos e as suas maneiras de pensar, especialmente em grandes cidades como Roma e Alexandria, levaram a uma equalização geral das imagens dos deuses e seus respectivos cultos (sincretismo, cf. § 16). Para isto se acrescenta a potente unidade do Império Romano, no qual se podia ser visto por toda parte em latim ou em grego Koiné, com a sua gestão única e uma vasta rede de comunicações. Então surgiu a idéia de unidade em todos os lugares diante dos pagãos de maneira ostensiva e permanente. A unidade estatal, à semelhança de outras aspirações unitárias na cultura e na religião, exigiam, de alguma forma complementar a unicidade da verdade, da religião de Deus. Nesta ordem das coisas estavam perfeitamente abandonada ao solo para a mensagem de Jesus, que questiona o homem como tal, isto é, todos os homens e os povos, e para a unidade da Igreja, que inclui toda a terra.
Os romanos estavam bem conscientes de serem atores na história mundial. Que uma tremenda força que mais tarde levou os romanos se converterem ao cristianismo! Que grande reforço da missão divina de Roma como a sede do papado? Que relevância para o Sacro Império Romano Germânico da Idade Média!
O valor da revelação cristã não diminui o fato de reconhecer os valores morais e religiosos no paganismo. Pelo contrário: cristianismo não só ganha quando se depara com erro e podridão mas também ganha quando confronta com outros valores e sai vitorioso no confronto. Desta forma, foi manifestado no início, neste momento crucial da evolução humana, a grandeza do conceito cristão de Deus, ou melhor dito, o poder transformador da mensagem divina em Jesus Cristo.
A este respeito, como já mencionado, deve ser lembrado que a revelação cristã para penetrar no mundo pagão por toda vida pública e privada, o dia, a semana e o ano, o tráfego e o comércio, toda a realidade em uma palavra, como era o mais natural, embebidas em politeísmo, e esta condicionava em uma forma ou de outra toda a maneira de pensar e falar. O emaranhado de confusão desta situação tem embaralhado as mentes dos homens desse tempo em relação ao ecumene de uma maneira difícil para nós, mas imensamente real. Um exemplo muito significativo no Cristianismo primitivo é o caso de Simão Magno. E não dixa de continuar a ser quando ignoramos determinadas concepções particulares sobre as emanações de divindades inferiores em especial sobre a materia e o homem. Tal como relatado por Irineu, e nós atemos exclusivamente à história dos Atos dos Apóstolos (8:9 ff): ele declarou-se como um ser superior até ao ponto em que adultos e crianças chamam-lhe "o grande poder de Deus " por causa de sua magia, e ainda foi tão cativado pela magia politeísta, que com toda sériedade tratou de comprar a Pedro e João, o Espírito Santo com dinheiro.
O maior perigo destas e similares idéias pagãs reisdia no seguinte: se estava tão habituado à hierarquia e graduação dos deuses, que por nenhuma parte aparecia um Deus absoluto essencialmente distinto de todos os outros, todos, sim, mas bem pareciam terem nascido de todos e retornado a todos, em uma espécie de ritmo orgânico-cósmico (veja sincretismo e gnosis, § 16:2).
Não obstante esta geral preparação do cristianismo no âmbito judeu e pagão, surge a seguinte questão: por que Cristianismo apareceu apenas então e não antes? Este problema tinha preocupado os primeiros cristãos, foi uma objeção de fizeram em face aos seus adversários expressos em face 1. Ao qual só existiam apenas duas respostas, e intimamente ligadas: 1) os mistérios de Deus são impenetráveis (Romanos 11:33), 2), precisamente, então chegou a “plenitude dos tempos"(Hebreus 1:1 s) de acordo com a vontade de Deus, o Senhor da história.
7. Outro aspecto do mesmo problema: apesar de toda a sua preparação, aos homens de então o cristianismo pareceu a eles algo completamente desconhecido, algo inédito. Quando fez presesnte no mundo, até os espíritos mais elevados espíritos o sentiram como algo totalmente novo. Os cristãos, junto com os judeus e pagãos (gregos) e depois deles, são realmente a "terceira raça", um "povo" realmente "novo", uma "nova aliança". Eles mesmos o compreenderam assim. Por quê?
a) Al monoteísmo pagano de la época le faltaban dos cosas: claridad y exclusividad. La tendencia de la religión propendía al reconocimiento de un solo Dios, pero no lo conseguía; los otros dioses seguían existiendo de una u otra forma. El concepto de "dios" se entendía de múltiples maneras; en el mejor de los casos significaba más el "supremo" que el "único" dios. A su lado había mucho panteísmo e incluso dualismo (= la materia como segundo principio, igualmente eterno, junto a Dios: toda una serie de oscuras ideas panteístas, que prácticamente invadían toda la vida y el pensamiento).
a) O monoteismo pagão da época estava faltando duas coisas: clareza e exclusividade. A tendência de religião tendia a o reconhecimento de um só Deus, mas não conseguia; os outros deuses ainda existiam de uma a outra forma. O conceito de "deus" se entendia de muitas maneiras, no melhor dos casos, significava mais o "supremo" que o "único" deus. Ao seu lado existia muito dualismo e panteísmo (= a matéria como um segundo princípio, igualmente eterna com Deus: toda uma série de obscuras ideias panteístas, que praticamente invadiam toda a vida e o pensamento).
b) Nos princípios morais a falta de amor e misericórdia não era total, mas quase. Privava o egoísmo mais refinado, sem princípios superiores que se opuseram a ela.
O mais nobre pensamento ético do paganismo (excepto no caso de Sócrates e alguns estoicos) nunca conseguiram criar a unidade entre a vida e a doutrina. No cristianismo, no entanto, o importante é isto. Embora muitas vezes a realização do ideal, não foi acompanhada pela exigência, sempre se tem mantido uma diferença essencial: a doutrina cristã não pára no campo do conhecimento, exige essencialmente ser vivida sem atenuações. Só que o requisito estabelecido por Deus, e à luz da sua graça. E fracassar é pecar. Para os cristãos isto é grave.
c) Antes que se anúnciasse a mensagem cristã, os homens receberam no seu interior a voz da "lei" tinham uma coincidência (s Rm 1:19). No entanto, deixando de lado a autoridade, clareza e o sucesso, pode dizer-se que só a revelação cristã deu uma consciência à humanidade. O conceito de religião foi visto como algo novo, o valor do homem era visto primeiramente na sua imortalidade. Todos os homens aparecem como membros de uma familia (como filhos de um mesmo Pai celestial e, portanto irmãos). Tornou-se enobrecida a família e o casamento (unidade, indissolubilidade, santidade situação da mulher) 2. O trabalho, como a vida inteira, entra no espírito de fé, experimentando assim uma revalorização essencial.
d) E, acima de tudo, o cristianismo é a revelação de Deus, que assume a figura humana em uma pessoa histórica: "Então, o que é de Cristo se faz novas criaturas, e o velho, se passou a se fazer novo "(2 Coríntios 5:17). O novo do cristianismo é o mesmo Jesus Cristo, a sua vida, e sua maravilhosa personalidade, e o convite e a oportunidade para que todos participem na nesta vida, onde são libertados do pecado em que caíram. E isto pela Fé trabalhada por Deus no homem. Esta fé é uma força determinante, implica a convicção absoluta de possuir a verdade absoluta em Jesus Cristo. Em virtude do mandato missionário do Senhor, é forte o suficiente para superar o "mundo" (Jo 16:33).
Nestas premissas, o cristianismo do amor vive também da vida da intolerância dogmática, como muito expressamente formulou S. Paulo: "E ainda que um anjo descesce do céu para ensinar outro evangelho, seja anátema" (Gl 1:8).
Ao considerar todas as características acima referidas, visto ser o selo da verdade que o cristianismo é exclusivo, a sua incomparável síntese. Tudo humanamente valioso encontra a sua plenitude em Cristo, toda a verdade pertence a sua verdade. "Toda verdade que tenha sido dita em algum lugar, tem sido dito pelo Espírito Santo" (S. Ambrósio, sobre 1 Coríntios 12).
1 Na carta a Diogneto do século II ou III, e no ataque de Celso, para 178 (cf. Origen, § 15).
2 Sua dignidade não só foi elogiada no mistério do matrimônio (S. Paulo: como Cristo amou a Igreja e se entregou por ela, Ef 5:25); também a alta estima da virgindade influenciou neste aspecto.
§ 5. OS ENTORNOS CULTURAIS: ISRAEL, GRECIA, ROMA, ORIENTE.
I. CARACTERÍSTICAS FUNDAMENTAIS.
1. Os Evangelhos revela que Jesus era um bom comunicador, e ele falou de forma diferente para os fariseus de Jerusalém, e especialistas formados nas Escrituras, aos simples e ignorantes camponeses e pecadores da Galiléia. Ao falar com as pessoas usava palavras, imagens e conceitos utilizados apenas com os mesmos; aos escribas destacou aspectos da sua mensagem para que eles dessem maior importância. Como um sábio educador, Jesus tinha em mente a mentalidade dos seus ouvintes, tentou ilustrar sua pregação com os exemplos mais conhecidos da vida da natureza, do homem e da história.
A Igreja ao longo dos séculos tem guardado este legado, que fez receber uma grande visão da liberdade interior, e assim conseguiu trazer a riqueza do Evangelho aos homens, às classes e povos de diferentes disposições emocionais e espirituai. E Paulo, com a mesma atitude foi "tudo para todos" (1 Coríntios 9:22). Sempre que a Igreja, na passagem dos séculos, não se tenha aderido a esta secular sabedoria pedagógica aqui manifesta, tem acusado o significativo crescimento do reino de Deus.
Da mesma forma que as falsas interpretações e reacções ao Senhor em Jerusalém foram encontrados diferente reações na Galiléia, ao mesmo que aconteceu ao longo dos séculos posteriores. O homem teve em cada momento os seus próprios problemas e dificuldades, os gregos diferente dos romanos, e este do oriental. O mesmo aconteceu mais tarde com os alemães, os eslavos e mais tarde com o Oriente asiático e com os povos primitivos. A compreensão do cristianismo e da sua mensagem tem para cada um desses povos problemas particulares, além dos ensaios de solução (em oposição às tentativas de não encontrá-la) caracterizam a história da Igreja em diferentes regiões, tempos e representantes da Igreja.
Em resumo: a vida da mensagem cristã tem estado desde o início, em estreita ligação com as forças naturais do ambiente em que foi proclamada.
2. No quadro geral do Império Romano universal havia três áreas principais, diferentes na cultura e mentalidade, essencialmente três culturas diferentes: o Judaísmo, a civilização grega e a civilização romana (os três idiomas listados na cruz de Jesus!). Agora, uma vez que o âmbito greco-helenístico, havia sofrido em partes fortes transformações, podemos dizer que, nessa altura também havia uma quarta área, a "oriental". Esta tripla (ou quádrupla) diversidade, aliás, embora não totalmente eliminada, veio a ser completada ou mesmo significativamente compensada pelo carácter unitário da cultura grega da época imperial, que foi mostrado mesmo equilíbrio dentro da diversidade das línguas .
Para a história da Igreja, isto significa que o plantio da doutrina cristã na Antiguidade caiu em três diferentes solos, o jovem cristianismo, em sua distribuição durante os primeiros séculos, teve que enfrentar-se e lidar com três culturas diferentes: judaica, cultura grega e cultura romana. Neste fato estabelecer todas as questões que levantou a história da Igreja. Só quando eles têm de desvendar as peculiaridades de cada uma delas pode ser dada uma resposta convincente para as questões da forma como o processo e as causas da propagação do cristianismo no mundo antigo.
3. Na verdade, quando você está olhando para as mais notáveis características das três áreas mencionadas, o mundo judeu parece ser eminentemente religioso, o grego como filosófico e o romano como político: a religião judaica, a educação grega, e o Estado romano (ou seja, direito romano na sua realização completa). Cada uma destas três culturas para o cristianismo levantava problemas específicos, influenciando sobre ele de uma forma particular, tanto na sua mentalidade como nas suas limitações, e pela grande variedade dos seus "hábitos" (de pensamento e de vida pública e privada) . As influências, em cada caso, foram consistentes com as características do respectivo ambiente. Os principais temas e lutas que dominam a história da Igreja na Antiguidade, são radicalmente diferentes da judaica, grega e romana. Mas, embora todos eles mostram a mesma coisa: a consciência da unidade essencial da Igreja, em uma notável diversidade.
4. Na Palestina e no mundo greco-romano floresceu no início da era cristã alguns sistemas, doutrinas, conceitos, ideologias e costumes que não eram novos, mas abrangeu toda a vida desde tempos imemoriais. Em seguida, veio o jovem cristianismo como algo inesperado e começou a boa fecundação e a recíproca luta de todos aqueles factores que não era, o sucesso, os direitos e reivindicações.
A questão crucial histórica lia-se assim: o novo se imporá diante do existente? E a resposta depende do facto de: a) as forças intrínsecas do novo, do cristianismo, e, b) como eles reagiriam diante do novo, do cristianismo. Se os costumes ou, pelo menos, as possibilidades da cultura antiga, se acomodam e às necessidades e aspirações dos jovens elemento, tudo é fácil, rápido, não irá sofrer uma erosão das suas especificidades, o novo absorverá o velho o máximo possível . Se, pelo contrário, ela choca com novos obstáculos, com elementos radicalmente estranhos, se apresenta exigencias que diante de tudo contradizem com os costumes e ideologia do antigo organismo, então, a tarefa de impor-se se volta para a questão do ser ou não ser. Não só o novo terá maior dificuldades para submeter o antigo, senão que o antigo fará todos os esforços para impedir que o novo germine, mas tentará absorve-lo ou destrui-lo violentamente.
5. Esta foi precisamente a situação do jovem cristianismo na época de seu nascimento no seio do povo judeu e das suas primeiras incursões no mundo greco-romano.
O cristianismo, o novo elemento que então entrou na evolução histórica era de natureza religiosa e foi também de um carácter universalista e exclusivista; teve a pretensão de ser a única verdadeira religião e buscava assegurar que toda a gente a ele aderisse. Para a recepção que você tem que encontrar, o cristianismo vai ser decisiva atitude diante da religião em geral que adotem assumir diferentes ambientes que irão entrar em contato.
a) O cristianismo é um presente de Deus para os homens. Não se tratava só de chegar-se a impor-se. A sua missão era muito maior, renovar a humanidade. Devia tentar penetrar no pensamento humano e acção humana. Assim, de forma natural, as forças e as características de cada povo haviam de repercutir reciprocamente no pensamento dos evangelizadores cristãos. Nas tentativas forçadas a "adaptar" às ideias e modo de pensar dos ouvintes facilmente surgia, como já foi dito, uma séria ameaça para a pureza da mensagem cristã.
b) A conseqüência da sua pretensão da verdade, por um lado, e de seu objetivo missionário por outro, toda a história da Igreja é governada por duas leis: manter a mensagem do evangelho na sua pureza revelada na loucura da cruz (1 Cor 1 : 18), e ao mesmo tempo pregá-lo3, com acomodação apropriada (moderada e não extrema). Nesta perspectiva, entendem-se a possibilidade e os limites de uma Igreja "italiana", "francesa" "alemã", "indiana", "japonêsa", dentro da unidade indivisível da Igreja Universal.
c) O limite absoluto de alojamento (pureza e a imutabilidade da revelação) não perdeu nenhuma das suas obrigatoriedades face às diversas formas de folclore, e ao mesmo se aplica às práticas religiosas e costumes. Assisti-los a todos a partir de uma perspectiva cristã, não apresenta qualquer valor independente. A adaptação tão pouco não pode ser confundida com relativismo (desvio da Única Verdade). É simplesmente uma expressão de cortesia, bondade e liberdade interior, características essenciais da pessoa e da doutrina de Jesus, que, embora uma parte é consumida em todo o zelo da casa do Senhor (Jo 2:17), por outro é estranho a todo fanatismo. A partir destes pressupostos, todo encratismo (rigorismo ascético), apesar do seu fervor cf4, é suspeito.
II. O ENTORNO JUDEU.
1. Duas circunstancias determinam a situação: a) o cristianismo não penetrou efectivamente no judaísmo, mas brotou dele, como de seu solo materno, b) o judaísmo era uma entidade religiosa, como o cristianismo. No judaísmo não havia um monarca reinante ou uma minoria de pessoas notáveis mas era uma teocracia, o senhorio de Deus. No Judaísmo reinava YHWH pela “lei”. Portanto, as questões da história da Igreja no âmbito judeu são de índole declaradamente religiosa. Tanto as vantagens, que no ambiente favorecia ao surgimento do cristianismo, como os obstáculos que ameaçavam a sua existência e dificultavam seu desenrolar, decorrente do campo religioso.
2. As vantagens para o cristianismo se cifravam principalmente em:
a) Religião no judaísmo não era um apêndice ou ligada à política, como em todas as outras criações estatais antigas, senão que todo o organismo do Estado ou do povo, a vida inteira com suas múltiplas relações, tinha na religião seu objectivo e sua meta. E esta precisamente destinava ao cristianismo: subordinar a religião à toda vida do homem.
b) A doutrina de Jesus, culmina na afirmação de que ele é o Messias prometido. Entre os Judeus a espera do Messias era o ponto central. Visto a partir dessa perspectiva, o cristianismo representava diretamente o cumprimento do judaísmo. Em Roma, por exemplo, onde não havia a noção de "Messias", a pregação de Jesus era simplesmente incompreensível.
c) Acima de todos os ímpetos do monoteísmo encontramos nos povos antigos não-judeus, que só o judaísmo tinha desenvolvido um monoteísmo moral puro, claramente expresso de forma clara e exigente sem hesitações ou concessões. Portanto, a inteligência foi tão importante para o judaísmo, neste ponto, porque foi um dogma fundamental da nova religião e porque, em última instância, se cristianismo teve vitória no mundo de então foi, em certo sentido devido ao monoteísmo.
3. As desvantagens e os perigos para o judaísmo oferecia ao cristianismo baseados em torno deles, na estreita unidade nacional da religião judaica (palestinense) com sua piedade jurídica exteriorizada nas obras. Esta constituía um obstáculo para duas características fundamentais do cristianismo, na medida em que a) a mensagem cristã se baseia essencialmente na exigência de interioridade, e, b) é dirigida por princípios, partindo dos judeus, a todos os homens (cf. Jo 10: 16, Mt. 28:19). É fácil de compreender, a partir destes pressupostos, que o confronto entre o cristianismo e judaísmo chegará a centrar-se sobre esta questão: é possível tornar-se cristãos apenas os judeus ou também os gentios (§ 8)?
2. As vantagens para o cristianismo se cifravam principalmente em:
a) Religião no judaísmo não era um apêndice ou ligada à política, como em todas as outras criações estatais antigas, senão que todo o organismo do Estado ou do povo, a vida inteira com suas múltiplas relações, tinha na religião seu objectivo e sua meta. E esta precisamente destinava ao cristianismo: subordinar a religião à toda vida do homem.
b) A doutrina de Jesus, culmina na afirmação de que ele é o Messias prometido. Entre os Judeus a espera do Messias era o ponto central. Visto a partir dessa perspectiva, o cristianismo representava diretamente o cumprimento do judaísmo. Em Roma, por exemplo, onde não havia a noção de "Messias", a pregação de Jesus era simplesmente incompreensível.
c) Acima de todos os ímpetos do monoteísmo encontramos nos povos antigos não-judeus, que só o judaísmo tinha desenvolvido um monoteísmo moral puro, claramente expresso de forma clara e exigente sem hesitações ou concessões. Portanto, a inteligência foi tão importante para o judaísmo, neste ponto, porque foi um dogma fundamental da nova religião e porque, em última instância, se cristianismo teve vitória no mundo de então foi, em certo sentido devido ao monoteísmo.
3. As desvantagens e os perigos para o judaísmo oferecia ao cristianismo baseados em torno deles, na estreita unidade nacional da religião judaica (palestinense) com sua piedade jurídica exteriorizada nas obras. Esta constituía um obstáculo para duas características fundamentais do cristianismo, na medida em que a) a mensagem cristã se baseia essencialmente na exigência de interioridade, e, b) é dirigida por princípios, partindo dos judeus, a todos os homens (cf. Jo 10: 16, Mt. 28:19). É fácil de compreender, a partir destes pressupostos, que o confronto entre o cristianismo e judaísmo chegará a centrar-se sobre esta questão: é possível tornar-se cristãos apenas os judeus ou também os gentios (§ 8)?
III. O ENTORNO GREGO.
1. Ainda que quando apareceu o cristianismo o (antigo) espírito grego tinha tempo que tinha sido transformado em helenismo, o espírito grego, apesar do giro da filosofia grega fazia a ética e a religião, e apesar da profunda mudança estrutural impulsionada pela ligação com a cultura oriental, primeiro e pela configuração romana, depois, seguiu em seguida, durante os primeiros séculos cristãos, em especial o espírito do conhecimento, da filosofia e da educação.
As questões suscitadas pelo seu encontro com o Cristianismo foram preferencialmente de natureza filosófica. Os gregos tentaram harmonizar as doutrinas da nova religião com as suas habituais formas de pensar, de compreensão da religião, de forma e sentido filosófico.
Assim, e precisamente neste contexto, é como surgiu a questão fundamental na história do pensamento cristão: o problema da Fé e ciência, e com ele o problema da fundamentação e defesa filosófica da Fé, isto é, o problema de teologia, em geral, e das disputas doutrinárias o das heresias filosóficas e na formulação dos dogmas.
Um exemplo tão expressivo como a exepcional de tudo isto, e com ele de influxo especifico de meio grego no destino da pregação cristã, temos repetido no que encontrou eco no mundo grego e inclusive no povo as muitas especulações e discussões dogmáticas (§ 27); as discussões a favor e contra foram seguidas com uma paixão para nós, modernos homens ocidentais, apenas é compreensível. Filosofar (no contexto da revelação, é fazer teologia), que foi a alma do último helenismo.
Na verdade, ao longo de toda a história da Igreja antiga, as questões de teologia, heresias, as heresias filosóficas e a formulação dos dogmas são condicionadas pelo ambiente grego. (Mesmo os debates teológicos do Ocidente latino, por exemplo, de Tertuliano e Agostinho, são realizadas de preferência com meios e imagens da mentalidade grega).
2. Como vantagens que este meio cultural proporcionou ao cristianismo deve ser observado:
a) que a evolução da filosofia grega à ética, teologia e religião. O cristianismo não se encontra não somente com céticos sem religião, mas também com filósofos propensos a todos os tipos de interioridade e interiorização, isto é dizer, aptos globalmente para acolher com compreensão a nova religiosidade.
b) Os gregos cultos exerciam, já desde a antiguidade uma forte crítica às antigas figuras demasiado humanas e impotentes, seus deuses, de modo que o cristianismo, no momento de combater o culto idólatra e o politeísmo, já tinha as armas preparadas. Somado a isto é a sua abordagem ao monoteísmo e à exigência de uma profunda religiosidade espiritual moral.
c) O poder do especulativo do gênio grego, por outro lado também ajudou o cristianismo a tornar-se em uma potencia espiritual e a elaborar uma sublime teoria do conhecimento capaz de satisfazer às maiores exigências espirituais.
d) Por último, a Grécia foi a que com o seu idioma então de todos conhecido (a carta de São Paulo aos Romanos foi escrito em grego), saudou ao jovem cristianismo o único meio viável para pregar a nova doutrina, esse maravilhoso instrumento que permetia apresentar sugestivamente os novos pensamentos com toda a sua inesgotável riqueza.
3. Desvantagens. Houve um grande perigo. O cristianismo é essencialmente o anúncio da Fé e, como tal, é um mistério para a compreensão humana não é totalmente acessível e adequado, para a sua ânsia de saber, contudo, o homem tende a inerentemente um conhecimento total. Isto, no campo da religião, e especialmente a religião da loucura da cruz (1 Coríntios 1:18.23), traz consigo o perigo do racionalismo e da heresia, na tentativa de transformar a revelação e a Fé em um conhecimento natural (cf. gnosis, § 16).
1. Ainda que quando apareceu o cristianismo o (antigo) espírito grego tinha tempo que tinha sido transformado em helenismo, o espírito grego, apesar do giro da filosofia grega fazia a ética e a religião, e apesar da profunda mudança estrutural impulsionada pela ligação com a cultura oriental, primeiro e pela configuração romana, depois, seguiu em seguida, durante os primeiros séculos cristãos, em especial o espírito do conhecimento, da filosofia e da educação.
As questões suscitadas pelo seu encontro com o Cristianismo foram preferencialmente de natureza filosófica. Os gregos tentaram harmonizar as doutrinas da nova religião com as suas habituais formas de pensar, de compreensão da religião, de forma e sentido filosófico.
Assim, e precisamente neste contexto, é como surgiu a questão fundamental na história do pensamento cristão: o problema da Fé e ciência, e com ele o problema da fundamentação e defesa filosófica da Fé, isto é, o problema de teologia, em geral, e das disputas doutrinárias o das heresias filosóficas e na formulação dos dogmas.
Um exemplo tão expressivo como a exepcional de tudo isto, e com ele de influxo especifico de meio grego no destino da pregação cristã, temos repetido no que encontrou eco no mundo grego e inclusive no povo as muitas especulações e discussões dogmáticas (§ 27); as discussões a favor e contra foram seguidas com uma paixão para nós, modernos homens ocidentais, apenas é compreensível. Filosofar (no contexto da revelação, é fazer teologia), que foi a alma do último helenismo.
Na verdade, ao longo de toda a história da Igreja antiga, as questões de teologia, heresias, as heresias filosóficas e a formulação dos dogmas são condicionadas pelo ambiente grego. (Mesmo os debates teológicos do Ocidente latino, por exemplo, de Tertuliano e Agostinho, são realizadas de preferência com meios e imagens da mentalidade grega).
2. Como vantagens que este meio cultural proporcionou ao cristianismo deve ser observado:
a) que a evolução da filosofia grega à ética, teologia e religião. O cristianismo não se encontra não somente com céticos sem religião, mas também com filósofos propensos a todos os tipos de interioridade e interiorização, isto é dizer, aptos globalmente para acolher com compreensão a nova religiosidade.
b) Os gregos cultos exerciam, já desde a antiguidade uma forte crítica às antigas figuras demasiado humanas e impotentes, seus deuses, de modo que o cristianismo, no momento de combater o culto idólatra e o politeísmo, já tinha as armas preparadas. Somado a isto é a sua abordagem ao monoteísmo e à exigência de uma profunda religiosidade espiritual moral.
c) O poder do especulativo do gênio grego, por outro lado também ajudou o cristianismo a tornar-se em uma potencia espiritual e a elaborar uma sublime teoria do conhecimento capaz de satisfazer às maiores exigências espirituais.
d) Por último, a Grécia foi a que com o seu idioma então de todos conhecido (a carta de São Paulo aos Romanos foi escrito em grego), saudou ao jovem cristianismo o único meio viável para pregar a nova doutrina, esse maravilhoso instrumento que permetia apresentar sugestivamente os novos pensamentos com toda a sua inesgotável riqueza.
3. Desvantagens. Houve um grande perigo. O cristianismo é essencialmente o anúncio da Fé e, como tal, é um mistério para a compreensão humana não é totalmente acessível e adequado, para a sua ânsia de saber, contudo, o homem tende a inerentemente um conhecimento total. Isto, no campo da religião, e especialmente a religião da loucura da cruz (1 Coríntios 1:18.23), traz consigo o perigo do racionalismo e da heresia, na tentativa de transformar a revelação e a Fé em um conhecimento natural (cf. gnosis, § 16).
IV. O ENTORNO ROMANO.
1. O mundo romano é, por natureza, não tão teórico como prático, ou mais precisamente, político. Está plenamente representado pelo Estado romano; mais ainda: é o Estado romano. É o mundo do governo, da administração do controle. É também o mundo da auto valorização do direito positivo. Ele está vivo em um sentido de organização, como tambem o da necessidade de obedecer, e assim o desejo universal de unidade e expansão colonial.
A religião oficial de Roma não tinha nada absolutamente a ver com a consciência, com a intenção interna. Foi a pura execução de um culto externo. O coração podia, e de facto, muitas vezes estava ausente. Os deuses romanos eram venerados. Ao seu lado, pouco a pouco, entraram e foram reconhecidos os deuses das províncias5. O paganismo romano não se fazia nenhum exclusivismo.
Mas uma vez que todos exigiam os atos externos de sacrificar aos deuses reconhecidos pelo Estado, a tolerância religiosa no Estado romano era substancialmente influenciada pela coerção de consciência para todos aqueles cujas convicções os impedissem de realizar esses actos externamente. Este foi especialmente o caso dos cristãos. Pois para o judaísmo houvia uma excepção: por ser a religião nacional, e também circunscrita por tão estreitos limites que jamais poderiam exercer uma atração sobre as massas, eles foram autorizados a rejeitar esse sacrifício.
O Estado romano, portanto, não se preocupava com a doutrina da nova religião. Mas tendia a ocupar-se dos cristãos por considerações praticas de bem comum. E, neste caso, o seu interesse é resumido na seguinte questão: Será que combina a existência desta comunidade religiosa com os interesses do Estado? Têm os cristãos o direito a existir?
Além disso, na cristandade romana os problemas comportamentais, são profundamente acusar e ocupar em primeiro plano com suas preocupações: questões de constituição, organização, governo, órgãos administracionais, de moralidade e de santidade.
2. Vantagens. Todavia está muito difundida a opinião de que o Império Romano pagão para o cristianismo não era nada mais que um campo de batalha. Devemos ter cuidado de considerar apenas o Estado romano, em função da perseguição dos cristãos. Ele também foi um terreno fértil para a nova religião: pela sua geral tolerância religiosa e, acima de tudo uma tolerância especial para os judeus, em cuja sombra cresceu o cristianismo "(Tertuliano), e com a sua paz, dentro e garantidos as suas possibilidades de comunicação, facilitou decisivamente a difusão da boa notícia. O império, com a sua divisão em zonas urbanas, em seguida, em províncias e em seguida em dioceses, com a sua administração, bem como a ideia de unidade que era servido como um modelo perfeito, em que a Igreja pudesse ser progressivamente reforçada na sua organização e expressando a vida em um diversificado, atractivo e de fácil acesso para a inteligencia romana pagã 6. Além disso, apesar das perseguições, a afirmação da autoridade do Estado foi para os cristãos, sob a doutrina de Jesus ( "Dê a Deus o que é de Deus e a César o que é de César", Mc 12:17 ; Jesus diante de Herodes, S. Lucas 23:7 ff; Rm 13:1, 1 Pedro 2:16), algo óbvio e é frequentemente expressado no início da literatura cristã. Desde os apologistas do II sec., a grandeza do império e sua duração se atribui à oração dos cristãos e sua vida piedosa.
3. Desvantagens. Esta disposição das forças bloqueava novamente o perigo de exagerar os caracteres próprios do ambiente: isto é, que o poder político não se detivesse no limiar da religião. Isto será visto nas perseguições do Estado pagão, que exigia dos cristãos a pratica da religião estatal romana. Mais tarde, na época cristã, se demonstraram seus perigosos efeitos no cesaropapismo (§ 21) do Imperador Constantino e seus sucessores, especialmente Justiniano I, que em sentido viveram neste contexto totalmente imersos no espírito da antiga Roma. (De uma forma ou de outra, esse problema inicial de toda a história volta a desempenhar um importante papel na história da Igreja na Idade Média e mesmo na idade moderna).
O maior perigo, possivelmente, residia na indiscutível qualidade do governo político romano se infiltrar com grande intensidade no governo da Igreja, prejudicando assim, o estilo, completamente diferente, do ministério apostólico da Igreja.
1. O mundo romano é, por natureza, não tão teórico como prático, ou mais precisamente, político. Está plenamente representado pelo Estado romano; mais ainda: é o Estado romano. É o mundo do governo, da administração do controle. É também o mundo da auto valorização do direito positivo. Ele está vivo em um sentido de organização, como tambem o da necessidade de obedecer, e assim o desejo universal de unidade e expansão colonial.
A religião oficial de Roma não tinha nada absolutamente a ver com a consciência, com a intenção interna. Foi a pura execução de um culto externo. O coração podia, e de facto, muitas vezes estava ausente. Os deuses romanos eram venerados. Ao seu lado, pouco a pouco, entraram e foram reconhecidos os deuses das províncias5. O paganismo romano não se fazia nenhum exclusivismo.
Mas uma vez que todos exigiam os atos externos de sacrificar aos deuses reconhecidos pelo Estado, a tolerância religiosa no Estado romano era substancialmente influenciada pela coerção de consciência para todos aqueles cujas convicções os impedissem de realizar esses actos externamente. Este foi especialmente o caso dos cristãos. Pois para o judaísmo houvia uma excepção: por ser a religião nacional, e também circunscrita por tão estreitos limites que jamais poderiam exercer uma atração sobre as massas, eles foram autorizados a rejeitar esse sacrifício.
O Estado romano, portanto, não se preocupava com a doutrina da nova religião. Mas tendia a ocupar-se dos cristãos por considerações praticas de bem comum. E, neste caso, o seu interesse é resumido na seguinte questão: Será que combina a existência desta comunidade religiosa com os interesses do Estado? Têm os cristãos o direito a existir?
Além disso, na cristandade romana os problemas comportamentais, são profundamente acusar e ocupar em primeiro plano com suas preocupações: questões de constituição, organização, governo, órgãos administracionais, de moralidade e de santidade.
2. Vantagens. Todavia está muito difundida a opinião de que o Império Romano pagão para o cristianismo não era nada mais que um campo de batalha. Devemos ter cuidado de considerar apenas o Estado romano, em função da perseguição dos cristãos. Ele também foi um terreno fértil para a nova religião: pela sua geral tolerância religiosa e, acima de tudo uma tolerância especial para os judeus, em cuja sombra cresceu o cristianismo "(Tertuliano), e com a sua paz, dentro e garantidos as suas possibilidades de comunicação, facilitou decisivamente a difusão da boa notícia. O império, com a sua divisão em zonas urbanas, em seguida, em províncias e em seguida em dioceses, com a sua administração, bem como a ideia de unidade que era servido como um modelo perfeito, em que a Igreja pudesse ser progressivamente reforçada na sua organização e expressando a vida em um diversificado, atractivo e de fácil acesso para a inteligencia romana pagã 6. Além disso, apesar das perseguições, a afirmação da autoridade do Estado foi para os cristãos, sob a doutrina de Jesus ( "Dê a Deus o que é de Deus e a César o que é de César", Mc 12:17 ; Jesus diante de Herodes, S. Lucas 23:7 ff; Rm 13:1, 1 Pedro 2:16), algo óbvio e é frequentemente expressado no início da literatura cristã. Desde os apologistas do II sec., a grandeza do império e sua duração se atribui à oração dos cristãos e sua vida piedosa.
3. Desvantagens. Esta disposição das forças bloqueava novamente o perigo de exagerar os caracteres próprios do ambiente: isto é, que o poder político não se detivesse no limiar da religião. Isto será visto nas perseguições do Estado pagão, que exigia dos cristãos a pratica da religião estatal romana. Mais tarde, na época cristã, se demonstraram seus perigosos efeitos no cesaropapismo (§ 21) do Imperador Constantino e seus sucessores, especialmente Justiniano I, que em sentido viveram neste contexto totalmente imersos no espírito da antiga Roma. (De uma forma ou de outra, esse problema inicial de toda a história volta a desempenhar um importante papel na história da Igreja na Idade Média e mesmo na idade moderna).
O maior perigo, possivelmente, residia na indiscutível qualidade do governo político romano se infiltrar com grande intensidade no governo da Igreja, prejudicando assim, o estilo, completamente diferente, do ministério apostólico da Igreja.
V. A INFLUÊNCIA DO ORIENTE.
1. Nenhuma das culturas até agora mencionadas como fatores influentes na nova religião, se conservava então em toda a sua pureza, sem mistificações. Todo o mundo antigo estava fortemente orientalizado.
Ao longo dos séculos I e II da nossa época foi gradualmente impostas dentro helenismo, o elemento oriental; tomou cargo, sem qualquer violência, o guia espiritual. E esta tendência não se deixou de ser importante para o cristianismo, principalmente porque uma tal tendência marcava uma tintura religiosa: " a época do Império Romano está entre as grandes épocas religiosas da história universal" (HE Stier). O facto de uma religião procedente do Oriente poderia suscitar um interesse geral, devem ser valorizados, sem dúvida, como um factor positivo. Mas também no Oriente surgiu o mais poderoso rival do cristianismo primitivo, o culto a Mitra. E dali procede igualmente uma das mais perigosas heresias com que teve de lutar a jovem Igreja, a doutrina de Mani, ideal religioso da antiga Pérsia cf 7.
2. Assim, no âmbito das forças fundamentais que acompanham a evolução do cristianismo, na sua fundação também deve analisar as características do Oriente. Sua importância é ainda maior se considerarmos que as cidades de Alexandria e Antioquia, que foram as primeiras escolas para catequistas, que influenciaram a formação da doutrina se encontram ambas em solos grego de Bizâncio, localizado na orla da Ásia Menor, dependeu muito mais da influência oriental que da grega.
A supremacia política de Roma não muda muito este estado das coisas. Tão aberta estavam as correntes procedentes do Oriente, que a sua própria lingua não foi, de facto, apenas uma de muitas, como poderia ser céltica ou ibérica.
VI. RESUMO.
1. A diversidade dos contextos culturais em que se difundiu e viveu a mensagem cristã é, sem dúvida, crucial para o desenvolvimento da história da Igreja e para a sua avaliação. Uma vez que Deus é o Senhor da história e com a encarnação do Filho o cristianismo se tornou um fenômeno histórico fundamental e crítico, também seu caminho tem discorrido através da história; de modo que nenhum dos seus contactos profundos com este ou aquele país ou sua cultura tem sido algo secundário para o seu destino, mas realmente essencial. O ditado mais claramente: é um fato histórico-salvifico de primeira categoria que a boa nova, em seu período de fundação, não foi dirigido preferencialmente para o Oriente, por exemplo, para os índios, que rezavam como padrões primitivos, mas a estritos pensadores, aos gregos, que defendiam a supremacia do racional, aos romanos, que oravam tão autoritária como praticamente. Quem defendia explicitamente o lema de "um só Deus" há de aprender a partir deste encontro casual do evangelho com o Ocidente político e racional com muito sérias consequências para a valorização do curso da história da Igreja, porque daqui deriva essencialmente a sua evolução.
2. Para as referidas desvantagens dos entornos culturais surgem às vezes certos atentados contra o Cristianismo e a Igreja. Em frente a eles, a Igreja se defende e se reforça. Rejeição, iste contraste, por sua vez, influencia a Igreja. Desta forma, especialmente como uma manifestação de sua própria vitalidade, que cresce e evolui.
Na antiguidade cristã, as provocações provêm: 1) do judaísmo: o problema do judaísmo e do cristianismo dos gentios no primeiro século (§ 8); 2) do paganismo, e a saber: a) do Estado romano e da atitude hostil contra as massas populares (séculos II e III, § § 11 e 12), b) das forças da cultura grega, o que promoverá a heresia (entrincheiramento da religião revelada por Deus séculos II ao V, § 16 , 26 e 27).
Já conhecemos esquematicamente o quadro externo dentro do qual surgiu a nova religião, a mensagem cristã, e as condições gerais em que podia se enraizar e crescer.
Vamos agora ocuparmo-nos com a religião como tal. E, acima de tudo, do único centro vital e o fundamento que a sustenta.
3 Para ilustrar isto, cf. parágrafo III (moderada ou acentuada Helenização) e Secção 34 (germanisação) tiveram problemas semelhantes na missão, os Jesuítas na Ásia Oriental.
4 Ver a este respeito, o zelo excessivo do jansenismo, tão sensível contra qualquer forma de acomodação.
5 Houve muitas poucas excepções, salvo por exemplo, o culto dos druidas, que ainda praticavam sacrifícios humanos, mas outros cultos tiveram limitações locais e sociais, tais como o culto de Cibele; na mesma Roma até o ano 38 d.C., foi proibido o culto de Isis e Osiris.
6 Origenes já interpretou isto em defesa do cristianismo, dizendo: "Deus preparou as nações para a sua doutrina, a fim de que estivessem sob um só imperador romano e as nações sob o pretexto de que havia muitos estados, não se encontrassem reciprocamente separadas umas das outras e, por isso, resultasse extremamente difícil cumprir o que Jesus mandou aos apóstolos, dizendo: "Ide e ensinai a todas as nações."
7 Estas influências orientais se diferem grandemente do elemento grego; não são determinadas pelo pensamento, mas pelo sentimento ou fantasia. Veja também a este respeito a heresia de Taciano (§ 16).
§ 6. Jesus de Nazaré, Fundador da Igreja.
Fundador da Igreja.
1. A vida e a obra inteira de Jesus é a base e o fundamento de toda a Igreja. Uma vez que suas palavras foram pronunciadas para todos os tempos (Mt 24:35) e ele prometeu estar com os seus até o fim do mundo (Mt 28:20, 15:1 e Jo 8:12), tudo o que Ele É e aquilo que Ele disse e fez é essencial para o que foi, tem vivido e é a sua Igreja, que Ele mesmo fundou na história. Tudo o que sabemos a Ele pertence, portanto, a essência da história da Igreja. Dado o papel especial da história da Igreja (o que não é exegese), vale a pena lembrar algumas coisas.
a) As fontes do nosso conhecimento da vida de Jesus são os escritos recolhidos no Novo Testamento. Além disso, uma enorme distância, mas tem alguns valor demasiado escasso, testemunhos não-cristãos a respeito do Senhor.
A questão da origem dos Evangelhos, foi calorosamente debatida por muitos séculos. Iluminismo e liberalismo se esforçaram para mostrar que quanto as fontes não têm nenhum valor crítico, em colocar seu surgimento, no segundo século e negam a paternidade dos autores mencionados pela tradição. E tal como os Evangelhos, fazem com a maior parte das cartas dos apóstolos. No entanto, a mais recente análise científica tem defendido a antiguidade apostólica e autenticidade dos evangelhos. Em todos os sectores se entende muito melhor o confuso processo histórico da Genesis dos Escritos Sagrados e de sua recompilação em um “canon” exigente, bem como o envolvimento humano dos autores com base em sua seleção e formulação. E esta compreensão mais profunda dos elementos naturais da escrita, precisamente, reforçou a idéia de que o valor histórico do núcleo do Evangelho não pode em forma alguma ser negada.
A recente tentativa de dividir radicalmente o Novo Testamento camadas ou níveis ou volatilizar o sucesso objetivo em um pessoal sintir-se afetado e fazê-lo “sucesso”, está claramente determinado pro esquemas filosóficos de um determinado tempo histórico. (Por volta de um século atrás, a história da exegese demonstra a volatilidade de tais tentativas).
Frente a tudo isto, a primeira leitura dá a impressão de que a mais cuidadosa e abrangente análise das fontes confirma a essencial unidade interna, da mensagem de Jesus de Nazaré, que foi crucificado, ressuscitou e enviou aos apóstolos que ele escolheu para divulgar o reino de Deus com o poder do Espírito Santo.
b) O Evangelho de Mateus foi escrito originalmente em aramaico. S. Marcos escreveu em grego e reproduziu no essencial os ensinamentos de S. Pedro. O Evangelho de S. Marcos foi usado depois pelo tradutor grego do Evangelho de S. Mateus, tanto nas suas expressões como organização dos assuntos. Ambas as obras, juntamente com outros escritos e tradições orais, serviram de fonte a S. Lucas. S. Mateus e S. Marcos escreveram seus livros antes da destruição de Jerusalém, S. Lucas, provavelmente, pouco tempo depois dela.
c) O mais discutidos de todos foi o Evangelho de S. João, de que não se queria reconhecer como autor o "discípulo amado" (Jo 21:20). No entanto, a maioria dos pesquisadores, incluindo protestantes 8, diz que a paternidade, bem como a sua redação esta por volta do ano 100. Agora, como os Evangelhos de S. Mateus, S. Marcos e S. Lucas 9 apresentam um material muito semelhante sobre a vida, o ensinamento e a morte de Jesus, o Evangelho de S. João oferece muitas coisas novas em termos de forma e conteúdo. E isso é compreensível. Pois ele escreveu a cerca de vinte ou trinta anos mais tarde que os outros evangelistas, já conhecidos e reconhecidos desde há muito tempo, era natural para cobrir algumas lacunas, dera certas coisas como supostas e com a sua narrativa tomara postura sobre as novas questões levantadas. Assim, o Evangelho de S. João é um importantissimo pilar da tradição viva, que vai até os tempos em que já não vivia nenhuma das pessoas que conheceu pessoalmente a Jesus. Por Policarpo (§ 11), a ligação está bem assegurada até avançada parte do segundo século.
O Evangelho S. João parece ter recebido o dom de um conhecimento profundo e especial do Senhor e sua doutrina, ele ", a quem amava o Senhor." Seu evangelho mostra em muitas passagens com que reconhecimento e lealdade ele tinha guardado no coração alguns momentos pessoais e aprendizados com o Senhor. A contínuo e espontânea meditação sobre a maravilha destes encontros resultaram, naturalmente, em uma esclarecedora pregação. O Evangelho de S. João mostra um notável desenvolvimento da mensagem teológica de Jesus. Em muitos casos, não é fácil separar as palavras de Jesus do que é originário de S. João.
S. João aparece já com uma relação positiva com a cultura grega. O melhor exemplo disto é o primeiro capítulo do seu Evangelho, que utiliza o conceito grego de logos, ainda que mais aprofundado pela revelação cristã, para expressar, em tom de louvor, o mistério da divindade do Filho, o seu poder criativo e sua encarnação em uma profissão de Fé de grande estilo.
d) S. Lucas expressamente afirma que já havia uma considerável literatura sobre a vida e a pregação de Jesus (S. Lc 1:1 s). Juntamente com as histórias que foram aceitas pela Igreja, na verdade, havia muitos outros que a mesma Igreja rejeitou como não-histórico (apócrifos) o Evangelho dos Egípcios, de Judas, de Pedro, de Tiago, de Gamaliel, Apocalipse ...
Em geral, pode-se afirmar cientificamente que a Igreja mostrou um instinto extraordinariamente certo na escolha. A sóbria discrição das Sagradas Escrituras por ela reconhecidos contrasta com todas as suas vantagens a seu favor, com muitos exageros fantásticos, quando não ingênuos, sobre a vida do menino Jesus, sobre sua morte, ou mesmo sobre a sua pregação de um reino de mil anos dos apócrifos.
2. Jesus Cristo morreu (provavelmente) no dia 14 de Nisán 10 do ano 783 da fundação de Roma, ou seja em 7 de abril do ano 30 de nossa era.
O ano do nascimento de Jesus, devido a um erro do monge Dionísio o Pequeno (= 566) ao fazer o cálculo da era cristã, deve ser fixado em media de três a cinco anos, antes de começar.
a) Jesus Cristo é Deus. Esta nos ensina a Fé. Apoiando nesta Fé são a consciência messiânica de Jesus, as profecias foram ostensivamente cumpridas, os milagres realizados por Ele, incluindo a sua ressurreição corporal dentre os mortos, a divina pureza e a santidade de sua vida, a inesgotável riqueza, sabedoria e verdade esmagadora sua doutrina e divina majestade de sua personalidade. Todos estes elementos constituem todos em um só, e só assim, tomados em conjunto, têm força expressiva, cientificamente mostrada.
Em relação ao modo como Jesus falou, o mais notável é sua plenitude, e para os homens incansável segurança em si, que nem naas declarações, mais solenes nem na aparentemente menos elevada perda a seu próprio centro se o mostra de alguma forma excessiva .
b) Jesus Cristo, cumprindo a profecia veio ao mundo como o filho de Davi, da casa de Judá para fazer-se irmão dos homens e salvar a seus irmãos. Embora carregado com os pecados daqueles, ele permaneceu como unigenito do Pai, pleno ao lado de Deus. Portanto, em uma misteriosa forma, é profundamente significativo que Jesus nasceu da Virgem Maria, "não por" a vontade de homem "(Mt 1:25, Lc 1:35 s).
Na Sagrada Escritura frequentemente se fala dos "irmãos de Jesus" (Mc 6:3). Estes não são irmãos em sentido estrito, e segue-se o seguinte: a) Em S. Lucas 1:34 Maria diz, em um contexto que dá grande importância à sua afirmação de que "não conhece homem". Ela adoptou esta atitude, no meio da crença generalizada de que todo judeu e especialmente, um membro da família de David poderia ou deveria contribuir para a esperada chegada do Messias com a procriação dos filhos, seria simplesmente inexplicável e contraditórias para uma posterior alteração em sua primeira atitude. b) Em correspondência com isto esta o fato de que nunca um dos "irmãos de Jesus" recebe o nome de filho de Maria, isto é reservado exclusivamente a Jesus. c) Que, finalmente, também concorda que cada um dos quatro "irmãos de Jesus” mencionados no Evangelho são atribuídos diferentes mães e não Maria, a Mãe de Jesus (cf. Mc 6, com uma outra: 5, Mt 13:35, Jo 19:25, Gl 1:19) 11.
3. Em Cristo é manifestado o amor incondicional de Deus, a fim de atrair os homens a exercer a sua própria plenitude na vida divina. Ao indivíduo é dado a conhecer à comunidade dos santos (= da Igreja).
Portanto, a obra e os ensinamentos de nosso Salvador são abordados:
a) a cada homem, b) para a Igreja.
a) Jesus quer trazer os homens para a recta religião e Verdadeira piedade, que culmina com o mandamento de amar Deus e ao próximo (S. Mateus 22:37 ss), requerem a pureza de intenção (ou "melhor justiça" do Sermão da Montanha). Com ele, Jesus rejeita o mecanismo e a exteriorização da piedade e converte eternamente a religião em questão de consciência: Deus e a alma. Jesus igualmente elimina a política da religião. O reino de Deus que ele anuncia não se destina apenas para os descendentes de Abraão, mas a todos os homens: traz o universalismo religioso, a religião da humanidade.
A religião de Jesus está intimamente adaptada para isso, porque é simples e livre de todo o condicionamento histórico e temporal, pois só procura e incentiva o mais profundo do homem, o próprio homem, sua alma, porque aborda as necessidades e habilidades que se dão em todos os lugares, sem distinção de raça ou localização. Não há qualquer contradição em Jesus, e continua a cumprir o Antigo Testamento (Mt 5:17), limitando a sua pregação principalmente a Israel, nem que os apóstolos e discípulos em sua primeira missão enviada apenas para os judeus (Mt 10: 5s, 15:24). Jesus, evidentemente, é fortemente aderido à tradição. “Não veio para abolir a lei, mas para cumprir "(Mt 5:17). Mas dentro desta importante ligação com a história do povo escolhido, e juntamente com ela, aparece outro elemento, o poderoso e revolucionário, “mas eu vos digo" (Matt. 5:22) do Senhor, que o é mesmo ao sábado (Mt 12:8). Por isso é que Jesus previu o fracasso do Judaísmo (Mt 21:23 ss; 22:1-14).
Neste fracasso reside a tragédia do judaísmo. E esta ocorreu porque os judeus queriam um Messias terreno, uma grandeza política e, por isso, repudiaram a Jesus em um tumultuoso processo. E lá foram involuntariamente testemunhas contra si próprios e favoráveis a Jesus. Pois Isaías já tinha anunciado o Messias como um servo sofredor de Deus (Isa 53:1.12), mas este pensamento tinha desaparecido e já era estranho na época de Jesus.
b) Do mesmo modo, a obra de Jesus é essencial e intimamente ligada para a fundação da da Igreja. Jesus continuamente enfatizou a idéia de sua comunidade religiosa (Pai Nosso, perdoa-nos as nossas dívidas!). Visa reunir o povo de Deus. " Ele quer que todos sejamos irmãos e que formemos uma família com um comum louvor ao Pai no céu. Esta família, no entanto, não é uma escola, mas uma comunidade de vida, que é formada entre todos os povos, a saber, a Igreja Católica Ortodoxa 12.
Jesus não só anunciou o reino de Deus para o pequeno grupo de pessoas ao seu redor, mas também fundou a Igreja como uma Igreja missionária especificamente. Queria fazer de seus discípulos pescadores de homens (Lucas 5:10, Mt 4:19) e enviou-os para os confins da terra (Atos 1:8). Assim, a Igreja é uma base inerente dinâmica de expansão, uma força ofensiva no sentido mais nobre da palavra. A fundação e a doutrina de Jesus são essencialmente amor e serviço, bastante estranhas a toda mera passividade e falsa interioridade.
Jesus fundou também esta Igreja como sociedade visível e comunidade histórica: 1) por uma declaração solene em S. Mateus 16:18, 2) pela instituição dos sacramentos; 3) pela formação dos apóstolos em sacerdotes da Nova Aliança (S. Lucas 22 : 19), e 4), por sua constituição em mestres dos povos (S. Mt. 28:19).
c) A maioria dos acontecimentos mais decisivos na vida dos apóstolos foram a ressurreição do Senhor, e a vinda do Espírito Santo. Só elas produziram as suas (já preparadas) transformações duradouras dos ignorantes e medrosos pescadores em apóstolos, confessores, e fortes pregadores e mártires.
A grande transformação de sua consciência afectava o núcleo do judaísmo: aqueles que pouco estavam esperando um Messias como um guerreiro-político compreenderam agora o espírito do Sermão da Montanha, a interioridade, a pobreza, a mansidão, a renúncia e o sofrimento 13. Também souberam que só nesta mensagem, só no nome de Jesus está a salvação (Atos 4:12).
Nunca se insistirá bastante na substancial diferença que havia entre aqueles apóstolos dos judeus que fugiram e estão trancados e cheios de medo daqueles homens cinqüenta dias depois, o dia de Pentecostes, quando a assembléia de todos os representantes do judaísmo, do Oriente e do Ocidente, anunciaram que "Jesus é o Senhor", que poucas semanas antes de os sumos sacerdotes tinham executado como um criminoso na infame árvore da cruz e que se elevou, à direita de Deus (Atos 2:14 e ss). Uma tribuna diante do mundo! E que força! Esta transformação, pela obra da graça, infundiu aos apóstolos o ánimo de lutarem como responsáveis da valiosa causa que defendiam.
Aqui se fez efetivo o encargo que Jesus havia confiado aos seus discípulos (cf. a missão dos setenta discípulos, S. Lucas 10, 1ss), e especialmente aos seus apóstolos e à sua Igreja, como uma obriagação principal: Ide a todo o mundo e ensinai a todos os povos. Aqui se cumpre a essência da verdade, que não pode ser outra que comunicar-se para o bem de todos aqueles que a ele o receba.
4. A Igreja é a continuação da redenção, enquanto anuncia aos homens e a transmite (pela doutrina e sacramentos). Todos os homens estão resgatados e devem tornarem-se redimidos. A missão da Igreja, portanto, a penetração, e subjugação do “mundo”. Então todo o que na doutrina de Jesus, une-se imediatamente ao religioso, determina a relação do cristianismo com o mundo, assume uma especial importância para a história da Igreja. O princípio básico é este: o homem não tem nada para dar como resgate para a sua alma (S. Mateus 16:26). Por isto deve rejeitar todos os pecados e exigir a abstinência do mundo pecador (ascetismo, "fugir do mundo"): "Quem quer ser meu discípulo, tome a sua cruz e siga-me!" (S. Mt. 16:24). Mas, por outro lado, embora a religião de Jesus é neutra para diferentes formas de cultura, por sua vez, reconhece o Estado como o mundo criado por Deus, e o aprova desde este não fira as Leis Divina. Com a frase: "Dai a César o que é de César e a Deus o que é Deus" (S. Mt. 22:21), Jesus admite duas regiões autónomas e, portanto, a relação positiva entre o homem e o Estado.
Ambas as direções, a fuga do mundo e orientação em direção ao mundo, tem resultados essenciais para o curso da História da Igreja, são como duas grandes correntes ao longo dos tempos têm surgido alternadamente, em primeiro lugar, mas que uma e outra se complementam. São duas forças fundamentais, uma das quais, visível e "mundana", que sempre tentou afastar o reino, que não é deste mundo (S. Jo 18:36), de sua vocação. Mas a orientação em direção ao mundo, por outro lado, não é só oposição à cruz, mas facilmente se presta a ela.
Jesus deu à sua Igreja um programa que deve determinar toda a sua história. Como esta é uma instituição que opera a salvação ou a perdição de todos os homens, a descrição da história da dita instituição que está a si mesma também obrigada a não cair sendo reduzida a um simples relato de seu desenvolvimento histórico, esse desenvolvimento deverá também ser medido segundo o seu programa obrigatório de acordo com o suas regras estabelecidas, imutáveis.
5. A vida terrena de Jesus terminou externamente com um fracasso: a crucificação, que se torna o centro da redenção. Por força tinha que suceder que a Igreja, continuação de sua vida, participasse constantemente desta mesma cruz (como o Senhor previu especificamente os Apóstolos S. Jo 15:20), se, a cruz é o verdadeiro caminho da Igreja para atingir o seu objectivo, mesmo uma de suas chave fundamentais, tal como proclamada no Evangelho (S. Mt 10:39, Jo 12:24), diz: ganancia por renuncia. Visto exteriormente, em um sentido histórico-pragmático, junto a êxitos não faltam fracassos; junto à santidade, a irregularidade. A Igreja fundada por Jesus Cristo é a Igreja de santos e Igreja dos pecadores. Mesmo em seus períodos mais brilhantes e personalidades que não tem deixado de participar da cruz devendo ver falhas em seu próprio seio. Não é científico (e sim sinal de pouca fé) negar a estes fenómenos negativos e tentar tirar uma foto com refinados toques irreais, apenas cheios de virtudes e de fé. Mas é também anti-cientifico e anti-histórico: a simples divisão da única Igreja visível e invisível na chamada Igreja do amor e a chamada Igreja do direito só pode levar, por exemplo, a condenar globalmente a história da Igreja pós-constantiniana e em especial a "papista" Médieval, que é cientificamente inviável.
6. O material histórico até agora alegado já se separa de uma característica essencial da história da Igreja, que é necessário explicar maiores detalhes, se quisermos alcançar uma visão mais frutuosa. É uma característica que aplicaremos logo na exposição de História da Igreja, e poderemos comprovar as sua validade. Este é o conceito, já várias vezes apontado, a síntese católica. A atitude formal para a qual temos de sempre voltar para captarmos a realidade plena de todos os níveis do ser e do acontecer, é a observação de todos os ângulos possíveis e as imagens resultantes das diferentes opiniões, de uns e de outros. Isto é: considerar a totalidade partindo, sim do material concreto criticamente verificado mas atento ao mesmo tempo: a) descobrir as raízes comuns que derivam estes dados concretos e b) compreender profundo significado de cada um deles dentro do todo, com base nas leis e conceitos teológicos fundamentais conhecidos ou de conteúdo essencial peviamente visto. Esta visão orgânica e síntética é única e satisfatória quando se trata de fazer a avaliação final, isto é, quando se trata de esclarecer a verdade, a riqueza e a supremacia fundamental da Igreja sobre todas as outras religiões e sistemas.
A síntese, neste sentido é também uma expressão da catolicidade e universalidade. Não existe uma outra fórmula que possa fazê-lo espiritualmente e intelectualmente frutuoso o estudo da história da Igreja. A Igreja é um sistema central. Se não perdermos de vista as acusações feitas à Igreja em seus múltiplas impasses sempre tristes estancamentos a respeito de seus próprios ideais, é cientificamente legítimo dizer, a Igreja representa o resumo ou síntese de todos os valores da direita e da esquerda. Em uma história imensamente rica em história tem conseguido evitar, o que é essencial para ela, a initarelidade e o exagero: deixa ao povo judeu sua posição privilegiada como um povo eleito, mas com a nova aliança faz que toda a humanidade seja o verdadeiro Israel, reconhece o vigor da compreensão humana mesmo dentro da doutrina revelada, mas rejeita a equação da religião com a filosofia, sabe que a doutrina de Jesus foi um mistério estrito e dá a este mistério rigorosa sublimidade, mas a razão, ainda que não pode captar adequadamente a essência do mistério (1 Coríntios 13:2 e ss), pode ilustra-la, de alguma forma, ela ensina que a salvação é todo o trabalho da graça, mas também sabe que Deus conta com o homem, e confere a si mesmo a vontade humana força e responsabilidade o bastante para a colaboração que Deus e com sua graça torna fácil: toda a história da Igreja com sua manifesta multiplicidade pode ser estudada a partir deste ponto de vista. Desde que, por muito razoáveis que sejam os motivos, algum elemento não seja valorisado de acordo com a sua contribuição para a obra total, a instituição de Jesus, desta forma não será valorisada objetivamente e parecerá imperfeita.
É evidente que não deve ser confundido sntese com indiscriminada mistura. Também a expressão Católica "tanto esta como aquela" significa a soma de duas realidades de mesmo posto e de direitos iguais. A primeira condição para a síntese é a absoluta primazia da revelação e da redenção, isto é da graça. A segunda condição é o rigor sem comprimissos. No evento histórico, é simultaneamente orgânica sintética e construção da base da fundação.
Este modo de estudar a história da Igreja está estreitamente ligada à sua essência. Porque a total - e paradoxa – pelinitude da história da Igreja a que aludíamos está baseada, exemplificada e previamente vivida na pessoa, obra e os ensinamentos de Jesus: Deus e homem, a máxima consciência de si mesmo e a profundíssima humildade de quem se nega a si mesmo; firmeza nas exigências e misericórdia, não repudiar a lei, mas enchê-la com um novo significado, a intenção interna e obra exterior; reino de amor e constituição, individual e comum, cada ponto da doutrina refere-se ao todo mas o todo só existe quando se guardam todas as singularidades (“quem é fiel nas pequenas coisas, é nas grandes e ainda S.Iakovos “a Fé é integra ou não existe”).
O reconhecimento dos factos em primeiro lugar, e a riqueza desta síntese, então, se tornam possíveis reconhecer a unitariedade e a consequência lógica da doutrina de Jesus e do cristianismo primitivo, sem ter que recorrer, como faz a crítica liberal, a uma "evolução" gradual da consciência e da doutrina de Jesus, ferindo assim de morte a toda forma determinante, a todo o cristianismo objectivo em germem.
8 Ver a este respeito o importânte papiro grego Rylands (475). A pequena folha contém fragmentos de Jo 18. Provém do Egito central e foi escrita no mais tardar em 130. Disto se pode deduzir e com razão que o evangelho foi escrito algumas décadas antes. (Ver ilustração 2).
9 Com um simples olhar pode ter os textos ordenados um ao lado do outro = sinopse, sinópticos.
10 Primeiro mês do ano hebreu.
11Hegesipo (segundo século) chama por exemplo, a Iakovos (Iago), filho do irmão de José. Sua mãe era irmã da Mãe de Jesus (Jo 19:25).
12 Do grego antigo kat bolon = universal, unitario, global.
13 Especialmente S. Lucas 24:7.26.46 "o Messias não tinha que sofrer tudo isso para entrar na sua glória?" Toda a tensão desta concepção, em comparação com a expectativa geral dos judeus é igualmente manifestada na angustiante questão de João, o precursor, com a pregação do arrependimento e da ira de Deus do AT: És tu que tens de vir ou esperaramos por outro? " (Mt 11:3).
§ 7. A Primitiva Comunidade de Jerusalém.
1. Jesus foi condenado e crucificado em Jerusalém. Também apareceu em Jerusalém aos onze apóstolos (S. Lucas 24:49.52; Atos 1:4.12). Eles permaneceram ali unânimes em oração com as mulheres e Maria, a mãe de Jesus, e seus irmãos "(Atos 1:14). Reunidos em media de uns 120 homens (Atos 1:15), e ali, aos cinqüenta dias (Pentecostes = 50) experimentaram a vinda do Espírito Santo (Atos 2:1).
Essa foi o núcleo da primitiva comunidade de Jerusalém, cujos membros eram judeus. Pela pregação de São Pedro no Pentecostes, três mil judeus são convertidos, e logo após outros dois mil (Atos 2:5.22-29.36-41; 4:4).
A respeito da formação e vida interna desta comunidade e a difusão do cristianismo sabemos pelas histórias dos Atos dos Apóstolos, que transparece o encanto peculiar do primeiro crescimento e do primeiro amor: a força da avassaladora verdade se manifesta espontaneamente.
O mais importante para o entendimento histórico é o fato que os convertidos à mensagem de Jesus Cristo formavam com os apóstolos uma comunidade própria (Atos 2:41 ss), e como tais viviam, mas não se separaram nem interiormente nem exteriormente da sinagoga, nem ignoraram a autoridade do Sinédrio (Atos 21:24). Os membros da nova comunidade sentiam-se realmente plenitude do judaísmo, como eles, entenderam no ensinamento de Jesus (com a sua pessoa como o ponto central), compreendiam melhor que seus pais. Intimamente envolvidos com os seus sacrifícios no culto judaico 14, mas ao lado tinham a sua própria assembléia liturgica nas casas ,"partiam o pão", isto é, celebravam a santa ceia, comemorado com alegria e simplicidade de coração "(Atos 2:46 s ). Tal como Jesus na Última Ceia pronunciou uma de ação de graças, também fez os seus discípulos. Por isso então essas celebrações litúrgicas foram chamadas "Eucaristia" do grego ευχαριστο, agradecimento. Até agora, o núcleo deste Serviço Divino, Santa Missa, é recoradação agradecimento e presencialização em ação de graças por aquilo que o Senhor celebrou com seus discípulos na noite em que ele foi traído "(1 Coríntios 11:23).
Os cristãos da comunidade primitiva (como em geral as primeiras comunidades) celebravam este serviço litúrgico, próprio e de forma privada, só em casas particulares (Atos 2:42). Mas os apóstolos também se atreveram a proclamar a mensagem cristã no templo. Era natural que o judaísmo oficial não aceitava e procurava impedir com palavras e ações a ação missionária (Atos 4:1-22, 5:17-40): uma primeira "perseguição", uma primeira ocasião de "martírio", e o mesmo sucesso, que é repetido muitas vezes mais tarde, reforçou o zelo pela difusão do reino de Deus (Atos 5:42).
2. Do patrimônio da religiosidade judaica, herdou dos maiores, a primitiva cristiandade reteve a ideia de que a comunidade deveria estar articulada e dirigida pelos anciãos, para ela, por isso, foi tão evidente como fundamental o conceito do ministério espiritual com poderes plenos e perpétuos. A figura básica essencial da Igreja (ensino com autoridade), segundo disposição de Jesus já existia no hambito palestino antes que o cristianismo entrasse no mundo grego.
A estrutura hierárquica estava já prefigurada na direção da primitiva comunidade de Jerusalém pelos "doze", que o mesmo Senhor tinha escolhido, nomeado e enviado. As fontes descrevem como coisa mais natural o desenvolver orgânico deste governo autoritário, nunca uma rachadura do mesmo, destacando entre os apóstolos a Pedro, João, Iago (Iakovos) o Maior e, mais tarde, a Iago (Iakovos) o Menor.
3. Junto a estes elementos hierárquicos-institucionais da comunidade primitiva figuram também o carismático e o profético, e não com menos intensidade, ainda que não cheguem estes a eliminar aqueles. O milagre de Pentecostes é o documento mais importante que nós conhecemos. O mesmo Paulo que foi chamado de modo tão extraordinário, trabalhou antes de sua missão desde Antioquia com um grupo de "profetas e de mestres" (Atos 13:1). Ele também nos dá notícia de uma multiplicidade de dons, como "livres" e vocações (carismas) nas primitivas comunidades. O mesmo Apocalipse o rezume dizendo: "O testemunho de Jesus é o espírito de profecia" (Ap 19:10). Com o qual de uma maneira global tem o significado da noticia do Messias, sua chegada, seu convite à penitencia e seu juízo, e o sentir-se afetado pela palavra e o testemunho de Cristo. O profetismo, portanto, tem o seu verdadeiro lugar na Igreja, é uma vocação particular e direta de Cristo (Ef 4:11). S. Paulo resume a autoridade institucional e o carismático dizendo à comunidade: "Estais edificados sobre o fundamento dos apóstolos e dos profetas" (Ef 2:20, cf. 3:5).
4. A diferença entre uma classe directiva e um docente da Igreja e a multidão dos fiéis (cf., por exemplo, Atos 1:15-26, 3:15, "a nós apareceu o ressuscitado.."., e não a todos) é a determinante da vocação dos apóstolos, encarregando-os de celebrar a vida, o sacrificio e a eucaristia, exercer o poder espiritual e levar a cabo a sua missão, a diferença é imensa e inconfundível. Mas nem por isso devemos duvidar que a comunidade como tal, foi corresponsável ativa por toda a vida da Igreja: é a patente do sacerdócio geral de todos os crentes (a nova criatura: 2 Coríntios 5:17; a linhagem sacerdotal: 1PE 2:5 ). Nos debates iniciais que conhecemos da primitiva comunidade, um grande segmento participa das decisões importantes. Todos os dons gratuitos e todos os ministérios da Igreja estavam unidos pelo vínculo da fraternidade diante o único Pai do Céu.
5. As peculiaridades da primeira comunidade se manifestam por dupla conduta: a) o seu maior interesse se centrava em permanecerem incontaminados neste mundo (S. Iakovos ou S. Iago 1:27), b) mostravam com sua vida o cumprimento da palavra do Senhor: “Através disto saberão que sois meus discípulos, ao amar uns aos outros "(Jo 13:34 s). Eles tinham um só coração e uma só alma (Atos 4:32). Muitos vendiam suas propriedades, e o montante entreguavam aos apóstolos. Socorríam aos pobres (Atos 4, 32-37). A maioria deles viveram um comunismo voluntário, baseado no amor de Cristo aos seus irmãos. No seu estilo de vida estes discípulos de Jesus constituiam realmente uma comunidade de santos. Viviam para a Fé. Aguardam nova vinda do Senhor.
6. Dentro desta vida de amor da primitiva comunidade, precisamente, surgiu a tensão que tanto pesaria sobre as primeiras gerações de cristãos, a pergunta: judeuscristãos ou pagãoscristãos?
Entre os convertidos pela pregação de S. Pedro no Pentecostes se encontravam muitos judeus na diáspora. Estes, quando houve a distribuição dos serviços ou ajudas, se sentiram lesados. A disputa do respectivo, levou à eleição dos sete diáconos (que aqui apareceu pela primeira vez como um novo ministério na Igreja), entre os quais, pelo menos, dois dos mais significantes foram helenistas, homens com uma marcada tendência para a pregação missionária e sem os inconvenientes dos judeus: Estevão e Filipe.
Filipe foi, como sabemos, o que admitiu na Igreja o primeiro pagão (Atos 8:38). Estevão, que possivelmente havia chegado à comunidade, junto com o grupo dos chamados helenístas, proveniente do círculo dos essênios (§ 4:4) e, assim, talvez estava sob a influência espiritual de Qumran, lutaram contra a supervalorização das idéias judias. Com ele entramos plenamente nas fortes tensões que iriam acompanhar a remoção das comunidades cristãs das judaicas. Em Jerusalém, além do templo, havia sinagogas em que se liam as Sagradas Escrituras não em hebraico, mas em grego. Alíouviam a Palavra de Deus, os judeus não palestinos que vinham a Jerusalém. Devido à sua língua, mentalidade e estilo de vida helenista, mantinham algumas tensões com os judeus.
Estas rivalidades tornaram-se ainda mais forte entre os discípulos judeus de Jesus. A disputa em torno Estevão se originou na sinagoga de Alexandria.
Jesus se havia declarado cumpridor do Antigo Testamento, de tal modo que não podia perder sequer um iota da lei. Mas ele ampliou o Reino de Deus a todas as pessoas do Oriente e Ocidente, enquanto que os filhos do reino seriam rejeitados (Mt 8:12). Estas idéias, em completa harmonia com as de S. Paulo, o apóstolo dos gentios, mexem tão fortemente com Estevão que este não tem nenhum olhar vacilante (S. Paulo depois aprenderá a tê-lo): A lei acaba com Jesus e a execução literal das prescrições cerimonias, (Atos 6:14).
Isto fez com que Sto. Estevão atraísse em particular o ódio dos fariseus. No decurso destas disputas caiu vítima da primeira perseguição massiva dos cristãos (Atos 6:8-3:3).
7. Esta perseguição, como se originou, foi dirigida preferencialmente (mas não unicamente) contra os helenistas da comunidade cristã. Causando dor na Igreja, mas obtiveram grandes vantagens: a prova uniu mais estreitamente o jovem rebanho, aumento a sua consciência de ser uma nova unidade diferente do judaísmo. Neles cresceu a crença de que deviam difundir a pregação de Jesus, "não podemos parar de dizer o que temos visto e escutado" (Atos 4:20), declaram S. Pedro e S. João perante o sumo sacerdote. Alguns membros da comunidade ( não os apóstolos) havia deixado Jerusalém, e se dispersaram pela Judéia e Samaria e se converteram como os primeiros batizados no dia de Pentecostes ao retornarem a seus lares, em pregadores da boa notícia fora de Jerusalém: em missionários (Atos 8:1-4).
Assim nasceu uma nova comunidade, na Samaria, em um país não judeu, semi-pagão. Assim o cristianismo começou a superar o Judaísmo. E também com a ocasião durante esta perseguição encontrou o verdadeiro caminho, que o convertería de perseguidor em servidor e guia, o homem que fez pelo cristianismo mais que todos os outros: o fariseu Saulo, com o sobrenome de Paulo (Atos 8:1 -3 e 9: 1e ss).
14 Na Igreja sempre existiu horas determinadas para a oração (Atos 3:1); os fiéis de Damasco seguiam também esta norma (Atos 9:1-8)
§ 8. O Cristianismo entre os Pagãos.
I. S. PAULO.
1. S. Paulo foi o homem cujo trabalho foi quebrar esta oposição, cuja vida toda foi uma luta para libertar o cristianismo do peso da lei judaica e ganhar todos os homens para Cristo. Era de sangue judeu, e foi ele quem exatamente tirou o cristianismo de solo judaico, cuja estritez ameaçava a afogá-lo, levou-o para ao cenário histórico universal da cultura greco-romana e do Império Romano e o estabeleceu no vasto solo do mundo. A enorme evolução da situação do cristianismo desde a morte de Jesus até o ano 67 (ano do martírio de S. Paulo) é essencialmente obra sua, um trabalho gigantesco de todos os pontos de vista, especialmente se tivermos em conta que tinha de ser feito e protegido por um corpo doente e contra um exército de falsos irmãos, que por todas as partes iam dificultando seu trabalho.
2. S. Paulo nasceu na cidade grega de Tarso na Cilícia, na Ásia Menor, de pais judeus, e que detinham o direito da cidadania romana. Sob a direcção do fariseu Gamaliel foi formado como um escriba fariseu, que ardia em zelo pela lei de seus pais. Seu sustento o (o que, evidentemente, por ser um apóstolo, sentia orgulhoso) ele ganhava (como tecelão) com o trabalho de suas mãos, como todos os membros das irmandades fariseias. No caminho para Damasco a graça de Deus chamou-o de perseguidor da Igreja, a servo particular de Jesus Cristo, o Kyrios, o Senhor (Atos 9, LSS). Uma estadia de três anos na Arábia e em Damasco o capacitou interiormente para sua nova vocação de Apóstolo dos gentios. Embora ele pregou o evangelho revelado por Jesus (Gl 1:12), nos três anos de sua conversão foi a Jerusalém para ver Pedro, onde, após uma estadia de quatorze dias, teve ocasião de conhecer também Santo Iakovos (Iago) O "irmão" do Senhor (Gl 1:18 s). Quatorze anos depois retornou a Jerusalém para comparar com o seu evangelho com os dos apóstolos, e alí S. João, S. Pedro e Sto. Iakovos teriam ratificado o compromisso da missão aos gentios (Gl 2:1-9)..
3. Paulo era, portanto, judeu, romanos e (também) grego (helenista). Desta forma (embora em graus variáveis) era representante nato, pelo nascimento, educação e estilo de vida das três principais culturas nas quais o cristianismo teve que enfrentar na Antiguidade.
E, portanto, foi capaz de trazer o cristianismo à vitória em todas as frentes, ou, pelo menos, preparar, o trabalho que seria decisivo para toda a história da Igreja.
a) S. Paulo era um doutor da lei. Tinha aprendido os métodos da teologia judaico-farisaica. Assim, foi capaz de ser o primeiro teólogo cristão, e acima de tudo, estabelecer as bases de toda a teologia cristã. Isso é extremamente importante. Reflecte-se em muitos momentos da história eclesiástica. E o mesmo devemos dizer das tensões que precisamente os ensinamentos de Paulo e formulações têm provocado ao longo dos séculos no ensinamento da teologia cristã.
Em sua casa paterna, além do hebraico e aramaico, S. Paulo também aprendeu o grego ; em sua cidade natal também se familiarizou com cultura grega e de algum modo conhecia a filosofia estóica (tardia) no momento. Assim chegou a converter-se, através do seu discurso no areópago (Atos 17:22), em precursor e modelo dos homens que logo tinham que anunciar o cristianismo aos representantes da cultura helênica com os meios próprias desta (os apologetas do Século II, § 14). Apesar de tudo isto, S. Paulo nunca caiu em segundo plano a pregação de Jesus Cristo, o Kyrios, da cruz, da sua loucura e da justificação só pela Fé, tal pregação foi sempre o centro imutável da sua doutrina.
Paulo era um cidadão romano. Tinha conciencia das vantagens que deu a ele a cidadania romana. Aproveitou-a apelando para o imperador (Atos 25:11), mas também reconhecia expressamente o direito do Estado, como o de qualquer autoridade (Rm 13:1).
b) Devemos tomá-lo, em um sentido literal, quando Paulo diz que tudo foi feito para todos ganhar tudo, gentio para os gentios, grego para os gregos, judeu para os judeus, o apóstolo dos povos (cf. 1 Cor 9:20 ss). S. Paulo era um homem "católico" (isto é, do ponto de sua universalidade). A lei fundamental do cristianismo, ser servo (a base do mandamento o amor ", onde aí se cumpre toda a Lei" [Rm 13:8-10]. Seja feita a Tua vontade! [Mt 6:10]), aí alcança-se a sua plena forma. Sua claríssima consciência de si mesmo não é mais que a consciência da missão confiada por Deus, que tem de servir desinteressadamente, e da força que Deus lhe deu, com a qual você tem que trabalhar. "Ai de mim se eu não pregar o evangelho!" (1 Coríntios 9:16). É por isso nele encorajava ao mesmo tempo uma grande humildade que fez a consciência de sua própria fraqueza, e uma confiança sem limites na graça que teria que mostrar força na fraqueza (2 Coríntios 12:10): "Todas as coisas contribuem para o bem daqueles que amam a Deus "(Rm 8:28). Desde antes de sua conversão, foi a consciência de sua profunda culpa, que ele confessa com impressionante arrependimento (1 Coríntios 15:9).
4. Temos quatorze cartas de S. Paulo. (A crítica textual, no entanto, não reconhece o texto da carta para os hebreus). Elas são a mais antiga literatura cristã. Colocam algumas dificuldades, como já vimos na segunda carta de S. Pedro (3:15 s), mas também uma inesgotável plenitude dos excelsos pensamentos. Fortemente reflectem o temperamento ardente do Apóstolo dos gentios e seu impressionante, quase titânico esforço para conhecer os inefáveis mistério de Deus. Neles incentivado uma indomável fé no irresistível poder da verdade da revelação cristã. Esta verdade anuncia S. Paulo, aproveitando a inesgotável riqueza de suas revelações com formulações vivas, sempre novas, em que obviamente preocupa menos a exacta terminologia ou sentido literal que é a força e a plenitude de vida com Jesus Cristo: o conceito de plenitude (πληρωμα) é central na pregação de S. Paulo. Todo esse grande número de expressões que falam de "riqueza" da "edificação" do "conhecimento profundo", do "crescimento no amor" e de "alcançar as indescritíveis riquezas de Deus" serve para S. Paulo ilustrar a dita plenitude de uma forma igualmente variada e inesgotável.
As cartas de S. Paulo são dirigidas em sua maior parte às comunidades que ele mesmo havia fundado, e também, como para os romanos, aqueles cuja fé era alegre notícia, e àqueles que ardiam no desejo de conhecer e evangelizar pessoalmente. Essas cartas sempre foram lidas nas celebrações litúrgicas e eram trocadas entre as comunidades.
São Paulo fez três grandes viagens missionárias. Embora ele sabia que ele tinha sido enviado especial aos gentios (Rm 11:13, Gal 2:9), ele e seus companheiros, por exemplo, S. Barnabé, sempre se dirigiam primeiro para a sinagoga. S. Paulo, após a sua primeira viagem de missão (durante a qual, em Pafos Chipre, converteu um alto funcionário, o governador Sergio Paulo) deslocou-se então depois a Jerusalém, (por volta do ano 50) tomou parte no Concílio Apostólico (Atos 15 :6-29). A segunda viagem missionária o levou de volta à Europa. A sua estadia em Atenas e Corinto reforçou o seu contacto com o helenismo.
Ameaçado de morte várias vezes pelos judeus de Jerusalém (como foi no início da sua missão em Damasco e em Jerusalém, Atos 9:23 e seguintes) e acusado por eles, foi levado para Cesaréia pelas forças romanas de ocupação, denunciado alí pelos judeus ao governador Félix como o líder dos nazarenos, preso por mais de dois anos e novamente acusado diante do governador Festo apelou para César em Roma (Atos 25:1 l). Foi levado para lá e alí viveu, guardado por apenas um soldado na prisão atenuada. Depois foi a às Espanhas (cf. Rm 15:24.28).
S. Paulo foi decapitado no ano 67, em Roma, provavelmente na Via Ostiense.
5. Para S. Paulo, o principal objeto da Fé é a pregação do Cristo crucificado e ressuscitado, o Senhor exaltado, o Kyrios. Por meio do Senhor, nós, que experimentamos em nossos membros a poderosa lei do pecado (Rom. 7), somos justificados pela Fé (Rm 5:1). Paulo foi o primeiramente e acima de tudo o pregador da graça, a graça de redenção auferida pela morte de Jesus na cruz, que está em conformidade com a lei.
S. Paulo, no entanto, conhecia muito bem a necessidade que o homem tem para colaborar com a graça imerecida, gratis data. Sua luta incansável para mergulhar no mais fundo dos mistérios de Deus e da graça redentora que neles livremente se dá, se integra na luta pelo prémio da vitória (1 Coríntios 9:24). S. Paulo se castigou a si mesmo para não ser rejeitado (1 Coríntios 9:27). procurou completar (Col 1:24) o que ainda faltava à paixão de Cristo. Ele esperava para si a recompensa do céu (2Tim 4:8), como o próprio Jesus, da mesma forma que na sua resposta à pergunta de S. Pedro (Mt. 19:27), ele o tinha prometido. S. Paulo, que tanto sabia da lei do pecado no corpo do homens, confessa ao mesmo tempo que ele já não vive, mas Cristo que vive nele (Gl 2:20). Apesar de seu enorme grito: "Quem irá libertar-me deste corpo de morte!" (Rm 7:24), não vive em absoluto com a consciência desesperada, mas confessa de si memo com surpreendente naturalidade: "Sempre tenho me conduzido diante de Deus com toda retidão de consciência" (Atos 23:1).
No decurso da historia, a doutrina de S. Paulo tem sido muitas vezes ponto de partida de heresias. A causa tem sido sempre o mesmo equívoco: que não se tem tido em conta todas suas formulações, tão extremadas às veces, senão que algumas delas tem sido, unilateralmente, absolutizadas.
1. A primeira fase visível do Cristianismo em sua saída do judaísmo, ou melhor, de Jerusalém foi o grande mundo de Antioquia. Ali se formou uma nova comunidade cristã. Seus membros, em sua maioria não eram judeus, tanto que, mesmo em sua aparência externa era bastante distinta do judaísmo. Eles reconheceram que dependiam da pessoa, da vida e da doutrina de Cristo e, portanto, foi dado o primeiro nome de cristãos.
a) Os chefes da comunidade de Antioquia foram S. Barnabé e S. Paulo. S. Barnabé foi enviado ali pela comunidade de Jerusalém e trouxe Saulo de Tarso (Atos 11:22-25). Nesta terra, mais pagão-cristã, iniciou o trabalho missionário do Apóstolo dos gentios. Então foi colocado em primeiro plano a discussão sobre a liberdade dos filhos de Deus diante da "lei" judaica. Aqueles nascidos judeus alegaram que a exigência da lei devia continuar a ser obrigatório para todos os cristãos. Mas S. Paulo pregou: se somos justificados pela lei, Cristo morreu em vão. Desde Abraão toda justificação vem da Fé. S. Paulo expulsou muitas vezes estes pensamentos, sua mais forte afirmação foi feita na sua carta aos Romanos, em que ele, um judeu, dá uma terrível negação da lei judaica: acaso não foi a lei (que certamente não deve ser desprezada! [Rom 3:31], mas que no passado foi criada exclusivamente para fazer os homens pecadores, quanto vigor, não haverá mais hoje, quando so a vida em Cristo pela fé pode superar o pecado que aparece em nossos membros contra a nossa vontade?
Primeiro, houve uma violenta luta na mesma comunidade de Antioquia (Atos 15:2). S. Paulo e S. Barnabé foram enviados a Jerusalém à frente de uma delegação. O "Concílio Apostólico" se ocupou deste assunto. Alí estava presente, entre outros, Santo Iago (Iakovos), o irmão do Senhor ", ainda entre os judeus cristãos um dos mais rigorosos desfrutava de grande consideração. Foi decidido por unanimidade, mediante uma carta, que os cristãos gentis deviam serem isentos da lei. A decisão foi tomada pelos "apóstolos, anciãos e pela comunidade" (Atos 15:26), o que também fez constar na carta (v. 23). O importante texto diz: “O tem parecido bem ao Espírito Santo e a nós ..." (v. 28). Por decisão doutrinal o Concílio se remete à assistência do Espírito Santo!
b) Com isto a controvérsia foi resolvida, mas não acabou a discussão. Ainda não tinha se falado da práxis correta ou ainda não se havia imposto. Os judeus cristãos ainda não participavam no banquete com os pagãos-cristãos. Mesmo S. Pedro dixou-se intimidar e em Antioquia se afastou deles. Neste momento crítico foi S. Paulo, que se mostrou como um paladino da liberdade do Evangelho contra a estreiteza da lei. Reprovou S. Pedro e criticou sua débil posição e o disse para não valorar demais condescendendo em demasia com os irmãos judeus cristãos (Gl 2:11 ss).
2. Mas o perigo não estava eliminado. Na grande obra da evangelização dos pagãos, a conquista do mundo "para o cristianismo, sempre foram os " falsos irmãos " na Palestina que criaram ao Apóstolo dos gentios as maiores dificuldades na sua tarefa. Diante deles esteve ele continuamente a defender, às vezes com palavras duras, o direito da sua missão e tarefa e, ao mesmo tempo, anunciar a liberdade dos filhos de Deus que foram chamados ao espírito de filiação e maioria de idade, não a escravidão (Rm 8:16 ss, Gl 5:13).
S. Paulo, com a ajuda da graça, finalmente conseguiu derrotar os judeus na amplitude do seu conceito de cristianismo. Mas as velhas tradições seculares têm uma força insuspeita. A tenacidade das alegações dos judeus não cairam feridas de morte até o momento que foi dizimado o solo natural dessas tradições: a destruição de Jerusalém por Tito, filho do Imperador Vespasiano (70 d. C). Este evento marcou a dissolução da unidade nacional do judaísmo. Foi também o fim do templo, como sua liturgia sacrifícal foi o centro da vida do povo judeu. O desaparecimento de Jerusalém e do templo tido como indestrutível, assim foi dado um golpe mortal para a consciência dos judeus, enquanto que a dispersão se fez impossível o crescimento unitário da religião judaica no exterior e colocando termo a todo efeito unitário.
No segundo século desapareceu quase totalmente o judaismo cristão. A principal causa foi a penetração do evangelho no mundo gentil. Para isto é adicionado uma nova catástrofe aos judeus sob Adriano, na guerra de Bar-Kochba (em 135), Jerusalém tornou-se uma cidade pagã, Aelia Capitolina, com templos pagãos nos lugares santificados pelo Senhor, e nela não podia residir nenhum judeu. A comunidade cristã recebeu um bispo pagão cristão, a situação mudou tanto que, para um judeu tudo isso foi aparentemente incompreensível, e também antidivino 15. Além disso, no primeiro século, ainda no tempo da vida de S. Paulo, tinha começado uma dissolução interna do judaísmo pela infiltração das ideologias "gnósticas".
3. Fieis à palavra do Senhor (Mt 24:15), os cristãos, quando se aproximou a grande tormenta no ano 68, tiveram a Perea e a Pella, do outro lado da Jordânia. Para eles, como para todos os cristãos, a destruição de Jerusalém e à subsequente dispersão da Igreja Cristã, ali existente guardava um significado fundamental: a terra onde nasceu o cristianismo já não seria sua pátria. A destruição do templo, profetizado por Jesus, já era um fato. É verdade que aqueles que fugiram para Pella continuaram sendo judeus-cristãos e um sentido rigoroso e exclusivo, que logo como foi dito, seria reduzida ao puramente judaico 16, mas o cristianismo já caminhava vigorosamente em direção a sua nova pátria e seu novo centro: o paganismo, Europa, Roma.
15. Na época dos imperadores convertidos ao cristianismo, a Igreja de Jerusalém, e seu bispo votaram a ter maior importância. No entanto, a tendência ascendente, que foi a abertura (325: Prioridade de honra; 381: Jerusalém mãe de todas as Igrejas), não atingiu o seu ponto culminante, porque, entretanto, por motivos políticos, foi eleita a sede de Constantinopla (cf. § 27).
16. O restante da comunidade primitiva de Jerusalém fugiu para Pella (chamados ebionitas, ou seja "os pobres"), que cada vez foram tornando mais e mais em um movimento herético se conservaram durante vários séculos no Oriente. Desta forma, encontrou-se, por exemplo, Mohammad (Maomé) o cristianismo. É, portanto, dele que Mohammad recebeu uma imagem turva e herética.§ 9. Começo da Comunidade de Roma.
1. Cristianismo foi pregada pelos apóstolos e evangelistas de mandato itinerante. Mas todo cristão convertido também foi um missionário. Na alegre convicção de ter encontrado a salvação em Cristo, e apoiando activamente a petição "venha a nós o Teu reino," todos, agradecidos, levavam a revelação cristã aos ainda não convertidos.
a) Não se sabe quando chegou em Roma a primeira notícia do evangelho. É verdade que, sob o imperador Cláudio (41-54) houve alí judeus-cristãos, que por mandato imperial tiveram que deixar a cidade imperial no ano 43 com os judeus, dos quais ainda não se diferenciavam.
Esta medida não pode impedir o crescimento da comunidade. Prova disto é a carta de S. Paulo carta aos romanos (cerca do ano 57). Para nós sabemos que a Igreja romana já gozava de prestígio incomum na cristandade.
b) Para o renome da Igreja romana foi de grande importancia seu local de acção, a Roma "eterna". Mas a autoridade suprema não ocorreu, somente mais tarde, pelo fato de que Pedro e Paulo trabalharam nela, a governaram, promovendo a consagração com seu martírio e seus restos mortais, que foram enterrados em Roma.
Sabemos nos Atos dos Apóstolos, e isto nunca foi duvidado, e que S. Paulo esteve e trabalhou em Roma. Hoje em dia, os ataques da “ciência” à presença e o martírio de S. Pedro em Roma, tem sido diminuído drasticamente 18. Em qualquer caso, os cientistas não podem argumentar contra qualquer crítica a tradição, que tem sido sempre viva na Igreja. Pelo contrário, as antigas noticias 19 foram recentemente confirmadas pelas escavações sob a igreja de São Sebastião na Via Apia e, mais recentemente, pelas realizadas sob o altar da confissão da Basílica de São Pedro, em Roma.
2. O direito a esta reivindicação é apoiada também por outras considerações.
Dentro da estrutura hierárquica da Igreja primitiva S. Pedro é um senhor entre os senhores (1PE 5), o "primeiro homem" da comunidade. Claramente preferido pelo Senhor (Mt 16:18 e de acordo com Jo 21:15 ss), desempenha um papel decisivo no Consílio dos apóstolos (Atos 15:7) S. Paulo, que também tinha recebido o seu evangelho por revelação do Senhor "foi a Jerusalém para ver Pedro, "este tempo, não vendo qualquer outro apóstolo excepto Santo Iago (Iakovos) (Gl 1:18, cf. 2:8).
Assim como o ministério apostólico, como tal, a saber, é a dignidade dos eleitos e enviados diretamente pelo Senhor, e o papel da testemunha ocular de sua vida, paixão, morte e ressurreição não era transferíveis, nem era o ministério apostólico de São Pedro. Mas dentro do ministério apostólico há um ministério cuja transmissão e preservação na Igreja não só continuava a linha da constituição comunitária judaica, mas também teve por base o mandato missionário do Senhor, é, portanto, legitimamente transmitido e conservado na Igreja.
Desde o início dos tempos, a autoridade recebida de Jesus foi transmitida aos outros. O ministério vivo foi desde o início, um elemento-chave para a Igreja de Deus.
Também S. Paulo e S. Barnabé foram investidos com o eclesiástico ministério (Atos 13:1-3). Ambos, após a oração e o jejum, fizeram sacerdotes das comunidades através da imposição das mãos (Atos 14:23). S. Timoteos recebeu também o ministério eclesiástico (1Tim 4:14). Portanto, não se compreende precisamente que o ministério petrino, encomendado pelo Senhor a S. Pedro (Mt 16:18) como fundamental para a Igreja, tinha que ser limitada ao tempo da vida de S. Pedro. É verdade que, apesar da sua posição privilegiada, como já salientado, foi um apóstolo entre os apóstolos, mas também os outros apóstolos tinham recebido do Senhor o poder para ligar e desligar (Mt. 18:18), esta declaração está conforme a concepção Ortodoxa a respeito do primado de São Pedro, "a primazia entre os iguais", que é muito diferente das aspirações dos papas posteriores sobre os outros apóstolos e seus sucessores representados pelos Patriarcas, Metropolitas e outros bispos, como se fosse uma monarquia absolutista, esta interpretação incorrecta do primado atinge a sua expressão final na doutrina da "Infalibilidade Papal".
Devido à existência da primazia e colegialidade, desde o início se deram tensões espinhosas, mas não menos bem sucedidos na direção à par monarquical e colegial Igreja.
Assim, o texto da promessa (S. Mat. 16:18) não faz mais que cobrar maior importância. Sua força reside no fato de que as palavras não poderiam, nem no momento em que Jesus as pronunciou nem no momento em que S. Mateus as escreveu, ser entendidas de forma natural e integral (como derivadas da organização das comunidades e da conduta dos apóstolos entre si). Foi uma palavra profética, que criou uma realidade, mas cujo conteúdo não foi esclarecido senão progressivamente no decurso da história da Igreja. Como tal, participa do caráter misterioso de toda a profecia, que contém muito mais do que compreende seus imediatos receptores. Para a correta interpretação de toda a Sagrada Escritura é de primordial importância ter em conta esta característica.
Também o primado cai dentro do vaticínio da compreensão progressiva que o Senhor havia faladopara toda revelação em geral: "O espírito da verdade irá orientá-los para toda a verdade" (Jo 16:13). Tudo isto significa, em suma, que o anúncio profético-religioso conteúdo nem sempre estabelece seu conteúdo de modo explícito e inequívoco em todos os seus pormenores (Poschmann). Mas também temos de assumir que a Sagrada Escritura é a mais excelente determinação da transmissão da Fé viva (Tradição) da Igreja, e que esta tradição, naturalmente, existia antes da Escritura, isto é, esta é apenas fixação daquela .
I. Realizados em plenitude cristã, não houve mais de processos que os resultantes da implantação do fundamento vivo de toda a Igreja, o firme fundamento da verdade (1Tim 3:15), em estreita ligação com a palavra do Senhor nas Escrituras e sob a direcção do Senhor da história. Quando a Igreja entrou em novos ambientes culturais e teve de se expressar e ter sua pregação vestida com uma nova línguagem, sempre teve a possibilidade e o perigo dos conteúdos não cristãos bloqueados nos novos conceitos caírem aderidos em sua autentica essência, baseados na revelação. Já se acusa uma mudança importante, por exemplo, na posterior tradução da palavra grega Diakonia (= serviço), inicialmente traduzida por ministerium, mais tarde pela palavra latina Officium (= oficio, cargo). Um denso fluxo do pensamento de gestão romana infiltrou através disto: o fim do oficio ou do cargo continuou a ser o serviço, sim, mas o conceito Romano de officium teve também de absorver, em muitos aspectos, os efeitos da Diakonia cristã.
Algo semelhante havia acontecido com o papado: o primado de Pedro é claramente baseado na Escritura, mas depois que os conceitos posteriores de "vicariato" e "principado”, conceitos originalmente romano, foram suficientes para interpretar fielmente o ministério de S. Pedro fundado pelo Senhor ou apenas para ter uma influência favorável em sua evolução, que isso já é outro problema.
Em tudo isto não deve ser perdido de vista o texto de S. Mateus 16:18: "Sobre esta pedra eu edificarei a minha Igreja". A pedra não é a Igreja, a pedra é considerada a base estática de um evento totalmente dinâmico, que se prevê no futuro. A história da Igreja de Cristo em ação férteis do sexo masculino, que salva. Sem desfazer a fundação já estabelecida, continuará no futuro, a edificar sua Igreja: sobre a rocha fundamental dos apóstolos e através da palavra dos profetas. Algo semelhante é a dizer muitas parábolas do Senhor, que para o reino de Deus, profetizam um crescimento orgânico e dinâmico (Mt 13ss). A Igreja é o reino de Deus Igreja emergente, o crescimento endereçado ao reino definitivo que não tem aparecido ainda.
No processo de estruturação do papado ao longo dos séculos, encontraremos, efetivamente, muitas coisas condicionadas pelo momento histórico que poderá novamente desaparecer. Como para todos os dons de Deus, também do primado pode ser abusado, mas ele próprio, amparado como está por uma promessa, não seria afectado na sua essência. O abuso do poder espiritual para o domínio e prazer podemos ver na história, e com muitas variantes. Trata-se de uma pesada cruz para a Igreja e uma severa advertência para o Católico em particular ( "Temos este tesouro em vasos barro," 2 Coríntios 4:7), mas não constitui uma objeção legítima contra a mesma instituição.
Só uma interpretação escatológica da mensagem de Jesus em seu sentido mais estrito iria desqualificar como ilegítima a continuidade do ministério de S. Pedro na Igreja. Mas tal interpretação levaria forçosamente a violar as palavras da Escritura: teria que negar a divindade de Cristo, e não poderia justificar, em concreto, nem a pregação do emergente reino de Deus, nem as palavras da missão (até aos confins da terra S. Mt 28:19), nem a promessa do Senhor, que estará com os seus até o fim do mundo.
17 Já Marsilio de Pádua (§ 65) afirmou que não se podia revelar a presença de S. Pedro em Roma.
18 Ainda se mostram contrários, acima de tudo, Karl Heussi (= 1961) e seus discípulos.
19 1 S. Pe 5:13 (A Igreja da Babilônia = Igreja de Roma. Esta comparação Roma-Babilônia estão também em outros lugares, não só na literatura judaica [Apocalipse de Baruc e Esdras, ambos apócrifos do final do século I] também várias vezes no Apocalipse de São João) Carta aos Romanos de Santo Inácio ( "não como Pedro e Paulo me mandaram"), o sacerdote romano Gaius no ano 200, Santo Irineu, que nos diz que S. Marcos esteve em Roma com S. Pedro e escreveu sua pregação, enquanto Dionísio de Corintos (os dois últimos de acordo com as suas próprias declarações, conservadas por S. Eusebio em sua História da Igreja). Tertuliano escreve que S. Pedro morreu em Roma. A partir do quarto século, esta tradição é geral, a construção da Igreja de São Pedro em Roma, das mãos de S. Constantino não seria compreensível sem ser claramente convencido deste facto.
20 Para a evolução posterior do primado romano, cf. §§ 18 e 24.
§ 10. Propagação da Igreja.
1. Sobre as diferentes fases da propagação do cristianismo no Império Romano, temos muito pouca informação e, por vezes, não sabemos, contudo sabemos, e dentro das reservas que logo indicaremos que se espalhou com incrível rapidez. Como causa primária, evidentemente o serviço da Graça de Deus, devemos mencionar tembém, sobretudo os numerosos fatores favoráveis dentro do ambiente judeu, grego e romano, a íntima e misteriosa força de atracção da Verdade e do bem, especialmente naquela peculiar forma da religião revelada e redentora que apresentava e transmitia a pessoa, a vida e a mensagem de Jesus, o Senhor. Em todo este processo de fertilização, o tempo que mais conhecemos é o dos primeiros tempos, e ele graças aos Atos dos Apóstolos.
Especialmente intensa foi a força de atração do heróico martírio. Tertuliano caracterizou magistralmente a força misteriosa que foi terminada com a frase "o sangue dos cristãos é uma semente." Também muitas vezes referiu-se à única e profunda impressão causada pela simplicidade das Escrituras. Tertuliano dá outra fórmula ainda mais ampla: "quando a verdade veio ao mundo, atraiu o ódio com a sua simples presença", mas "a Verdade lutou por si mesma."
Já fizemos menção de uma consciência de si mesma e da consciência de missão, que, como em todas as grandes obras, foi também fundamental para o crescimento da nova comunidade, que é, portanto, incluídas integramente em análises.
Acima de tudo, é discutível se a "causa" de sua difusão, temos de ter em conta a natureza misteriosa do crescimento do cristianismo primitivo. A questão não é resolvida com a contagem de certos slogans. É possível mostrarmos certos momentos, mas todo o processo é extremamente complexo, é fundamental um processo no qual colaboraram, interligadas muitas séries de causas. É inegável que este processo foi desenvolvido em grande parte, ao contrário da fraqueza moral dos homens. Também neste crescimento, por outro lado, deve ser considerado a extensão e importância do princípio teológico fundamental: Gratia praesupponit naturam, ou seja, o factor decisivo é a graça de Deus, mas ela não funciona por magia, mas no fim criado por Deus, e em conformidade com os dados da natureza.
2. A difusão do cristianismo em geral se inicia de um claro movimento do leste a oeste. Esta foi natural: a expansão ocorreu dentro do Império Romano. Da Palestina, a Boa Nova foi trazida para a Ásia Menor, que se tornou o primeiro país cristão. Os principais centros e locais da vida cristã foram, então, nos primeiros séculos, a África do Norte e Roma. Santo Irineu (em 202) indica que já no final do segundo século havia comunidades cristãs na margem esquerda do Reno. Apartir do florescimento do cristianismo no sul da Gália, em meados do século II, dá-nos a notícia na carta que os cristãos de Lyon e de Viena enviaram às comunidades da Ásia Menor sobre os mártires de Lyon. Por volta do ano 200, o cristianismo estava em todas as partes do império. Os maiores adeptos estavam no Oriente. Não podemos mencionar os números. No que diz respeito ao período anterior, no entanto, as cartas de S. Paulo citam um crescimento relativamente elevado. Dados de Tácito (cerca de 55-115 dC) e o relatório de Plínio, o Jovem (61-114 dC), a Trajano na Bitinia e Pontios testemunham a existência de, pelo menos, uma considerável minoria em certas regiões do império. O diferencial, no entanto, foi muito irregular. Até Constantino (§ 21), os cristãos não deixaram de formar uma minoria (não muito forte) do total da população do império.
A Boa Nova se extendeu com os soldados, os comerciantes e os pregadores ao longo das linhas de comunicação. Por isso, foi estabelecido pela primeira vez nas estações destes caminhos, nomeadamente nas cidades, enquanto aqueles que viviam nas zonas rurais (= pagani ) continuaram sendo durante muito tempo quase todos pagãos.
3. O evangelho é uma mensagem de consolo e misericordia. "Vinde a mim, os oprimidos", disse Jesus. De acordo com S. Paulo, em suas comunidades tinha poucos membros, que eram de cargos importante no mundo (1 Coríntios 1:26). O despreso aos pagãos feito pelos cristãos e as notícias positivas a este respeito dos primeiros tempos ele nos confirma. S. Paulo, no entanto, muitas vezes encontrou ocasião para repreender os que o faziam em suas comunidades, porque não viviam de acordo com o evangelho.
Cristianismo também, muito cedo, passou a ter indivíduos de elevado status social: eles pertenciam ao primeiro batizado não-judeu, os ajudantes da corte da rainha da Etiópia (Atos 8:27 e seguintes) e, outros, o governador Sergio, conquistado por S. Paulo, e os membros da corte imperial, que geralmente se refere em (Fil 4:22). No ano 95 se faz cristão o consul Titus Flavius Clemente o cônsul, primo do imperador (!).
Deste modo, um cristão chegou a presidir as reuniões do Senado pagão: não foi, contudo, mais do que um curto intermédio. Logo encontramos, sim, um certo número de nobres mulheres que aderiram ao cristianismo e zelosamente o promovem.
Os últimos a se converterem em um número considerável foram os cultos, os filósofos. Com ceticismo radical, com um tipo de vida hostil ao sacrifício, com um bruto ou refinado materialismo, imoralidade, sempre foram, como em nossos dias, o mais obstinados adversários da obrigatoriedade da verdade religiosa, da fé e da religião da cruz .
A nova religião pregava um do Pai do céu, cujos filhos amados são homens os redimidos por Cristo (ao aderirem a este e sua Divina Instituição+) . A força da fé e do amor que emana de lá, e é um tanto atraente e vinculativa a sua autoridade com doutrinas e preceitos que foram reveladas como bom e verdadeiro ao homem em um muito mais elevado grau do que o atingido em geral pelos pagãos, embora não faltava em pontos morais, como os repreendiam, por exemplo, São Paulo e Santo Inácio de Antioquia. Acima de tudo: a mensagem cristã para o homem ficou com as suas fraquezas e os seus poderes, com a sua inteligência e seu amor em uma relação totalmente nova: o Deus redentor estava atuando neles.
O alto nível religioso moral daqueles primeiros tempos é uma forte exprobação contra muitas manifestações posteriores e atuais do cristianismo. Com toda razão o zelo reformista de muitos séculos recorreu uma outra vez àquela Igreja originaria, primitiva, apostólica.
+ Coloquei esta nota para somente explicar que so aderimos a Deus como Filhos adotivos, por meio do batismo feito pela Igreja e pelos outros Santos Misterios, ver os texto neste blog "Cristianismo ou Igreja"
11. As Causas do Conflito com o Estado.
1. Jesus havia predito que seus discípulos seriam perseguidos pelos judeus e pelos pagãos (Mt 10:17ss). Mas o paganismo romano era tolerante no principio. Desejava inclusive a paz ao monoteísmo judeu, que rechaçava todo culto idolátrico, assim como a veneração dos deuses nacionais romanos. À sombra deste monoteísmo, e considerado como uma seita do judaísmo, cresceu o cristianismo 21. Como foi que o Estado passou da tolerância à perseguição dos cristãos?
2. Difícil é descrever exatamente no só o desenvolver das perseguições dos cristãos, se não também sua problemática interna. Primeiro, porque possuímos muito poucas declarações autênticas das autoridades estatais a este respeito. Nos faltam quase em sua totalidade os textos literais dos editos imperiais contra os cristãos 22; o rescrito do imperador Adriano, de que logo falaremos, é uma rara exceção.
Segundo, porque a maior parte do que poderia orientar-nos sobre o problema são manifestações cristãs de autodefesa e de acusação contra o Estado, isto é, manifestações de uma só parte em seu próprio favor.
Consequentemente não podemos establecer com absoluta certeza os motivos legais do Estado romano para perseguir aos cristãos: Foi uma lei de exceção ditada ex profeso contra os cristãos? Ou foi a aplicação de distintas leis, que protegiam o culto pagão dos deuses nacionais? Ou foi somente o sumo direito de vigilância da polícia estatal (dereito de coerção)? Hoje se tem em geral a não admitir uma lei extraordinária. Como única documentação legal temos em primeiro lugar o institutum neronianum que menciona Tertuliano, ou seja, uma consideração jurídica que havia resultado da práxis judicial dos processos neronianos e chegado a impor-se, e em segundo lugar o rescrito de imperador Trajano a Plinio o Jovem 23 (cf. § 12).
De fato, o desenrolar das perseguições se corresponde com bastante exatidão ao fundamento jurídico, de por sí inconsequente, establecido por Trajano 24. Pois ainda que os cristãos a partir do rescrito de Trajano estavam indubitavelmente na ilegalidade, as perseguições dos cristãos, pelo menos até Decio (inclusive até mais tarde, durante a perseguição de Diocleciano), se caracterizou por una surpreendente desigualdade de procedimento e por una incoerência total entre os motivos abduzidos.
Por conseguinte, no contexto geral da antiga Roma as perseguições dos cristãos constituem uma exceção. Não perturbam em absoluto a conciencia dos contemporáneos nem ainda a dos cristãos, exceção feita das comunidades e círculos imediatamente próximos ao lugar da repreensão e durante o tempo correspondente. Provas: escritores cristãos como Tertuliano fazem especial referencia ao fato de que os cristãos em todas partes colaboram nas tarefas da vida cotidiana, sempre que o podem fazer sem idolatria nem imoralidade (cf. § 12); a imagem que apresenta a vida no Estado romano, uma vez terminado o conflito, é, segundo mostram os escritos, por exemplo, de Ambrosio e de Jerônimo, completamente a de um sistema de ordem e direito essencialmente tranquilo 25.
O caráter esporádico das perseguições —e consequentemente a tão ampla como efetiva liberdade dos cristãos durante os primeiros séculos— explica también feitos como os que seguem: a partir do século II, as comunidades cristãs puderam comprar terras y erigir templos, e ate promover (e ganhar) um processo a respeito (a comunidade de Roma em 230 contra os posseiros romanos); a meados do século II, Justino dirigia em Roma sua própria escola pública; pode surgir, em fim, una vasta literatura cristã. O chamado período das catacumbas foi uma exceção.
3. Como a causa geral mais importante das perseguições dos cristãos temos que mencionar a radical oposição interna entre a "extranha e nova religião" (como se lê na carta das Igrejas de Viena e de Lion), isto é, a "liga de Cristo," e o paganismo encarnado no Estado romano; pese a essa múltipla predisposição espiritual que facilitou a difusão do cristianismo entre os pagãos, esta oposição não deixou de existir. Com toda probabilidade tinha que apresentarse o choque. E quando se apresentou, dado que o Estado romano possuia a força, o choque se tornou um intento de reprimir violentamente ao cristianismo: a perseguição dos cristãos.
Por ser o Imperio romano eminentemente um Estado de direito, não é lícito imputar fácilmente ilegalidades e muito menos crueldades ilegais. Já nos prevem dele a circunstância de que as piores perseguições não foram promovidas por monstros como Nero, sim por nobres imperadores do século II e por notáveis soberanos do século III 26. O Estado tinha motivos que eram, desde seu ponto de vista, válidos.
4. Com esta reabilitação parcial dos órgãos do paganismo não diminui a gloria dos mártires, senão que se acrecenta: sua causa saiu triunfante não só ante homens vulgares, que não gozavam das simpatías de nada, senão também ante eminentes figuras dos séculos II e III; alcançarão a vitoria não só sobre fábulas inconsistentes, senão sobre os conceitos fundamentais que haviam criado e sustentavam o poderoso Imperio romano; converteram ao cristianismo um mundo que não estava murcho, senão que ainda possuía energias próprias.
a) Por outra parte, pelas actas dos mártires e os escritos cristãos dos apologetas (§ 14) sabemos que também a plebe tomou algumas vezes parte ativa nas perseguições. O motor principal não foi outro que o ódio suscitado pelas calunias que circulavam. Mas este ódio também se deve em parte a determinados imperadores e governadores (especialmente em quanto que não se opuseram com suficiente energia às difamações e às acusações tumultuarias) 27.
Esta limitação, na praxis, das garantias jurídicas básicas não deve ser tomada às pressas. Até nós tem chegado informes diretos de acusações anônimas e pressões multitudinárias no desenvolver dos processos, assim como da colaboração das massas na execução capital. Agitações como a de Lion no ano 177 são expressões da forte e realíssima oposição ao novo que agitava as mais diferentes camadas sociais, oposição que em alguns lugares se viu reforçada por uma sistemática instigação popular ou por polêmicas literárias contra a religião cristã (por exemplo, a do mestre de Marco Aurelio; cf. Celso e Luciano de Samosata). Septimio Severo, ao principio, protegeu a Igreja contra tais agitações tumultuarias.
b) Neste contexto temos que destacar o fato de que precisamente a primeira perseguição foi efeito de um ódio impulsivo, não-fruto de una determinação jurídica estatal. Foi desencadeada por aquele homem sem conciencia que foi Nero. Este intentou, e com exito, descarregar nos cristãos a culpa do incêndio de Roma (ano 64); daí o furor do povo contra eles. Mas no processo judicial que então se contraiu contra os cristãos a acusação não se baseava senão no "ódio ao gênero humano," ao qual não constitui nenhum motivo jurídico tangível. Desta persseguição, nascida de um ódio injustificado, caiu vigente para o sucessivo a fórmula jurídica non licet vos esse (não tens direito a existir); o cristianismo é assim uma religião ilícita, legalmente proibida.
5. A hostilidade e o ódio da plebe contra os cristãos, de fatídicas conseqüências para a sorte da nova religião, teve diversas causas, de tenaz e duradoura influencia:
a) A necessidade inata dos ignorantes e da gente em geral de ter um bode expiatório para qualquer adversidade. Os cristãos foram considerados responsáveis de todas as calamidades públicas; contra estas idéias teve todavia que lutar. Santo Agostínho.
b) A necessidade, fortemente arraigada entre os romanos, de crueis e desenfreadas diversões públicas no circo, no teatro e na arena considerava como um censura por parte dos cristãos o que estes se mantiveram afastados de tais manifestações.
c) Mas o que mais alimentou o ódio, o que o ódio tomou como pretexto para enfurecer-se, foram as falsas interpretações, abonadas pela ignorância e a calunia, das práticas supostamente antinaturais dos cristãos em suas reuniões secretas.
Não faltam, ademais, acusações do tipo geral como "necessidade," "loucura," "superstição desmedida," " teimosia" (frente aos convites do juiz para voltar às instituições romanas) e "desobediência."
As considerações de base que induziram o Estado romano, tolerante em matéria religiosa, a perseguir aos cristãos estão intimamente relacionadas com a posição adotada pelos cristãos frente o Estado. Esta postura não estava de todo clara: os cristãos reconheciam ao Estado como poder político superior, mas sua dura crítica frente aos costumes idolátricos estatais era também ilimitada; sua fidelidade ao Estado, em efeito, não sempre houve de parecer-lhe a este fora de toda dúvida. A idéia que o Estado tinha no princípio do cristianismo e de sua postura política era, em efeito, bastante incompleta, e sua atividade ante ele, um tanto oscilante. Não ha que perder de vista, ademais, que durante muito tempo a seita cristã, por su pequenez numérica, sua insignificância social e sua impotência política, apenas significava nada no vasto Império romano e só de quando em quando chegou a chamar a atenção dos donos do mundo, tão conscientes de si mesmos.
6. O Estado romano estava essencialmente conectado com a religião nacional romana. Mas os cristãos reivindicavam para si, em exclusiva, a verdadeira religião; rechaçavam os ídolos, a idolatria e o culto ao imperador 28. Isto dava pé bastante para atrair sobre eles a acusação de ateísmo. E o ateísmo, a sua vez, significava um atentado contra o Estado; por isso os cristãos foram culpados de serem inimigos do Estado.
a) O que na prática deu a ambas acusações uma importância decisiva foi o avanço incontido do cristianismo por todo o mundo (tendência universalista), seu irresistível impulso expansivo. O cristianismo albergava dentro de si vocação e força bastante para conquistar o mundo. No se tratava de uma pequena seita nacional como o judaísmo nem de uma dos tantos agrupamentos filosófico-religiosos sem relevância política; o Estado, uma vez conhecida a natureza da nova religião, pode mais bem ver no cristianismo um intento de desligar a totalidade do povo tanto dos deuses como da forma de Estado que com eles parecia estar indisoluvelmente ligada. Tanto mais quanto que significados porta-vozes dos cristãos, como Justino e Tertuliano, faziam ênfase no que o cristão é primeiramente cristão e logo romano.
As autoridades romanas, em troca, tiveram de comprovar que os cristãos eram súditos leais; os faltava tudo o que poderia qualificar-se de revolucionario no usual sentido da palavra, Eram mais bem amantes da paz, cidadãos honrados, que pagavam seus impostos mais pontualmente que os demais, que oravam pelo bem do imperador e a estabilidade do Estado. Que isto o faziam seriamente e estavam garantindo por sua extraordinariamente alta moralidade, que todos reconheciam pese aos rumores.
b) A relação dos cristãos com o Estado era em alguns aspectos completamente nova. É compreensivel que Roma não encontrasse imediatamente uma clara linha de conduta ao respeito. Efetivamente, como ja se havia dito, o curso dos acontecimentos não tevo um princípio senão ligeiras consequências: entre que o dominador do mundo não se ocupou dos cristãos como tais, sua postura, até a perseguição de Décio, oscilou entre dois extremos. Ou bem se partia da teoria de que havia delitos puníveis (ateísmo, delito de lesa majestade) e, baseando-se no decreto de Nero, se procedia a repressão, ou bem se atuava segundo a impressão imediata que causava a conduta pacífica dos cristãos e, efetivamente, não se molestava. As denúncias anônimas estavam proibidas; Adriano chegou inclusive a castigá-las. Muitas vezes aos governadores estavam a favor dos cristãos e contra a plebe; Paulo mesmo chegou a experimentar uma proteção deste tipo.
Esta atitude flutuante já havía sido, desde muito pronto, expressamente formulada e reconhecida na mencionada ordenança oficial do imperador Trajano o governador Plínio.
7. A condenação comportou para os cristãos a prisão, a flagelação e a pena capital com múltiplas variantes (decapitação, condenação à arena [com torturas sempre novas e diversas como, por exemplo, serem assados na grade; cf. carta de Lyón-Vienne]). Às vezes (como em Lyón) se proibia o enterro, os cadáveres eram expostos, ultrajados e inclusive jogados aos cachorros, e os restos lançados ao rio.
De alguns mártires, por exemplo, o bispo Policarpo de Esmirna, é dito que foi à morte cantando uma canção de louvor. Tal comportamento não deve nos cegar para a dureza da prova. A palavra martírio já diz muito e pronto. Mas se queremos falar ajustadamente do martírio dos primeiros cristãos, temos de ter presente que todo ele implicava: as vezes, brutais tormentos; sempre, dores e tribulações. Possuímos alguns relatos autênticos que o descrevem detalhadamente, como, por exemplo, a carta das Igrejas de Viena e de Lion aos cristãos da Ásia Menor sobre o martírio de seus irmãos sob Marco Aurélio. Aparte de algumas expressões exageradas, que sóbria firmeza em meio dos tormentos e segurança do triunfo com o Senhor crucificado, ate o martírio meio humano meio desumano de Potino e de Blandina 29. Tão pouco devemos deixar-nos enganar pelas palavras que de vez em quando eclipsan os sofrimentos.
O fato de que em tempos recentes se tenham planejado na Europa e Asia tormentos ainda muito mais refinados, incontável no verdadeiro sentido da palavra, não diminui os tormentos sofridos pelos mártires cristãos dos primeiros séculos. Em ambos os casos o único factor decisivo para una consideração cristã é o sofrer por Cristo e baseando-se em sua força.
A reação dos perseguidos, tão autenticamente humana como cristã, que encontramos na carta varias vezes citada das Igrejas de Lion e de Viena, forma parte da verdadeira imagem das perseguições dos cristãos: a sossegada certeza da vitoria sobre o senhor do paganismo, Satanás; a tristeza pelos débeis que caem, e a grande humildade daqueles que no suplicio "haviam dado testemunho da verdade"; todos confessavam sua própria debilidade enquanto viviam e rechaçavam o título honorífico de "mártires," título que queriam que caísse reservado para os que, tinham padecido e morrido, mas estavam unidos com o Senhor.
21 Durante os séculos seguintes, a relação externa entre judaísmo e cristianismo no Império romano foi extraordinariamente complexa. A antipatia que o povo baixo, especialmente no setor greco-oriental do império, sentia contra os judeus foi a pouco transferida também aos cristãos, pois eram considerados como uma seita judaica. Por outra parte, os judeus, pelo menos segúndo o testemunho dos escritores cristãos dos primeiros quatro séculos, foram a pouco os instigadores das perseguições locais contra os cristãos. Isto foi possível porque eventualmente gozaram da grande estima na corte imperial (por exemplo, com Nero, e durante algum tempo com Domiciano).
22 As indicacões que nos dá Eusébio em sua História eclesiástica (por exemplo, no livro IV) são de pouca solvência.
23 Este descreveu a situação nos seguintes termos: "Até agora tem procedido assim contra aqueles que me eram indicados como cristãos: as perguntavam se eram cristãos. Se o confessavam, as fazia duas ou três vezes a mesma pergunta, ameaçando-os com a morte. Se continuavam obstinados, os mandava executar. Pois não duvidava em absoluto que, quaisquer que fossem suas faltas, se devia castigá-los por sua obstinação e inflexível obstinação. Quando outros, afetados da mesma loucura, eram cidadãos romanos, havia de tomar nota deles para remete-los a Roma... Aqueles, que negavam... e sacrificavam... acreditava que devía deixa-los livres."
24 "Se os acusa e se obstinam, os cristãos devem serem condenados; se si retratam, marcham livres. Não há razão de estado para persegui-los."
25 Crassamente o expressam em sua valoração dos bárbaros que explodiam no imperio; se os fazia muito custoso considerar verdadeiros homens a estes representantes da desordem.
26 Foram precisamente emperadores débeis, inclusive indignos, como Cómodo e Galiano. os que toleraram o cristianismo.
27 O rescrito de Trajano transferia ao governador uma certa autonomia; de modo que muitas coisas dependiam da postura pessoal do governador. Em Lion, por exemplo, contra as disposições do imperador, o governador ditou a "ordem de que se nos devia perseguir a todos nós" (Carta da Igreja de Lion).
28 Policarpo, por exemplo, se negou a dizer "Senhor imperador" (Kyrios), ao que a multidão respondeu com a acusação: "É o aniquilador de nossos deuses."
29 Finalmente, seu martírio se ilustra com estas palavras altamente significativas e particularmente formosas: Ela, a pequena e a débil cristã desprezada, revestida do grande e invencível combatente Cristo, tinha que derrubar o adversário em muitas batalhas e na luta ser coroado com a coroa da imortalidade.
12. Desenvlovimento das Perseguições.
I. As Perseguições antes de Décio.
1. Como viviam os cristãos em um Estado hostil, do qual poderia vir a eles a morte? Não devemos pensar que de ordinario vivessem ocultos, nem ainda nos tempos da persseguições. Enquanto o Estado não tomava a decisão de buscar aos cristãos, estes viviam sua vida exercendo um ofício como os pagãos, sendo artesãos, sendo comerciantes, etc. Do único que se cuidavam escrupulosamente era de não contaminarem-se em absoluto na idolatría ou imoralidade.
Por suposto, quando o perigo ameaçava a alguem em concreto, este se punha imediatamente a cuberto escondendo, o qual era coisa em geral bem vista. Mal vista estava qualquer provocação desnecessária da condenação, que era rechaçada como temerária. De outro lado, o tormento e a morte eram consideradas como testemunho consciente de Fé, "porque eles com seu martírio querem livrá-los também a vós (= pagãos) de vossos prejuízos injustos" (S. Justino).
2 No variado desenvolver das persseguições chama a atenção à diferênça entre Oriente e Ocidente. As comunidades orientais não tiveram em absoluto que sufrer persseguições tão intensas como no Ocidente. No Ocidente, por exemplo, e concretamente na parte do império de Constancio Cloro, só a última perseguição não (ou quase não) se levou a cabo. Tanto aqui como alí houve largos períodos de verdadeira tolerancia. Especialmente desde fins do século II prevaleceu a tendencia a não molestar aos cristãos. Todas as perseguições anteriores a 250 estiveram circunscritas territorialmente.
O número, antes adotado comumente (seguindo a Eusébio), de dez perseguições foi establecido por analogia com as dez pragas do Egito do Antiguo Testamento, mas não se corresponde com os dados históricos.
3 Sob Trajano (98-117) murreu Ignacio de Antioquía, o representante mais importante da época pós-apostólica. Suas cartas são para nós a mais preciosa fonte de conhecimento da situação interna da Igreja até o ano 110 (§ 18). Nelas todavía hoje se pode apreciar diretamente a força sobrenatural, sobriamente reprimida, que urge ao martírio para estar com o Senhor: "Busco ao que morreu por nós; quero Aquele que ressucitou por nós. Meu nascimento é iminente."
Marco Aurélio, ilustre filósofo no trono imperial (161-180), não foi, como falsamente se tem afirmado, protetor dos Cristãos. Acreditava-se estar por cima de semelhante "fanatismo." Sob seu reinado morreu Justino o apologista. E em Lion, em 177, teve lugar a sangrenta perseguição já mencionada. Ela nos dá uma mostra da participação da plebe nos padecimentos dos cristãos.
Nesta época tevo lugar o perigoso ataque literario de Celso (§ 14).
Pelo contrário, Atenágoras e Melitón de Sardes se viram obrigados a dirigirem-se ao imperador Marco Aurélio cada um, um escrito de defesa dos cristãos, sinal evidente de que a situação em outras partes do império não era precisamente tranquila, mas sinal também de que podía manifestar-se uma certa "oposição."
Sob o reinado de Comodo (180-192), os cristãos tiveram em Marcia, mulher do imperador, uma poderosa intercessora. Já no século II puderam celebrar sem impedimentos, diversos sínodos com ocasião da controvérsia sobre a festa da Páscoa. Não obstante, também neste "período de paz" houve mártires: os da Sicília na África e o douto Apôlonio (em 185) em Roma, que pronunciou um importante discurso de defesa parecido às apologias cristãs.
4 Mais sistemático foi o proceder de Septímio Severo (193-211), que tratou de impedir o crecimento do cristianismo, proibindo as conversões.
Houve então perseguições contra os cristãos no Egito 30 e na província da África: em Cartago, a morte de Perpétua e Felicidade (+ em 202), que foram batizadas imediatamente antes de sua detenção. O comovedor relato de seu martírio é uma mostra da conducta verdadeiramente humana e cristã (não legendária nem exagerada) dos mártires.
5 Sob os sucessores sírios de Severo (211-235), tão incapazes em seu caráter como em sua política, os cultos orientais fizeram sua entrada triunfal no Ocidente. O ponto culminante (tão repugnante como contaminado de imoralidade cultual) se alcançou com o reinado de Eliogábalo (218-222), que, sendo já imperador em Roma, seguiu atuando como sumo sacerdote (sacrificador e dançarino cúltico) de seu deus sírio. Com estes cultos se foi impondo oficialmente em Roma um conceito "sincretista" (§ 16) da religião. Se chegou a estar convencido da íntima afinidade, da possível simbiosis e, como última consequência, da identidade de todas as religiões e, pelo mesmo, de sua igualdade de direitos. Esta concepção, de sua perniciosa, facilitou, sem embargo, a tolerância do cristianismo.
O imperador Alexandro Severo (222-235) foi mais benévolo com os cristãos que todos os imperadores anteriores. Toda uma série de mulheres da familia imperial desempenhava então um papel muito importante na política. Especialmente relevante para a situação do cristianismo foi o feito de que a mãe de Alexandre Severo, a tão ambiciosa como competente Julia Mammea, estivera relacionada com Orígenes e com Hipólito de Roma. Os cristãos podíam apresentarem-se como corporação legal e, como tais, adquirir bens. E, em consequência, começaram a levantar seus próprios edifícios de culto.
6-Desde os fins do século II podemos constatar um notável incremento da conciência histórica dos cristãos. O Apologeticum do "jurista" Tertuliano é uma prova delo. Nele, como em outros, encontramos pensamentos deste tipo: que todavia exista o mundo se deve a oração dos cristãos; por eles, que são melhor suporte de Estado a sociedade, tem crescido ao Imperio romano.
1. O antagonismo do Estado cresceu a medida que se foram dando a conhecer as idéias da nova religião, objetivamente hostís ao paganismo, ao que o Estado pagão acreditou poder sancioná-las como tais. Esto sucedeu acto seguido da difusão exterior do cristianismo e sua organização. Roma, em definitiva, quizera ter tolerado tácitamente a doutrina cristã, mas criou o que devia destruir uma Igreja organizada, constituída hierarquicamente.
2 No século III, como consequência de transtornos políticos e econômicos, o império sufreu uma grave crise. Por outra parte, até o ano 250 a organização da Igreja havia progredido tanto que pela primeira vez o Estado pagão reconheceu o perigo que o ameaçava por parte do cristianismo, e muito mais quando o imperador Décio (249-251) quiz reorganizar o império sobre uma nova base religiosa comum. A luta entrou em sua fase decisiva; se desencadeou a primeira perseguição geral, ou seja, o primeiro intento sistemático, levado a fim até suas últimas consequências em todo o império, de aniquilar o cristianismo.
3 O desencadeamento da perseguição estevo relacionado com o fato de que os cristãos se negaram a tomar parte nos sacrifícios oficiais que havíam sido prescritos em todo o império para impetrar proteção contra uma epidemia. O edito dizía que todos os súditos do império estavam oficialmente obrigados a oferecer o sacrifício e que, eventualmente, podiam ser forçados a ele. Se estableceram comissões sacrificiais ante as quais todos, juntos com suas mulheres e filhos, deviam sacrificar e fazerem-se extender um justificante, um "libelo." (Se conservam muitas solicitudes destes "libelos," com os correspondentes justificantes firmados, referendados e fechados). Houve toda uma série de mártires, e ainda mais de confessores, mas também houve muitos que, entibiados pelo largo período de paz precedente, apostataram 31 (lapsi; entre os quais não faltaram clérigos e bispos). Alguns conseguiram o libelo sem haver sacrificado; depois da perseguição, este tipo de apostasía foi tratado pela Igreja com certa benevolência. A perseguição de Décio terminou com a entrada dos godos na Dácia. O imperador sucumbiu na batalla contra eles. Suas medidas contra os cristãos foram mantidas pelo imperador Valeriano (253-260). Mas isto não sucedeu até o ano 257, onde uma repentina mudança de atitude a respeito dos cristãos, o que novamente põe de manifesto quão osbcuro era o fundamento jurídico das perseguições. Este ataque, por outra parte, se desencadeou com mais calculada minuciosidade; ia dirigido diretamente contra os elementos mais significados da Igreja: o clero, as assembleias da comunidade, os juízes e senadores cristãos. Mártires foram: em Roma, o papa Sixto II (+ 258) e seu diácono Lorenço, e em Cartago, o previamente desterrado Cipriano, o grande defensor da unidade da Igreja.
4 Galieno, filho de Valeriano, logo ao ser constituído único imperador em 260, derrogou os editos de perseguição. Começou então, sobre a base de uma tolerância fática (não jurídica), uma época de paz de quarenta anos 32, que foi de grande importância 33. A organização interna da Igreja pode avançar sem impedimentos, e outro tanto seu crecimento por todo o império e em todas as camadas sociais. Com ela, a Igreja se fortaleceu tanto que a tormenta que logo se desencadearia ja não pode afetá-la de uma maneira decisiva.
Durante este período a Igreja logrou sobre tudo superar plenamente o prejuízo público contra os cristãos. Na última perseguição apenas participou a plebe; Atanásios nos conta que os pagãos muitas vezes protegiam e ocultavam aos perseguidos de seus perseguidores.
5 Aos dezoito anos do reinado, não antes, o imperador Diocleciano (284-305) se deixou arrastrar por seu genro e co-emperador Galério (293-311), que odiava fanáticamente a nova religião, o ataque contra os cristãos. A perseguição, não obstante, não saiu da tonificante vida deste emperador, que quería devolver ao império sua antigua força e prestígio. A este fim, todos os não pagãos deviam serem eliminados como não romanos.
Diocleciano havía instaurado uma nova ordem no império: repartiu o poder entre dois emperadores augustos, um no Oriente e outro no Ocidente; designação de Césares com direito a sucessão (= co-imperadores ou sub-imperadores); estruturação da administração com a divisão do império em 96 províncias, 12 dioceses e 4 prefeituras 34. O mesmo trasladou ao Oriente (Nicomédia) sua própria residência (do imperador principal), ao qual veio a ser de grande importância em ordem à livre evolução interna da Igreja e do papado.
Despois de três editos de 303 (as Igrejas cristãs deviam serem arrasadas, os livros sagrados entregues, o clero encarcerado e forçado a serem sacrificados mediante o tormento), a perseguição geral começou, mediante um quarto edito, em 304. O número dos cristãos havía crescido consideravelmente nos anos de paz 35; o cristianismo já se fazia notar intensamente na configuração da vida cidadã (construção de templos; cristãos em posição influentes). Outra vez houve aqui muitos lapsi 36, mas também numerosos mártires (as actas de todos eles são muito legendárias). No Ocidente, a perseguição já foi decaindo a partir de 305, quando Constâncio Cloro chegou a ser imperador. No Oriente, em troca, trouxe a abdicação de Diocleciano, Galério a proseguiu (305). Mas também o teve que confessar-se derrotado; em seu leito de morte publicou um edito de Tolerância (Sárdica, 311), que comportava tal reconhecimento do cristianismo que o neroniano non licet vos esse chegou a perder todo seu valor.
6 A vitória de Constantino o Grande sobre seus adversários em 312 trouxe ao cristianismo a liberdade definitiva. Nos diversos decretos, de Constantino com seu colega Licínio primeiro e de Constantino só depois, o cristianismo foi declarado livre. (Não religião do Estado como mentem, protestantes, maçons e judeus). O passo decisivo se deu com o entendimento de Constantino e Licínio em Milão em 313; o resultado foi o chamado Edicto (Constituição) de Milão de 313, subscrito pelos dois imperadores trouxe a vitória de Constantino sobre Majencio na Ponte Milvio, e que outorgava liberdade ilimitada à religião. (a nova perseguição na Ásia, ao outro lado do Tauro, e no Egito, ordenada por Maximino Daia, terminou com a derrota deste). Certo é que os dois augustos, Constantino e Licínio, se separaram logo e Licinio voltou a perseguir aos cristãos. Mas a vitória de Constantino (324) converteu no único soberano e a Igreja caiu definitivamente livre 21).
Com esta perseguição voltou a plantear-se o problema da readmisão dos lapsi na Igreja; e, como antes, voltou a surgir a oposição entre as duas concepções, a mais rigorosa e a mais benigna. Houve várias escisões (cismas). A mais importante foi a da seita dos donatistas no norte da África (§ 29).
30 A ânsia pelo martírio do jovem de dezessete anos Orígenes (§ 15); sua entusiasta e animosa carta a seu pai encarcerado por causa da Fé.
31 São Cipriano, tão duro nestas coisas, disse com evidente exagero que, só com a vista do edito, a maioria se tornarão rapidamente fracos.
32 Um edito do imperador Aurélio do ano 275 não foi cumprido.
33 O rescrito de Galiano (recolhido na história eclesiástica de Eusébio), que restituía aos cristãos os edifícios e bens incautados, é de particular importância: pela primeira vez um imperador se dirige oficialmente aos bispos cristãos (de modo não oficial ja havia sucedido por parte de Julia Mammea, Alexandre Severo e Felípe o Árabe).
34 Diocleciano reteve para sí o Oriente com sua capital em Nicomédia. Seu genro César Galério administrava Iliria com Macedônia e Grécia (residência em Sirmio). Maximiano, como segundo "imperador augusto," obteve Italia e África (residência em Milão), e seu César Constancio, Espanha, Gália e Bretanha (residência em Tréveris).